AaronO silêncio do meu escritório era ensurdecedor. O peso das palavras de Anneliese ainda ressoava em minha cabeça e eu senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Isso não pode estar acontecendo.Sem perder mais um segundo, agarrei minhas chaves e saí do prédio como um furacão. Os funcionários me olharam confusos, mas eu não parei. No estacionamento, entrei no carro e acelerei sem um destino certo. Eu precisava encontrá-la.Liguei para Anneliese enquanto dirigia.— Você tem certeza de que ela levou tudo? — Minha voz saiu cortante, desesperada.— Sim, Aaron. Não há dúvidas. O porteiro me disse que ela foi embora! — O desespero na voz de minha irmã apenas alimentava meu próprio pânico. — Na escola de artes falaram que ela trancou a matrícula.Eu engoli seco, apertando o volante. Como eu deixei isso acontecer? Eu estava tão preso às minhas dúvidas que não percebi que estava a afastando.— O porteiro viu ela indo embora com tudo?— Insisti, o carro cortando as ruas da cidade
RebeccaAssim que desci do ônibus e meus pés tocaram o chão de paralelepípedos, senti um aperto no peito. Castilho parecia exatamente como eu me lembrava: pequena e acolhedora. Por um breve instante, uma onda de nostalgia me invadiu. Era estranho sentir paz depois de tudo o que vivi.Respirei fundo, deixando o ar fresco do interior preencher meus pulmões, tentando ignorar o peso das lembranças que tentavam me puxar para trás. Eu não queria pensar no que aconteceu depois que fui para São Paulo. Não agora.Ajeitei a alça da mala e comecei a caminhar. As ruas, antes tão familiares, agora pareciam um território incerto. Eu podia sentir os olhares sobre mim, pessoas espiando por trás de cortinas, sussurros atravessando o vento. Em Castilho, ninguém era invisível. E eu, com certeza, não passaria despercebida.Quando alcancei a pousada, hesitei por um segundo antes de empurrar a porta. O pequeno sino tilintar, anunciando minha chegada.Dona Suely estava atrás do balcão, contando algumas nota
RebeccaApesar da forte convicção em manter a calma, eu saí caminhando desnorteada, cada passo mais rápido que o anterior, como se pudesse deixar para trás as palavras duras que minha mãe havia cravado em mim. A praça, a igreja, a escola... tudo parecia se fundir em uma névoa de memórias e dor. Eu só queria voltar para a pousada, trancar a porta do quarto e tentar me recompor. Mas o mundo parecia girar mais rápido do que eu conseguia acompanhar.Na pressa de fugir, nem olhei para os lados ao atravessar a rua. Foi então que ouvi o som de um carro se aproximando. Meu corpo congelou por um instante, e quando me virei, não tive dúvidas de que aquele era o carro do pastor Antônio. Meu pai. Meu coração parou, e eu não consegui me mover. Tudo parecia acontecer em câmera lenta: o carro desviando bruscamente, os pneus cantando no asfalto, o impacto que me atingiu de raspão. Senti meu corpo sendo arremessado contra o chão, e a dor explodiu em meu lado esquerdo.Caí no chão com um baque surdo, o
AaronFazia um pouco mais de 24 horas desde que descobri que Rebecca havia sumido. Desaparecido. Sem deixar rastros, sem uma palavra, sem nada. Eu estava desesperado. Não consegui ir para a Baumann no dia anterior, e naquela manhã, após um pedido de Ettore para que eu tivesse paciência, decidi tentar me distrair indo para a empresa. Que grande bobagem. Não conseguia me concentrar em nada. Minha mente não parava de girar em torno dela. Onde ela estava? Estava bem? Por que foi embora? Eu tinha tantas perguntas e nenhuma resposta. Já estava com a pasta na mão, prestes a abrir a porta do meu escritório, quando dei de cara com meu avô. Ele estava ali, imponente como sempre, com aquele olhar penetrante que parecia ver tudo, saber tudo. — Para onde você está indo? — ele perguntou, ignorando completamente o fato de que eu estava claramente de saída. Eu suspirei, tentando manter a calma. — Não estou com cabeça para conversar agora, vô. Preciso sair. Ele não se moveu. Em vez disso, entrou
AaronEu não conseguia tirar as palavras do meu avô da cabeça. A pergunta que ele fez ecoava dentro de mim como um martelo incessante. Eu amava Rebecca ou estava apenas obcecado pelo bebê que ela carregava? A resposta era óbvia para mim, mas a dúvida que ele implantou me deixava cada vez mais inquieto. Eu precisava agir.Sem pensar muito, peguei minhas chaves e fui diretamente para a clínica de Eric. Eu precisava confrontá-lo, precisava ouvir da boca dele que aquilo era mentira. Ao chegar, fui recebido pela recepcionista, que tentou me impedir de seguir adiante.— O doutor Eric não está, senhor Baumann — disse ela, com um nervosismo evidente.— Eu não perguntei se ele está — respondi, já passando direto pela entrada e seguindo para o corredor.A secretária de Eric tentou me parar, mas não dei ouvidos. Arrombei a porta do escritório e o encontrei vazio. Virei a sala de cabeça para baixo, abrindo portas, verificando o banheiro, até mesmo os armários. Eu conhecia bem o covarde que Eric e
AaronDesci do jatinho com passos rápidos, minha mente totalmente focada em Rebecca. Foi só então que percebi a presença de um dos meus seguranças, que vinha apenas alguns metros de distância, observando o entorno com atenção. A visão dele me fez parar por um instante, uma onda de irritação passando por mim. — O que você está fazendo aqui? — perguntei, minha voz mais áspera do que eu pretendia. Ele olhou para mim, impassível, e respondeu com calma: — Cumprindo ordens de Ettore, senhor. Eu cerrei os maxilares, detestando o fato de não ter notado sua presença antes. Isso provava que eu não estava atento ao que estava acontecendo ao meu redor, algo preocupante para um homem na minha posição. Mas, mesmo contrariado, entendi que Ettore estava apenas cuidando da minha segurança. Ele sempre pensava em tudo, e eu deveria estar agradecido por isso. Um carro já estava à minha espera, outra providência tomada por Ettore que nem mesmo havia passado pela minha cabeça. Agradeci mentalmente a e
AaronA estrada parecia se estender infinitamente à minha frente, mas minha mente estava ainda mais distante. Eu estava a caminho do aeroporto, tentando digerir todas as reviravoltas dos últimos dias, quando meu telefone tocou.— O que foi agora, Ettore? — atendi com impaciência.— Eric está em Castilho.Senti minha mandíbula travar.— O que ele está fazendo aqui? — perguntei, embora a resposta já estivesse se formando em minha mente.— Não sabemos ainda, mas isso pode significar que Rebecca realmente fugiu com ele.Minha raiva ferveu no mesmo instante.— Isso é mentira! — rosnei, cortando qualquer insinuação antes que Ettore pudesse continuar. — Eu não posso acreditar que Rebecca faria isso. Eric deve estar tentando essa jogada suja. Eu não vou deixá-lo vencer.Sem esperar resposta, desliguei o telefone e dei ordens ao motorista:— Volte para o hospital. Agora.Meu coração batia com força contra meu peito. Eu não podia perder tempo. Eu precisava de Rebecca. E mais do que isso, eu pre
PaollaEric e eu estávamos sentados dentro do carro, a um quarteirão de distância do hospital, quando vimos o carro que levava Aaron voltar pelo mesmo caminho de onde veio. Eric sorriu, satisfeito, e bateu com as mãos no volante, comemorando.— O plano funcionou! — exclamou, olhando para mim com um brilho de triunfo nos olhos. — Eu disse que ele não ficaria. Eu, porém, não compartilho do entusiasmo imediato dele. Cruzei os braços e franzi a testa.— Não comemore antes da hora — alertei. — Precisamos esperar António chegar para confirmar se tudo saiu como o esperado. Ainda há muita coisa que pode dar errado.Eric revirou os olhos, mas não contestou. Ele sabia que eu não era do tipo que se contentava com suposições. No entanto, antes de precisarmos esperar muito, o carro de Antônio fez o sinal combinado. Sem perder tempo, Eric seguiu na mesma direção, parando em um estacionamento vazio de uma obra inacabada. Desço do carro e encaro Antonio e Judite, que saem do veículo hesitantes.— Fe