Os casamentos por conveniência não eram novidade em nosso círculo social. Eram algo normal e aceitável aos olhos de todos. Primeiro, as famílias deveriam ter compatibilidade em objetivos, oportunidades de negócios e só depois vinha a atração sentimental do casal. Assim, por último.Sob essa fórmula foi que os pais de Loren se casaram, os senhores Lorenzo Lewis e Victoria Laurent. Eles tinham tudo a seu favor, exceto a atração sentimental. Tinham um casamento de cripta. Como não? Lorenzo pai era muitos anos mais velho que Victoria, e também não é que a senhora Victoria fosse particularmente agradável.Nesse inferno de relacionamento cresceram Loren e seus irmãos gêmeos, Julián e Richard. Os três foram infelizes, e eu sei que marcados por essa situação. Eis o ponto principal da minha reflexão: Loren não queria repetir a mesma história de seus pais. Não lhe agradava que tivessem um casamento aberto ou amantes aqui e ali, isso não era para ele. Ele queria um casamento por amor.Então, se a
— Em vez de desaparecer, descanse aqui, vem, vem — guiei-o para que repousasse sua cabeça nas minhas pernas. A partir daí acariciei seu cabelo rebelde — Está se sentindo melhor?— Me sinto patético. Não sou seu gato — reclamou. Contive meu riso e fiquei séria.— Aconteça o que acontecer, estou aqui com você. Você não está sozinho. Estamos juntos, sempre estaremos...Mais silêncio de sua parte, por isso me dediquei a pentear seu cabelo para acalmá-lo. Apenas isso.— Sara... — ouvi-o sussurrar.— Diga...— Tenho... tenho algo para te contar... — senti sua respiração agitar-se.— Me conte — comentei com leveza.— Eu...Ele tentou se virar para levantar a cabeça, mas não conseguiu completamente porque seu cabelo se enrolou no meu cinto de pedrarias. Quando percebemos, comecei a rir descontroladamente, ele me dizendo para não rir e dando tapas tentando se soltar. Tal ataque de riso me deu que caí na cama, e no puxão, puxei Loren comigo. Acabei com a cabeça dele entre minhas pernas.— Pare d
Finalmente cheguei à casa dos meus pais. Estou parada na porta tomando coragem para tocar a campainha, respiro fundo e faço isso, toco. A porta abre mais rápido do que eu esperava, quem abre é uma menininha que me chega pela altura do umbigo.— Sobrinhaaaaa! — Salomé vem me abraçar eufórica.— Minha tia favoritaaaaa! — correspondo ao abraço igualmente eufórica, balançando-a de um lado para outro.Sim, eu tenho uma tia de 11 anos. É estranho? Aprendi a conviver com isso. A história é assim. Meu avô paterno Lemuel refez sua vida com Selena, uma mulher mais jovem que ele, que ele conseguiu engravidar. Para complicar mais a situação, Selena é a melhor amiga da minha mãe. Era, antes do nascimento de Salomé.— Vocês poderiam parar de se chamar assim? Quanto mais vocês crescem, mais estranho isso soa... — comenta Selena entre dentes.Ela está na cozinha com minha mãe, ambas entre legumes picados e panelas fervendo. Devem estar preparando o jantar.— Não seria o contrário? Já estamos acostumad
A refeição transcorre bem se eu ignoro sua existência, comemos a salada, o macarrão, o frango, e chegamos à sobremesa. Mas preciso ir ao banheiro, me retiro rapidamente para lá, faço o que tinha que fazer e quando saio...Leonel está me esperando do lado de fora, no corredor.— Podemos conversar por alguns minutos, filha? — pergunta ele abatido e sem energia.Quero dizer que não, mesmo assim, faz tanto tempo que estou brigada com ele, que cedo. Me abraço de desconforto.— Que seja rápido. O tiramisù está me esperando...Leonel sorri com minha piada. Céus, não gosto de estar assim com meu pai. Tê-lo por perto é pior.— Desde que você chegou à minha vida, minha maior prioridade foi cuidar de você. Ganhar sua confiança e carinho. Recuperar o tempo perdido — afirma, meu coração se sente pequeno como de um pintinho — Nada do que faço é para o seu mal, ou pelo menos não penso que seja para o seu mal.— Do que você pensa para o que é real, há uma grande distância. Você sabe que agiu errado...
Tente escapar de alguém com quem você compartilha o mesmo círculo social, e estará querendo fazer algo impossível. Com absoluta certeza, estou me apresentando na festa de aniversário da Amber. Seus aniversários eram dos mais comentados todos os anos por sua opulência e por não economizar em nada. Uma prova disso é a temática deste ano, Old Hollywood Glam.Tive que pular a entrada na mansão que simulava um tapete vermelho, com fotógrafos reunidos fingindo desespero para obter fotos dos convidados. Era parte da fantasia, assim como a ambientação, e nós presentes parecíamos ter voltado 70 anos no tempo.Esta é a casa de campo dos avós da Amber, a mesma pela qual passeio entre os convidados e cumprimento a nata da sociedade. Ou pelo menos, os que vivem nesta cidade. Recebo vários elogios pelo meu vestido vermelho de seda, aquele que tem um grande decote nas costas e na frente. Combinamos que não tenho vergonha de mostrar meus atributos, e de qualquer forma as joias serviam de distração.Em
— Embora, agora que estamos tão próximos... seria bom examinar sua obsessão particular por eles — diz Ryan, focando no longo colar de diamantes que cai pelo meu decote e costas.Sei que ele não está olhando para o colar, está olhando para os meus seios. Reviro os olhos e empurro seu rosto para longe de mim com a palma da mão.— Quanto álcool você já bebeu? Não é muito cedo para estar se fazendo de ridículo? — comento com rispidez.O grupo leva na brincadeira, assim como Ryan. Outra aposta que posso jurar que ele tem com Kit é que os dois querem me levar para a cama. Ainda não caí, nem penso em cair; a aposta deles me parece uma piada boba. Claro que para Lorenzo a piada não tem graça, ele está mais sério do que nunca.— Então não há mágoa entre vocês dois? A paz foi declarada? — pergunta Ana Maria.— Mágoa? De jeito nenhum. Isso nunca existiu entre nós. Na verdade... — pego uma taça da bandeja que um dos garçons traz — Já que estamos todos reunidos, está na hora do Loren dar a boa notí
— Ele é... maravilhoso, tão atencioso, gentil e responsável. Nunca conheci um homem tão maduro nessa idade. Sou sortuda por ele ter se interessado por mim — continua Emma.Eu forço um sorriso, meu pescoço dói de tanta tensão. Tento beber, mas minha bebida acabou, faço um sinal para o garçom mais próximo me trazer outra dose. Ele me entrega.— Obrigada... — digo com a tensão ainda no pescoço.— E o pedido de casamento. Você deveria ter estado lá. Foi ao entardecer, ele cobriu a areia com rosas e se ajoelhou na minha frente. Lindo, tão íntimo, só nós dois — continua.Eu bebo mais. Não me reconheço, não sei quem sou neste momento.— Parece... encantador — digo com o rosto doendo de tanto segurar o sorriso.— Eu sei. Se você soubesse das conversas que temos sobre nossos futuros filhos...Bebo mais, mais do que seria prudente. O celular de Emma toca, e ela me faz gestos de que precisa atender. Ela desaparece pelas portas que dão para o jardim. Eu peço outra taça, porque preciso.— Quer venc
Isso me faz sentir bem. Me sinto vingada por ter previsto o comportamento de Loren. Por ver como seu rosto de desespero se transforma em um de compreensão, de perceber que ele caiu na armadilha sozinho.— Perdeu alguma coisa por acaso, Loren? — pergunto com maldade.— A única que perdeu algo foi você. A cabeça — responde ele irritado. Isso me diverte, toco minha cabeça.— É mesmo? Acho que ela ainda está grudada no meu corpo — sorrio — Você é quem parece ter perdido algo por aqui. Seu suposto desinteresse por mim.Ele sorri olhando para o lado. Como se apenas me ver o irritasse. O sentimento era recíproco.— Me desculpe por guardar um mínimo de preocupação por você. Por me preocupar que você não fosse dormir com um canalha como Ryan depois de ter bebido tanto esta noite — exclama furioso.Isso me faz sorrir ainda mais.— Você ainda se preocupa comigo? Essa é nova.— Esquece, para você sou apenas mais um jogo — ele tenta ir embora.Eu o impeço, adiantando-me e bloqueando a porta que fec