Camila narrando :Quando ouvi o nome do seu Jorge saindo da boca do Guilherme, meu coração travou por um segundo. Era como se o tempo tivesse congelado ali, na mesa daquele restaurante tão bonito, tão calmo… e, de repente, tudo pareceu apertado demais.Eu senti minhas mãos suarem, o peito pesar, e meu corpo todo reagir como se soubesse que aquela verdade que eu passei a vida inteira procurando… tava vindo com força.Ele continuou falando com calma, com aquele jeito firme que ele tem quando quer me proteger do mundo. Disse que já tinha falado com o seu Jorge, que ele confirmou tudo sobre a história da minha mãe… e que já tinha até marcado o exame de DNA pra amanhã cedo.Eu fiquei olhando pra ele, tentando segurar as lágrimas. O rosto dele era um porto seguro no meio de tudo que tava girando dentro de mim.— Guilherme… — sussurrei, sentindo a voz embargar.— Ei… — ele apertou minha mão. — Você não tá sozinha, tá? Eu tô contigo pra qualquer resultado. Pra qualquer resposta. Pra qualquer
Camila narrandoSaímos do restaurante com o coração leve, rindo à toa, como se o mundo inteiro tivesse virado um lugar melhor só por causa daquela noite. Guilherme caminhava ao meu lado com um sorrisão no rosto, a caixinha ainda nas mãos como se fosse um troféu. Ele abria a porta do carro com todo cuidado, me ajudava a entrar, e antes de dar a volta, se inclinou pra me dar um beijo na testa.— Você não tem ideia do quanto eu te amo, Camila. — ele disse, me olhando como se estivesse vendo a coisa mais linda do mundo. — Você me deu tudo o que eu mais sonhei… uma família de verdade.Sorri, segurando a mão dele antes que ele fechasse a porta.— Eu também te amo, Guilherme. Mais do que nunca.No caminho pra casa, ele dirigia devagar, com uma das mãos no volante e a outra entrelaçada à minha. O rádio tocava baixinho, e a cidade parecia mais bonita do que nunca. Era como se tudo estivesse em paz.— Já pensou na cara da Dona Maria e da minha mãe quando souberem? — ele riu.— Elas vão surtar d
Jamile narrandoEu tava arrumando as malas pra voltar pro apartamento.— Por mim, eu ficava aqui mais uns dias — falei.— Você sabe que a gente não pode — Eduardo disse – ainda mais com seu pai aí.— Você tem razão — respondi, olhando pra ele. — Eduardo, preciso que você me ajude a falsificar o exame de DNA desse bebê.— Eu não vou me meter com isso, Jamile — ele disse, calçando o sapato.— Você já tá metido até o pescoço. Já imaginou o que meu pai vai fazer quando souber que você é o pai do meu filho?— Ninguém nunca vai saber que esse filho é meu, tá me ouvindo? Nunca! — ele gritou, já de pé, andando de um lado pro outro.— Você tá fugindo, Eduardo! Tá com medo! — rebati, com raiva nos olhos. — Medo do meu pai, medo da responsabilidade… medo de tudo!— Medo? — ele virou pra mim, com o olhar carregado. — Quem me garante que esse filho é meu, Jamile? Você acha que eu sou otário? Do mesmo jeito que dava pra mim, dava pra outros também.— Você tá me chamando de quê?! — gritei, me aproxi
Jamile narrandoAcordei assustada, com o coração disparado e a respiração descompassada. Tudo branco ao meu redor. O teto, as paredes… o som contínuo do bip da máquina. A luz fria me cegando por um segundo.— Onde eu tô? — pensei, tentando sentar, mas meu braço tava preso a uma agulha, o soro pingando lento, e meu corpo inteiro doía.Foi aí que a memória veio como um soco: a dor, o sangue, a estrada, o hospital.— Meu filho! — gritei desesperada. — Cadê meu filho?!A porta se abriu num estalo e um médico entrou apressado, seguido de uma enfermeira de jaleco azul.— Calma, calma, senhora Jamile… a senhora precisa ficar calma, por favor — ela veio na minha direção, tentando me conter.— Não me manda ter calma! — berrei, com lágrimas escorrendo. — O meu bebê… o meu filho… eu perdi?!— Jamile, escuta, por favor — o médico falou com uma voz firme, mas gentil. — Você teve um sangramento muito sério. Estamos fazendo todos os esforços possíveis. Mas agora você precisa descansar.— Eu não quer
Camila narrando:O celular começou a tocar aquele alarme suave que eu costumo colocar pra não acordar a casa toda. Abri os olhos devagar, me espreguicei e, por instinto, estiquei a mão pro lado… vazio.Franzi o cenho. A cama ainda tava meio quente do lado dele, mas o Guilherme já tinha saído. Achei estranho, ele quase sempre acorda comigo ou até depois de mim. Fiquei uns segundos deitada, tentando entender se era só impressão minha ou se algo tinha acontecido.Mas resolvi não surtar por antecipação.Me levantei devagar, ainda sentindo aquele soninho gostoso do corpo relaxado, e fui direto pro banheiro. Abri a torneira do chuveiro, deixei a água esquentar, e me encarei no espelho por alguns segundos. A mão automaticamente foi pra minha barriga.Um sorriso escapou sem esforço.— Bom dia, meu amorzinho... — sussurrei, como se o bebê já pudesse ouvir.Entrei no banho com calma, deixando a água cair pelas costas e lavar os pensamentos. Eu sabia que o dia ia ser cheio. Hoje tinha o exame de
Guilherme narrando :Quando a Camila me pediu pra contar pra Gabi antes da gente sair, meu coração deu um salto. Não porque eu não quisesse, pelo contrário. Eu tava doido pra dividir essa alegria com ela. Mas saber que foi a Camila quem tomou essa decisão… me emocionou. Mostrava que ela tava forte de novo, conectada com a nossa filha, com a nossa nova fase.— Vamos contar pra ela juntos, — falei, segurando firme a mão dela. — Do nosso jeito.Descemos devagar. A casa tava silenciosa, só o som da TV vinha da sala. Minha mãe tava sentada no sofá com a Gabi no colo, as duas vidradas no desenho. A Gabi toda arrumadinha, com o cabelo preso num rabo de cavalo alto, usando aquele vestidinho florido que ela adorava. Minha menina linda, animada, cheia de vida.— Olha só quem desceu toda cheirosa! — eu brinquei, e ela virou pra mim sorrindo.— Papai! — ela pulou do colo da avó e correu pra mim. Me agachei e a abracei forte, sentindo aquele cheirinho de criança que só ela tem.Camila veio logo at
Camila narrando :Enquanto o carro seguia pela estrada, eu tentava manter a respiração firme. A mão do Guilherme ainda entrelaçada na minha me dava uma sensação de segurança que, sinceramente, eu nem sabia que precisava tanto naquele momento.Olhei pela janela, as árvores passando rápido, o céu limpo, e mesmo com o coração acelerado… eu me sentia em paz. Era estranho. Era como se, no fundo, eu já soubesse que hoje alguma ferida ia fechar. Ou pelo menos, ia começar a cicatrizar.— Você tá bem mesmo? — ele perguntou de novo, com a voz calma.Virei o rosto e sorri de leve.— Tô. De verdade. — dei uma pausa, olhando pra estrada. — É esquisito… tô nervosa, claro. Mas ao mesmo tempo, eu sinto que preciso disso. Preciso saber. Pra entender quem eu sou. Pra fechar um ciclo.Ele assentiu, apertando minha mão de novo.— E você não vai passar por isso sozinha. Eu tô aqui. Sempre.O silêncio voltou pro carro, mas não era um silêncio pesado. Era aquele silêncio que fala mais do que qualquer palavr
Guilherme narrando :Quando o exame terminou e saímos da clínica, eu percebi o quanto a Camila tava se segurando. Ela podia até parecer firme por fora, mas eu conheço cada gesto, cada silêncio, cada suspiro dela. E ali, enquanto caminhava ao meu lado sem dizer uma palavra, dava pra sentir que ela tava se protegendo.A gente mal tinha chegado no estacionamento quando o seu Jorge resolveu se aproximar. Não me surpreendi, ele é daquele tipo que gosta de controlar o tempo das coisas, mesmo quando não tem mais esse direito.— Camila… você pode me ouvir por um minuto? — ele soltou, com aquele tom meio contido, quase arrependido.Eu fiquei só observando, pronto pra intervir se ela precisasse. Mas como sempre, ela me surpreendeu. Parou, respirou fundo e respondeu com a maturidade que só ela tem:— Prefiro esperar o resultado. A gente já passou por muita coisa, e agora não é hora pra mais confusão.E foi isso. Simples, direto, do jeito que precisava ser. O velho ainda tentou insistir, dizer qu