RebeccaApesar da forte convicção em manter a calma, eu saí caminhando desnorteada, cada passo mais rápido que o anterior, como se pudesse deixar para trás as palavras duras que minha mãe havia cravado em mim. A praça, a igreja, a escola... tudo parecia se fundir em uma névoa de memórias e dor. Eu só queria voltar para a pousada, trancar a porta do quarto e tentar me recompor. Mas o mundo parecia girar mais rápido do que eu conseguia acompanhar.Na pressa de fugir, nem olhei para os lados ao atravessar a rua. Foi então que ouvi o som de um carro se aproximando. Meu corpo congelou por um instante, e quando me virei, não tive dúvidas de que aquele era o carro do pastor Antônio. Meu pai. Meu coração parou, e eu não consegui me mover. Tudo parecia acontecer em câmera lenta: o carro desviando bruscamente, os pneus cantando no asfalto, o impacto que me atingiu de raspão. Senti meu corpo sendo arremessado contra o chão, e a dor explodiu em meu lado esquerdo.Caí no chão com um baque surdo, o
AaronFazia um pouco mais de 24 horas desde que descobri que Rebecca havia sumido. Desaparecido. Sem deixar rastros, sem uma palavra, sem nada. Eu estava desesperado. Não consegui ir para a Baumann no dia anterior, e naquela manhã, após um pedido de Ettore para que eu tivesse paciência, decidi tentar me distrair indo para a empresa. Que grande bobagem. Não conseguia me concentrar em nada. Minha mente não parava de girar em torno dela. Onde ela estava? Estava bem? Por que foi embora? Eu tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. Já estava com a pasta na mão, prestes a abrir a porta do meu escritório, quando dei de cara com meu avô. Ele estava ali, imponente como sempre, com aquele olhar penetrante que parecia ver tudo, saber tudo. — Para onde você está indo? — ele perguntou, ignorando completamente o fato de que eu estava claramente de saída. Eu suspirei, tentando manter a calma. — Não estou com cabeça para conversar agora, vô. Preciso sair. Ele não se moveu. Em vez disso, entrou
AaronEu não conseguia tirar as palavras do meu avô da cabeça. A pergunta que ele fez ecoava dentro de mim como um martelo incessante. Eu amava Rebecca ou estava apenas obcecado pelo bebê que ela carregava? A resposta era óbvia para mim, mas a dúvida que ele implantou me deixava cada vez mais inquieto. Eu precisava agir.Sem pensar muito, peguei minhas chaves e fui diretamente para a clínica de Eric. Eu precisava confrontá-lo, precisava ouvir da boca dele que aquilo era mentira. Ao chegar, fui recebido pela recepcionista, que tentou me impedir de seguir adiante.— O doutor Eric não está, senhor Baumann — disse ela, com um nervosismo evidente.— Eu não perguntei se ele está — respondi, já passando direto pela entrada e seguindo para o corredor.A secretária de Eric tentou me parar, mas não dei ouvidos. Arrombei a porta do escritório e o encontrei vazio. Virei a sala de cabeça para baixo, abrindo portas, verificando o banheiro, até mesmo os armários. Eu conhecia bem o covarde que Eric e
AaronDesci do jatinho com passos rápidos, minha mente totalmente focada em Rebecca. Foi só então que percebi a presença de um dos meus seguranças, que vinha apenas alguns metros de distância, observando o entorno com atenção. A visão dele me fez parar por um instante, uma onda de irritação passando por mim. — O que você está fazendo aqui? — perguntei, minha voz mais áspera do que eu pretendia. Ele olhou para mim, impassível, e respondeu com calma: — Cumprindo ordens de Ettore, senhor. Eu cerrei os maxilares, detestando o fato de não ter notado sua presença antes. Isso provava que eu não estava atento ao que estava acontecendo ao meu redor, algo preocupante para um homem na minha posição. Mas, mesmo contrariado, entendi que Ettore estava apenas cuidando da minha segurança. Ele sempre pensava em tudo, e eu deveria estar agradecido por isso. Um carro já estava à minha espera, outra providência tomada por Ettore que nem mesmo havia passado pela minha cabeça. Agradeci mentalmente a e
AaronA estrada parecia se estender infinitamente à minha frente, mas minha mente estava ainda mais distante. Eu estava a caminho do aeroporto, tentando digerir todas as reviravoltas dos últimos dias, quando meu telefone tocou.— O que foi agora, Ettore? — atendi com impaciência.— Eric está em Castilho.Senti minha mandíbula travar.— O que ele está fazendo aqui? — perguntei, embora a resposta já estivesse se formando em minha mente.— Não sabemos ainda, mas isso pode significar que Rebecca realmente fugiu com ele.Minha raiva ferveu no mesmo instante.— Isso é mentira! — rosnei, cortando qualquer insinuação antes que Ettore pudesse continuar. — Eu não posso acreditar que Rebecca faria isso. Eric deve estar tentando essa jogada suja. Eu não vou deixá-lo vencer.Sem esperar resposta, desliguei o telefone e dei ordens ao motorista:— Volte para o hospital. Agora.Meu coração batia com força contra meu peito. Eu não podia perder tempo. Eu precisava de Rebecca. E mais do que isso, eu pre
PaollaEric e eu estávamos sentados dentro do carro, a um quarteirão de distância do hospital, quando vimos o carro que levava Aaron voltar pelo mesmo caminho de onde veio. Eric sorriu, satisfeito, e bateu com as mãos no volante, comemorando.— O plano funcionou! — exclamou, olhando para mim com um brilho de triunfo nos olhos. — Eu disse que ele não ficaria. Eu, porém, não compartilho do entusiasmo imediato dele. Cruzei os braços e franzi a testa.— Não comemore antes da hora — alertei. — Precisamos esperar António chegar para confirmar se tudo saiu como o esperado. Ainda há muita coisa que pode dar errado.Eric revirou os olhos, mas não contestou. Ele sabia que eu não era do tipo que se contentava com suposições. No entanto, antes de precisarmos esperar muito, o carro de Antônio fez o sinal combinado. Sem perder tempo, Eric seguiu na mesma direção, parando em um estacionamento vazio de uma obra inacabada. Desço do carro e encaro Antonio e Judite, que saem do veículo hesitantes.— Fe
RebeccaA declaração de amor de Aaron tocou profundamente em mim. Suas palavras ecoavam em minha mente, e por um momento, senti uma pontada de esperança. Mas não conseguia simplesmente confiar que tudo daria certo entre nós agora. Havia tantas coisas atrapalhando, tantas dúvidas e medos que ainda me assombravam. Eric parecia disposto a tudo para nos afastar, e eu tinha medo de que Aaron, mais uma vez, virasse as costas para mim. Enquanto Aaron segurava minha mão, seus olhos cheios de sinceridade, ele pediu que eu voltasse para São Paulo com ele. Ele falou sobre o apoio que eu teria lá, sobre a estrutura muito melhor do que aquela que o pequeno hospital poderia oferecer. Mas a forma como ele olhou em torno do quarto, como se menosprezar o lugar onde eu estava, me deixou irritada. Eu afastei minha mão da dele, sentindo um nó se formar na garganta. — Eu não aceito que você fale dessa forma sobre o lugar onde eu nasci e vivi toda a minha vida — disse, minha voz firme, mas carregada de
AaronA questão lançada por Rebecca ecoou no quarto, e eu fiquei ali, em silêncio, aguardando com expectativa a resposta de Antônio. Algo estava errado, e eu precisava saber o quê.Antônio respirou fundo, como se estivesse se preparando para algo difícil. Ele olhou para Rebecca, depois para mim, e finalmente falou, sua voz carregada de um peso que eu não conseguia decifrar.— Foi Paolla — ele disse, suas palavras saindo devagar, como se ele ainda estivesse processando o que estava prestes a revelar. — A ex-esposa de Aaron Baumann,s. Ela entrou em contato comigo.Eu senti meu corpo congelar. Paolla? Como ela tinha encontrado os pais de Rebecca? E por quê? O olhar de Rebecca oscilava entre mim e os seus pais, e eu sabia que ela estava tão surpresa quanto ele.— Paolla entrou em contato com vocês? — Ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de tensão.— Ela me procurou na igreja — Antônio continuou, sua voz agora mais firme, mas ainda hesitante. — Não sei como ela me encontrou, mas ela