Camila narrando :Dona Maria saiu do quarto e foi esperar um caixinha com sapatinho que eu pedi pela internet. Eu entrei no banheiro ainda com o coração acelerado. A água quente caía nas minhas costas e eu tentava me concentrar, mas os pensamentos não paravam. Era hoje. Eu ia contar pro Guilherme que a nossa família ia crescer. E por mais que eu estivesse nervosa, no fundo… eu sentia uma alegria que há dias não sentia.Fechei os olhos e respirei fundo. A sensação da água lavando meu corpo parecia também levar embora um pouco do medo, da insegurança. No lugar disso tudo, começava a brotar um sentimento bom. Um novo começo.Depois do banho, me enrolei na toalha e fui direto pro quarto. Dona Maria já tinha deixado minha roupa separada, e a carinha já estava ali em cima da cama. Vesti o vestido que ela escolheu que ficou perfeito no meu corpo. Me arrumei com calma, passei um pouco de maquiagem, só pra tirar o ar de cansaço dos últimos dias, e deixei o cabelo solto, com leves ondas. Calcei
Guilherme narrando :Desde que Camila entrou no carro, eu já sabia que tinha alguma coisa diferente no ar. Ela tava mais quieta, com aquele brilho no olhar que me deixava curioso, e um sorrisinho no canto da boca que só aparecia quando ela tava escondendo algo.Eu tava dirigindo, mas meu foco tava meio dividido entre a estrada e ela. De vez em quando, eu virava pra olhar e ela disfarçava, como se nada estivesse acontecendo. Mas eu conheço cada detalhe daquela mulher. Cada silêncio. Cada olhar.— Você tá muito misteriosa hoje, — falei, rindo. — Tô começando a ficar nervoso.Ela olhou pela janela, fingindo que não era com ela.— Eu? Tá viajando, Guilherme.— Tô nada. Desde que eu cheguei em casa, você tava diferente. Sorrindo de um jeito que eu não via há dias. Até sua pele parece mais iluminada, sei lá… — falei, olhando de novo pra ela rapidamente.Ela só riu, e aquilo só aumentou meu interesse.A gente seguia pelas ruas da cidade, já chegando perto do restaurante que eu escolhi. Um lu
Camila narrando :Quando ouvi o nome do seu Jorge saindo da boca do Guilherme, meu coração travou por um segundo. Era como se o tempo tivesse congelado ali, na mesa daquele restaurante tão bonito, tão calmo… e, de repente, tudo pareceu apertado demais.Eu senti minhas mãos suarem, o peito pesar, e meu corpo todo reagir como se soubesse que aquela verdade que eu passei a vida inteira procurando… tava vindo com força.Ele continuou falando com calma, com aquele jeito firme que ele tem quando quer me proteger do mundo. Disse que já tinha falado com o seu Jorge, que ele confirmou tudo sobre a história da minha mãe… e que já tinha até marcado o exame de DNA pra amanhã cedo.Eu fiquei olhando pra ele, tentando segurar as lágrimas. O rosto dele era um porto seguro no meio de tudo que tava girando dentro de mim.— Guilherme… — sussurrei, sentindo a voz embargar.— Ei… — ele apertou minha mão. — Você não tá sozinha, tá? Eu tô contigo pra qualquer resultado. Pra qualquer resposta. Pra qualquer
Camila narrandoSaímos do restaurante com o coração leve, rindo à toa, como se o mundo inteiro tivesse virado um lugar melhor só por causa daquela noite. Guilherme caminhava ao meu lado com um sorrisão no rosto, a caixinha ainda nas mãos como se fosse um troféu. Ele abria a porta do carro com todo cuidado, me ajudava a entrar, e antes de dar a volta, se inclinou pra me dar um beijo na testa.— Você não tem ideia do quanto eu te amo, Camila. — ele disse, me olhando como se estivesse vendo a coisa mais linda do mundo. — Você me deu tudo o que eu mais sonhei… uma família de verdade.Sorri, segurando a mão dele antes que ele fechasse a porta.— Eu também te amo, Guilherme. Mais do que nunca.No caminho pra casa, ele dirigia devagar, com uma das mãos no volante e a outra entrelaçada à minha. O rádio tocava baixinho, e a cidade parecia mais bonita do que nunca. Era como se tudo estivesse em paz.— Já pensou na cara da Dona Maria e da minha mãe quando souberem? — ele riu.— Elas vão surtar d
Jamile narrandoEu tava arrumando as malas pra voltar pro apartamento.— Por mim, eu ficava aqui mais uns dias — falei.— Você sabe que a gente não pode — Eduardo disse – ainda mais com seu pai aí.— Você tem razão — respondi, olhando pra ele. — Eduardo, preciso que você me ajude a falsificar o exame de DNA desse bebê.— Eu não vou me meter com isso, Jamile — ele disse, calçando o sapato.— Você já tá metido até o pescoço. Já imaginou o que meu pai vai fazer quando souber que você é o pai do meu filho?— Ninguém nunca vai saber que esse filho é meu, tá me ouvindo? Nunca! — ele gritou, já de pé, andando de um lado pro outro.— Você tá fugindo, Eduardo! Tá com medo! — rebati, com raiva nos olhos. — Medo do meu pai, medo da responsabilidade… medo de tudo!— Medo? — ele virou pra mim, com o olhar carregado. — Quem me garante que esse filho é meu, Jamile? Você acha que eu sou otário? Do mesmo jeito que dava pra mim, dava pra outros também.— Você tá me chamando de quê?! — gritei, me aproxi
Jamile narrandoAcordei assustada, com o coração disparado e a respiração descompassada. Tudo branco ao meu redor. O teto, as paredes… o som contínuo do bip da máquina. A luz fria me cegando por um segundo.— Onde eu tô? — pensei, tentando sentar, mas meu braço tava preso a uma agulha, o soro pingando lento, e meu corpo inteiro doía.Foi aí que a memória veio como um soco: a dor, o sangue, a estrada, o hospital.— Meu filho! — gritei desesperada. — Cadê meu filho?!A porta se abriu num estalo e um médico entrou apressado, seguido de uma enfermeira de jaleco azul.— Calma, calma, senhora Jamile… a senhora precisa ficar calma, por favor — ela veio na minha direção, tentando me conter.— Não me manda ter calma! — berrei, com lágrimas escorrendo. — O meu bebê… o meu filho… eu perdi?!— Jamile, escuta, por favor — o médico falou com uma voz firme, mas gentil. — Você teve um sangramento muito sério. Estamos fazendo todos os esforços possíveis. Mas agora você precisa descansar.— Eu não quer
Camila narrando:O celular começou a tocar aquele alarme suave que eu costumo colocar pra não acordar a casa toda. Abri os olhos devagar, me espreguicei e, por instinto, estiquei a mão pro lado… vazio.Franzi o cenho. A cama ainda tava meio quente do lado dele, mas o Guilherme já tinha saído. Achei estranho, ele quase sempre acorda comigo ou até depois de mim. Fiquei uns segundos deitada, tentando entender se era só impressão minha ou se algo tinha acontecido.Mas resolvi não surtar por antecipação.Me levantei devagar, ainda sentindo aquele soninho gostoso do corpo relaxado, e fui direto pro banheiro. Abri a torneira do chuveiro, deixei a água esquentar, e me encarei no espelho por alguns segundos. A mão automaticamente foi pra minha barriga.Um sorriso escapou sem esforço.— Bom dia, meu amorzinho... — sussurrei, como se o bebê já pudesse ouvir.Entrei no banho com calma, deixando a água cair pelas costas e lavar os pensamentos. Eu sabia que o dia ia ser cheio. Hoje tinha o exame de
Guilherme narrando :Quando a Camila me pediu pra contar pra Gabi antes da gente sair, meu coração deu um salto. Não porque eu não quisesse, pelo contrário. Eu tava doido pra dividir essa alegria com ela. Mas saber que foi a Camila quem tomou essa decisão… me emocionou. Mostrava que ela tava forte de novo, conectada com a nossa filha, com a nossa nova fase.— Vamos contar pra ela juntos, — falei, segurando firme a mão dela. — Do nosso jeito.Descemos devagar. A casa tava silenciosa, só o som da TV vinha da sala. Minha mãe tava sentada no sofá com a Gabi no colo, as duas vidradas no desenho. A Gabi toda arrumadinha, com o cabelo preso num rabo de cavalo alto, usando aquele vestidinho florido que ela adorava. Minha menina linda, animada, cheia de vida.— Olha só quem desceu toda cheirosa! — eu brinquei, e ela virou pra mim sorrindo.— Papai! — ela pulou do colo da avó e correu pra mim. Me agachei e a abracei forte, sentindo aquele cheirinho de criança que só ela tem.Camila veio logo at