Jamile narrandoO que eu tô sentindo? Ódio.Ódio do Guilherme.Ódio daquela Camila.Ódio de todo esse circo que virou minha vida.Passei os últimos dias longe de tudo, num chalé isolado no meio do mato, cercada de silêncio e frio. Precisava respirar, esfriar a cabeça, pensar no próximo passo. Porque não adianta, quando eu quero, eu faço. E agora... eu quero acabar com eles dois.O Eduardo tava comigo. Veio um dia depois que eu vim pra cá, confesso que eu até gosto dele, mas ele não chega aos pés do Guilherme em tudo.— A gente perdeu espaço, Jamile. — ele disse, sentado na varanda do chalé, com uma taça de vinho na mão. — Eles estão até falando em casamento que eu já fiquei sabendo.Eu, deitada na espreguiçadeira, acariciava minha barriga.— Você não entende, Eduardo. O Guilherme era meu. Essa vaca roubou tudo de mim. Ele chamou ela de mulher dele na frente da empresa! Humilhou minha história… e agora quer que eu suma.— E ela também. — ele completou. — Ela me dispensou por causa dele
Camila narrando :Eu tava me sentindo um pouco melhor hoje. Nada demais, mas o suficiente pra sair do quarto, tomar um banho decente e até colocar uma roupa mais arrumadinha. Dona Maria tinha feito um almoço leve, e até consegui comer um pouco.Minha sogra tinha ido buscar a Gabi no curso, como sempre, e logo que chegaram, as duas foram direto pra sala. Gabi tava animada, espalhou os lápis de cor no tapete e começou a desenhar uma casa com um jardim enorme, igual à nossa.Eu me sentei no sofá, observando ela com aquele jeitinho concentrado, a língua levemente pra fora enquanto pintava. Ela era meu refúgio, minha força.— Mamãe? — ela perguntou, sem tirar os olhos do papel.— Oi, filha.— Por que você não tá indo trabalhar? Já faz vários dias…Respirei fundo e sorri de leve.— É que a mamãe pegou uma gripe chata, meu amor. Mas já tô melhorando.Ela assentiu, voltando a colorir.Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa… senti aquela sensação estranha subir do estômago de
Camila narrando :Dona Maria saiu do quarto e foi esperar um caixinha com sapatinho que eu pedi pela internet. Eu entrei no banheiro ainda com o coração acelerado. A água quente caía nas minhas costas e eu tentava me concentrar, mas os pensamentos não paravam. Era hoje. Eu ia contar pro Guilherme que a nossa família ia crescer. E por mais que eu estivesse nervosa, no fundo… eu sentia uma alegria que há dias não sentia.Fechei os olhos e respirei fundo. A sensação da água lavando meu corpo parecia também levar embora um pouco do medo, da insegurança. No lugar disso tudo, começava a brotar um sentimento bom. Um novo começo.Depois do banho, me enrolei na toalha e fui direto pro quarto. Dona Maria já tinha deixado minha roupa separada, e a carinha já estava ali em cima da cama. Vesti o vestido que ela escolheu que ficou perfeito no meu corpo. Me arrumei com calma, passei um pouco de maquiagem, só pra tirar o ar de cansaço dos últimos dias, e deixei o cabelo solto, com leves ondas. Calcei
Guilherme narrando :Desde que Camila entrou no carro, eu já sabia que tinha alguma coisa diferente no ar. Ela tava mais quieta, com aquele brilho no olhar que me deixava curioso, e um sorrisinho no canto da boca que só aparecia quando ela tava escondendo algo.Eu tava dirigindo, mas meu foco tava meio dividido entre a estrada e ela. De vez em quando, eu virava pra olhar e ela disfarçava, como se nada estivesse acontecendo. Mas eu conheço cada detalhe daquela mulher. Cada silêncio. Cada olhar.— Você tá muito misteriosa hoje, — falei, rindo. — Tô começando a ficar nervoso.Ela olhou pela janela, fingindo que não era com ela.— Eu? Tá viajando, Guilherme.— Tô nada. Desde que eu cheguei em casa, você tava diferente. Sorrindo de um jeito que eu não via há dias. Até sua pele parece mais iluminada, sei lá… — falei, olhando de novo pra ela rapidamente.Ela só riu, e aquilo só aumentou meu interesse.A gente seguia pelas ruas da cidade, já chegando perto do restaurante que eu escolhi. Um lu
Camila narrando :Quando ouvi o nome do seu Jorge saindo da boca do Guilherme, meu coração travou por um segundo. Era como se o tempo tivesse congelado ali, na mesa daquele restaurante tão bonito, tão calmo… e, de repente, tudo pareceu apertado demais.Eu senti minhas mãos suarem, o peito pesar, e meu corpo todo reagir como se soubesse que aquela verdade que eu passei a vida inteira procurando… tava vindo com força.Ele continuou falando com calma, com aquele jeito firme que ele tem quando quer me proteger do mundo. Disse que já tinha falado com o seu Jorge, que ele confirmou tudo sobre a história da minha mãe… e que já tinha até marcado o exame de DNA pra amanhã cedo.Eu fiquei olhando pra ele, tentando segurar as lágrimas. O rosto dele era um porto seguro no meio de tudo que tava girando dentro de mim.— Guilherme… — sussurrei, sentindo a voz embargar.— Ei… — ele apertou minha mão. — Você não tá sozinha, tá? Eu tô contigo pra qualquer resultado. Pra qualquer resposta. Pra qualquer
Camila narrandoSaímos do restaurante com o coração leve, rindo à toa, como se o mundo inteiro tivesse virado um lugar melhor só por causa daquela noite. Guilherme caminhava ao meu lado com um sorrisão no rosto, a caixinha ainda nas mãos como se fosse um troféu. Ele abria a porta do carro com todo cuidado, me ajudava a entrar, e antes de dar a volta, se inclinou pra me dar um beijo na testa.— Você não tem ideia do quanto eu te amo, Camila. — ele disse, me olhando como se estivesse vendo a coisa mais linda do mundo. — Você me deu tudo o que eu mais sonhei… uma família de verdade.Sorri, segurando a mão dele antes que ele fechasse a porta.— Eu também te amo, Guilherme. Mais do que nunca.No caminho pra casa, ele dirigia devagar, com uma das mãos no volante e a outra entrelaçada à minha. O rádio tocava baixinho, e a cidade parecia mais bonita do que nunca. Era como se tudo estivesse em paz.— Já pensou na cara da Dona Maria e da minha mãe quando souberem? — ele riu.— Elas vão surtar d
Jamile narrandoEu tava arrumando as malas pra voltar pro apartamento.— Por mim, eu ficava aqui mais uns dias — falei.— Você sabe que a gente não pode — Eduardo disse – ainda mais com seu pai aí.— Você tem razão — respondi, olhando pra ele. — Eduardo, preciso que você me ajude a falsificar o exame de DNA desse bebê.— Eu não vou me meter com isso, Jamile — ele disse, calçando o sapato.— Você já tá metido até o pescoço. Já imaginou o que meu pai vai fazer quando souber que você é o pai do meu filho?— Ninguém nunca vai saber que esse filho é meu, tá me ouvindo? Nunca! — ele gritou, já de pé, andando de um lado pro outro.— Você tá fugindo, Eduardo! Tá com medo! — rebati, com raiva nos olhos. — Medo do meu pai, medo da responsabilidade… medo de tudo!— Medo? — ele virou pra mim, com o olhar carregado. — Quem me garante que esse filho é meu, Jamile? Você acha que eu sou otário? Do mesmo jeito que dava pra mim, dava pra outros também.— Você tá me chamando de quê?! — gritei, me aproxi
Jamile narrandoAcordei assustada, com o coração disparado e a respiração descompassada. Tudo branco ao meu redor. O teto, as paredes… o som contínuo do bip da máquina. A luz fria me cegando por um segundo.— Onde eu tô? — pensei, tentando sentar, mas meu braço tava preso a uma agulha, o soro pingando lento, e meu corpo inteiro doía.Foi aí que a memória veio como um soco: a dor, o sangue, a estrada, o hospital.— Meu filho! — gritei desesperada. — Cadê meu filho?!A porta se abriu num estalo e um médico entrou apressado, seguido de uma enfermeira de jaleco azul.— Calma, calma, senhora Jamile… a senhora precisa ficar calma, por favor — ela veio na minha direção, tentando me conter.— Não me manda ter calma! — berrei, com lágrimas escorrendo. — O meu bebê… o meu filho… eu perdi?!— Jamile, escuta, por favor — o médico falou com uma voz firme, mas gentil. — Você teve um sangramento muito sério. Estamos fazendo todos os esforços possíveis. Mas agora você precisa descansar.— Eu não quer