Capítulo 04

Mirella

continuação....

Fiquei parada na porta por alguns segundos, com o coração disparado e as pernas trêmulas. O cheiro dele ainda pairava no ar , uma mistura de perfume amadeirado com algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu corpo reagir de um jeito que me deixava ainda mais confusa. Fechei a porta devagar, encostei as costas nela e respirei fundo.

Dia 1

Será que eu estou ficando louca?

Deitei na cama, abracei meu travesseiro e olhei pro teto, tentando organizar os pensamentos. Ele estava me conquistando, disso eu não podia mais fugir. A forma como me olha, a firmeza nas palavras, o jeito como parece saber exatamente o que dizer , tudo nele parece calculado, mas ao mesmo tempo, tão intenso. Ele me assusta. Mas também me atrai. E isso me assusta ainda mais.

Na manhã seguinte, acordei com o barulho da campainha, uma caixa minha eu sabia que era coisa dele , Um vestido preto de cetim, justo na medida certa, e um par de saltos que pareciam saídos de uma passarela. Um bilhete em letra cursiva acompanhava:

“Nos vemos às 20h. Vista isso e esteja pronta para o nosso primeiro jantar. -V ”

Suspirei. O que eu estava fazendo?

Passei o dia tentando focar nas aulas que hoje eram remotas , mas não conseguia prestar atenção em nada.

Quando deu 19h30, já estava pronta. Maquiagem leve, cabelo solto, e o vestido que ele escolheu. Olhei meu reflexo no espelho e vi alguém que eu quase não reconhecia. Uma mistura de força e insegurança. Um turbilhão de sensações.

Às 20h em ponto, ouvi a buzina lá fora. Desci e o vi encostado em um carro preto luxuoso. Ele usava um terno impecável e, como sempre, o olhar firme e intenso.

— Você está... deslumbrante, Mirella . disse ele, abrindo a porta pra mim. Seu tom era rouco, carregado de desejo.

Durante o caminho, nenhum de nós falou muito. O silêncio não era incômodo, mas sim carregado de tensão. Ele me observava de canto, como se memorizasse cada traço meu. Eu desviava o olhar, tentando manter a postura, mas por dentro, meu coração batia descompassado.

Chegamos a um restaurante fechado só pra nós. A decoração era elegante, intimista, e o cheiro da comida me despertou o apetite que eu nem sabia que tinha.

— Quero que se sinta à vontade comigo, Mirella. Eu sei que tudo isso parece loucura, mas eu não brinco com sentimentos .ele disse, tocando de leve a minha mão sobre a mesa.

— Eu ainda tenho medo, Vincent. Do que você é, do que representa... de onde isso pode me levar.

— Medo é natural. Mas também é ele que te faz mais forte. E eu vou provar, dia após dia, que você pode confiar em mim. Não consegui responder. Só abaixei o olhar, sentindo aquele aperto no peito.

Na volta, dentro do carro, ele colocou uma música lenta, de fundo, e por um momento, só ouvimos o som e o silêncio entre nós.

Quando me deixou em casa, ele se aproximou e beijou minha testa.

— Boa noite, baby. Esse foi só o começo.E então foi embora.

Fechei a porta devagar, me encostei novamente atrás dela, e dessa vez, eu estava sorrindo. Confusa, com medo, mas... sorrindo dia 1 completo. E agora, só Deus sabe o que me espera no Dia 2.

dia 2

O segundo dia amanheceu mais silencioso do que o normal. Não recebi flores. Não chegou nenhum presente. Nenhuma mensagem.Confesso que esperei.

Fiquei olhando o celular mais vezes do que gostaria de admitir. Cada notificação que chegava me fazia prender a respiração, achando que seria ele. Mas não era.

Talvez ele tenha percebido que não vale a pena insistir. Talvez tenha se cansado da minha indecisão. Talvez tenha mudado de ideia.Talvez...

Eu não queria me importar. Mas estava me importando. E isso me destruiu o dia inteiro.

Era sábado e decidi ir na biblioteca, tentei me concentrar nos livros, mas lia e relia a mesma frase. A imagem dele me invadia. Seu olhar. A forma como me tratou no jantar. O beijo leve no canto dos meus lábios. A intensidade nos olhos quando falou de mim, como se eu fosse algo raro. Por que ele me escolheu?

Por que me senti tão segura nos braços de alguém que vive em um mundo tão perigoso?

No fim da tarde, fui caminhar sozinha. Precisava respirar. Precisava entender o que estava acontecendo comigo. Sentei num banco da praça, observei o céu escurecendo, e pela primeira vez, deixei as lágrimas caírem. Em silêncio. Como se cada gota limpasse um pouco da confusão aqui dentro. Foi nesse momento que senti o celular vibrar. Olhei era ele.

-Desculpe o silêncio de hoje. Eu precisei provar pra mim mesmo que não te procuraria. Mas fracassei. Senti sua falta.

Meus olhos se encheram ainda mais de lágrimas. Respirei fundo e respondi sem pensar:

-Eu senti a sua também.

Depois que enviei, fiquei parada, olhando para a tela, o coração acelerado. E então, quase instantaneamente, a resposta chegou:

-Você quer me ver hoje à noite? Não hesitei.

-Sim.

Pouco tempo depois, ele chegou. Dessa vez sem buquê, sem pompa. De moletom, boné e um olhar diferente mais calmo, mais... vulnerável.Sentou ao meu lado no banco da praça e não disse nada. Só pegou minha mão, entrelaçou os dedos nos meus e ficou ali comigo, olhando pro céu.O silêncio dizia mais do que qualquer palavra.Depois de um tempo, ele falou, com a voz baixa

— Eu nunca senti isso por ninguém, Mirella. Nem sei explicar o que é. Mas é forte, e me assusta também. Não quero te perder sem nem ter tido você de verdade. Apertei sua mão, senti meu peito apertar.

— Eu também estou com medo. Mas eu tô aqui.

Ele virou o rosto pra mim e sorriu pequeno. Tocou meu rosto com cuidado, como se eu fosse quebrar. E então, me beijou de novo. Um beijo leve, doce, sem pressa. Um beijo que dizia tudo o que a gente ainda não teve coragem de confessar. Dia 2 completo

E dessa vez, eu senti.Eu realmente senti.

Dia 3

Acordei com uma sensação estranha. Como se estivesse no meio de algo que pode me engolir a qualquer momento e mesmo assim, eu não consigo sair.

A noite anterior ainda estava viva na minha mente. O beijo. O silêncio compartilhado. A forma como ele pegou minha mão e simplesmente... ficou. Não tentou me convencer, não impôs, apenas esteve comigo.

Me levantei, tomei um banho mais demorado do que o normal e escolhi uma roupa como quem não quer nada, mas querendo tudo. Meu coração estava inquieto, como se esperasse algo, mesmo sem saber o quê.Às 10h recebi uma mensagem dele:

-Hoje quero te mostrar algo. Vista algo confortável. Estou te esperando.

Respondi com um simples.-Onde vamos?

-Confiar em mim é o primeiro passo.

Respirei fundo. Peguei minha mochila, coloquei um casaco e fui.

Ele me buscou com um sorriso no rosto e olhos brilhando como se estivesse orgulhoso por eu ter ido. Dessa vez, sem carro luxuoso, sem segurança visível ,. ele parecia um cara comum. O que, vindo de Vincent, era quase surreal.

— Vamos fazer algo que eu amo, mas raramente consigo. disse ele ao me guiar até uma trilha no alto das colinas, longe da cidade.Caminhamos em silêncio por alguns minutos até o som da cidade desaparecer por completo. Lá em cima, havia uma vista absurda da cidade. O sol tocava os prédios ao longe, e o vento bagunçava meus cabelos. Ele sentou na grama, me puxou pela mão e sentamos lado a lado.

— Sabe por que eu gosto de vir aqui? ele perguntou.Neguei com a cabeça. — Porque é o único lugar onde eu consigo ouvir a minha própria alma. Onde eu paro de ser o Vincent mafioso, o herdeiro, o estrategista… e só sou um homem.

Olhei pra ele e pela primeira vez percebi a exaustão nos olhos dele. Como se carregar esse nome, esse peso, o consumisse aos poucos.

— E comigo? arrisquei perguntar. — O que você é comigo? Ele virou o rosto, sério.

— Contigo… eu tô tentando ser alguém que nunca fui. Alguém digno. Minhas lágrimas caíram sem que eu percebesse. Ele limpou com os dedos, tão gentil quanto a brisa que nos tocava.

— Você me mostra um mundo que eu nunca vi, Mirella. E por isso, talvez, você seja o único risco que eu realmente quero correr.

Ficamos ali, por horas. Falamos sobre sonhos. Sobre o que nos fez chegar até aqui. Sobre dores que não contamos pra ninguém. E rimos. Sim, rimos como duas pessoas que tinham acabado de se encontrar no caos e estavam, de algum jeito estranho, se encaixando.Quando ele me levou de volta, me beijou na testa.

— Dia 3 completo... e você nem percebeu que já está entrando no meu mundo, baby. ele disse com um sorriso torto. Sorri de volta, sem negar. Porque ele estava certo. Eu estava entrando... e o pior (ou melhor) queria continuar....

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