A porta do quarto de Bernardo se abriu lentamente, e assim que pus o primeiro pé para dentro, uma agitação ao redor dele capturou minha atenção. Enfermeiros se moviam rapidamente, ajustando máquinas, falando entre si em um tom que eu mal conseguia distinguir. Meu coração acelerou, e em um instante, o instinto de médica tomou conta de mim. Sem hesitar, me movi como um furacão, empurrando todos para fora do caminho. Precisava ver, precisava ter certeza de que ele estava bem, precisava ver com meus próprios olhos.Meus olhos correram imediatamente para os monitores ao lado da cama. O ritmo regular das batidas cardíacas de Bernardo piscava em verde na tela, como um pulso de vida. Ele estava vivo. Um suspiro de alívio escapou de meus lábios antes mesmo que eu percebesse, mas a tensão ainda não se dissipava. Eu sabia que, apesar de seu coração estar batendo, havia algo mais que eu precisava conferir. Meus olhos desceram lentamente até ele, enquanto o caos ao redor parecia ficar em segundo p
Os dias no hospital pareciam se arrastar, mas cada segundo de espera valia a pena ao ver Bernardo melhorar um pouco mais a cada dia. Sua recuperação, apesar de lenta, era constante, como se ele estivesse, de alguma forma, desafiando todas as probabilidades que haviam sido colocadas contra ele. Cada pequeno avanço, desde o movimento sutil de seus dedos até o primeiro sorriso que ele me lançou depois de dias em coma, era um alívio indescritível. Cada momento ao seu lado era como receber um presente inesperado, algo que eu nunca havia valorizado tanto antes. A cada suspiro mais estável, a cada palavra dita com esforço, eu sentia meu coração se encher de esperança.Bernardo, sempre brincalhão, tentava amenizar a gravidade da situação com piadas e comentários sarcásticos sobre si mesmo. Ele transformava o medo em humor, e era assim que conseguia aliviar a tensão que pairava no ar. Muitas vezes, ele fazia graça sobre sua situação, dizendo que a cadeira de rodas ou os passeios monitorados pe
O tempo dentro do hospital parecia uma ilusão, como se os dias se arrastassem devagar, mas ao mesmo tempo, cada instante ao lado de Bernardo se tornasse algo precioso. O relógio marcava as horas, mas meu foco era todo nele, observando cada pequeno avanço em sua recuperação. Ele já conseguia se sentar sozinho, e a palidez em seu rosto dava lugar a um rubor saudável. Ver suas bochechas ganhando cor e seu sorriso retornando, quase tão vibrante quanto antes, trazia uma onda de alívio e felicidade que eu não conseguia descrever. Cada vez que seus olhos encontravam os meus com aquele brilho familiar, era como se a dor e o medo que haviam nos cercado nos últimos tempos perdessem um pouco mais de sua força. Saber que ele estava lutando e vencendo me enchia de uma alegria indescritível, uma sensação de que, por mais lento que fosse o processo, estávamos nos movendo na direção certa.Era uma tarde tranquila, e eu o observava dormir profundamente na cadeira reclinável ao lado da janela. Sua resp
Eu estava sentada na sala do Dr. Mendes, com as mãos apoiadas no colo, enquanto suas palavras ecoavam pela minha mente. Ele falava de maneira calma e segura, seu sorriso satisfeito refletindo a grandeza do que estava prestes a dizer. Mesmo assim, minha mente demorava a processar completamente o que aquilo significava. O peso da responsabilidade dos últimos meses, a STC e tudo o que enfrentei pareciam criar uma barreira entre mim e a realidade daquele momento. Ele continuou a me observar com expectativa, como se estivesse me dando a melhor notícia do mundo, e talvez fosse mesmo. Eu tinha atingido todos os requisitos para concluir a minha residência, algo que eu sempre sonhei. Em breve, estaria entre a turma de especialistas formandos, algo que parecia tão distante há pouco tempo.O sentimento era uma mistura de alívio e surpresa, mas ainda havia algo dentro de mim que resistia a comemorar completamente.— Parabéns, Alice. — Ele disse, observando minha reação com atenção.Eu o encarei,
~ BERNARDO ~Os dias em casa, após o retorno do hospital, tinham um ritmo peculiar. A normalidade parecia diferente, como se cada pequeno detalhe da rotina tivesse ganhado um novo significado. Cada passo que eu dava pela casa, cada gesto simples, como pegar uma xícara de café ou folhear um relatório da Orsini, me lembrava do quão perto estivemos de perder tudo. Mas, ao mesmo tempo, cada um desses momentos trazia uma sensação de renovação. O que antes era corriqueiro, agora tinha um peso diferente, quase sagrado. Eu me recuperava lentamente, e aos poucos, a vida começava a retomar sua forma, ainda que com marcas evidentes de tudo o que passamos. Embora nada fosse exatamente como antes, havia algo de profundamente positivo naquela transformação.No início, meu retorno à Orsini Tech foi remoto. Passava horas em frente ao computador, tentando me readaptar à rotina de reuniões e revisando relatórios. Era uma experiência estranha, estar em casa, sentado à mesa de trabalho, enquanto ouvia a
A cerimônia de formatura no auditório do hospital estava em pleno andamento, e a atmosfera era de celebração e alívio. O local, decorado de forma simples, mas elegante, tinha cadeiras dispostas em fileiras, preenchidas por familiares, amigos e colegas dos formandos. O barulho baixo de conversas e risadas permeava o ambiente, criando uma sensação de expectativa no ar. Meus olhos passeavam pelo espaço, registrando cada detalhe. Meu coração batia mais rápido a cada momento que se passava. Ao meu lado, Tina, também se formando, estava radiante.Meus pais e irmãos estavam sentados na primeira fileira, com rostos iluminados de orgulho. Meu pai, sempre contido, sorria de maneira discreta, enquanto minha mãe não conseguia esconder a emoção que transbordava em seus olhos. Liz e Pedro estavam ao lado, trocando olhares cúmplices de quem acompanhou toda a minha trajetória. Mais ao lado, eu podia ver Bernardo, sentado com Ian no colo, ambos vestindo roupas elegantes. Era uma cena tão comum, mas tã
O cheiro inconfundível do hospital, uma mistura de desinfetante, algo metálico e o ar estéril das salas cirúrgicas, me envolvia enquanto eu estava deitada na maca. Cada inspiração parecia mais pesada, carregada por uma expectativa sutil que não combinava com o ambiente no qual eu passava meus dias. A luz acima de mim, fria e ofuscante, parecia mais intensa do que o normal, como se refletisse diretamente a ansiedade que pulsava no meu peito. Eu deveria estar acostumada a esse cenário, aos sons ritmados dos monitores e ao murmúrio baixo da equipe médica se preparando. Afinal, era o lugar onde eu me sentia no controle, onde eu trabalhava todos os dias. Mas hoje, tudo estava ao avesso. Hoje, eu não era a cirurgiã comandando a sala. Eu era a paciente, vulnerável, entregue às mãos de outra pessoa.A equipe ao meu redor se movia com precisão, quase como uma coreografia ensaiada. Os enfermeiros organizavam os instrumentos cirúrgicos com mãos ágeis, enquanto a anestesista verificava os monitor
~ Seis meses depois ~O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e rosados, enquanto a brisa suave do fim de tarde passava entre as árvores ao redor do lago. O cenário era perfeito. Dessa vez, sem a capela, sem as lembranças sombrias do que quase nos custou a vida. Bernardo e eu decidimos fazer tudo ao ar livre, à beira do lago da fazenda dos meus pais, onde nossas memórias eram mais doces, mais leves. A cerimônia e a festa seriam ali, cercados pela beleza da natureza e pelo carinho das pessoas que amávamos. E agora, com a família e os amigos ao nosso redor, eu sentia que tudo estava exatamente como deveria ser.A grama verde e bem aparada fazia um belo contraste com as flores brancas e rosas que enfeitavam o caminho até o altar. Pequenos enfeites dourados e fitas cintilantes se espalhavam pelos assentos, refletindo a luz suave do sol poente. Tudo estava harmonioso e delicado, do jeito que sempre sonhei.Eu observava Ian, que com um ano e meio já era uma verdadei