Os dias no hospital pareciam se arrastar, mas cada segundo de espera valia a pena ao ver Bernardo melhorar um pouco mais a cada dia. Sua recuperação, apesar de lenta, era constante, como se ele estivesse, de alguma forma, desafiando todas as probabilidades que haviam sido colocadas contra ele. Cada pequeno avanço, desde o movimento sutil de seus dedos até o primeiro sorriso que ele me lançou depois de dias em coma, era um alívio indescritível. Cada momento ao seu lado era como receber um presente inesperado, algo que eu nunca havia valorizado tanto antes. A cada suspiro mais estável, a cada palavra dita com esforço, eu sentia meu coração se encher de esperança.Bernardo, sempre brincalhão, tentava amenizar a gravidade da situação com piadas e comentários sarcásticos sobre si mesmo. Ele transformava o medo em humor, e era assim que conseguia aliviar a tensão que pairava no ar. Muitas vezes, ele fazia graça sobre sua situação, dizendo que a cadeira de rodas ou os passeios monitorados pe
O tempo dentro do hospital parecia uma ilusão, como se os dias se arrastassem devagar, mas ao mesmo tempo, cada instante ao lado de Bernardo se tornasse algo precioso. O relógio marcava as horas, mas meu foco era todo nele, observando cada pequeno avanço em sua recuperação. Ele já conseguia se sentar sozinho, e a palidez em seu rosto dava lugar a um rubor saudável. Ver suas bochechas ganhando cor e seu sorriso retornando, quase tão vibrante quanto antes, trazia uma onda de alívio e felicidade que eu não conseguia descrever. Cada vez que seus olhos encontravam os meus com aquele brilho familiar, era como se a dor e o medo que haviam nos cercado nos últimos tempos perdessem um pouco mais de sua força. Saber que ele estava lutando e vencendo me enchia de uma alegria indescritível, uma sensação de que, por mais lento que fosse o processo, estávamos nos movendo na direção certa.Era uma tarde tranquila, e eu o observava dormir profundamente na cadeira reclinável ao lado da janela. Sua resp
Eu estava sentada na sala do Dr. Mendes, com as mãos apoiadas no colo, enquanto suas palavras ecoavam pela minha mente. Ele falava de maneira calma e segura, seu sorriso satisfeito refletindo a grandeza do que estava prestes a dizer. Mesmo assim, minha mente demorava a processar completamente o que aquilo significava. O peso da responsabilidade dos últimos meses, a STC e tudo o que enfrentei pareciam criar uma barreira entre mim e a realidade daquele momento. Ele continuou a me observar com expectativa, como se estivesse me dando a melhor notícia do mundo, e talvez fosse mesmo. Eu tinha atingido todos os requisitos para concluir a minha residência, algo que eu sempre sonhei. Em breve, estaria entre a turma de especialistas formandos, algo que parecia tão distante há pouco tempo.O sentimento era uma mistura de alívio e surpresa, mas ainda havia algo dentro de mim que resistia a comemorar completamente.— Parabéns, Alice. — Ele disse, observando minha reação com atenção.Eu o encarei,
~ BERNARDO ~Os dias em casa, após o retorno do hospital, tinham um ritmo peculiar. A normalidade parecia diferente, como se cada pequeno detalhe da rotina tivesse ganhado um novo significado. Cada passo que eu dava pela casa, cada gesto simples, como pegar uma xícara de café ou folhear um relatório da Orsini, me lembrava do quão perto estivemos de perder tudo. Mas, ao mesmo tempo, cada um desses momentos trazia uma sensação de renovação. O que antes era corriqueiro, agora tinha um peso diferente, quase sagrado. Eu me recuperava lentamente, e aos poucos, a vida começava a retomar sua forma, ainda que com marcas evidentes de tudo o que passamos. Embora nada fosse exatamente como antes, havia algo de profundamente positivo naquela transformação.No início, meu retorno à Orsini Tech foi remoto. Passava horas em frente ao computador, tentando me readaptar à rotina de reuniões e revisando relatórios. Era uma experiência estranha, estar em casa, sentado à mesa de trabalho, enquanto ouvia a
A cerimônia de formatura no auditório do hospital estava em pleno andamento, e a atmosfera era de celebração e alívio. O local, decorado de forma simples, mas elegante, tinha cadeiras dispostas em fileiras, preenchidas por familiares, amigos e colegas dos formandos. O barulho baixo de conversas e risadas permeava o ambiente, criando uma sensação de expectativa no ar. Meus olhos passeavam pelo espaço, registrando cada detalhe. Meu coração batia mais rápido a cada momento que se passava. Ao meu lado, Tina, também se formando, estava radiante.Meus pais e irmãos estavam sentados na primeira fileira, com rostos iluminados de orgulho. Meu pai, sempre contido, sorria de maneira discreta, enquanto minha mãe não conseguia esconder a emoção que transbordava em seus olhos. Liz e Pedro estavam ao lado, trocando olhares cúmplices de quem acompanhou toda a minha trajetória. Mais ao lado, eu podia ver Bernardo, sentado com Ian no colo, ambos vestindo roupas elegantes. Era uma cena tão comum, mas tã
O cheiro inconfundível do hospital, uma mistura de desinfetante, algo metálico e o ar estéril das salas cirúrgicas, me envolvia enquanto eu estava deitada na maca. Cada inspiração parecia mais pesada, carregada por uma expectativa sutil que não combinava com o ambiente no qual eu passava meus dias. A luz acima de mim, fria e ofuscante, parecia mais intensa do que o normal, como se refletisse diretamente a ansiedade que pulsava no meu peito. Eu deveria estar acostumada a esse cenário, aos sons ritmados dos monitores e ao murmúrio baixo da equipe médica se preparando. Afinal, era o lugar onde eu me sentia no controle, onde eu trabalhava todos os dias. Mas hoje, tudo estava ao avesso. Hoje, eu não era a cirurgiã comandando a sala. Eu era a paciente, vulnerável, entregue às mãos de outra pessoa.A equipe ao meu redor se movia com precisão, quase como uma coreografia ensaiada. Os enfermeiros organizavam os instrumentos cirúrgicos com mãos ágeis, enquanto a anestesista verificava os monitor
~ Seis meses depois ~O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e rosados, enquanto a brisa suave do fim de tarde passava entre as árvores ao redor do lago. O cenário era perfeito. Dessa vez, sem a capela, sem as lembranças sombrias do que quase nos custou a vida. Bernardo e eu decidimos fazer tudo ao ar livre, à beira do lago da fazenda dos meus pais, onde nossas memórias eram mais doces, mais leves. A cerimônia e a festa seriam ali, cercados pela beleza da natureza e pelo carinho das pessoas que amávamos. E agora, com a família e os amigos ao nosso redor, eu sentia que tudo estava exatamente como deveria ser.A grama verde e bem aparada fazia um belo contraste com as flores brancas e rosas que enfeitavam o caminho até o altar. Pequenos enfeites dourados e fitas cintilantes se espalhavam pelos assentos, refletindo a luz suave do sol poente. Tudo estava harmonioso e delicado, do jeito que sempre sonhei.Eu observava Ian, que com um ano e meio já era uma verdadei
Aviso aos Leitores:Apesar de a história de Alice e Bernardo ter chegado ao fim no prólogo, muitos leitores expressaram interesse em saber como está a vida do casal após o casamento. Para atender a esse desejo, decidi incluir este pequeno conto como um bônus do livro. Espero que aproveitem esta nova oportunidade de mergulhar no mundo de Alice e Bernardo e acompanhar suas novas experiências e desafios juntos!O ambiente do Mercy Hospital estava ligeiramente anormal: movimentado demais, com o som das máquinas e vozes ecoando pelos corredores. Naquela tarde, eu finalmente consegui uma pausa. Sentada na sala de descanso, tentava relaxar ao lado de Tina, minha amiga e colega, enquanto tomávamos café. O dia havia sido especialmente difícil. Entre plantões exaustivos e o aumento dos acidentes, minha mente estava sobrecarregada. Eu não sabia ao certo o que estava pior: o cansaço acumulado ou a sensação crescente de que algo não estava bem.O cheiro do café invadiu minhas narinas de maneira in