Mirella
Minha cabeça está a mil. Assim que fechei a porta atrás de mim, encostei as costas nela, tentando recuperar o fôlego. O que acabou de acontecer? Eu fui jantar com um completo estranho , um homem sedutor, misterioso, que me salvou de um idiota metido a galã e voltei com um pedido de casamento. Um pedido vindo de um mafioso. Sim, mafioso. Ele disse com todas as letras. Sem rodeios. Apenas jogou a verdade no meio do restaurante como se estivesse me contando que é alérgico a frutos do mar. E pior disse que me observava há semanas, que sabia tudo sobre mim... até que mandou investigarem minha vida. Minhas mãos ainda tremem. Sinto o gosto do vinho nos lábios misturado com o sabor do beijo dele. E que beijo. Intenso, dominador, confuso assim como ele. Meu corpo reagiu de uma forma que minha mente ainda não entendeu. E talvez seja isso que mais me assuste. Vincent Mangano. Ele é bonito de um jeito que chega a ser pecado. Olhos que parecem atravessar a alma, voz firme, postura de quem está acostumado a dar ordens e ser obedecido. Mas por trás disso... existe um perigo . Uma escuridão. Ele não é um cara qualquer, ele é o próximo na linha de sucessão de uma das maiores famílias mafiosas da Itália. E quer casar comigo. Em trinta dias. Apoio as mãos na bancada da cozinha, fecho os olhos e respiro fundo. Preciso pensar. Preciso colocar os pés no chão. Não posso deixar meu coração ou meu corpo decidirem por mim. Ligo para Liz. Conto o básico, sem entrar em muitos detalhes e mesmo assim ela surta. — UMA MÁFIA, MIRELLA? Você tá maluca? Isso é coisa de filme, mulher! Ele é lindo? É. Mas e daí? Tu quer acordar sequestrada em outro país? Suspiro, sentindo o peso das palavras dela. E ao mesmo tempo, uma parte de mim grita que tem algo nele... algo que me atrai, que me prende, que me puxa como um ímã. Mas isso não é um conto de fadas. Isso é real. E real significa consequências. Deito na cama, ainda vestida, com o sobretudo jogado no chão e a mente em guerra. O que devo fazer? Fugir? Aceitar o desafio? Ou tentar resistir e manter minha vida nos trilhos como planejei? Vincent disse que me daria segurança. Mas será que eu vou conseguir me sentir segura ao lado de um homem que comanda o caos? A única coisa que eu sei... é que o tempo começou a correr. E eu tenho trinta dias para tomar a decisão mais importante da minha vida. Alguns dias depois ... Estou fazendo de tudo pra fugir do Vincent. Ele tem me cercado de todas as formas, tentando contato comigo, e eu sinceramente não sei... por que eu? Ainda não decidi nada sobre conhecê-lo por um mês. Não vou negar que o acho muito bonito, seu olhar é intimidador. Apesar de ser lindo e charmoso, tenho muito medo do que pode vir pela frente. Sei lá... tenho medo. Não sei como seria me envolver com um mafioso, sendo filha de um dos braços direitos da facção do Comando no Brasil. Ainda estou com receio de contar para minha mãe sobre ele. Ela sabe que eu saí com ele , na verdade, era pra ser um jantar, mas nem teve jantar e desde então nunca mais falei sobre isso, nem com ela, nem com a Liz. Tenho evitado o contato, tentando colocar minha cabeça no lugar. Ele me manda flores e presentes todos os dias, mas não abri nenhum. Estou guardando até decidir o que realmente vou fazer. E, sinceramente, por que eu? São tantos porquês... Ele escolheu justo a mim. Nem sou do país dele, nem tenho o perfil para casar com alguém como ele. Sei de todas as normas e regras da máfia, pesquisei bastante, e pra falar a verdade, não me encaixo em nenhuma delas. A verdade que não quer calar: será que eu me adaptaria a um casamento com um mafioso? Essas perguntas me atormentam mentalmente desde o primeiro dia em que ele me fez a proposta. Já se passaram duas semanas e ele, incansável, não me deixa em paz. Suas mensagens são de um conquistador romântico... muito romântico, por sinal. Tenho evitado qualquer olhar, qualquer contato. Mesmo assim, percebo seus olhos queimando em mim. Mesmo de longe, ele consegue me intimidar , e talvez saiba disso. Até porque, vira e mexe, nossos olhares se cruzam em algum lugar da sala, nos corredores, na biblioteca, até na saída. Pedi um tempo pra pensar. Eu sei que já passaram alguns dias, mas ainda estou receosa. É uma decisão muito grande. Apesar de saber que posso tentar esse mês para conhecê-lo melhor, saber mais sobre o mundo dele... a curiosidade é grande, mas o medo é maior. Se eu contar isso para os meus pais... meu Deus. Meu pai me faz voltar no mesmo dia pro Brasil. Não sei mentir pra eles, então prefiro me manter distante. Na última ligação da minha mãe, tive que inventar que estava muito atarefada com trabalhos escolares e cansada com as aulas práticas o que, na verdade, não deixa de ser verdade. Mas já estou acostumada com essa rotina louca de aprender coisas novas sobre o corpo humano. Perdida em meus pensamentos, olho mais uma vez a última mensagem dele. Um poema muito lindo "Ainda te Necessito" Ainda não estou preparado para perder-te, Não estou preparado para que me deixes só. Ainda não estou preparado pra crescer e aceitar que é natural, para reconhecer que tudo tem um princípio e tem um final. Ainda não estou preparado para não te ter e apenas te recordar, Ainda não estou preparado para não poder te olhar ou não poder te falar. Não estou preparado para que não me abraces e para não poder te abraçar. Ainda te necessito. E ainda não estou preparado para caminhar por este mundo perguntando-me: Por quê? Não estou preparado hoje nem nunca o estarei. Ainda te necessito. Sim, ele está tentando me conquistar antes mesmo do mês começar. Deitada, de pijama de ursinho, escuto a campainha tocar. Franzo o cenho, achando estranho, porque não estou esperando ninguém ainda mais com esse frio. Calço minhas pantufas de sapinho, que eu amo, e vou até o olho mágico. Quando vejo quem é, meu corpo gela, é ele, na minha porta, com mais um buquê enorme e um sorriso puxado de lado como nunca vi. Ele parece saber que estou olhando e, na mesma hora, ouço sua voz: — Vamos, baby. Abre a porta, já viu que sou eu!Destranco e, por uma fresta, falo com ele — O que você está fazendo aqui? Como entrou sem ser anunciado? — Eu tenho meus truques! Não vai me convidar pra entrar? — Entra... digo, abrindo mais a porta. Ele me olha dos pés à cabeça. — Gostei das pantufas! Porra, tinha até esquecido desse detalhe. Humm, aqui tá bem quentinho, diferente lá de fora. — Vincent... por favor, vá direto ao ponto. — Me perdoe. Essas flores são pra você, baby. Eu não aguento mais esse seu silêncio. Vim atrás de respostas. Estou ansioso por ter você mais próxima de mim. — Ainda não tomei uma decisão! E a pergunta que não quer calar é, por que eu? — Porque você me encantou desde o primeiro dia, eu já disse! — Mas isso é loucura demais! Seu mundo é diferente do meu. Eu não tenho como aceitar isso assim. Eu não me encaixo em nada do seu mundo. Eu sei que...Ele me interrompe: — Você não é mais virgem? — Não! respondo direta. Ele desvia o olhar, pensativo, e engole em seco. — Eu vou dar um jeito nisso... Só te peço que me dê a chance de te conquistar por um mês. Se você não se adaptar à minha vida, nem a mim, eu te deixo livre. Só me dá essa oportunidade. Eu quero você! diz, olhando agora nos meus olhos. A intensidade de suas palavras toca minha alma, travando uma batalha interna entre o sim e o não. — Digamos que eu aceite... o que tenho que fazer? — Ir a jantares, algumas reuniões, me acompanhar em algumas viagens... Me dar herdeiros e, nunca ... jamais ...me trair. — Eu nunca trairia alguém! — Você tem pretensão de ter filhos? — Um dia, sim. Mas, por enquanto, meu foco é estudar. — Certo, compreendo. Então vamos dar um passo de cada vez. O que você me diz? — Eu quero conhecer um pouco mais de você, do seu mundo... e, quem sabe, se vamos ter alguma coisa. Só o tempo dirá . digo, e mais uma vez ele sorri. Agora, posso ver perfeitamente seu sorriso alinhado. — Então, nos vemos amanhã, baby. No nosso dia 1 .ele diz, se aproximando de mim e beijando o canto dos meus lábios antes de sair pela porta, me deixando paralisada, sem reação....Mirella continuação....Fiquei parada na porta por alguns segundos, com o coração disparado e as pernas trêmulas. O cheiro dele ainda pairava no ar , uma mistura de perfume amadeirado com algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu corpo reagir de um jeito que me deixava ainda mais confusa. Fechei a porta devagar, encostei as costas nela e respirei fundo.Dia 1Será que eu estou ficando louca?Deitei na cama, abracei meu travesseiro e olhei pro teto, tentando organizar os pensamentos. Ele estava me conquistando, disso eu não podia mais fugir. A forma como me olha, a firmeza nas palavras, o jeito como parece saber exatamente o que dizer , tudo nele parece calculado, mas ao mesmo tempo, tão intenso. Ele me assusta. Mas também me atrai. E isso me assusta ainda mais.Na manhã seguinte, acordei com o barulho da campainha, uma caixa minha eu sabia que era coisa dele , Um vestido preto de cetim, justo na medida certa, e um par de saltos que pareciam saídos de uma passarela. Um bilh
Vincent Dia 4 Acordei pensando nela. Mirella. Com aquele jeitinho desconfiado, as palavras sempre na ponta da língua, mas os olhos… os olhos entregam tudo. Ela sente, ela tenta negar, mas sente. Hoje eu queria surpreendê-la de um jeito diferente. Nada de luxo, nada de flores ou presentes caros. Queria mostrar pra ela que, por trás da imagem que carrego, ainda existe algo humano. Algo real. Passei o dia inteiro resolvendo assuntos da família, assuntos que ela jamais entenderia e que nem quero que ela entenda. Não agora. Mas mesmo com o caos me cercando, era nela que eu pensava. Às 19h mandei uma mensagem: “Vista algo leve. Te pego em 20 minutos.” Ela demorou a responder, mas veio. Quando entrou no carro, seu olhar curioso e cauteloso estava ali como sempre, mas havia também uma certa... entrega. Como se ela tivesse decidido parar de lutar com os próprios sentimentos, nem que fosse só por hoje. — Hoje é especial . falei, guiando o carro para fora da cidade. — Por quê? ela
Vincentcontinuação... Dia 6 O dia amanheceu estranho. Acordei com uma ligação que gelou minha espinha. Um dos meus homens de confiança, Pietro, havia sido atacado. Não por rivais, mas por traidores... de dentro. Alguém que eu alimentei. Que cresceu sob minha proteção. A máfia não perdoa traição. E muito menos eu. Passei a manhã resolvendo esse tipo de sujeira. Sangue. Gritos. Punições. Esse é o lado da vida que eu escondo da Mirella. O lado que mancha minhas mãos, minha alma, meu nome. Mas é também o que me fez quem eu sou. O que me deu o poder de escolher com quem vou dividir o meu império.Escolher ela. Mas hoje… tudo sair do controle. Mirella apareceu na faculdade bem no momento em que recebi uma ligação urgente. Eu estava no estacionamento. Ela me viu entrar no carro com dois homens armados e a expressão no rosto dela foi de puro pânico. -Droga. Tentei disfarçar, mas ela já tinha visto o suficiente.Horas depois, voltei pra encontrá-la. Ela me esperava em frente ao prédio del
Mirella Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você t
Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve