— Não precisa temer nada, Celina. — Senhor Gabriel, eu… não sei se consigo fazer isso. — Minha voz saiu quase em um sussurro, trêmula. — Você vai conseguir, Celina. Porque, se não o fizer, elas serão cruéis e tentarão te rebaixar. Não permita isso. Eu não vou permitir. Levantei o olhar para ele e percebi que aquilo não era apenas sobre mim. Gabriel queria me proteger, sim, mas parecia carregar um peso antigo, uma culpa que o seguia. Arrisquei perguntar: — Tentaram fazer isso com a mãe da Sofia?Ele engasgou, como se não esperasse a pergunta, e respondeu com a voz carregada de amargura: — Sim. Sempre faziam isso com ela. Depois do que aquela mulher disse hoje, imagino que tenha ficado claro para você que minha esposa não fazia parte do mesmo círculo social que eu. Lívia sofria muito tentando se adaptar mas não davam a ela nenhuma chance. Ele suspirou profundamente, o peso da lembrança evidente em sua expressão. — No início, eu acha
No começo estava nervosa mas depois de saber como essas pessoas eram, me enchi de uma coragem de rebatê-las. De repente, uma vontade inesperada brotou em mim, como se eu tivesse algo a provar, não para elas, mas para mim mesma. A ideia de recuar, de deixar que me intimidassem, se tornou inaceitável. E naquele momento, eu decidi: se era para estar naquele jogo, então eu jogaria – e jogaria bem. E a minha primeira prova já estava a caminho, avançando em minha direção como uma tempestade anunciada. Penélope, aproveitando a oportunidade de Gabriel ter me deixado sozinha, vinha acompanhada de duas madames tão altivas quanto ela. Sem a menor cerimônia, Penélope se acomodou na cadeira à minha frente, ocupando o espaço com a confiança de quem estava em seu território. Suas seguidoras se sentaram logo depois, como se cumprissem um ritual ensaiado. Levantei o olhar e percebi Gabriel a certa distância. Ele tinha interrompido a conversa para nos observar, seu olhar fixo
Não tive tempo de responder. Ele se levantou de repente, puxando-me para perto antes de me guiar até a pista de dança, onde apenas alguns casais se moviam suavemente ao ritmo da música. A melodia era suave, romântica, algo clássico e envolvente, mas, por mais que tentasse, eu não conseguia me concentrar na canção. Tudo o que eu sentia era a proximidade de Gabriel, a força gentil de sua mão segurando a minha e a outra repousando firme, mas delicada em minha cintura. Nossos passos se sincronizaram com facilidade, e foi como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. Apenas o som da música e a intensidade do olhar dele pareciam existir. Eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo, e cada movimento que ele guiava fazia meu coração bater mais rápido. — Está nervosa? — ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto inclinava levemente a cabeça para me olhar nos olhos. — Talvez um pouco — admiti, sorrindo. — Não precisa ficar. É s
Olhei ao redor, tentando apenas respirar, como se o ar tivesse ficado mais denso de repente. Aquele homem estava à minha frente, falando comigo, e eu me sentia... desconectada do que era real. Era como se o tempo tivesse desacelerado, e eu estivesse presa em um momento que eu não sabia como processar. Cada palavra que ele dizia parecia ressoar dentro de mim, como se estivesse tocando algo que eu mesma nem sabia que existia. — Você é um mistério. Sei que há algo que não me conta. — V-você sabe? — A Celina da entrevista não me disse tudo. Sei que há mais versões de você. Eu a observo. — Me observa? — Sinto que tenta esconder quem é. Eu consigo ver a sua essência, eu consigo ver do que você é feita, independente dos seus segredos. E eu gosto do que vejo. — Você é o primeiro a dizer isso... e o primeiro a me fazer querer acreditar. — Então acredite. Porque eu reafirmo: você não deveria se diminuir. Só precisa de alguém que te entenda. Um
Ouvi o som do carro estacionando na garagem e meu coração deu um pulo! Larguei o biscoito que estava comendo, minha boneca, a comidinha de massinha que fazia e saí correndo para a porta. Jojo me olhou com tristeza e falou: — Sofia, querida, lembra do que conversamos? Seu pai não gosta de abraços. Joana era minha babá, mas fingi que não escutei o aviso. Papai estava em casa! Fazia tanto tempo que eu esperava por ele. Fiquei na ponta dos pés para espiar pela janela. Quando a porta se abriu, meu peito quase explodiu de alegria. Queria correr e pular nos braços dele, mas tive medo que brigasse comigo. Então, fiquei ali, parada, quietinha, perto da porta. Talvez, se ele me visse, me desse um sorriso. Ele entrou, estava no celular, falando daquele jeito sério: — Preciso que o relatório esteja pronto amanhã cedo. Sem desculpas, entendeu? Depois, ele desligou o celular, e eu tentei chamá-lo: — Papai? Mas ele só fez um gesto com a mão, como se pedisse
— Pode entrar. — Com licença, senhor. Uma mulher alta e elegante entrou em minha sala com passos firmes, exalando discrição e compostura. Seu currículo, mandando pela melhor agência do país, estava em minhas mãos e informava que tinha vinte e oito anos, mas sua postura madura transmitia uma experiência que parecia ir além dessa idade. Os cabelos castanhos, presos de forma impecável, reforçavam sua imagem de profissionalismo, e seus olhos atentos, carregavam um ar sereno. Apesar de sua beleza natural, sua expressão mantinha-se séria e reservada, refletindo um autocontrole que inspirava confiança — exatamente o que eu procurava. Joana era uma boa funcionária, mas tinha um grande defeito: enchia a cabeça da minha filha com brincadeiras, filmes e outras distrações inúteis. Sofia não precisava disso. Ela precisava de disciplina, de estrutura, e não de fantasias. Por isso, decidi realocar Joana para outra família. Lá, ela se encaixaria melhor. Sofia preci
Eu ainda tentava entender aquele homem. Será que ele realmente acreditava que essa abordagem era o melhor para a Sofia? Ou seria apenas uma forma de se proteger do mundo, de não ter que lidar com algo que ele não pudesse controlar? As perguntas dele eram tão diretas e objetivas que, por um momento, me senti como se estivesse em uma entrevista para um cargo corporativo, e não para cuidar de uma criança. Ele queria respostas práticas, sem espaço para sonhos ou fantasias — nem mesmo para uma fada do dente. Respondi como Joana me treinou. Será que era mesmo certo fazer isso? Eu acreditava na disciplina e no esforço mas não acreditava na ideia de que o papel do pai não era estar ao lado de filho nas pequenas tarefas diárias mas sim se preocupar em apenas garantir a segurança e futuro deles. E esse era todo o conflito aqui. Aquele homem não sabia que Sofia podia ter as duas coisas. Eu não negava que sua aparência era intimidadora. Ele era alto, imponente, cabelos e b
Estava quase na hora de Celina chegar, e Sofia ainda dormia. Eu já tinha me despedido no dia anterior. Agora sairia assim que Celina chegasse; não queria que Sofia me visse partir e ficasse triste outra vez. O novo emprego era maravilhoso, e eu já conhecia a família. Mas ficar lá e deixar Sofia com alguém que eu não conhecia significaria quebrar minha promessa. Mas com Celina ali, daria tudo certo. Ela é a única pessoa além de mim, que seria capaz de amar tanto Sofia quanto eu. Olhei para a casa onde tinha morado nos últimos doze meses. A avó de Sofia, Regina, havia imposto ao senhor Gabriel que me contratasse e garantiu que eu continuasse ali. Mas fazia dois meses que ela tinha morrido, e isso era tudo o que o senhor CEO precisava para me colocar para fora. Ele nunca concordou com os meus métodos. Achava que eu mimava Sofia demais. E eu? Não soube lidar com ele. Não soube me impor, me defender e, principalmente, defender Sofia. Mas Celina conseguiria. Para c