Só eu era importante para ela? Foi isso que Celina disse? Ou eu estava enlouquecendo? Eu estava enlouquecendo, isso era um fato. Como podia cogitar demitir o Valter? Cinco anos comigo, de uma lealdade inimaginável. Não sei o que deu em mim. Eu não faria isso. Até trocar o local de trabalho de Samantha e Valter era irracional. Eu gostava que ela dirigisse para mim. Mas eu não podia deixar Celina perto de Valter. Ele estava interessado nela. Não, não podia. Samantha ia dirigir para Celina e Sofia. E o Valter cuidaria apenas dos meus compromissos. Não podia me conter, não queria nenhum homem perto dela. Eu queria ser o homem perto dela. Mas eu não conseguia decifrá-la. Retribuiu meu beijo, me pediu para ser profissional e depois murmurou que somente eu importava para ela. Era impossível entendê-la. Falava uma coisa, fazia outra. E a sensação de não me contar tudo, ainda me perseguia. Acabei mudando de assunto para esfriar meu ânimo. — Como está Sofia? Alguma novidade?
Eu tinha refletido bastante nos últimos dias e, finalmente, tomei a decisão de deixar Sofia fazer as aulas de pintura. Quanto a Celina, desisti de tentar entender o que realmente havia entre nós. Parecia mais seguro deixar tudo como estava, não mexer mais naquilo. Entrei na cozinha, tentando me distrair com algo simples, como um copo de água, mas foi então que Celina entrou, seus cabelos salpicados com pequenas manchas de tinta. — Celina? Isso é tinta? — perguntei, um pouco surpreso. Ela se encolheu levemente, visivelmente desconcertada, e respondeu com a habitual educação, mas com um toque de constrangimento: — Me desculpe, senhor. Vou tomar um banho e me arrumar melhor. — Mas me explique o que é isso. — Eu pinto para relaxar. E Sofia me ajuda, ela gosta muito. Por isso dei a ideia dela ter aulas de pinturas com um profissional. — Deixe-me ver algumas de suas pinturas — ordenei. — Oh, não, senhor. — Estão no seu quarto? Em segui apressa
Ele continuava encarando minha pintura. Oh, Deus, não permita que ele continue passando as páginas do bloco. Veja apenas a pintura da tela, só essa... Mas então, ele andou passou a primeira página. Droga, ele passou. Agora estava diante da pintura do jardim da casa dele, tudo bem inofensivo. Ele só precisa parar antes que chegue… e ele parou. Me senti aliviada.Talvez tivesse perdido o interesse mas a sensação de alívio evaporou quando vi seus dedos virando outra página, depois outra. Meu desespero crescia, e o calor subia pelo meu rosto. Ele estava prestes a chegar na pintura que eu jamais queria que ele visse. Eu tinha pintado nós dois. Ele não podia ver, então em um impulso segurei a mão dele.— Não vamos perder tempo com isso, senhor. Relaxei quando ele se afastou do cavalete, mas meu coração saltou quando ele retornou e disse:— Só mais um. Você é realmente talentosa e eu estou impressionado pelas suas pinturas.Então, quando ele virou a próxima página, ele viu a pintura de nós
Eu estava vendo coisas ou… quem estava parado na porta da minha sala, me esperando, era o papai? Meu coração disparou. Era ele, sim! O único homem gigantesco de terno e gravata no corredor da escola. Todo mundo estava olhando para ele.E claro, como não olhariam? Ele parecia um gigante perto das professoras e dos meus colegas. Até a professora ficou ali, parada, olhando papai dos pés à cabeça. Devia estar tentando adivinhar a altura dele. Eu também não sabia exatamente quanto ele media, só sabia que era muito alto.Assim que a professora chamou meu nome, eu não consegui me segurar. Peguei minha mochila, esqueci do resto e saí correndo pelo corredor. Pulei nos braços dele antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.— Papai! — exclamei, apertando o pescoço dele com força.Eu esperei pelo sorriso. Esperei mesmo, de verdade. Mas ele não sorriu. Mesmo assim, algo no rosto dele estava diferente. Não era a expressão emburrada de sempre. Pelo contrário, parecia que ele estava feliz, mesmo sem
Estava incrível passar aquele tempo no refúgio de Gabriel, como ele disse. Sofia tinha pescado com ele, se divertido, brincado, pintado. Ele tinha conseguido se conectar com ela. A promessa minha e de Joana havia sido cumprida. Era a hora de dizer-lhe a verdade. Eu só desejava que ele não me odiasse depois disso, sei que nunca ficaríamos juntos mas eu consegui fazer o que havia prometido. Eu sentia uma mistura de satisfação e dor. Satisfação por ter cumprido minha missão, por ter visto a transformação de Gabriel e o brilho nos olhos de Sofia. E dor, porque isso significava que meu tempo com eles estava chegando ao fim. Sabia que a minha presença na vida deles não podia ir além daquele momento. Eu sabia que nunca ficaria com Gabriel — a distância entre nós era clara, não apenas pela nossa posição, mas também pelo que ele ainda não sabia sobre mim. E, no fundo, eu sabia que, ao ajudá-lo a curar a relação com Sofia, havia me perdido no processo. Meus sentimentos por ele eram reais, mas
O peso daquela declaração ainda me impactava profundamente. Quando chegamos em casa, no domingo a noite, ele fez uma ligação perguntando se tudo estava pronto. Eu não sei quem era do outro lado da linha, mas depois que dei banho em Sofia, ele a colocou para dormir e pediu que eu o esperasse na sala.Meu coração acelerou. O que ele queria agora? Fiquei alguns segundos paralisada, tentando entender o que estava acontecendo, mas minha mente estava uma bagunça, cheia de perguntas e sentimentos que eu não conseguia organizar.Quando Sofia dormiu, ele desceu as escadas e fez um gesto para eu segui-lo. Gabriel me guiou até um dos quartos da mansão, e, quando abriu a porta, fiquei sem ação. Lá dentro, havia um estúdio de pintura novinho, com as paredes brancas ainda frescas e um cheiro de tinta que preenchia o ambiente. O espaço estava impecável, com um grande cavalete em um canto, telas em branco prontas para serem usadas e pincéis de diferentes tamanhos organizados de forma meticulosa.Eu n
Não, não havia mais volta mesmo. Ele me beijou novamente, com uma intensidade ainda maior, como se quisesse marcar cada parte de mim. O toque dos seus lábios era firme, possessivo, e ao mesmo tempo, tão carinhoso que fazia meu coração disparar. Cada suspiro, cada batida, cada estremecimento meu, parecia responder ao comando silencioso dele.Eu não queria pensar que não estava prestes a acontecer. Não queria interromper o momento com questionamentos ou incertezas. Ele estava ali, e eu, envolta pelo calor da presença sua, só conseguia sentir uma urgência crescente entre nós.Quando ele me soltou, seus olhos me encararam com uma mistura de desejo e certeza, como se soubessem que, de agora em diante, nada seria mais o mesmo.— Você sabe o que isso significa, não sabe? — disse ele, a voz rouca, quase uma provocação. Eu sabia. Algo dentro de mim sussurrava que não havia mais como voltar atrás. — Você é minha, Celina. Minha. Diga que aceita porque você é minha, você sabe que é.Eu era. Eu
O gosto dela ainda estava nos meus lábios quando nos afastamos. Ela acabou adormecendo ao meu lado. Mandei fazer o estúdio de pintura no maior quarto da casa. Mas com ela em meus braços, o lugar parecia menor, mais quente, como se cada centímetro entre nós tivesse se dissolvido. Escolhi o cômodo que havia mais luz e ventilação para ela. E agora a luz emoldurava seu corpo nu ao lado do meu. Eu afastei uma mecha do cabelo dela, sentindo o coração disparado contra o meu peito. Cada respiração dela fazia meu peito apertar, e eu sabia que nada mais seria igual a partir daquele momento. O desejo, antes de uma chama pequena, agora tinha se expandido, queimando por cada poro da minha pele, se alimentando da proximidade que ainda nos ligava.Celina se mexeu levemente ao meu lado, como se sentisse minha tensão, mas não acordou de imediato. Observei seu rosto tranquilo, o jeito despreocupado com que dormia, e não pude evitar pensar em tudo o que tinha mudado entre nós.Isso era só o começo. Um