Eu não esperava encontrar Valentina logo de cara. O impacto da surpresa foi instantâneo, mas não demorou muito para que se transformasse em uma raiva visceral, difícil de conter. Ali estava ela, com aquele sorriso presunçoso e maldoso estampado no rosto, os olhos fixos em mim, afiados como lâminas prontas para cortar. Cada detalhe de sua postura, da maneira como me olhava de cima a baixo, parecia calculado para me provocar. Ian, inocente e alheio a tudo, estava tranquilo em seu carrinho, e a simples ideia de Valentina se aproximando dele fez meu sangue ferver, como se um alarme de perigo tivesse disparado dentro de mim. O instinto protetor explodiu, e tudo o que eu queria naquele momento era mantê-la o mais longe possível do meu filho. Não havia espaço para palavras gentis ou trocas de farpas disfarçadas — ao menos não da minha parte.— Alice, que surpresa te encontrar por aqui — disse Valentina, com aquele tom falso que sempre me irritava. Ela olhou para Ian, e depois de volta para m
~BERNARDO~O restaurante do Hotel Milani era o tipo de lugar sofisticado, com um ambiente acolhedor, perfeito para uma refeição tranquila. No entanto, minha atenção estava menos voltada para o ambiente e mais para Alice. Ela estava sentada à minha frente, cortando pequenos pedaços de sua refeição, e eu não conseguia evitar um sorriso enquanto a observava. Havia algo nela, algo na forma como ela se recuperava rapidamente dos choques que a vida lhe lançava, que me fascinava.Durante boa parte do almoço, fiquei ali, olhando para ela de um jeito que claramente a deixou curiosa, mas eu estava me divertindo demais para quebrar o silêncio primeiro. Foi só quando ela finalmente ergueu os olhos, encontrando os meus, e arqueou uma sobrancelha que eu decidi falar.— O que foi? — perguntou ela, com um sorriso nos lábios. — Por que você está me olhando assim?Inclinei-me um pouco sobre a mesa, ainda sorrindo.— Eu só... — comecei, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu só não imaginava que você
~BERNARDO~Os dias se passaram em um borrão de problemas crescente e noites mal dormidas. Eu me dividia entre o trabalho na Orsini Tech, onde as pressões e os ataques de Valentina se intensificavam, e em casa, onde Alice lutava contra seus próprios demônios. Ela tinha voltado ao trabalho, mas ainda estava afastada das cirurgias, o que a deixava extremamente mal-humorada. As coisas não estavam nada fáceis para nenhum de nós. Foi em meio a essa tempestade que decidi que não poderia mais adiar a conversa com Lúcia. Precisava entender até onde ela estava disposta a ir e, se possível, colocar um ponto final nessa história antes que ela destruísse ainda mais nossas vidas.No entanto, encontrar tempo para ir até a casa dela não foi simples. Entre as reuniões da auditoria, as discussões com o conselho da empresa e a necessidade de cuidar de Alice e Ian, mal conseguia respirar. Mas finalmente, depois de uma semana exaustiva, consegui uma brecha. Usei meus contatos para descobrir o endereço de
Desde que fui diagnosticada com Síndrome do Túnel do Carpo, minha mente não parava de imaginar todos os cenários possíveis para o meu futuro. O que aconteceria com minha carreira se isso piorasse? E se eu nunca mais pudesse operar? Pensar nessas questões era uma tortura constante, e o tempo que passei em casa, longe do hospital, só fez a situação piorar. Bernardo estava sendo um grande apoio, mas ele também estava lidando com seus próprios problemas. Algo estava pesando sobre ele, e isso me incomodava profundamente.Naquela manhã, Bernardo saiu cedo para mais um dia na Orsini Tech. Eu sabia que as coisas na empresa estavam tensas, especialmente com Valentina tramando algo novo o tempo todo. Mas havia algo mais, uma sombra entre nós que eu não conseguia identificar completamente. Quando ele me beijou antes de sair, senti uma ponta de culpa em seu gesto, e isso acendeu um alarme dentro de mim.Depois que ele saiu, decidi tentar me distrair organizando o apartamento, já que eu só pegava
O silêncio que se instalou após minha acusação foi pesado, como uma nuvem carregada prestes a desabar. Bernardo me olhou com uma expressão que misturava ofensa e tristeza, e a mágoa em seus olhos era inconfundível. Parecia que eu havia cruzado um limite, tocado em uma ferida que não deveria ter sido exposta. O ar entre nós ficou carregado, e por um momento, o arrependimento começou a se formar em meu peito. Mas antes que eu conseguisse encontrar as palavras certas para continuar, ele falou primeiro, sua voz carregada de uma emoção rara, algo que ele quase nunca deixava transparecer.— Alice, eu te amo. Vou me casar com você e estou lutando contra muita coisa para que possamos ter a vida que merecemos. Como você pode pensar, mesmo por um segundo, que eu teria um caso com outra mulher?Seus olhos estavam carregados de uma sinceridade tão intensa que me fizeram vacilar. Por um breve instante, meu coração se apertou com uma culpa quase sufocante, como se eu tivesse cometido uma injustiça
~BERNARDO~A Orsini Tech havia se tornado um verdadeiro campo de batalha, onde cada movimento parecia ser uma questão de sobrevivência. Valentina lançava ataques diretos e implacáveis, enquanto eu, por outro lado, era forçado a agir nas sombras, tentando reunir qualquer coisa que pudesse ser usada contra ela. Nosso jogo era quase sufocante, e cada decisão que eu tomava precisava ser meticulosamente calculada. Até agora, minhas investigações haviam desenterrado algumas transações suspeitas feitas por Valentina em nome da empresa, e uma série de e-mails comprometedores onde ela manipulava decisões estratégicas para benefício próprio. Não era suficiente para derrubá-la, mas era um começo, uma munição valiosa que eu guardava para o momento certo. Mas eu sabia que precisava de mais do que aquilo e teria paciência para buscar.Enquanto tentava manter o controle sobre a situação, outro pesadelo estava tomando forma: provar que a conta para onde o dinheiro havia sido desviado não era minha es
~BERNARDO~Quando desliguei o telefone, senti meu corpo paralisar, como se meu cérebro estivesse lutando para processar o que acabara de acontecer. Por alguns segundos, fiquei ali, congelado, tentando absorver a gravidade da situação enquanto meu instinto de ação lutava para me empurrar para frente. Meu olhar vacilou em direção à sala de reuniões, como se uma parte de mim ainda quisesse se agarrar àquilo que, até minutos atrás, era importante. Mas a verdade é que nada mais era. Tudo que tinha significado antes se esvaiu instantaneamente. O único pensamento que restava era chegar até Alice e encontrar Ian.O último vislumbre que tive, antes de sair correndo pelos corredores da Orsini Tech, foi o sorriso satisfeito de Valentina, visível através do vidro da sala. Aquela imagem me queimou por dentro, mas não havia tempo para pensar nisso agora. Qualquer coisa relacionada ao trabalho, qualquer conflito com Valentina, tudo isso se tornou irrelevante. Apenas uma coisa importava: encontrar no
Cinco dias. A sensação era de que o tempo havia parado. Cinco dias desde que Ian foi levado, e o vazio que ele deixou parecia aumentar a cada minuto que passava. As primeiras vinte e quatro horas foram um borrão. Eu mal conseguia distinguir o que estava acontecendo ao meu redor. Os médicos me deram uma dose cavalar de sedativos, preocupados com o meu estado e com as dores atrozes que começaram a atacar minhas mãos. Eu estava tão dopada que mal conseguia pensar, o que, de certa forma, foi um alívio temporário. Mas o efeito das medicações passou, e a realidade me engoliu como um maremoto.Quando recuperei a consciência plena, algo dentro de mim mudou. Era como se eu tivesse sido reprogramada, ajustada para funcionar com um único objetivo: encontrar meu filho. As lágrimas que antes escorriam sem parar secaram, dando lugar a uma determinação fria e implacável. Eu sabia que não poderia ceder ao desespero, não agora. Não enquanto Ian estivesse lá fora, em algum lugar.Bernardo e eu havíamos