Desde que fui diagnosticada com Síndrome do Túnel do Carpo, minha mente não parava de imaginar todos os cenários possíveis para o meu futuro. O que aconteceria com minha carreira se isso piorasse? E se eu nunca mais pudesse operar? Pensar nessas questões era uma tortura constante, e o tempo que passei em casa, longe do hospital, só fez a situação piorar. Bernardo estava sendo um grande apoio, mas ele também estava lidando com seus próprios problemas. Algo estava pesando sobre ele, e isso me incomodava profundamente.Naquela manhã, Bernardo saiu cedo para mais um dia na Orsini Tech. Eu sabia que as coisas na empresa estavam tensas, especialmente com Valentina tramando algo novo o tempo todo. Mas havia algo mais, uma sombra entre nós que eu não conseguia identificar completamente. Quando ele me beijou antes de sair, senti uma ponta de culpa em seu gesto, e isso acendeu um alarme dentro de mim.Depois que ele saiu, decidi tentar me distrair organizando o apartamento, já que eu só pegava
O silêncio que se instalou após minha acusação foi pesado, como uma nuvem carregada prestes a desabar. Bernardo me olhou com uma expressão que misturava ofensa e tristeza, e a mágoa em seus olhos era inconfundível. Parecia que eu havia cruzado um limite, tocado em uma ferida que não deveria ter sido exposta. O ar entre nós ficou carregado, e por um momento, o arrependimento começou a se formar em meu peito. Mas antes que eu conseguisse encontrar as palavras certas para continuar, ele falou primeiro, sua voz carregada de uma emoção rara, algo que ele quase nunca deixava transparecer.— Alice, eu te amo. Vou me casar com você e estou lutando contra muita coisa para que possamos ter a vida que merecemos. Como você pode pensar, mesmo por um segundo, que eu teria um caso com outra mulher?Seus olhos estavam carregados de uma sinceridade tão intensa que me fizeram vacilar. Por um breve instante, meu coração se apertou com uma culpa quase sufocante, como se eu tivesse cometido uma injustiça
~BERNARDO~A Orsini Tech havia se tornado um verdadeiro campo de batalha, onde cada movimento parecia ser uma questão de sobrevivência. Valentina lançava ataques diretos e implacáveis, enquanto eu, por outro lado, era forçado a agir nas sombras, tentando reunir qualquer coisa que pudesse ser usada contra ela. Nosso jogo era quase sufocante, e cada decisão que eu tomava precisava ser meticulosamente calculada. Até agora, minhas investigações haviam desenterrado algumas transações suspeitas feitas por Valentina em nome da empresa, e uma série de e-mails comprometedores onde ela manipulava decisões estratégicas para benefício próprio. Não era suficiente para derrubá-la, mas era um começo, uma munição valiosa que eu guardava para o momento certo. Mas eu sabia que precisava de mais do que aquilo e teria paciência para buscar.Enquanto tentava manter o controle sobre a situação, outro pesadelo estava tomando forma: provar que a conta para onde o dinheiro havia sido desviado não era minha es
~BERNARDO~Quando desliguei o telefone, senti meu corpo paralisar, como se meu cérebro estivesse lutando para processar o que acabara de acontecer. Por alguns segundos, fiquei ali, congelado, tentando absorver a gravidade da situação enquanto meu instinto de ação lutava para me empurrar para frente. Meu olhar vacilou em direção à sala de reuniões, como se uma parte de mim ainda quisesse se agarrar àquilo que, até minutos atrás, era importante. Mas a verdade é que nada mais era. Tudo que tinha significado antes se esvaiu instantaneamente. O único pensamento que restava era chegar até Alice e encontrar Ian.O último vislumbre que tive, antes de sair correndo pelos corredores da Orsini Tech, foi o sorriso satisfeito de Valentina, visível através do vidro da sala. Aquela imagem me queimou por dentro, mas não havia tempo para pensar nisso agora. Qualquer coisa relacionada ao trabalho, qualquer conflito com Valentina, tudo isso se tornou irrelevante. Apenas uma coisa importava: encontrar no
Cinco dias. A sensação era de que o tempo havia parado. Cinco dias desde que Ian foi levado, e o vazio que ele deixou parecia aumentar a cada minuto que passava. As primeiras vinte e quatro horas foram um borrão. Eu mal conseguia distinguir o que estava acontecendo ao meu redor. Os médicos me deram uma dose cavalar de sedativos, preocupados com o meu estado e com as dores atrozes que começaram a atacar minhas mãos. Eu estava tão dopada que mal conseguia pensar, o que, de certa forma, foi um alívio temporário. Mas o efeito das medicações passou, e a realidade me engoliu como um maremoto.Quando recuperei a consciência plena, algo dentro de mim mudou. Era como se eu tivesse sido reprogramada, ajustada para funcionar com um único objetivo: encontrar meu filho. As lágrimas que antes escorriam sem parar secaram, dando lugar a uma determinação fria e implacável. Eu sabia que não poderia ceder ao desespero, não agora. Não enquanto Ian estivesse lá fora, em algum lugar.Bernardo e eu havíamos
~BERNARDO~O silêncio da manhã preenchia o quarto, um contraste gritante com o tumulto que se agitava dentro de mim. Sentado na beirada da cama, observei Alice dormir. As olheiras profundas emolduravam seu rosto pálido, resultado das noites mal dormidas que havíamos compartilhado nos últimos dias. Eu sabia que ela precisava descansar, e vê-la finalmente apagada, mesmo que por apenas vinte minutos, era um alívio temporário. Mas minha mente não me permitia o mesmo luxo.Levantei-me com cuidado para não fazer barulho, os passos leves pelo chão enquanto me dirigia ao meu escritório. Ao fechar a porta atrás de mim, o mundo exterior pareceu se distanciar, deixando-me sozinho com meus pensamentos, a escuridão interior e o peso das decisões que precisava tomar.Caminhei até a mesa e puxei uma gaveta, onde guardei uma papelada que vinha evitando encarar nos últimos dias. Peguei os documentos, sentando-me na poltrona, e puxei um copo de whisky que eu mantinha ali como uma companhia amarga. O lí
Acordei com a sensação incômoda de vazio ao meu lado. O espaço onde Bernardo deveria estar era uma lembrança fria e desarrumada de sua ausência. O coração disparou com uma preocupação que só se intensificava à medida que meus olhos percorriam o quarto em busca de algum sinal dele. Mas não havia nada. Nenhuma mensagem, nenhum bilhete. Apenas o silêncio pesado, que me sufocava, e a sensação de que algo não estava certo.Saí da cama, sentindo o frio do chão nos pés descalços, e desci as escadas, cada passo aumentando o aperto no meu peito. Encontrei uma das funcionárias na cozinha, preparando o café da manhã com a calma que eu desejava ter.— Sabe me dizer se Bernardo saiu? — perguntei, tentando soar tranquila, embora a ansiedade traísse minha voz.Ela levantou os olhos, oferecendo-me um sorriso simpático, mas que não conseguiu aliviar a inquietação que me dominava.— Sim, doutora Bianchi. Ele saiu há pouco, mencionou que tinha alguns assuntos urgentes para resolver.Assuntos urgentes. A
Liz estava visivelmente nervosa ao meu lado enquanto dirigia, seus olhos desviando constantemente da estrada para mim a cada curva que o carro fazia. O ar dentro do veículo parecia carregado, com a ansiedade e o medo nos dominando por completo. Eu podia sentir a preocupação emanando dela, misturada a um sentimento de culpa que eu sabia que ela carregava desde o sequestro de Ian. Era como se ela estivesse lutando internamente, tentando conciliar o absurdo da situação com a necessidade de estar ali, ao meu lado.— Isso é uma loucura... — Liz murmurou, mais para si mesma do que para mim, como se tentasse encontrar alguma lógica no que estávamos prestes a fazer. Suas mãos apertavam o volante com força, os nós dos dedos quase brancos.Eu sabia que Liz não queria estar ali, mas ao mesmo tempo, não conseguia me abandonar. Ela carregava o peso da culpa por algo que não era sua responsabilidade, mas que ainda assim a afetava profundamente. O sequestro de Ian tinha abalado a todos nós, e para L