Mirella
Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você tá diferente. Liz comentou, me cutucando durante o intervalo. — Diferente como? perguntei, tentando disfarçar. — Sei lá... parece distraída, mais... entregue. ela estreitou os olhos. — É por causa daquele cara? O misterioso bonitão? Menti. Balancei a cabeça negando. Mas no fundo, eu sabia que sim. É por ele. Por aquele sorriso de canto, por aquela voz rouca, por aquela presença que me deixa vulnerável e protegida ao mesmo tempo. À noite, sozinha no meu quarto, olho para as flores ainda intactas. Ele manda todos os dias, mesmo sem saber se eu sequer abri os cartões.Hoje eu abri. E no cartão, apenas três palavras: “Ainda te espero.” Meus olhos se enchem d’água. Porque por mais que eu tente fugir, a verdade é que... eu também estou esperando algo dele. Talvez um pouco mais de coragem. Ou de mim mesma. Deito na cama com o celular na mão e o coração aos pulos. Abro a conversa dele. Leio algumas mensagens antigas. A intensidade. O cuidado. O desejo. E antes que eu me arrependa, digito: “Amanhã. Quero te ver.” Envio. E fecho os olhos, sentindo meu peito arder de ansiedade. Vincent está me tirando do controle. E o pior de tudo? Eu estou começando a gostar disso. Dia 10 O frio na barriga começou desde que mandei a mensagem. E agora, aqui estou eu, parada na frente do espelho, tentando decidir se deixo o cabelo solto ou prendo. Como se isso fosse mudar o rumo da noite. Mas com Vincent... tudo parece importar. Ele me disse que passaria às 20h. São 19h52 e eu já estou andando pela casa feito uma doida. Visto, troco, tiro, suspiro, penso em desistir. Mas quando a campainha toca, meu coração acelera como se fosse explodir.Abro a porta devagar. E lá está ele. Vincent, de jeans escuros, camisa preta e aquele casaco que ele usa como armadura. Mas hoje, o olhar dele está mais leve. Mais quente. E quando me encara , sorri de lado, daquele jeito que me desmonta inteira. — Você tá linda. ele fala, simples, como se tivesse comentando sobre o tempo. — Obrigada... sorrio, tímida. — Entra. Ele entra, e o perfume dele invade meu espaço. Um cheiro amadeirado, forte, que parece ter sido feito só pra ele. Sentamos no sofá. Por um tempo, não dizemos nada. Apenas nos olhamos. O silêncio entre nós tem mais peso do que mil palavras. — Eu pensei muito sobre tudo isso. começo, apertando minhas mãos no colo. — Sobre você. Sobre mim. Sobre... nós. Ele apenas assente, atento. Me dando espaço. — Eu preciso te contar uma coisa. E se depois disso você quiser ir embora, eu vou entender. — Eu não vou a lugar nenhum, Mirella. Respiro fundo. Meu coração dispara. — Meu pai... ele é um dos braços direitos do chefe da facção do Rio de janeiro. Eu cresci vendo coisas... ouvindo conversas.E eu quis uma vida diferente. Vincent fica em silêncio. Me encara por longos segundos. Seus olhos parecem analisar cada palavra minha, cada gesto, como se estivesse montando um quebra-cabeça. — Isso muda tudo? pergunto, com a voz trêmula. — Você ainda quer que eu faça parte do seu mundo, mesmo eu já tendo vindo de um parecido? ele se aproxima. Sem pressa. Segura meu rosto entre as mãos, com uma firmeza que me faz arrepiar inteira. — Isso só prova que você entende melhor do que ninguém o que é viver cercada por sombras. E mesmo assim... você escolheu a luz. Isso te torna mais forte do que qualquer mulher que eu conheci. Meus olhos se enchem d’água. E antes que eu possa responder, ele me beija. Um beijo diferente de todos os outros. Um beijo com gosto de entrega, de verdade, de promessa silenciosa. Seu corpo se encaixa ao meu com tanta naturalidade que me assusta. Como se nossos corpos já se conhecessem de outras vidas. Suas mãos percorrem minha cintura devagar, como se cada curva minha fosse sagrada. Meus dedos se agarram ao seu casaco, e o mundo ao nosso redor desaparece. Nos separamos ofegantes. Encostamos as testas, nossas respirações misturadas. — Agora... você entende porque é você? ele sussurra. Eu apenas aceno com a cabeça. E pela primeira vez... eu não tenho mais medo. continua ....Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve
Vicent dia 16 Ela dorme ao meu lado. Seus cabelos caem sobre o travesseiro como uma moldura suave e bagunçada. E, pela primeira vez em muito tempo, eu não sinto o peso do mundo nas costas.Sinto paz.Não deveria. Eu sei disso. Estou me expondo. Baixando defesas que levei anos pra construir. Mas essa mulher... essa garota da Rocinha com olhos de coragem e alma de tempestade, ela me desarma. Me tira da rota. E ao invés de me perder... eu me encontro nela.Deslizo meus dedos pelo braço dela, devagar, como se qualquer movimento em falso fosse acordá-la ou pior, fazê-la sumir. Porque agora... agora eu tenho medo. Medo do que estou sentindo. Medo de que ela descubra o quanto está no controle sem nem perceber.Eu, Vicent Mangano, herdeiro da máfia italiana... estou apaixonado. E isso é perigoso. Ela se remexe, os cílios tremem, mas não acorda. Um sorrisinho surge nos lábios dela. Está sonhando. Quero acreditar que é comigo. Não consigo resistir. Me aproximo mais, beijo sua testa e respiro o
Mirella dia 18 A casa era como um cenário de filme. Lareira acesa, cheiro de madeira queimada e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Mas nada disso me prendia mais do que o olhar dele. Vicent me observava em silêncio, como se cada movimento meu fosse parte de algo que ele já esperava há tempos.— Gosta de vinho? ele perguntou, enquanto abria uma garrafa com as mangas da camisa dobradas até os antebraços. O jeito que ele fazia até o mais simples dos gestos era absurdamente sexy.— Gosto... mas não sei escolher. admiti, me sentando no sofá com uma manta leve sobre as pernas. Ele serviu as taças, caminhou até mim e me entregou uma.— Só precisa confiar em mim. disse, se sentando ao meu lado. — Aliás, isso vale pra mais do que o vinho.Bebi um gole e deixei o olhar se perder no fogo da lareira. A tensão entre nós não era mais uma barreira, era uma corda invisível nos puxando, centímetro por centímetro, um pro outro.— Você ainda acha que não se encaixa no meu mundo? ele pergun
MirellaÉ um desafio diário morar em outro país, longe de toda a minha família. Um país totalmente diferente, com outra cultura, outro ritmo ,até o sono aqui é diferente! E, principalmente... a comida. Sempre fui muito regrada, mas morando nos Estados Unidos não dá pra manter esse ritmo. A maioria dos lugares só serve lanche. Café da manhã com hambúrguer e batata frita... essas coisas.Comida brasileira mesmo, a gente só encontra em poucos lugares e, quando encontra, não tem aquele sabor gostoso de comida de mãe. Nossa, estou sentindo tanta falta da comida da minha mãe! O que tem me salvado são umas marmitinhas que encontro prontas no supermercado saladas, carne, peixe, frutas... tudo embalado, só pegar e comer.Vida de estudante não está nada fácil. Quando não estou estudando, estou dormindo. Quando não estou dormindo, estou estudando [risos]. A correria tá grande, a rotina mais louca da minha vida. Nem quando eu fazia curso e trabalhava era desse jeito. Aqui, eu tenho que me desdobr
VincentSou Vincent Mangano, tenho 34 anos e faço parte da família Gambino. Somos uma das cinco famílias que formam a organização da máfia italiana. Sou o próximo na linha de sucessão. Meu avô, Carlo Gambino, comandou a organização entre 1957 e 1976, até ser assassinado por inimigos. Depois, o comando passou para meu tio mais velho, que anos depois morreu de câncer. Desde então, quem está à frente é meu pai, Paul Gambino. Em breve, serei eu — assim que me casar.Dominamos a maior parte do território de Nova Iorque: Brooklyn, Staten Island, Manhattan, entre outras regiões.Atualmente, curso Medicina em Harvard. Não apenas por gosto pessoal, mas também como uma forma estratégica de despistar investigações. Além disso, ser cirurgião pode ser útil em tempos de guerra entre famílias. Quando os conflitos se estendem por meses, sempre temos feridos do nosso lado. E eu posso ajudar.Agradeço aos céus por, ao menos, poder escolher com quem vou me casar. E, pelo visto, já encontrei. Uma adoráve