—Não te liguei porque vi tudo o que precisava ver — digo buscando calma sem sucesso.Não sei o que farei se Mateo estiver relacionado com os Kosnikov. Seria demais para mim. E o mais aterrorizante, Amy, Luciano e eu estaríamos em perigo iminente.—Eu também percebi isso pelo seu comportamento. Nunca cheguei a importar para você — se faz de vítima.—Não tente reescrever a história, ok? E não me olhe assim, porque eu estava em paz e tranquila até que sua... "amiga" queria pôr as mãos na minha sobrinha — argumento.—É o trabalho dela, Marianne. Uma coincidência — se defende.Reviro os olhos, estou farta da mesma canção. Uma coincidência, o fato dele dizer isso com tanta ênfase me faz acreditar que não, não é uma coincidência. Meus punhos formigam por ter que falar com ele para entretê-lo e não sair daqui para longe com Amy.—Não sei que jogo macabro vocês dois estão tramando, mas quero vocês dois longe de nós — peço com firmeza — Façam a vida de vocês juntos ou o que seja.—Você não se im
Narrado por Luciano BrownEu não sabia quando parar, não dava a mínima para os avisos de perigo e estava feito para apostar qualquer preço. Incluindo minha integridade. A mesma história de toda a minha vida, só que desta vez um pouco mais velho.Essa é a explicação mais ou menos boa com a qual posso justificar estar nessa situação. Vasculhando um carro alheio ao qual acessei como o ladrão que sou de vez em quando. Soube que quando Mateo retornou para onde Marianne estava, era minha oportunidade.Mas não tem sido uma tarefa simples, não há nada que me sirva no porta-luvas, nem perdido pelo chão, além disso o estacionamento tem muitas testemunhas. Por isso, tive que fingir que sou o dono do carro sentado no banco do motorista enquanto procuro com as mãos, e com o pé esquerdo mantenho a porta aberta. Que, se fechar, daqui nem Deus me tira.Recorro ao histórico de localizações do GPS dele, passeio por ele para detectar algumas coincidências que me parecem interessantes. Fotografo essas, e
Mateo continua dirigindo porque o trânsito já avançou. Ainda não percebeu que estou por aqui. Eu também estava batendo recordes na posição em que estava, minhas costas não eram mais as mesmas de antes.—O que você conseguiu falar com Amanda? Conseguiu persuadi-la? — pergunta ele, rendido.—Persuadi-la do quê? Ela não tem autoridade sobre a filha, aquela menina não a vê como mãe. Tentei animá-la a sair para buscar a menina para que eu pudesse levá-la, o que ela fez foi começar a chorar como uma imatura. É patética e estúpida — explica a voz feminina.—Pensei que ela pudesse me ser útil, não é mais que um peso morto. Nem deveria ter ajudado ela a conseguir trabalho, a esse nível nem poderá levar a filha para longe de Marianne.Eu concordava com isso de que Amanda era patética e estúpida, mas não me parece correto que tirem sua filha. Mães piores já existiram na história, como, por exemplo, a que nós compartilhamos.Volto a escutar o som de uma chamada entrante. O veículo continua em movi
A noite chegou e a inquietação de não saber onde está Luciano ainda é intensa. Nada de responder às minhas ligações, desligou o celular, nem preciso dizer que também não tomou a iniciativa de entrar em contato por conta própria. Desde que cheguei ao meu apartamento com Amy extremamente agitada, não parei de pensar nas coisas mais catastróficas possíveis.Tanto tem sido meu sentido de fatalismo que vou abrir um buraco no chão de tanto que estou pisoteando, assim como ficarei sem unhas de tanto que estou roendo. Decido verificar pela janela da minha sala uma última vez, para ver se há sinais dele. Não há nenhum.Confirmado isso, fecho a cortina muito bem, já verifiquei que todas as janelas do meu apartamento estão fechadas e cobertas. Assim como minha porta principal, essa tem tripla trava, incluindo a mesinha da entrada que está bloqueando-a, por via das dúvidas.Também por precaução tenho perto de mim um martelo sobre a bancada, era a única arma de defesa pessoal que consegui pensar. T
— Agora que estamos falando nisso, você conseguiu tirar o DIU? Ele ia vencer, não é?— Foi uma bobagem de menos de um minuto. Nem sei por que estava com tanto medo.— Você colocou outro? Ou vai mudar de método anticoncepcional?— Tenho consulta no mês que vem. Ainda não me decidi porque estou com a cabeça no trabalho, talvez meu corpo esteja pedindo para se livrar dos hormônios.— Se você não vai voltar com o Mateo, que importância tem? Não intoxique seu corpo novamente com eles — aconselha — Vocês transaram depois que você o retirou?— Não — franzo a testa — Ele estava viajando e depois veio o aniversário da morte do meu pai... você sabe como fico nessas datas. Seu casamento, Amy, meu trabalho. Esquece.Uma grande tristeza se instala no meu peito. Eu não sabia o que fazer com minha vida neste momento. Iam me tirar Amy, nem sabia como terminaria essa sucessão de eventos catastróficos.— Não fique triste, amiga. Vamos pensar no lado bom. Não há possibilidade de seu ex ter te prendido co
A cabeça e o coração doem enquanto Luciano narra onde esteve metido pelo resto da tarde. Escuto sua versão da história ao mesmo tempo que me concentro em enfaixar corretamente sua mão. Estamos os dois no sofá com meu kit de primeiros socorros ao lado, e Giana na cozinha preparando café. Pode estar preparando café, mas sei que está com os ouvidos bem atentos.— Depois que o perdi de vista, explorei o porto e coletei vários dados relevantes — continua ele com a explicação.— O que poderia ser mais relevante do que ouvi-lo falando do sequestro da minha sobrinha? Como ele pôde fazer algo assim? Se meter com uma criança? Eu o recebi tantas vezes na minha casa, deixei que pegasse minha sobrinha no colo tantas vezes... — digo completamente ferida.— A ambição é uma péssima conselheira. Em pequenas doses pode ser boa, em grandes, é uma arma apontada para seu pescoço — responde Luciano.Ele não se alterou comigo manipulando sua mão de um tamanho preocupante pelo inchaço. Até tive que obrigá-lo
— Não sei. Quando ele voltou, veio com esse discurso estúpido de que eu devia refazer minha vida com outro homem que fosse bom para mim. Agora não sei. Nem sei se vou conseguir pensar com clareza com ele perto de mim.— Eu também não sei o que te aconselhar. A história de vocês é muito complicada, mas aconteça o que acontecer... não desista do futuro que você — ela aponta para meu peito — sonha.Em seguida me abraça, me agarro ao seu abraço com muita força. É a única coisa que me resta em momentos como este......O lugar seguro de Luciano acabou sendo uma casa de campo nos arredores da cidade. Por fora parecia uma casa qualquer do estilo, mas por dentro era outra história. Nunca tinha visto um lugar com esse tipo de sistema de segurança. Não só tinha câmeras em cada canto, como havia fechaduras digitais para entrar em várias partes no interior dela. A segurança também não se limitava ao aspecto tecnológico, havia vários guardas nos arredores da propriedade. Eu conhecia os que tinham a
Este é um encontro interessante, é o que posso pensar ao reencontrar Julia depois de tantos anos. Lembro-me dela por sua voz grave e a intensidade de seus olhos felinos; se não fosse por essas características, não poderia reconhecê-la.Parece diferente no geral graças ao conjunto de blazer e calça que usa, mais o rabo de cavalo que tem. Seu cabelo agora é castanho claro. Parece uma executiva que acabou de deixar seus filhos na aula de futebol. Não a mulher de quatro anos atrás com uma evidente paixão por couro.— Como vai, Marianne? Quanto tempo se passou... — ela estende a mão.Eu a pego e aperto. Lembro a mim mesma que nossas últimas interações foram "em bons termos", também que supostamente Luciano e ela não reataram. E mesmo que tenham feito isso, é ridículo fazer cobranças neste contexto.— Então, esta é sua sobrinha... é um encanto — elogia ela a Amy, que se esconde atrás das minhas pernas.— Ela é tímida com pessoas que não conhece... — explico.— Eu também era quando pequena, e