Eu tinha cometido o erro mais terrível da minha vida. Liguei para Joana e pedi para que me encontrasse no mesmo lugar de antes. Eu não podia lidar com tudo aquilo sozinha. Meu coração ainda pulsava rápido, como se o toque dele ainda estivesse em mim, como se cada parte da noite passada estivesse gravada em minha pele. Passei a mão pelo rosto, tentando apagar a lembrança, mas era impossível. Fechei os olhos e respirei fundo, mas tudo o que consegui foi reviver a noite, o calor dos lábios dele nos meus, o modo como ele segurava meu rosto como se eu fosse algo precioso. A culpa veio com força, atravessando cada fibra do meu corpo. Eu devia ter colocado um limite, mantido uma distância segura. Mas não consegui. A forma como ele olhava para Sofia, a maneira como a dor dele transparecia em pequenos momentos de distração, como se estivesse sempre lutando para não se quebrar… Tudo isso me puxava cada vez mais para ele. E agora eu estava apaixonada.
O som da voz dele me congelou no lugar. Algo dentro de mim queria correr para o meu quarto, fechar a porta e me esconder, fingir que nada existiu, mas minhas pernas não me obedeceram. Eu não queria vê-lo agora, não queria enfrentá-lo depois de tudo o que aconteceu. Mas eu sabia que não poderia fugir. Engoli seco, tentando juntar as palavras em minha garganta. Elas estavam lá, mas parecia que estavam presas, como se a culpa e o arrependimento as tivessem amarrado. Eu o ouvi se levantar do seu lugar. O som de seus passos era firme, determinado. E eu, ali no corredor, completamente vulnerável, não sabia o que esperar dele. Gabriel caminhou lentamente até a porta aberta e parou diante de mim. O olhar dele encontrou o meu. Não havia mais distância entre nós, nenhuma barreira, apenas um silêncio pesado. Ele não disse nada imediatamente, mas seus olhos estavam carregados de algo que eu não conseguia decifrar. Expectativa? Preocupação? Ou ele também estava tão perdi
Depois daquela conversa, voltei a fazer o que sempre fiz — e o que sabia fazer de melhor: estabelecer limites. Mas dessa vez, não para ela — para mim. Eu precisava me lembrar de que, por mais que Celina tivesse o poder de me desestabilizar, eu ainda era o homem que sustentava um império com base em disciplina, ordem e controle. Era um alívio perceber que podíamos fazer isso: deixar aquela noite para trás. Seguimos em frente com uma facilidade quase desconcertante. Celina continuava a desempenhar seu trabalho com a mesma competência de sempre — e eu… eu comecei a chegar mais cedo em casa. Depois que me dei conta de que podia comandar a empresa do meu escritório sem grandes prejuízos, passei a estar mais presente, atendendo ao pedido de Sofia. Mas, naquela semana, eu tinha exagerado. Trabalhei de home office por três dias e, nos outros dois, já estava em casa às duas da tarde. Eu repetia para todos — e para mim mesmo — que, agora que a etapa era programar o soft
Eu deveria ter enviado um e-mail detalhado, expondo os argumentos sobre a atividade que eu recomendava para Sofia nas férias. Ou escrito tudo na agenda e deixado em cima da mesa dele, aproveitando um momento em que Gabriel não estivesse em casa. Poderia ter mandado uma mensagem no WhatsApp, feito um gráfico, enviado uma carta, contratado um pombo-correio… Havia mil maneiras de comunicar minhas sugestões sem precisar encará-lo. Mas, ainda assim, lá estava eu. De pé, diante dele. Cada célula do meu corpo implorava para que eu saísse daquele escritório. Que dissesse rapidamente que enviaria um e-mail depois, que atravessasse aquela porta e fingisse que nada havia acontecido. Mas quando ele me chamou... — Celina. Meu nome nos lábios dele. Minhas pernas travaram no mesmo instante. Eu forçava minha expressão a permanecer neutra, mas sentia meu estômago afundar. Eu deveria ter ignorado. Deveria ter continuado andando, como se não tivesse ou
Eu me aproximei de Celina em um descontrole extremo e segurei seu pulso. Eu deveria soltá-la. Era isso que a razão me dizia. Mas a razão não estava no controle agora. Meus dedos envolviam seu pulso, e a pele dela estava quente sob a minha. Um toque simples. Um toque que não significava nada. Exceto que significava tudo. Celina respirou fundo, tentando recuperar o equilíbrio que claramente também escapava dela. Meu olhar desceu para a curva delicada do seu pescoço, o movimento sutil de sua respiração. Eu sabia que se me inclinasse um pouco mais, sentiria o cheiro do seu perfume. Encostei meu nariz no dela, deixando meus lábios quase tocando os seus. — Gabriel… — Minha respiração quase falhou quando ela disse meu nome daquele jeito. Não "senhor". Não "senhor Gabriel". Apenas Gabriel. Quando ela me chamou assim, eu quase perdi o controle. Fechei os olhos por um instante. Um erro. Era isso que isso tudo era. Mas se era mesmo um erro, por que parecia tão ce
Quatro dias se passaram desde que Gabriel segurou meu pulso naquele momento no escritório. Desde então, ele deixou de vir para casa durante o dia. Saía cedo, voltava tarde, e eu sabia que fazia de tudo para evitar me ver. De um jeito cruel e contraditório, eu era grata por isso e, ao mesmo tempo, miseravelmente infeliz. Porque, no fim das contas, manter distância era o certo—o melhor para todos nós. Mas não era o que eu queria, e essa certeza tornava a ausência dele ainda mais dolorosa. Agora, toda a comunicação entre nós se resumia a e-mails. Gabriel também criou um caderno de anotações para que eu pudesse deixar recados mais detalhados. Bastava escrever e deixá-lo sobre a mesa do escritório dele. Quando chegava, ele lia e respondia. Eu só pegava o caderno na manhã seguinte, quando ele já tivesse ido embora. Gabriel era um homem bom e com honra, ele não dizia que estava fazendo isso por causa… do que aconteceu… Em vez disso, justificava com razões práticas: dizia que, com
Alguns dias depois… Já passava das nove da noite, e Gabriel estava lá em cima colocando Sofia para dormir. Ele me mandou um e-mail — nossa única forma de comunicação agora —, um e-mail pedindo que Sofia o esperasse acordada pois conseguiria sair mais cedo do trabalho. Assim que ele entrou no quarto de Sofia, eu saí deixando-os sozinhos. Desci as escadas, caminhando pela mansão, eu tentava afastar os pensamentos que me atormentavam. O que estava acontecendo comigo? Eu sempre fui lógica, racional. Sempre mantive minhas emoções sob controle. Mas agora... agora tudo parecia fora do meu alcance. Eu precisava de um lugar onde pudesse pensar. Meus passos me levaram até a biblioteca. Um cômodo que eu já tinha visitado algumas vezes, mas que nunca havia explorado completamente. Era enorme, cheia de estantes antigas, algumas tão altas que precisavam de escadas para alcançar os livros do topo. O cheiro de papel envelhecido me envolveu assim que entrei, e, por um momento, o ambie
É impressionante a força que surge em nosso corpo quando alguém importante para nós está em perigo. Sim, porque eu me importava com Celina e muito. A ponto de erguer uma estante de livros para soltá-la. Quando finalmente consegui mover a estante, Celina tremia debaixo dela, os olhos arregalados, o corpo rígido. Poeira cobria sua pele, misturada ao suor e aos pequenos cortes que marcavam seus braços. Ela parecia não perceber que estava livre. — Celina! — Chamei, tentando tocar seu rosto, mas ela gritou e se encolheu ainda mais, os braços cobrindo a cabeça. — Eu quero sair, socorro! Minha respiração ficou presa na garganta. — Celina, me escuta. Você está bem. Você está livre. Mas ela continuava com os olhos fechados, os soluços irregulares atravessando sua respiração. — Celina, olhe para mim. Ela demorou a responder, como se minha voz fosse algo distante demais para alcançar. Eu a tomei em meus braços e a abracei o mais forte que p