Cinco dias. A sensação era de que o tempo havia parado. Cinco dias desde que Ian foi levado, e o vazio que ele deixou parecia aumentar a cada minuto que passava. As primeiras vinte e quatro horas foram um borrão. Eu mal conseguia distinguir o que estava acontecendo ao meu redor. Os médicos me deram uma dose cavalar de sedativos, preocupados com o meu estado e com as dores atrozes que começaram a atacar minhas mãos. Eu estava tão dopada que mal conseguia pensar, o que, de certa forma, foi um alívio temporário. Mas o efeito das medicações passou, e a realidade me engoliu como um maremoto.Quando recuperei a consciência plena, algo dentro de mim mudou. Era como se eu tivesse sido reprogramada, ajustada para funcionar com um único objetivo: encontrar meu filho. As lágrimas que antes escorriam sem parar secaram, dando lugar a uma determinação fria e implacável. Eu sabia que não poderia ceder ao desespero, não agora. Não enquanto Ian estivesse lá fora, em algum lugar.Bernardo e eu havíamos
~BERNARDO~O silêncio da manhã preenchia o quarto, um contraste gritante com o tumulto que se agitava dentro de mim. Sentado na beirada da cama, observei Alice dormir. As olheiras profundas emolduravam seu rosto pálido, resultado das noites mal dormidas que havíamos compartilhado nos últimos dias. Eu sabia que ela precisava descansar, e vê-la finalmente apagada, mesmo que por apenas vinte minutos, era um alívio temporário. Mas minha mente não me permitia o mesmo luxo.Levantei-me com cuidado para não fazer barulho, os passos leves pelo chão enquanto me dirigia ao meu escritório. Ao fechar a porta atrás de mim, o mundo exterior pareceu se distanciar, deixando-me sozinho com meus pensamentos, a escuridão interior e o peso das decisões que precisava tomar.Caminhei até a mesa e puxei uma gaveta, onde guardei uma papelada que vinha evitando encarar nos últimos dias. Peguei os documentos, sentando-me na poltrona, e puxei um copo de whisky que eu mantinha ali como uma companhia amarga. O lí
Acordei com a sensação incômoda de vazio ao meu lado. O espaço onde Bernardo deveria estar era uma lembrança fria e desarrumada de sua ausência. O coração disparou com uma preocupação que só se intensificava à medida que meus olhos percorriam o quarto em busca de algum sinal dele. Mas não havia nada. Nenhuma mensagem, nenhum bilhete. Apenas o silêncio pesado, que me sufocava, e a sensação de que algo não estava certo.Saí da cama, sentindo o frio do chão nos pés descalços, e desci as escadas, cada passo aumentando o aperto no meu peito. Encontrei uma das funcionárias na cozinha, preparando o café da manhã com a calma que eu desejava ter.— Sabe me dizer se Bernardo saiu? — perguntei, tentando soar tranquila, embora a ansiedade traísse minha voz.Ela levantou os olhos, oferecendo-me um sorriso simpático, mas que não conseguiu aliviar a inquietação que me dominava.— Sim, doutora Bianchi. Ele saiu há pouco, mencionou que tinha alguns assuntos urgentes para resolver.Assuntos urgentes. A
Liz estava visivelmente nervosa ao meu lado enquanto dirigia, seus olhos desviando constantemente da estrada para mim a cada curva que o carro fazia. O ar dentro do veículo parecia carregado, com a ansiedade e o medo nos dominando por completo. Eu podia sentir a preocupação emanando dela, misturada a um sentimento de culpa que eu sabia que ela carregava desde o sequestro de Ian. Era como se ela estivesse lutando internamente, tentando conciliar o absurdo da situação com a necessidade de estar ali, ao meu lado.— Isso é uma loucura... — Liz murmurou, mais para si mesma do que para mim, como se tentasse encontrar alguma lógica no que estávamos prestes a fazer. Suas mãos apertavam o volante com força, os nós dos dedos quase brancos.Eu sabia que Liz não queria estar ali, mas ao mesmo tempo, não conseguia me abandonar. Ela carregava o peso da culpa por algo que não era sua responsabilidade, mas que ainda assim a afetava profundamente. O sequestro de Ian tinha abalado a todos nós, e para L
Descemos do carro com cautela, o coração batendo acelerado, e seguimos o homem que nos conduzia. Ele era alto e magro, mas seus músculos definidos sugeriam que ele estava mais do que preparado para qualquer confronto. Seus movimentos eram rápidos e precisos, e ele não parecia se importar se estávamos nervosas ou não. Seu rosto estava parcialmente escondido pela sombra de um boné, mas dava para ver as marcas de vida que levava estampadas em sua expressão séria.Cada passo que dávamos parecia nos levar mais fundo na realidade daquele lugar. As casas eram amontoadas umas sobre as outras, separadas por becos estreitos e tortuosos, onde crianças brincavam alheias ao perigo constante. O cheiro de comida misturava-se ao de esgoto, e as paredes grafitadas testemunhavam uma vida de luta e resistência. Eu tentava não me deixar intimidar, mas era impossível não sentir um frio na espinha. Era como se cada esquina escondesse um perigo à espreita.Enquanto caminhávamos, eu não conseguia parar de pe
Quando voltei para casa, o peso do que havia feito ainda pressionava meus ombros. Tentei entrar de fininho, quase me esgueirando pela porta, na esperança de evitar ser vista. Mas, assim que meus pés cruzaram o limiar da sala, percebi que minha tentativa foi inútil. Bernardo estava ali, me esperando no sofá, com a postura rígida e os olhos fixos na porta, como se tivesse antecipado o exato momento em que eu chegaria. Quando nossos olhares se cruzaram, senti uma conexão silenciosa, carregada de compreensão e uma dor compartilhada. Era como se, sem precisar de palavras, ambos soubéssemos que o outro tinha saído para fazer algo que tinha nos custado algo valioso.Ele se levantou, caminhando em minha direção com passos lentos e deliberados, como se estivesse pesando cada movimento. Seu olhar não vacilou, e quando finalmente parou à minha frente, a pergunta que saiu de seus lábios foi suave, quase um sussurro, mas não conseguiu esconder a preocupação que a envolvia.— O que você fez, Alice?
As horas se arrastavam como uma tortura silenciosa. Bernardo e eu tentávamos nos distrair, mas nada parecia ter sentido. Demos mais algumas entrevistas naquela manhã, mantendo a busca por Ian nas manchetes, tentando pressionar quem quer que fosse que tivesse alguma informação. Mas a cada nova entrevista, minha ansiedade aumentava. Não havia resgate solicitado, nenhuma pista sobre onde ele poderia estar. Nós, é claro, tínhamos uma boa ideia do que estava acontecendo, mas nossa esperança era que ao tornar o caso tão público alguém que tivesse visto alguma coisa pudesse entrar em contato com a polícia. Mas não foi o caso.Além da angústia natural de uma mãe desesperada, havia também a ansiedade por notícias de Corvo. Ele havia pedido quarente e oito horas, e eu sabia que não podia pressionar. Mas, a cada nova hora que passava, meu coração parecia estar prestes a sair pela boca. A primeira noite foi longa, mas a segunda madrugada foi ainda pior. Bernardo e eu estávamos deitados na cama, l
Os dias que se seguiram ao retorno de Ian foram de uma felicidade quase surreal. Era como se Bernardo e eu estivéssemos tentando compensar cada segundo de terror que havíamos vivido, dedicando todo o nosso tempo a mimá-lo, brincar com ele, e simplesmente desfrutar da sua presença. Com Bernardo afastado da Orsini e eu ainda sem retornar ao trabalho, nossas vidas giravam em torno do nosso filho. Cada risada, cada sorriso de Ian era uma lembrança viva de que havíamos passado por um pesadelo, mas que agora estávamos no paraíso.Aquilo estava se refletindo em nossa vida a dois também, que estava surpreendentemente boa. Cada momento que eu e Bernardo passávamos juntos parecia fortalecer ainda mais o nosso vínculo. As noites em que nos aconchegávamos no sofá, os risos que dividíamos nas pequenas conversas e até mesmo os gestos simples do dia a dia — tudo isso me mostrava o quanto nos completávamos.Claro que a tranquilidade não veio sem suas complicações. Quando a polícia nos questionou sobr