RebeccaEu não conseguia respirar.Aaron virou as costas para mim. Ele escolheu não acreditar. O homem que dizia me amar, que prometeu estar ao meu lado contra tudo e todos… foi embora.E me deixou ali. Sozinha. Com Eric.Minha visão ficou turva com as lágrimas, mas eu me recusei a deixá-las cair. Não na frente de Eric. E ele se aproveitou do momento.— Está vendo, Rebecca? — Sua voz era suave, mas carregada de veneno. — Se Aaron realmente te amasse, ele nunca teria acreditado em mim.Suas palavras cortaram fundo. Porque, de alguma forma cruel, eram verdadeiras. Meus punhos se fecharam, e eu senti minha respiração ficar irregular. Mas não era tristeza. Era raiva.Raiva de mim mesma por acreditar que ele nunca faria isso. Raiva por ter permitido que alguém como Eric entrasse na minha vida.Eric percebeu meu silêncio e tentou se aproximar.— Vamos, Rebecca. — Ele gesticulou para o carro, como se estivesse oferecendo uma salvação. — Entre. Eu vou te ajudar.Meu corpo estremeceu de desgos
AaronO cheiro do café recém-passado pairava no ar quando me aproximei da sala de jantar para tomar o café da manhã, o que trazia algum ânimo após uma péssima noite. Mas o clima na mesa dizia o contrário.Além dos meus avós, também estavam sentados à mesa Anton e Anneliese, mas o silêncio carregado e as expressões fechadas indicavam que havia algo de errado. E, principalmente, o olhar tempestuoso de Leonel.— O que está acontecendo? — Perguntei, pegando uma xícara e servindo-me de café.Leonel bufou, o que não era um bom sinal.— Seu irmão não cansa de envergonhar esta família.Franzi o cenho.— Qual deles?Antes que meu avô pudesse explodir de vez, Anneliese entrou na conversa.— Axel. — Ela revirou os olhos, pegando uma fatia de bolo. — A mídia inglesa está noticiando que uma mulher está grávida dele. Fiz uma careta. De novo?— Isso já aconteceu antes. — Dei de ombros, bebendo meu café.— Um encontro que aconteceu durante as férias de Axel em Santorini — Anneliese completou.Meu ol
AaronO silêncio do meu escritório era ensurdecedor. O peso das palavras de Anneliese ainda ressoava em minha cabeça e eu senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Isso não pode estar acontecendo.Sem perder mais um segundo, agarrei minhas chaves e saí do prédio como um furacão. Os funcionários me olharam confusos, mas eu não parei. No estacionamento, entrei no carro e acelerei sem um destino certo. Eu precisava encontrá-la.Liguei para Anneliese enquanto dirigia.— Você tem certeza de que ela levou tudo? — Minha voz saiu cortante, desesperada.— Sim, Aaron. Não há dúvidas. O porteiro me disse que ela foi embora! — O desespero na voz de minha irmã apenas alimentava meu próprio pânico. — Na escola de artes falaram que ela trancou a matrícula.Eu engoli seco, apertando o volante. Como eu deixei isso acontecer? Eu estava tão preso às minhas dúvidas que não percebi que estava a afastando.— O porteiro viu ela indo embora com tudo?— Insisti, o carro cortando as ruas da cidade
RebeccaAssim que desci do ônibus e meus pés tocaram o chão de paralelepípedos, senti um aperto no peito. Castilho parecia exatamente como eu me lembrava: pequena e acolhedora. Por um breve instante, uma onda de nostalgia me invadiu. Era estranho sentir paz depois de tudo o que vivi.Respirei fundo, deixando o ar fresco do interior preencher meus pulmões, tentando ignorar o peso das lembranças que tentavam me puxar para trás. Eu não queria pensar no que aconteceu depois que fui para São Paulo. Não agora.Ajeitei a alça da mala e comecei a caminhar. As ruas, antes tão familiares, agora pareciam um território incerto. Eu podia sentir os olhares sobre mim, pessoas espiando por trás de cortinas, sussurros atravessando o vento. Em Castilho, ninguém era invisível. E eu, com certeza, não passaria despercebida.Quando alcancei a pousada, hesitei por um segundo antes de empurrar a porta. O pequeno sino tilintar, anunciando minha chegada.Dona Suely estava atrás do balcão, contando algumas nota
Leonel BaumannConvidei meus netos e Ettore para um jantar na mansão. Já era hora de decidir o futuro das Indústrias Baumann, e eu precisava de todos presentes para essa ocasião. Berenice, minha querida esposa, estava ao meu lado, lançando-me olhares de apoio. A sala de jantar, com seu lustre imponente e móveis antigos, estava preparada para uma noite memorável.Enquanto nos acomodamos à mesa, observei os rostos tensos dos meus netos. Aaron, com sua postura rígida e terno impecável, claramente estava à espera de algo importante. Paola, ao seu lado, tentava disfarçar sua ansiedade, mas o brilho em seus olhos a traía. Axel, sempre desconfiado, mantinha uma expressão cerrada, enquanto Anton, despreocupado, mexia no telefone e Annelise ria de algo que ele disse.Ettore, filho de um antigo funcionário falecido e meu homem de confiança, estava presente também. Para mim, ele é como um filho. Suas ações sempre foram pautadas pela lealdade e integridade, algo raro nos dias de hoje.O jantar tr
AaronVi meu avô sair da sala com passos firmes, deixando para trás um misto de incredulidade e choque em nossos rostos. Não era possível que ele realmente estivesse impondo tal condição para passar o controle das Indústrias Baumann. Um bisneto? Era isso que ele queria em troca do poder?Olhei para Paola, minha esposa, sentada ao meu lado. Ela estava linda como sempre, sua postura perfeita e seu rosto inexpressivo. Paola sempre foi a esposa troféu ideal, vinda de uma família tradicional paulistana. Elegante, educada, exatamente o que eu precisava para manter as aparências. Mas filhos? Esse era um assunto que nunca tínhamos discutido seriamente.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Axel se dirigiu ao luxuoso bar no canto da sala. Pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de uma dose generosa.— Alguém mais quer? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo e desdém. Ele nos olhou, sabendo que as chances de aceitar sua oferta eram poucas.Annelise foi a primeira a se levantar, ain
RebeccaDeixar minha cidade natal não foi uma decisão fácil, mas foi necessário. Minha paixão pela pintura sempre foi uma constante em minha vida. Meus pais, devotos fervorosos de uma vida simples e religiosa, nunca compreenderam essa paixão. Para eles, minha arte era uma distração tola."Você precisa se concentrar nas coisas importantes, Rebecca. Deus tem planos para você, mas a pintura não é um deles," meu pai dizia sempre, seu tom severo e inflexível. Minha mãe, embora mais compreensiva, também não conseguia enxergar além do horizonte limitado da nossa pequena cidade no interior de São Paulo.Quando finalmente tomei a decisão de ir embora, estava assustada, mas determinada. Juntei todas as minhas economias, coloquei minhas poucas roupas e meus materiais de pintura em uma mochila e deixei uma carta para meus pais, explicando minha partida. Peguei o primeiro ônibus para São Paulo, minha cabeça cheia de planos e expectativas. Quando finalmente desci na estação de metrô mais moviment
AaronNão consigo acreditar no que estou prestes a fazer. Meu coração bate descompassado dentro do peito, uma mistura de excitação e nervosismo. Mas não vou recuar. Tenho um objetivo em mente e farei qualquer coisa para alcançá-lo.Chego ao apartamento indicado por Eric e paro em frente ao número na porta. Demoro um momento antes de tocar a campainha, meu dedo hesitante sobre o botão. Mas logo decidi seguir em frente. Não há espaço para dúvidas agora. Preciso concluir isso o mais rápido possível.A porta se abre lentamente e Eric está lá, com um sorriso de satisfação no rosto, totalmente impróprio para o momento. Ele me dá um aceno de cabeça e me deixa entrar, fechando a porta atrás de mim.— Que bom que chegou. Pensei que tinha desistido. Eu permaneço no mesmo lugar e deixo-lhe saber os meus pensamentos.— Confesso que essa ideia passou pela minha cabeça — Digo, sentindo a tensão aumentar sobre os meus ombros.— Mentalize aquela velha e importante frase de Maquiavel: Os fins justifi