Encontrar um horário que funcionasse para mim e Jonas foi mais difícil do que eu imaginava. Nossos plantões não coincidiam facilmente, mas, no final das contas, consegui marcar um café com ele. Eu tinha a sensação de que ele fez um esforço extra para isso acontecer, e, por mais que estivesse relutante, sabia que essa conversa precisava acontecer.Quando o vi entrando na cafeteria, um misto de estranheza e familiaridade me invadiu. Era curioso como alguém que tinha sido parte tão presente da minha vida, alguém que eu via todos os dias, agora parecia uma figura quase distante. Já não havia qualquer resquício de sentimento amoroso da minha parte, e a mágoa por ele ter me beijado à força, além das coisas que ele dizia sobre Bernardo me abandonar, ainda pairava no ar. Mas, apesar de tudo, era inegável que ele tinha um espaço na minha história. E se havia uma chance de manter as coisas o mais amigável possível, eu estava disposta a tentar.Jonas sorriu de forma contida ao me ver e se aproxi
~BERNARDO~Aquela semana estava repleta de compromissos, e a verdade era que eu mal conseguia me concentrar em qualquer outra coisa que não fossem as audiências que tinha pela frente. A primeira, focada na regulamentação da pensão gravídica de Clarice, tinha sido surpreendentemente tranquila. Tanto eu quanto ela concordamos rapidamente com o valor estipulado pela juíza, e foi com um alívio inesperado que saímos de lá, já com o exame de DNA agendado para quando a obstetra desse a autorização. Tudo estava se encaminhando conforme o esperado.Mas era a segunda audiência, marcada para mais tarde naquele dia, que realmente me incomodava. Desde que acordei naquela manhã, um peso constante se aninhou no meu peito, e a culpa se misturava com a ansiedade em um turbilhão que eu não conseguia controlar.Alice, claro, notou. Assim que saímos de casa juntos, ela perguntou se eu tinha certeza de que ela não precisava ir. Eu, mantendo a calma, garanti que não. Afinal, era apenas uma audiência prelim
A rotina de um dia de trabalho começava como qualquer outra. Eu estava no hospital cedo, o café da manhã ainda fresco na minha mente enquanto eu revisava os prontuários dos pacientes. Uma cirurgia eletiva estava agendada para aquela manhã, e para mim, esse tipo de procedimento não era incomum. Já havia realizado operações muito mais complicadas ao longo da minha carreira, mas havia uma inquietação no fundo da minha mente que eu não conseguia ignorar.Enquanto revisava os detalhes do caso, sentada na sala de descanso dos médicos, meus pensamentos se dividiam entre a operação e as dores intermitentes que sentia nas mãos. Hoje, as dores não passavam de pequenas pontadas, nada que eu não tivesse sentido antes, mas o medo que elas carregavam era o que realmente me consumia. Ignorar os sintomas tinha sido minha estratégia até então, mas agora, com a cirurgia se aproximando, a ansiedade começou a se instalar.Coloquei meu jaleco, ajustei as luvas, e me preparei mentalmente para entrar na sal
~BERNARDO~Eu já deveria ter saído para trabalhar, mas algo dentro de mim me impedia de deixar o apartamento naquela manhã. Então, pedi que Cláudia reorganizasse minha agenda e fiquei esperando por Alice. Devido ao seu plantão, ela ainda não tinha voltado para casa quando acordei, e o pensamento de ter que encarar mais um dia na Orsini, sabendo de tudo o que estava acontecendo, me deixou inquieto. Decidi que não podia esperar mais para conversar com ela. Precisávamos tirar todos os segredos do caminho, antes que eles nos consumissem por completo.Quando Alice finalmente chegou, parecia exausta. O cansaço estava estampado em seu rosto, seus movimentos eram lentos e pesados. Ela murmurou alguma coisa e me deu um beijinho enquanto se dirigia diretamente para o banheiro. Fiquei ali, sentado na cama, esperando, meu coração batendo mais rápido a cada segundo que passava. Tinha passado a noite remoendo o encontro com Lúcia, e a culpa por ter mantido isso em segredo estava me corroendo.Alice
Deitada na cama do hospital, eu encarava o teto, tentando processar a ironia cruel da situação. Eu amava aquele lugar como médica, o hospital era meu refúgio, meu campo de batalha, onde eu sentia que realmente fazia a diferença. Mas estar ali como paciente... era um pesadelo. Tudo o que eu queria era arrancar aqueles fios que me prendiam à cama, vestir meu jaleco e voltar ao trabalho. Precisava desesperadamente ocupar minha mente com algo útil, algo que me fizesse esquecer o medo crescente que apertava meu peito.Sem pensar muito, comecei a puxar os fios que monitoravam meus sinais vitais. Um de cada vez, sentindo a leve dorzinha dos adesivos se soltando da pele. Eu queria estar no controle de algo, qualquer coisa, mesmo que fosse apenas o ato de me desconectar daqueles aparelhos que me faziam sentir tão vulnerável.— Alice, pare com isso! — A voz de Bernardo ecoou pelo quarto, arrancando-me do meu devaneio.Eu virei a cabeça e o vi sentado em um sofá, a expressão alarmada. Ele pareci
~BERNARDO~O dia anterior havia sido um caos completo, e eu mal consegui dormir, preocupado com Alice e sua saúde. A imagem dela desmaiando em meus braços não saía da minha mente, e o medo de perdê-la me assombrava a cada segundo. Eu sabia que precisava estar ao seu lado, mas, ao mesmo tempo, a Orsini exigia minha atenção. A verdade é que eu não queria deixar Alice, mas, no fundo, sabia que precisava enfrentar o que estava acontecendo na empresa. A Orsini Tech estava em risco, e se eu não agisse rapidamente, todo o legado da minha família poderia cair nas mãos erradas. Valentina estava movendo suas peças com uma precisão cruel, motivada por vingança, e eu não fazia ideia do que ela seria capaz de fazer se assumisse o controle. A simples possibilidade de ver tudo o que construímos sendo distorcido e manipulado por ela era insuportável.Na manhã seguinte, cheguei à Orsini mais cedo do que de costume, tentando compensar o dia anterior perdido. Mas assim que entrei no prédio, senti uma at
Estava em casa há poucas horas, mas o tempo parecia se arrastar de uma maneira quase cruel. Três dias de atestado. Eu entendia a necessidade, mas isso não significava que eu gostasse da ideia. Trabalhar me fazia bem, me mantinha focada, dava sentido ao meu dia. E agora, ali estava eu, sem nada para fazer além de aguardar.Já havia esgotado todas as possibilidades de entretenimento: usei a academia de Bernardo, tomei um banho de piscina, fiz sauna para tentar aliviar o estresse acumulado e até brinquei com Ian, que decidira não levar para a creche, já que eu estava em casa. Mas nada parecia suficiente para preencher o vazio que o afastamento do trabalho deixava em mim. O relógio, implacável, ainda não marcava nem dez da manhã, e eu já me sentia à beira de um ataque de nervos.Suspirei, frustrada, e me joguei na cama, os braços estendidos ao lado do corpo, encarando o teto como se ele fosse o culpado pelo meu tédio. Era apenas o primeiro dia de três, e eu já estava assim. Como seria se
Eu não esperava encontrar Valentina logo de cara. O impacto da surpresa foi instantâneo, mas não demorou muito para que se transformasse em uma raiva visceral, difícil de conter. Ali estava ela, com aquele sorriso presunçoso e maldoso estampado no rosto, os olhos fixos em mim, afiados como lâminas prontas para cortar. Cada detalhe de sua postura, da maneira como me olhava de cima a baixo, parecia calculado para me provocar. Ian, inocente e alheio a tudo, estava tranquilo em seu carrinho, e a simples ideia de Valentina se aproximando dele fez meu sangue ferver, como se um alarme de perigo tivesse disparado dentro de mim. O instinto protetor explodiu, e tudo o que eu queria naquele momento era mantê-la o mais longe possível do meu filho. Não havia espaço para palavras gentis ou trocas de farpas disfarçadas — ao menos não da minha parte.— Alice, que surpresa te encontrar por aqui — disse Valentina, com aquele tom falso que sempre me irritava. Ela olhou para Ian, e depois de volta para m