Mirella
continuação.... Fiquei parada na porta por alguns segundos, com o coração disparado e as pernas trêmulas. O cheiro dele ainda pairava no ar , uma mistura de perfume amadeirado com algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu corpo reagir de um jeito que me deixava ainda mais confusa. Fechei a porta devagar, encostei as costas nela e respirei fundo. Dia 1 Será que eu estou ficando louca? Deitei na cama, abracei meu travesseiro e olhei pro teto, tentando organizar os pensamentos. Ele estava me conquistando, disso eu não podia mais fugir. A forma como me olha, a firmeza nas palavras, o jeito como parece saber exatamente o que dizer , tudo nele parece calculado, mas ao mesmo tempo, tão intenso. Ele me assusta. Mas também me atrai. E isso me assusta ainda mais. Na manhã seguinte, acordei com o barulho da campainha, uma caixa minha eu sabia que era coisa dele , Um vestido preto de cetim, justo na medida certa, e um par de saltos que pareciam saídos de uma passarela. Um bilhete em letra cursiva acompanhava: “Nos vemos às 20h. Vista isso e esteja pronta para o nosso primeiro jantar. -V ” Suspirei. O que eu estava fazendo? Passei o dia tentando focar nas aulas que hoje eram remotas , mas não conseguia prestar atenção em nada. Quando deu 19h30, já estava pronta. Maquiagem leve, cabelo solto, e o vestido que ele escolheu. Olhei meu reflexo no espelho e vi alguém que eu quase não reconhecia. Uma mistura de força e insegurança. Um turbilhão de sensações. Às 20h em ponto, ouvi a buzina lá fora. Desci e o vi encostado em um carro preto luxuoso. Ele usava um terno impecável e, como sempre, o olhar firme e intenso. — Você está... deslumbrante, Mirella . disse ele, abrindo a porta pra mim. Seu tom era rouco, carregado de desejo. Durante o caminho, nenhum de nós falou muito. O silêncio não era incômodo, mas sim carregado de tensão. Ele me observava de canto, como se memorizasse cada traço meu. Eu desviava o olhar, tentando manter a postura, mas por dentro, meu coração batia descompassado. Chegamos a um restaurante fechado só pra nós. A decoração era elegante, intimista, e o cheiro da comida me despertou o apetite que eu nem sabia que tinha. — Quero que se sinta à vontade comigo, Mirella. Eu sei que tudo isso parece loucura, mas eu não brinco com sentimentos .ele disse, tocando de leve a minha mão sobre a mesa. — Eu ainda tenho medo, Vincent. Do que você é, do que representa... de onde isso pode me levar. — Medo é natural. Mas também é ele que te faz mais forte. E eu vou provar, dia após dia, que você pode confiar em mim. Não consegui responder. Só abaixei o olhar, sentindo aquele aperto no peito. Na volta, dentro do carro, ele colocou uma música lenta, de fundo, e por um momento, só ouvimos o som e o silêncio entre nós. Quando me deixou em casa, ele se aproximou e beijou minha testa. — Boa noite, baby. Esse foi só o começo.E então foi embora. Fechei a porta devagar, me encostei novamente atrás dela, e dessa vez, eu estava sorrindo. Confusa, com medo, mas... sorrindo dia 1 completo. E agora, só Deus sabe o que me espera no Dia 2. dia 2 O segundo dia amanheceu mais silencioso do que o normal. Não recebi flores. Não chegou nenhum presente. Nenhuma mensagem.Confesso que esperei. Fiquei olhando o celular mais vezes do que gostaria de admitir. Cada notificação que chegava me fazia prender a respiração, achando que seria ele. Mas não era. Talvez ele tenha percebido que não vale a pena insistir. Talvez tenha se cansado da minha indecisão. Talvez tenha mudado de ideia.Talvez... Eu não queria me importar. Mas estava me importando. E isso me destruiu o dia inteiro. Era sábado e decidi ir na biblioteca, tentei me concentrar nos livros, mas lia e relia a mesma frase. A imagem dele me invadia. Seu olhar. A forma como me tratou no jantar. O beijo leve no canto dos meus lábios. A intensidade nos olhos quando falou de mim, como se eu fosse algo raro. Por que ele me escolheu? Por que me senti tão segura nos braços de alguém que vive em um mundo tão perigoso? No fim da tarde, fui caminhar sozinha. Precisava respirar. Precisava entender o que estava acontecendo comigo. Sentei num banco da praça, observei o céu escurecendo, e pela primeira vez, deixei as lágrimas caírem. Em silêncio. Como se cada gota limpasse um pouco da confusão aqui dentro. Foi nesse momento que senti o celular vibrar. Olhei era ele. -Desculpe o silêncio de hoje. Eu precisei provar pra mim mesmo que não te procuraria. Mas fracassei. Senti sua falta. Meus olhos se encheram ainda mais de lágrimas. Respirei fundo e respondi sem pensar: -Eu senti a sua também. Depois que enviei, fiquei parada, olhando para a tela, o coração acelerado. E então, quase instantaneamente, a resposta chegou: -Você quer me ver hoje à noite? Não hesitei. -Sim. Pouco tempo depois, ele chegou. Dessa vez sem buquê, sem pompa. De moletom, boné e um olhar diferente mais calmo, mais... vulnerável.Sentou ao meu lado no banco da praça e não disse nada. Só pegou minha mão, entrelaçou os dedos nos meus e ficou ali comigo, olhando pro céu.O silêncio dizia mais do que qualquer palavra.Depois de um tempo, ele falou, com a voz baixa — Eu nunca senti isso por ninguém, Mirella. Nem sei explicar o que é. Mas é forte, e me assusta também. Não quero te perder sem nem ter tido você de verdade. Apertei sua mão, senti meu peito apertar. — Eu também estou com medo. Mas eu tô aqui. Ele virou o rosto pra mim e sorriu pequeno. Tocou meu rosto com cuidado, como se eu fosse quebrar. E então, me beijou de novo. Um beijo leve, doce, sem pressa. Um beijo que dizia tudo o que a gente ainda não teve coragem de confessar. Dia 2 completo E dessa vez, eu senti.Eu realmente senti. Dia 3 Acordei com uma sensação estranha. Como se estivesse no meio de algo que pode me engolir a qualquer momento e mesmo assim, eu não consigo sair. A noite anterior ainda estava viva na minha mente. O beijo. O silêncio compartilhado. A forma como ele pegou minha mão e simplesmente... ficou. Não tentou me convencer, não impôs, apenas esteve comigo. Me levantei, tomei um banho mais demorado do que o normal e escolhi uma roupa como quem não quer nada, mas querendo tudo. Meu coração estava inquieto, como se esperasse algo, mesmo sem saber o quê.Às 10h recebi uma mensagem dele: -Hoje quero te mostrar algo. Vista algo confortável. Estou te esperando. Respondi com um simples.-Onde vamos? -Confiar em mim é o primeiro passo. Respirei fundo. Peguei minha mochila, coloquei um casaco e fui. Ele me buscou com um sorriso no rosto e olhos brilhando como se estivesse orgulhoso por eu ter ido. Dessa vez, sem carro luxuoso, sem segurança visível ,. ele parecia um cara comum. O que, vindo de Vincent, era quase surreal. — Vamos fazer algo que eu amo, mas raramente consigo. disse ele ao me guiar até uma trilha no alto das colinas, longe da cidade.Caminhamos em silêncio por alguns minutos até o som da cidade desaparecer por completo. Lá em cima, havia uma vista absurda da cidade. O sol tocava os prédios ao longe, e o vento bagunçava meus cabelos. Ele sentou na grama, me puxou pela mão e sentamos lado a lado. — Sabe por que eu gosto de vir aqui? ele perguntou.Neguei com a cabeça. — Porque é o único lugar onde eu consigo ouvir a minha própria alma. Onde eu paro de ser o Vincent mafioso, o herdeiro, o estrategista… e só sou um homem. Olhei pra ele e pela primeira vez percebi a exaustão nos olhos dele. Como se carregar esse nome, esse peso, o consumisse aos poucos. — E comigo? arrisquei perguntar. — O que você é comigo? Ele virou o rosto, sério. — Contigo… eu tô tentando ser alguém que nunca fui. Alguém digno. Minhas lágrimas caíram sem que eu percebesse. Ele limpou com os dedos, tão gentil quanto a brisa que nos tocava. — Você me mostra um mundo que eu nunca vi, Mirella. E por isso, talvez, você seja o único risco que eu realmente quero correr. Ficamos ali, por horas. Falamos sobre sonhos. Sobre o que nos fez chegar até aqui. Sobre dores que não contamos pra ninguém. E rimos. Sim, rimos como duas pessoas que tinham acabado de se encontrar no caos e estavam, de algum jeito estranho, se encaixando.Quando ele me levou de volta, me beijou na testa. — Dia 3 completo... e você nem percebeu que já está entrando no meu mundo, baby. ele disse com um sorriso torto. Sorri de volta, sem negar. Porque ele estava certo. Eu estava entrando... e o pior (ou melhor) queria continuar....Vincent Dia 4 Acordei pensando nela. Mirella. Com aquele jeitinho desconfiado, as palavras sempre na ponta da língua, mas os olhos… os olhos entregam tudo. Ela sente, ela tenta negar, mas sente. Hoje eu queria surpreendê-la de um jeito diferente. Nada de luxo, nada de flores ou presentes caros. Queria mostrar pra ela que, por trás da imagem que carrego, ainda existe algo humano. Algo real. Passei o dia inteiro resolvendo assuntos da família, assuntos que ela jamais entenderia e que nem quero que ela entenda. Não agora. Mas mesmo com o caos me cercando, era nela que eu pensava. Às 19h mandei uma mensagem: “Vista algo leve. Te pego em 20 minutos.” Ela demorou a responder, mas veio. Quando entrou no carro, seu olhar curioso e cauteloso estava ali como sempre, mas havia também uma certa... entrega. Como se ela tivesse decidido parar de lutar com os próprios sentimentos, nem que fosse só por hoje. — Hoje é especial . falei, guiando o carro para fora da cidade. — Por quê? ela
Vincentcontinuação... Dia 6 O dia amanheceu estranho. Acordei com uma ligação que gelou minha espinha. Um dos meus homens de confiança, Pietro, havia sido atacado. Não por rivais, mas por traidores... de dentro. Alguém que eu alimentei. Que cresceu sob minha proteção. A máfia não perdoa traição. E muito menos eu. Passei a manhã resolvendo esse tipo de sujeira. Sangue. Gritos. Punições. Esse é o lado da vida que eu escondo da Mirella. O lado que mancha minhas mãos, minha alma, meu nome. Mas é também o que me fez quem eu sou. O que me deu o poder de escolher com quem vou dividir o meu império.Escolher ela. Mas hoje… tudo sair do controle. Mirella apareceu na faculdade bem no momento em que recebi uma ligação urgente. Eu estava no estacionamento. Ela me viu entrar no carro com dois homens armados e a expressão no rosto dela foi de puro pânico. -Droga. Tentei disfarçar, mas ela já tinha visto o suficiente.Horas depois, voltei pra encontrá-la. Ela me esperava em frente ao prédio del
Mirella Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você t
Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve
MirellaÉ um desafio diário morar em outro país, longe de toda a minha família. Um país totalmente diferente, com outra cultura, outro ritmo ,até o sono aqui é diferente! E, principalmente... a comida. Sempre fui muito regrada, mas morando nos Estados Unidos não dá pra manter esse ritmo. A maioria dos lugares só serve lanche. Café da manhã com hambúrguer e batata frita... essas coisas.Comida brasileira mesmo, a gente só encontra em poucos lugares e, quando encontra, não tem aquele sabor gostoso de comida de mãe. Nossa, estou sentindo tanta falta da comida da minha mãe! O que tem me salvado são umas marmitinhas que encontro prontas no supermercado saladas, carne, peixe, frutas... tudo embalado, só pegar e comer.Vida de estudante não está nada fácil. Quando não estou estudando, estou dormindo. Quando não estou dormindo, estou estudando [risos]. A correria tá grande, a rotina mais louca da minha vida. Nem quando eu fazia curso e trabalhava era desse jeito. Aqui, eu tenho que me desdobr