Vincent
Sou Vincent Mangano, tenho 34 anos e faço parte da família Gambino. Somos uma das cinco famílias que formam a organização da máfia italiana. Sou o próximo na linha de sucessão. Meu avô, Carlo Gambino, comandou a organização entre 1957 e 1976, até ser assassinado por inimigos. Depois, o comando passou para meu tio mais velho, que anos depois morreu de câncer. Desde então, quem está à frente é meu pai, Paul Gambino. Em breve, serei eu — assim que me casar. Dominamos a maior parte do território de Nova Iorque: Brooklyn, Staten Island, Manhattan, entre outras regiões. Atualmente, curso Medicina em Harvard. Não apenas por gosto pessoal, mas também como uma forma estratégica de despistar investigações. Além disso, ser cirurgião pode ser útil em tempos de guerra entre famílias. Quando os conflitos se estendem por meses, sempre temos feridos do nosso lado. E eu posso ajudar. Agradeço aos céus por, ao menos, poder escolher com quem vou me casar. E, pelo visto, já encontrei. Uma adorável moça que me encantou desde o primeiro olhar. Tenho observado Mirella há dias. Já sei até onde ela mora. Ela é linda. Cabelos escuros, pele clara, olhos negros. Diferente dessas garotas que vivem se jogando nos braços de qualquer um — como aquele imbecil do Williams. Já percebi as investidas dele pra cima dela. Tenho observado com atenção, esperando para ver se ela vai ceder. Mas não... Ela parece centrada, reservada. Sei que é imigrante e que veio para estudar. Hoje, quando vi o maldito tentar forçá-la, meu sangue ferveu. Ainda bem que fui um dos últimos a sair da sala e pude intervir a tempo. Aproveitei para acompanhá-la até em frente à sua casa... como se eu não soubesse exatamente onde ela mora. E, claro, fiz o convite para jantar. Meu relógio marca 19h30 e já estou bastante ansioso. Julian, um infiltrado nosso, conseguiu informações sobre ela — inclusive seu número de telefone, que estou doido para discar desde que o recebi. Passei a tarde lutando contra a vontade de ouvir sua voz meiga. No primeiro momento, percebi que ela ficou assustada comigo, mas durante o trajeto até sua casa a conversa fluiu. Ela é tímida — e talvez por isso mesmo tenha me atraído tanto. Assim que o ponteiro marca 19h40, ligo para ela. No segundo toque, atende. Dá pra notar a surpresa em sua voz ao me reconhecer. Nem chegamos a trocar números, então ela claramente não esperava. Fiz o convite para o jantar e não dei opção. Se esperasse, ela diria "não". E eu costumo ser bem insistente. Quando ela desce o último lance de escada… P*** que pariu. Que mulher! Uma visão de tirar o fôlego. Preferi vir com meu carro esportivo para ficarmos mais à vontade. Meus seguranças vêm logo atrás, em outro veículo. Com a quantidade de inimigos que temos, não posso baixar a guarda. O restaurante que escolhi pertence a um primo meu. Serve massas italianas maravilhosas, e temos uma área reservada, perfeita para conversarmos sem interrupções. Assim que chegamos, puxo a cadeira para que ela se acomode. O cheiro dela me atinge de perto: doce e envolvente. Me sento à sua frente e peço nosso jantar pelo tablet — uma das vantagens do lugar. Privacidade. A luz do ambiente dá um toque mais íntimo à situação. Ela me encara, meio tímida, mas curiosa. Está encantadora. — Pode perguntar o que quiser saber — digo direto. — (Risos) Está tão aparente assim? — Primeiramente, é um prazer estar aqui com você esta noite. — Seguro sua mão por cima da mesa. — Obrigada pelo convite... não feito — responde, com um sorriso contido. — Eu já previa que você diria não. Então essa foi a melhor opção: não te dar escolha. — Provavelmente seria essa a minha resposta mesmo. Mas ainda bem que estamos aqui. Peço um vinho e uma champanhe. Não sei qual ela prefere, então gosto de estar preparado. — Agora me fale mais sobre você — ela pede, com um olhar atento. — Sobre mim, acho que você já sabe demais, não é? — Eu tenho interesse em saber bem mais... basta você deixar. — digo, olhando nos olhos dela. — Por que você é assim? Tem esse jeito misterioso, intimidador... e bravo. — Vou ser direto com você: sou um mafioso. Ela ri alto, desacreditada, e tampa a boca com uma das mãos, até notar minha expressão séria. Suas covinhas ainda marcadas pelo riso desaparecem assim que confirmo com a cabeça. — Tá falando sério? — Sim... mas calma, eu quero que me escute. — seguro sua mão antes que ela se levante, assustada. — Me encantei com você desde a primeira vez que te vi na faculdade. Estou há semanas te observando... você já me viu fazendo isso em sala de aula. — Você tá me dizendo que tem me perseguido? — Não! Claro que não. Eu pedi um relatório sobre você, mas não consegui encontrar um endereço fixo no Brasil... — Como você pôde fazer isso? Quer dizer que está me vigiando e ainda quer que eu ache normal? — ela se levanta, visivelmente irritada, apoiando as mãos sobre a mesa e me fuzilando com o olhar. Eu também me levanto, me aproximando devagar. — Não chega perto de mim! — ela diz, dando passos para trás e arrastando a cadeira no processo. — Calma, vamos conversar... por favor, me escuta. — peço, mantendo a calma. — Eu já desconfiava... esse seu jeito misterioso, esse monte de homens que te seguem o tempo todo... como eu não percebi antes? — ela ergue a mão e me faz parar, com o olhar confuso. — E a faculdade? Você estuda mesmo ou é só fachada? — Ei! Quando você entrou, eu já fazia parte da turma. Só não estive na primeira semana porque estava voltando de uma missão. Acredita em mim. Você me encantou desde a primeira vez que eu te vi. Eu sabia que seria você... Eu preciso me casar para assumir o comando, e tenho certeza de que você é a mulher certa pra mim. — Casar? Você fala isso como se fosse algo simples, como se fosse normal! Casamento precisa de sentimento, precisa de amor! Não é assim, desse jeito! — Me dá um mês. Só um mês. Eu quero te conquistar. Podemos descobrir o amor juntos. Eu tive o privilégio de escolher com quem quero casar... e escolhi você. — Vincent... eu vim pra cá pra estudar. Eu não... não posso... — ela diz, caminhando de costas, e acaba virando o pé. Quase cai, mas sou mais rápido. A seguro pela segunda vez no dia, e nossos olhos se cruzam. Dessa vez, eu não consigo resistir. Eu a beijo. Nossos lábios se encontram com intensidade. Ela tem gosto doce, e em poucos segundos cede à minha investida. Ajeito nossa postura e a seguro firme contra mim, nossas respirações se misturando. Aperto sua cintura com força, e escuto um leve gemido escapando dela no meio do beijo. — Não faz isso... — ela sussurra, tentando recuperar o fôlego. — Eu não quero passar do limite com você... — Vem, vamos sentar de novo. Quero te contar mais sobre mim. — seguro sua mão e a levo de volta à mesa. Ajeito a cadeira e ela se senta, ainda com o olhar ansioso. Começo a contar mais sobre mim: por que escolhi cursar Medicina, um pouco sobre meus pais, e como funciona a estrutura da minha família. Tento ser transparente, mesmo sabendo que tudo isso pode ser demais para ela. — Eu não sei, Vincent... Eu preciso pensar. — diz, ainda confusa. — Não tenha medo de mim. Eu vou te dar toda a segurança que precisar. E, por enquanto, ninguém precisa saber que somos casados. Podemos manter as aparências na faculdade... namorados, talvez. — Isso é um pedido de casamento? Meu Deus, é muita informação... eu não sei. Sério. Pode me levar de volta? — Tudo bem... — digo, respirando fundo. — Minha intenção não era te assustar. Mas eu não sei ser meio termo. Sempre fui decidido com o que quero. E eu quero você. Ela não diz mais nada. O silêncio entre nós é denso. Levo-a de volta para casa, abro a porta do carro e a acompanho até a entrada do prédio. O silêncio dela diz muito... e ao mesmo tempo, nada. — Espero sua resposta em breve. — digo, olhando-a nos olhos. — Boa noite. — é tudo o que ela consegue dizer, antes de subir as escadas correndo, como se estivesse fugindo de mim. Minha vontade era agarrá-la de novo, beijá-la com toda intensidade... mas por hoje, é isso.Mirella Minha cabeça está a mil. Assim que fechei a porta atrás de mim, encostei as costas nela, tentando recuperar o fôlego. O que acabou de acontecer? Eu fui jantar com um completo estranho , um homem sedutor, misterioso, que me salvou de um idiota metido a galã e voltei com um pedido de casamento. Um pedido vindo de um mafioso.Sim, mafioso. Ele disse com todas as letras. Sem rodeios. Apenas jogou a verdade no meio do restaurante como se estivesse me contando que é alérgico a frutos do mar. E pior disse que me observava há semanas, que sabia tudo sobre mim... até que mandou investigarem minha vida.Minhas mãos ainda tremem. Sinto o gosto do vinho nos lábios misturado com o sabor do beijo dele. E que beijo. Intenso, dominador, confuso assim como ele. Meu corpo reagiu de uma forma que minha mente ainda não entendeu. E talvez seja isso que mais me assuste.Vincent Mangano. Ele é bonito de um jeito que chega a ser pecado. Olhos que parecem atravessar a alma, voz firme, postura de que
Mirella continuação....Fiquei parada na porta por alguns segundos, com o coração disparado e as pernas trêmulas. O cheiro dele ainda pairava no ar , uma mistura de perfume amadeirado com algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu corpo reagir de um jeito que me deixava ainda mais confusa. Fechei a porta devagar, encostei as costas nela e respirei fundo.Dia 1Será que eu estou ficando louca?Deitei na cama, abracei meu travesseiro e olhei pro teto, tentando organizar os pensamentos. Ele estava me conquistando, disso eu não podia mais fugir. A forma como me olha, a firmeza nas palavras, o jeito como parece saber exatamente o que dizer , tudo nele parece calculado, mas ao mesmo tempo, tão intenso. Ele me assusta. Mas também me atrai. E isso me assusta ainda mais.Na manhã seguinte, acordei com o barulho da campainha, uma caixa minha eu sabia que era coisa dele , Um vestido preto de cetim, justo na medida certa, e um par de saltos que pareciam saídos de uma passarela. Um bilh
Vincent Dia 4 Acordei pensando nela. Mirella. Com aquele jeitinho desconfiado, as palavras sempre na ponta da língua, mas os olhos… os olhos entregam tudo. Ela sente, ela tenta negar, mas sente. Hoje eu queria surpreendê-la de um jeito diferente. Nada de luxo, nada de flores ou presentes caros. Queria mostrar pra ela que, por trás da imagem que carrego, ainda existe algo humano. Algo real. Passei o dia inteiro resolvendo assuntos da família, assuntos que ela jamais entenderia e que nem quero que ela entenda. Não agora. Mas mesmo com o caos me cercando, era nela que eu pensava. Às 19h mandei uma mensagem: “Vista algo leve. Te pego em 20 minutos.” Ela demorou a responder, mas veio. Quando entrou no carro, seu olhar curioso e cauteloso estava ali como sempre, mas havia também uma certa... entrega. Como se ela tivesse decidido parar de lutar com os próprios sentimentos, nem que fosse só por hoje. — Hoje é especial . falei, guiando o carro para fora da cidade. — Por quê? ela
Vincentcontinuação... Dia 6 O dia amanheceu estranho. Acordei com uma ligação que gelou minha espinha. Um dos meus homens de confiança, Pietro, havia sido atacado. Não por rivais, mas por traidores... de dentro. Alguém que eu alimentei. Que cresceu sob minha proteção. A máfia não perdoa traição. E muito menos eu. Passei a manhã resolvendo esse tipo de sujeira. Sangue. Gritos. Punições. Esse é o lado da vida que eu escondo da Mirella. O lado que mancha minhas mãos, minha alma, meu nome. Mas é também o que me fez quem eu sou. O que me deu o poder de escolher com quem vou dividir o meu império.Escolher ela. Mas hoje… tudo sair do controle. Mirella apareceu na faculdade bem no momento em que recebi uma ligação urgente. Eu estava no estacionamento. Ela me viu entrar no carro com dois homens armados e a expressão no rosto dela foi de puro pânico. -Droga. Tentei disfarçar, mas ela já tinha visto o suficiente.Horas depois, voltei pra encontrá-la. Ela me esperava em frente ao prédio del
Mirella Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você t
Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você