Jamile narrandoAcordei assustada, com o coração disparado e a respiração descompassada. Tudo branco ao meu redor. O teto, as paredes… o som contínuo do bip da máquina. A luz fria me cegando por um segundo.— Onde eu tô? — pensei, tentando sentar, mas meu braço tava preso a uma agulha, o soro pingando lento, e meu corpo inteiro doía.Foi aí que a memória veio como um soco: a dor, o sangue, a estrada, o hospital.— Meu filho! — gritei desesperada. — Cadê meu filho?!A porta se abriu num estalo e um médico entrou apressado, seguido de uma enfermeira de jaleco azul.— Calma, calma, senhora Jamile… a senhora precisa ficar calma, por favor — ela veio na minha direção, tentando me conter.— Não me manda ter calma! — berrei, com lágrimas escorrendo. — O meu bebê… o meu filho… eu perdi?!— Jamile, escuta, por favor — o médico falou com uma voz firme, mas gentil. — Você teve um sangramento muito sério. Estamos fazendo todos os esforços possíveis. Mas agora você precisa descansar.— Eu não quer
Camila narrando:O celular começou a tocar aquele alarme suave que eu costumo colocar pra não acordar a casa toda. Abri os olhos devagar, me espreguicei e, por instinto, estiquei a mão pro lado… vazio.Franzi o cenho. A cama ainda tava meio quente do lado dele, mas o Guilherme já tinha saído. Achei estranho, ele quase sempre acorda comigo ou até depois de mim. Fiquei uns segundos deitada, tentando entender se era só impressão minha ou se algo tinha acontecido.Mas resolvi não surtar por antecipação.Me levantei devagar, ainda sentindo aquele soninho gostoso do corpo relaxado, e fui direto pro banheiro. Abri a torneira do chuveiro, deixei a água esquentar, e me encarei no espelho por alguns segundos. A mão automaticamente foi pra minha barriga.Um sorriso escapou sem esforço.— Bom dia, meu amorzinho... — sussurrei, como se o bebê já pudesse ouvir.Entrei no banho com calma, deixando a água cair pelas costas e lavar os pensamentos. Eu sabia que o dia ia ser cheio. Hoje tinha o exame de
Guilherme narrando :Quando a Camila me pediu pra contar pra Gabi antes da gente sair, meu coração deu um salto. Não porque eu não quisesse, pelo contrário. Eu tava doido pra dividir essa alegria com ela. Mas saber que foi a Camila quem tomou essa decisão… me emocionou. Mostrava que ela tava forte de novo, conectada com a nossa filha, com a nossa nova fase.— Vamos contar pra ela juntos, — falei, segurando firme a mão dela. — Do nosso jeito.Descemos devagar. A casa tava silenciosa, só o som da TV vinha da sala. Minha mãe tava sentada no sofá com a Gabi no colo, as duas vidradas no desenho. A Gabi toda arrumadinha, com o cabelo preso num rabo de cavalo alto, usando aquele vestidinho florido que ela adorava. Minha menina linda, animada, cheia de vida.— Olha só quem desceu toda cheirosa! — eu brinquei, e ela virou pra mim sorrindo.— Papai! — ela pulou do colo da avó e correu pra mim. Me agachei e a abracei forte, sentindo aquele cheirinho de criança que só ela tem.Camila veio logo at
Camila narrando :Enquanto o carro seguia pela estrada, eu tentava manter a respiração firme. A mão do Guilherme ainda entrelaçada na minha me dava uma sensação de segurança que, sinceramente, eu nem sabia que precisava tanto naquele momento.Olhei pela janela, as árvores passando rápido, o céu limpo, e mesmo com o coração acelerado… eu me sentia em paz. Era estranho. Era como se, no fundo, eu já soubesse que hoje alguma ferida ia fechar. Ou pelo menos, ia começar a cicatrizar.— Você tá bem mesmo? — ele perguntou de novo, com a voz calma.Virei o rosto e sorri de leve.— Tô. De verdade. — dei uma pausa, olhando pra estrada. — É esquisito… tô nervosa, claro. Mas ao mesmo tempo, eu sinto que preciso disso. Preciso saber. Pra entender quem eu sou. Pra fechar um ciclo.Ele assentiu, apertando minha mão de novo.— E você não vai passar por isso sozinha. Eu tô aqui. Sempre.O silêncio voltou pro carro, mas não era um silêncio pesado. Era aquele silêncio que fala mais do que qualquer palavr
Guilherme narrando :Quando o exame terminou e saímos da clínica, eu percebi o quanto a Camila tava se segurando. Ela podia até parecer firme por fora, mas eu conheço cada gesto, cada silêncio, cada suspiro dela. E ali, enquanto caminhava ao meu lado sem dizer uma palavra, dava pra sentir que ela tava se protegendo.A gente mal tinha chegado no estacionamento quando o seu Jorge resolveu se aproximar. Não me surpreendi, ele é daquele tipo que gosta de controlar o tempo das coisas, mesmo quando não tem mais esse direito.— Camila… você pode me ouvir por um minuto? — ele soltou, com aquele tom meio contido, quase arrependido.Eu fiquei só observando, pronto pra intervir se ela precisasse. Mas como sempre, ela me surpreendeu. Parou, respirou fundo e respondeu com a maturidade que só ela tem:— Prefiro esperar o resultado. A gente já passou por muita coisa, e agora não é hora pra mais confusão.E foi isso. Simples, direto, do jeito que precisava ser. O velho ainda tentou insistir, dizer qu
Guilherme narrando :A manhã passou voando. Eu fiquei a maior parte do tempo em silêncio, tentando me concentrar nos relatórios da semana, mas a verdade é que minha cabeça tava a quilômetros dali. Camila, como sempre, foi impecável. Não me pressionou, não insistiu, apenas fez o que eu pedi com toda paciência do mundo.— Amor, consegui marcar com o detetive às dez. O nome dele é Jonas, escritório fica na Rua Visconde, sala 302. — ela disse, olhando pra mim por cima do monitor.Levantei da cadeira e fui até ela. Beijei seus lábios com calma, passando a mão em sua nuca.— Obrigado, meu amor. Volto antes do almoço. Qualquer coisa me chama, tá?Ela assentiu, mas antes que eu saísse, segurou minha mão por um segundo.— Se cuida. — disse baixinho, me olhando com aquele jeito que só ela tem.Saí da empresa com o coração mais firme, mas a mente em alerta. Desci pro estacionamento, entrei no carro e liguei o motor. O barulho do motor preenchendo o silêncio me deu aquela sensação de que eu tava
Camila narrando :Quando o Guilherme entrou na sala, foi impossível não sorrir. Ele tinha aquele olhar firme de quem tava com coisa pesada na cabeça, mas mesmo assim… me olhava como se eu fosse o alívio dele. E, no fundo, eu sabia que era.Ele encostou na minha mesa, me olhou por uns segundos e estendeu a mão com aquele jeitinho que eu não resistia.— Tá quase dando o horário do almoço… vamos sair só nós dois? — ele disse, com aquele tom meio calmo, meio urgente, que só ele sabe usar. — Lugar tranquilo. Só eu e você.Meu coração amoleceu na hora. Depois de tudo que a gente passou, e ainda tava passando, um tempo só nosso parecia perfeito.Me levantei, ajeitei a saia e segurei a mão dele com um sorriso de canto.— Com esse convite, quem sou eu pra negar, né?Ele riu, me puxou pra perto e deu um beijo na minha testa. Aquilo era o suficiente pra me fazer esquecer do mundo por alguns minutos.Descemos juntos, de mãos dadas, e só de sair daquele prédio já deu pra sentir o ar diferente. Gui
Camila narrando :Assim que o carro parou, meu coração já tava batendo acelerado. Eu desci meio sem acreditar que ele realmente tinha feito aquilo. Guilherme deu a volta e veio até mim com aquele olhar que misturava desejo, cuidado e certeza.Ele foi até a recepção e, claro, pediu o melhor quarto. Discreto, reservado, com tudo que a gente merecia, e mais um pouco. Quando a porta do quarto abriu, eu parei por um instante, surpresa.O quarto era lindo.A decoração era elegante, nada exagerada. Luz baixa, lençóis brancos impecáveis, um espelho enorme na cabeceira da cama, e uma banheira de hidromassagem ali no canto, com pétalas e luz de LED em volta. Parecia até cenário de filme.— Meu Deus, Guilherme... — murmurei, olhando em volta. — Isso tudo foi de propósito, né?Ele só sorriu de canto e veio na minha direção, devagar, com aquela calma perigosa que só ele tem. Me puxou pela cintura e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, colou os lábios nos meus.O beijo foi intenso. Quente. A