Vincent
Dia 4 Acordei pensando nela. Mirella. Com aquele jeitinho desconfiado, as palavras sempre na ponta da língua, mas os olhos… os olhos entregam tudo. Ela sente, ela tenta negar, mas sente. Hoje eu queria surpreendê-la de um jeito diferente. Nada de luxo, nada de flores ou presentes caros. Queria mostrar pra ela que, por trás da imagem que carrego, ainda existe algo humano. Algo real. Passei o dia inteiro resolvendo assuntos da família, assuntos que ela jamais entenderia e que nem quero que ela entenda. Não agora. Mas mesmo com o caos me cercando, era nela que eu pensava. Às 19h mandei uma mensagem: “Vista algo leve. Te pego em 20 minutos.” Ela demorou a responder, mas veio. Quando entrou no carro, seu olhar curioso e cauteloso estava ali como sempre, mas havia também uma certa... entrega. Como se ela tivesse decidido parar de lutar com os próprios sentimentos, nem que fosse só por hoje. — Hoje é especial . falei, guiando o carro para fora da cidade. — Por quê? ela perguntou, tentando não parecer interessada. — Porque hoje eu vou te mostrar onde eu me escondo quando o mundo pesa demais. Ela arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada. Chegamos em uma casa afastada, no meio de um terreno enorme com árvores ao redor e um lago nos fundos. Simples, silenciosa… quase inacreditável para alguém da minha posição. — Isso aqui é meu. Só meu. Nem minha família sabe que esse lugar existe. falo, entregando a chave na mão dela. — Por que está me mostrando isso? — Porque você é a primeira pessoa em quem confiei o suficiente pra saber disso. Ela respira fundo. Caminha até o lago e fica olhando o reflexo da lua na água. Eu me aproximo devagar. — Às vezes eu queria ter nascido em outro lugar, com outro nome. Poder escolher a vida que vivo. Mas... paro por um instante e olho nos olhos dela. —Se eu não tivesse vindo por esse caminho, talvez nunca tivesse te encontrado. Ela não responde. Mas seus olhos brilham com algo que me atravessa. A emoção que ela tenta esconder, a vontade de dizer algo e o medo de dizer demais. — Vincent... ela começa, a voz baixa. — Eu ainda tenho medo. De tudo. De você. Do que eu posso sentir. Do que posso perder... — Eu também tenho. Mas eu não vou deixar você se machucar. Nem pelo mundo, nem por mim. digo, e dessa vez é ela quem se aproxima. Nossos corpos se encostam levemente, como se o universo conspirasse por aquele toque. Ela segura minha camisa com uma das mãos e encosta a testa na minha. — Eu ainda não sei o que tudo isso significa... mas quero descobrir. Com você. ela sussurra. E ali, naquele silêncio cheio de significados, eu a beijo. Um beijo lento, profundo, cheio de tudo o que ainda não conseguimos dizer. O mundo lá fora podia esperar. Porque naquele instante, só existia ela. E eu. Dia 4... e eu sabia estava cada vez mais perto de conquistá-la. Dia 5 Depois da noite no lago, algo nela mudou. Eu senti. O olhar já não carregava só desconfiança, mas também desejo... e o tipo de curiosidade que pode viciar. Ela está abrindo espaço pra mim, mesmo sem admitir. E isso... é tudo o que eu preciso. Hoje decidi não pressionar. Dei a ela um dia inteiro sem flores, sem mensagens, sem buquês ou surpresas. Só o silêncio. Porque às vezes, é no silêncio que o coração começa a sentir falta. E se ela sentiu minha ausência hoje, então já estou morando em algum lugar dentro dela. Mas eu... eu não aguentei. Esperei até o fim da noite e fui até onde ela mora. Estacionei o carro um pouco afastado e fiquei ali, só observando a janela do quarto. A luz estava acesa. Vi sua sombra se movendo de um lado pro outro. Ela parecia inquieta. Talvez lendo. Talvez pensando. Talvez... em mim. Peguei meu caderno. Sim, eu tenho um. Coisa rara pra alguém como eu, mas é nele que escrevo meus pensamentos mais profundos. Coisas que não posso contar pra ninguém. 5º dia Ela está na minha mente. No meu corpo. No meu sangue. Mirella mexe com partes de mim que eu nem sabia que existiam. Me faz querer ser homem, não só o herdeiro de um império sujo. Me faz sonhar com paz. Com amor. Hoje não encostei nela, não falei com ela, mas estive o tempo todo com ela. E amanhã... amanhã quero que ela sinta isso.” Guardei o caderno, dei partida no carro e fui embora. Porque por mais que eu quisesse bater naquela porta, puxá-la pra mim e fazer com que ela sentisse tudo o que estou sentindo, eu sabia... Mirella não é uma mulher qualquer. Ela é o tipo de mulher que você conquista com alma, não com poder. E eu estou disposto a entregar a minha, se for preciso. Dia 5. Faltam 25. E eu juro por Deus, ela vai ser minha. continua .....Vincentcontinuação... Dia 6 O dia amanheceu estranho. Acordei com uma ligação que gelou minha espinha. Um dos meus homens de confiança, Pietro, havia sido atacado. Não por rivais, mas por traidores... de dentro. Alguém que eu alimentei. Que cresceu sob minha proteção. A máfia não perdoa traição. E muito menos eu. Passei a manhã resolvendo esse tipo de sujeira. Sangue. Gritos. Punições. Esse é o lado da vida que eu escondo da Mirella. O lado que mancha minhas mãos, minha alma, meu nome. Mas é também o que me fez quem eu sou. O que me deu o poder de escolher com quem vou dividir o meu império.Escolher ela. Mas hoje… tudo sair do controle. Mirella apareceu na faculdade bem no momento em que recebi uma ligação urgente. Eu estava no estacionamento. Ela me viu entrar no carro com dois homens armados e a expressão no rosto dela foi de puro pânico. -Droga. Tentei disfarçar, mas ela já tinha visto o suficiente.Horas depois, voltei pra encontrá-la. Ela me esperava em frente ao prédio del
Mirella Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você t
Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve
Vicent dia 16 Ela dorme ao meu lado. Seus cabelos caem sobre o travesseiro como uma moldura suave e bagunçada. E, pela primeira vez em muito tempo, eu não sinto o peso do mundo nas costas.Sinto paz.Não deveria. Eu sei disso. Estou me expondo. Baixando defesas que levei anos pra construir. Mas essa mulher... essa garota da Rocinha com olhos de coragem e alma de tempestade, ela me desarma. Me tira da rota. E ao invés de me perder... eu me encontro nela.Deslizo meus dedos pelo braço dela, devagar, como se qualquer movimento em falso fosse acordá-la ou pior, fazê-la sumir. Porque agora... agora eu tenho medo. Medo do que estou sentindo. Medo de que ela descubra o quanto está no controle sem nem perceber.Eu, Vicent Mangano, herdeiro da máfia italiana... estou apaixonado. E isso é perigoso. Ela se remexe, os cílios tremem, mas não acorda. Um sorrisinho surge nos lábios dela. Está sonhando. Quero acreditar que é comigo. Não consigo resistir. Me aproximo mais, beijo sua testa e respiro o
Mirella dia 18 A casa era como um cenário de filme. Lareira acesa, cheiro de madeira queimada e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Mas nada disso me prendia mais do que o olhar dele. Vicent me observava em silêncio, como se cada movimento meu fosse parte de algo que ele já esperava há tempos.— Gosta de vinho? ele perguntou, enquanto abria uma garrafa com as mangas da camisa dobradas até os antebraços. O jeito que ele fazia até o mais simples dos gestos era absurdamente sexy.— Gosto... mas não sei escolher. admiti, me sentando no sofá com uma manta leve sobre as pernas. Ele serviu as taças, caminhou até mim e me entregou uma.— Só precisa confiar em mim. disse, se sentando ao meu lado. — Aliás, isso vale pra mais do que o vinho.Bebi um gole e deixei o olhar se perder no fogo da lareira. A tensão entre nós não era mais uma barreira, era uma corda invisível nos puxando, centímetro por centímetro, um pro outro.— Você ainda acha que não se encaixa no meu mundo? ele pergun