Vincent
continuação... Dia 6 O dia amanheceu estranho. Acordei com uma ligação que gelou minha espinha. Um dos meus homens de confiança, Pietro, havia sido atacado. Não por rivais, mas por traidores... de dentro. Alguém que eu alimentei. Que cresceu sob minha proteção. A máfia não perdoa traição. E muito menos eu. Passei a manhã resolvendo esse tipo de sujeira. Sangue. Gritos. Punições. Esse é o lado da vida que eu escondo da Mirella. O lado que mancha minhas mãos, minha alma, meu nome. Mas é também o que me fez quem eu sou. O que me deu o poder de escolher com quem vou dividir o meu império.Escolher ela. Mas hoje… tudo sair do controle. Mirella apareceu na faculdade bem no momento em que recebi uma ligação urgente. Eu estava no estacionamento. Ela me viu entrar no carro com dois homens armados e a expressão no rosto dela foi de puro pânico. -Droga. Tentei disfarçar, mas ela já tinha visto o suficiente.Horas depois, voltei pra encontrá-la. Ela me esperava em frente ao prédio dela, braços cruzados, olhar de quem exige respostas. — Vincent, eu vi! Vi você com aqueles caras... eles estavam armados, eu não sou idiota! — Eu posso explicar. Tento manter a calma, mesmo com meu coração acelerado. — Você me prometeu que seria transparente! a voz dela treme, e eu sinto a dor no peito. Como posso confiar em você se tudo parece um filme de crime? Me aproximo devagar, com as mãos pra cima, como quem se entrega. — Esse é o meu mundo, Mirella. Eu não disse que seria fácil, mas nunca escondi que era perigoso. A diferença é que, desde que você entrou na minha vida, eu venho tentando criar um espaço seguro dentro do caos. Por você. — E se esse caos engolir a gente? — Então eu mato o caos. minha voz sai firme, fria, real. — Por você, Mirella... eu mato o que for .Ela engole em seco. Os olhos marejam, mas ela permanece forte. — E se eu decidir ir embora? — Eu deixo você ir. minto.Ela percebe. Me encara. E então, pela primeira vez, ela fala algo que muda tudo . — Me prova que eu posso confiar em você... porque se não, nem esses seus 30 dias serão suficientes. Ela entra no prédio sem olhar pra trás. E eu fico ali, sozinho, sentindo que minha guerra agora não é contra os traidores da máfia…É contra o medo que ela sente de mim. E talvez, contra o medo que eu tenho de perdê-la. Dia 6 .O jogo mudou. E agora, eu preciso lutar muito mais com o coração… do que com as armas. Dia 7 Hoje, eu precisava mostrar pra Mirella que ela pode confiar em mim. Não com palavras, mas com atitudes. Então, pedi a um dos meus homens de confiança que marcasse um encontro com a dona Teresa uma senhora que cuido há anos, sem que ninguém saiba. Ela é a avó de um dos meus homens mais antigos. Ficou sozinha depois que o neto morreu em uma missão por minha causa. Desde então, sou o neto que ela perdeu. Levei Mirella comigo sem dizer exatamente pra onde íamos. — Isso aqui é o quê? ela perguntou, olhando pela janela do carro enquanto subíamos o morro. — Um pedaço do meu mundo que quase ninguém conhece. respondi. Chegamos em uma casa simples, com uma varanda cheia de vasos de flores. Dona Teresa nos recebeu com um sorriso e os olhos brilhando de emoção. — Ah, meu menino voltou! ela abriu os braços e me abraçou com força, como sempre fazia. — E trouxe uma moça linda. É sua esposa? Mirella ficou sem reação. Eu apenas sorri. — Ainda não, Dona Teresa... mas quem sabe um dia. Ela nos convidou pra entrar. Mirella ficou observando tudo, as fotos antigas, o cheirinho de bolo no forno, o carinho com que aquela senhora falava de mim. Ali, ela viu quem eu sou quando não estou vestido de terno preto e armado até os dentes. — Você vem aqui sempre? ela sussurrou quando ficamos a sós por um momento na cozinha. — Toda semana. Ela não tem mais ninguém. E eu devia isso ao neto dela. Ele morreu por mim. Mirella me olhou de um jeito diferente. Como se visse algo novo. Como se pela primeira vez... confiasse. — Então esse é o Vincent que ninguém conhece? ela perguntou. — Esse é o Vincent que você vai conhecer se me der essa chance. Ela não respondeu. Mas quando saímos da casa, ela segurou minha mão. Não disse nada. Só segurou. E pra mim, aquilo falou mais alto que qualquer palavra. Dia 7 completo. Ela começou a enxergar o homem por trás do mafioso. E isso... me deu esperança. Dia 8 Ela está me matando aos poucos com esse olhar... e nem sabe. Hoje decidi levar ela pra almoçar depois da aula. Ela tentou negar no início, mas cedeu ao ver que eu já estava estacionando o carro em um restaurante . Eu nunca insisti tanto por alguém... mas Mirella é diferente. É fogo e calmaria. É o desafio mais perigoso e mais doce que já enfrentei. — Achei que tivesse dito que tinha compromissos hoje .ela disse ao sair do carro cruzando os braços. — E eu tenho ,mas nada que não possa esperar que eu almoce com a minha futura eaposa . respondi, sem desviar os olhos dela.O silêncio se instalou por um tempo, até que ela soltou: — Tá me dando medo, Vincent... esse seu jeito, essa sua intensidade. Parece que você me quer com tanta força que... que eu não consigo resistir e isso me assusta, depois de alimentados, já estava em atraso mas não perdi a oportunidade. Estacionei o carro em uma rua mais calma. O coração batendo mais rápido. Virei de lado e encarei seus olhos castanhos. — Eu quero você, Mirella. Quero sua presença, sua confiança, sua verdade. Não tô pedindo que você se jogue de olhos fechados... só que me permita ficar por perto.Ela mordeu o lábio inferior, nervosa. Eu cheguei mais perto. Devagar. Sentindo sua respiração acelerar. — Você me provoca... ela sussurrou. — E você me enlouquece... falei, agora com meu rosto a poucos centímetros do dela. — Sabe o que é mais perigoso nessa história? É que você está se infiltrando na minha pele sem pedir licença. — E você tá tentando entrar no meu mundo com tudo, Vincent. — Porque seu mundo é o único lugar onde eu me sinto em paz. A tensão entre nós era palpável. Mirella fechou os olhos por um segundo e, quando abriu, os nossos lábios estavam perigosamente próximos. Mas ela recuou. — Eu... preciso ir pra casa. — disse, quase num sussurro. Assenti, respeitando seu limite. Mas antes de ela sair do carro, segurei sua mão e levei até meus lábios, deixando um beijo suave ali. — Um dia, Mirella... você vai me beijar . Ela desceu do carro sem dizer nada, mas o jeito como olhou pra mim antes de fechar a porta... me disse tudo. A tensão está aumentando. E eu vou ganhar essa batalha. Beijo por beijo. Desejo por desejo.Dia 8 completo.Mirella Dia 9 Estou completamente perdida dentro de mim.Ele me tirou de todo eixo. Ontem, quando ele segurou minha mão e beijou com tanta suavidade, eu senti meu corpo inteiro arrepiar. Não foi só o gesto... foi a forma como ele me olhou depois. Como se estivesse me enxergando por dentro. Passei a noite sem dormir direito, pensando naquela frase: "Um dia, Mirella... você vai me beijar primeiro." Talvez ele nem imagine o quanto essa frase grudou na minha mente como tatuagem invisível.Estou tentando ser racional, juro que estou. Mas como manter a razão quando esse homem, tão perigoso e intenso, me trata com uma delicadeza que nenhum outro tratou? Quando ele me olha como se eu fosse a única mulher do mundo? Hoje, na faculdade, ele nem precisou se aproximar. Só o olhar dele já foi suficiente pra me fazer tremer. Seus olhos me encontraram no corredor, e eu quase perdi o equilíbrio. Ele me estuda... cada movimento meu. E eu sinto que ele já me conhece melhor do que eu mesma. — Você t
Mirella continuação...Dia 11Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele.Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos.Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse:— Vai dar tudo certo. Eu prometo.No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali.Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam s
Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve
Vicent dia 16 Ela dorme ao meu lado. Seus cabelos caem sobre o travesseiro como uma moldura suave e bagunçada. E, pela primeira vez em muito tempo, eu não sinto o peso do mundo nas costas.Sinto paz.Não deveria. Eu sei disso. Estou me expondo. Baixando defesas que levei anos pra construir. Mas essa mulher... essa garota da Rocinha com olhos de coragem e alma de tempestade, ela me desarma. Me tira da rota. E ao invés de me perder... eu me encontro nela.Deslizo meus dedos pelo braço dela, devagar, como se qualquer movimento em falso fosse acordá-la ou pior, fazê-la sumir. Porque agora... agora eu tenho medo. Medo do que estou sentindo. Medo de que ela descubra o quanto está no controle sem nem perceber.Eu, Vicent Mangano, herdeiro da máfia italiana... estou apaixonado. E isso é perigoso. Ela se remexe, os cílios tremem, mas não acorda. Um sorrisinho surge nos lábios dela. Está sonhando. Quero acreditar que é comigo. Não consigo resistir. Me aproximo mais, beijo sua testa e respiro o
Mirella dia 18 A casa era como um cenário de filme. Lareira acesa, cheiro de madeira queimada e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Mas nada disso me prendia mais do que o olhar dele. Vicent me observava em silêncio, como se cada movimento meu fosse parte de algo que ele já esperava há tempos.— Gosta de vinho? ele perguntou, enquanto abria uma garrafa com as mangas da camisa dobradas até os antebraços. O jeito que ele fazia até o mais simples dos gestos era absurdamente sexy.— Gosto... mas não sei escolher. admiti, me sentando no sofá com uma manta leve sobre as pernas. Ele serviu as taças, caminhou até mim e me entregou uma.— Só precisa confiar em mim. disse, se sentando ao meu lado. — Aliás, isso vale pra mais do que o vinho.Bebi um gole e deixei o olhar se perder no fogo da lareira. A tensão entre nós não era mais uma barreira, era uma corda invisível nos puxando, centímetro por centímetro, um pro outro.— Você ainda acha que não se encaixa no meu mundo? ele pergun
MirellaÉ um desafio diário morar em outro país, longe de toda a minha família. Um país totalmente diferente, com outra cultura, outro ritmo ,até o sono aqui é diferente! E, principalmente... a comida. Sempre fui muito regrada, mas morando nos Estados Unidos não dá pra manter esse ritmo. A maioria dos lugares só serve lanche. Café da manhã com hambúrguer e batata frita... essas coisas.Comida brasileira mesmo, a gente só encontra em poucos lugares e, quando encontra, não tem aquele sabor gostoso de comida de mãe. Nossa, estou sentindo tanta falta da comida da minha mãe! O que tem me salvado são umas marmitinhas que encontro prontas no supermercado saladas, carne, peixe, frutas... tudo embalado, só pegar e comer.Vida de estudante não está nada fácil. Quando não estou estudando, estou dormindo. Quando não estou dormindo, estou estudando [risos]. A correria tá grande, a rotina mais louca da minha vida. Nem quando eu fazia curso e trabalhava era desse jeito. Aqui, eu tenho que me desdobr