“Por Ava.”
Ao abrir os olhos, levo um momento para assimilar o local e a presença do homem nu ao meu lado. Rapidamente, flashes da noite anterior vem à minha mente. Com cuidado, levanto-me, evitando despertá-lo, e dirijo-me ao banheiro para um rápido banho, decidida a partir antes que ele acorde e minha vergonha se intensifique.
Enquanto me visto com pressa, sento-me no sofá próximo à cama para calçar minhas sandálias, observando o homem adormecido com uma fisionomia serena. Após finalizar os preparativos, pego minha bolsa e ponho-me de pé. No entanto, meus olhos recaem sobre um relógio elegante e valioso na mesa de cabeceira.
Solto um longo suspiro ao relembrar do problema que vem me atormentando nos últimos dias, e fico ali, encarando o relógio, ciente de que ele poderia amenizar parte do difícil momento que atravesso. "Ava, olhe para o local em que você está, lembre-se do carro que te trouxe até aqui. Certamente, este homem possui uma coleção desses relógios e nem notará a falta deste, ou pensará que o perdeu antes disso."
Num ato impulsivo, mesmo após essa noite inesquecível em que o homem não exigiu nada em troca, pego o relógio e o coloco na minha bolsa, sentindo uma parte de mim fechar os olhos para todos os valores que acredito.
"Peço desculpas, Senhor E.," sussurro ao encará-lo pela última vez, abrindo a porta do quarto com cuidado para sair.
Ao passar a euforia de ter pegado o relógio daquele homem, entro em minha casa e, ao tirar minha roupa, sinto em meu corpo os efeitos de uma noite mal dormida. Mesmo que não me lembre de tudo o que aconteceu, um sorriso se forma ao recordar como o Senhor E. me tocou, proporcionando-me um prazer que nunca experimentei com Liam.
Deito-me na cama na tentativa de descansar antes de decidir o que fazer com o relógio, mas logo minha mente é invadida pela imagem do rosto do homem, e não consigo evitar me perguntar quem ele é.
“Enquanto isso, no hotel... Por Senhor E.”
Desperto completamente satisfeito por passar a noite de forma tão prazerosa e percebo que a senhorita conseguiu me fazer esquecer de meus problemas, ao menos por algumas horas. Sento-me na cama e logo percebo que dormi mais do que deveria, ao notar que a misteriosa Senhorita M. já se foi.
Mesmo ciente do nosso acordo de não falar sobre nossas vidas, muito menos compartilhar nossos nomes, não posso evitar sentir uma pontada de decepção por não encontrá-la deitada ao meu lado, já que normalmente sou o primeiro a sair.
Após um banho, me preparo para retornar à rotina de minha vida, mas sou surpreendido ao procurar meu relógio e não encontrá-lo. "Mas que filha da…" Respiro fundo, perplexo pela facilidade com que a mulher me iludiu apenas para me roubar. Fico completamente confuso quando percebo que o meu celular, assim como todo o dinheiro em minha carteira, está onde deixei durante a noite. Meneio a cabeça em descrença e sento-me no sofá para ligar para Taylor, meu assistente pessoal e advogado. Ele precisa me ajudar a encontrar essa mulher.
"Onde você está?" — Indago quando ele atende a ligação.
"Como assim, onde estou? Dormindo, obviamente, Noah, são 7 da manhã e estou de folga. Então, seja lá por que você caiu da cama tão cedo, não..."
"Não quero saber se você está de folga. Estou no Four Seasons, preciso saber absolutamente tudo sobre a mulher que me acompanhou essa noite."
"Claro, em algumas horas consigo isso para você."
"Não quero em algumas horas, Taylor." — Afirmo, rispidamente, e o ouço suspirar do outro lado — "Estou te mandando fazer o mínimo, o qual é o seu trabalho. Estou indo para a minha casa, vou tomar o meu café da manhã e espero que você seja capaz de estar com tudo pronto quando eu terminar."
"Ok, chefe, o senhor é quem manda!" — O advogado solta uma risada discreta em deboche. — "Para facilitar um pouco o meu trabalho, você pode me dar o nome da senhorita que te deixou de mau-humor?"
"Quer que eu te dê um banho e te coloque para dormir também? Mas vamos lá, enquanto estou de ótimo humor, te aconselho a começar pela Luxury. Agora faça a porra do seu trabalho, você tem exatamente uma hora para fazer isso, cada minuto além será descontado do seu pagamento, Taylor."
Desligo a ligação e bufo, sentindo a raiva de ter sido enganado correr em minhas veias, então me levanto para ir embora. Dirijo enquanto penso em tudo o que ocorreu durante o tempo dentro do hotel, e mesmo que me lembre apenas de alguns flashes do que aconteceu essa noite, consigo me lembrar perfeitamente o rosto daquela mulher. "Tão linda e, ao mesmo tempo tão falsa. Como não pude perceber isso?"
— Bom dia, senhor estressado! — Taylor fala ao entrar no meu escritório, exatamente uma hora após a nossa ligação, exibindo um sorriso debochado que logo se desfaz quando percebe minha expressão — Vejo que pessoalmente está ainda pior.
— Trouxe o que te pedi?
— Teria facilitado muito se tivesse ao menos me passado o nome da senhorita, Noah. — Taylor bufa e praticamente se j**a na cadeira à minha frente. — Você me deu um enorme trabalho, mas, após algumas ligações e o acesso às gravações do hotel e da boate, para descobrir o nome por trás do belo rosto que te acompanhou, aqui está: — Ele coloca alguns papéis em cima da minha mesa e aponta para o nome escrito em letras maiúsculas — Ava Miller Hampton.
— Hampton? Claro, por isso aquele joguinho de não me contar o seu nome!
— Desde quando você se tornou tão irresponsável? Dormir com uma mulher sem perguntar o...
— Cala a porra da boca, Taylor! — Bato as mãos na mesa e ele abre os braços em sinal de rendição — Ava Hampton? A família dela não é uma das mais influentes de Boston? Isso só pode ser coincidência ou tudo ficaria ainda mais estranho.
— Você pode me contar o que essa mulher fez para te deixar tão obcecado assim? Sério, Noah, estou acostumado a pesquisar sobre muitas coisas para você, mas investigar a vida de uma mulher...
— Ela me seduziu e me roubou, apenas isso, Taylor.
— Devo ter ouvido mal, não é possível — Taylor pula da cadeira e me encara com as mãos na cintura — Ava Hampton, filha de um dos homens mais influentes da cidade, roubou você? O que é isso? Cleptomania?
— Eu não sei, estou tão surpreso quanto você, mas de uma coisa eu tenho certeza, Taylor, ela irá se arrepender amargamente por ter me escolhido.
— O que ela roubou? Porque você me ligou do seu número pessoal, o que significa que o seu cel…
— O meu relógio, Taylor. A mulher me seduziu, foi para a cama comigo, fez um trabalho excelente e, por fim, me roubou e foi embora antes que eu acordasse.
— Você me acordou cedo, me fez rodar meia cidade para encontrar uma mulher sem nem me passar o nome dela, apenas por um relógio?
— Você fez o seu trabalho, Taylor, entre essas e outras coisas que eu te pago. Além disso, não foi um relógio qualquer.
— Não me diga que foi aquele o relógio do seu… — Assinto e ele meneia a cabeça em negativa — É, com certeza Ava Hampton se arrependerá.
"Por Ava" Depois de algumas horas de sono, entreguei-me a um banho prolongado e reanimador, seguido de um café forte para recompor-me das emoções das últimas horas. Em seguida, chamei a Emma e nos encontramos diante de uma das lojas de penhores da cidade. — Boa tarde, amiga! — Emma me cumprimenta com um abraço e me olha sem jeito. — Me desculpa por te deixar sozinha ontem, mas… — Tudo bem, Emma, não precisa se explicar. — E então, como foi a noite com o senhor gostosão? — Ótima até certo ponto. — Sorrio sem graça e mostro o relógio para ela antes de entrarmos na loja — Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, não é? — Não me diga que você… — Não! Digamos que apenas peguei emprestado, mas eu vou dar um jeito de devolver! Pelo menos amanhã terei o dinheiro para resolver o problema da minha mãe. Depois, posso tentar vender o Porsche novamente e pegar o relógio de volta. Talvez eles melhorem o valor. — O Porsche? Amiga, você é apaixonada por ele! Além disso, vender um Po
"Por Noah" Apesar do meu descontentamento estar à flor da pele e a tentação de expor a "princesinha" da família Hampton ser forte, a curiosidade sobre o motivo de Ava ter me roubado me segura. Por esse motivo, decidi dar um tempo para ela devolver o meu relógio. — Noah, — Taylor comenta ao entrarmos no meu carro — eu não consigo entender porque ela vendeu um relógio de mais de 5 milhões por esse preço. O que a teria levado a fazer isso? — Não faço ideia. Problemas com drogas, talvez? O que importa agora é o meu relógio, Taylor. — Será que tudo isso é só pelo relógio, Noah? — ele indaga, me encarando brevemente antes de voltar a atenção para a estrada. — Porque o Noah que eu conheço não daria um prazo a ela; no mínimo, faria com que ela procurasse pelo relógio até no inferno. — Ela roubou algo de valor para mim. Não posso simplesmente ignorar isso. Preciso fazê-la entender o que é mexer comigo. Mas também não posso arriscar perdê-la de vista e nunca mais ver o meu relógio. Você sab
Faço carinho nos cabelos dela, enquanto observo seu rosto pálido, suas olheiras profundas e então meus olhos descem para seu corpo, que dia após dia perde ainda mais suas curvas. Dou um beijo em sua testa e nos despedimos. Ao fechar a porta atrás de mim, lágrimas rolam em meu rosto, um misto de felicidade, alívio e uma ponta de preocupação. Embora saiba que o que fiz foi arriscado, errado e tenha piorado o meu desespero, não sinto nenhum resquício de arrependimento. Minha mãe agora tem uma enorme chance de sobreviver à sua doença. Com uma parte dos meus problemas resolvida, cumpro minha primeira obrigação na empresa e invento uma desculpa para sair. Fico encarando meu carro por alguns minutos antes de dirigir até uma agência de carros, mais uma vez determinada a tentar vendê-lo para recuperar o relógio. No entanto, o valor absurdo oferecido novamente, inferior à primeira proposta, me faz desistir da ideia. No caminho de volta à empresa, Noah me liga, mais uma vez pressionando para
Encaro por alguns segundos o homem que durante toda a minha vida serviu como exemplo e inspiração, tentando acreditar do que ele se transformou, e então saio em silêncio. Me despeço de Dory e decido ir para a minha casa, pois não sinto mais um pingo de ânimo para voltar ao trabalho. Ao entrar no banheiro, ligo o chuveiro e a água quente começa a cair suavemente sobre mim. As lágrimas se misturam com as gotas, escorrendo pela minha pele e deixando um gosto salgado nos meus lábios. Cada respiração é um suspiro pesado, enquanto tento conter a avalanche de emoções que ameaça me consumir. A todo o momento me pergunto se mereço passar por mais esse sofrimento, ao aceitar me casar com um homem como o Noah, que num primeiro momento me pareceu tão gentil e cavalheiro, e agora se mostrou um homem rude, frio e impiedoso. Quando finalmente sinto o meu corpo menos pesado e o coração menos apertado, desligo o chuveiro e me seco cuidadosamente. Olho para o espelho embaçado, observando o reflexo de
Florence sai e eu bufo de frustração enquanto afundo na minha cadeira, pensando em como contar a ele que não consegui recuperar o relógio, muito menos aceitar a proposta dele. Não demora para que Noah e Taylor apareçam na minha sala, e sinto o medo percorrer meu corpo ao notar o olhar nada agradável de Noah para mim. — Bom dia, Sr. Ewing, Sr. Spencer. — cumprimento-os com um aperto de mãos e aponto para as cadeiras à minha frente. — Por favor, sentem-se. — Bom dia, Srta. Hampton. — Olhe para ela, Taylor, nem parece que anda por aí roubando relógios. — Noah ironiza ao se sentar. — Srta. Hampton, não tenho todo o tempo do mundo. Já basta ter sido obrigado a desmarcar alguns compromissos para vir até aqui. — Sr. Ewing, eu não pedi para vir. Poderia ter esperado até... — Com licença, Srta. Hampton. — Mia me interrompe ao entrar na minha sala e nos cumprimenta formalmente antes de parar em pé ao meu lado. — Florence me disse que a senhorita precisa da minha ajuda. — Sim, Srta. Moore.
Como combinado, após o expediente, encontro-me com Mia e vamos juntas até o Grupo First place. Mantenho-me em silêncio durante todo o trajeto, sentindo como se uma faca atravessasse meu peito ao ser obrigada a isso. No entanto, pensar no motivo que me levou a isso e na recuperação da minha mãe, de certa forma, me conforta. Ao menos consegui resolver parte do problema que tanto me assombrava. — Te ver assim me deixa péssima, Ava! — Mia diz, ao entrarmos no elevador. — Como eu queria poder te ajudar. — Tudo bem, Mia. Eu vi o quanto você se empenhou para tentar me ajudar. — Sorrio sem graça e ela acaricia meu ombro. — Agora só resta me conformar. Tenho certeza de que irei sobreviver a esses dois anos. O "bip" do elevador interrompe minha melancolia ao chegarmos à cobertura. Damos alguns passos até a recepção, onde uma deslumbrante moça loira de olhos azuis, que mais parece ter saído de alguma agência de modelos, nos cumprimenta de forma totalmente robótica e com um certo ar esnobe, a
"Por Noah" Saio de casa logo cedo, sem pressa de encarar o momento em que Ava pisará na minha mansão. Não tenho a menor intenção de organizar uma festa de boas-vindas ou de presenciar sua mudança para minha casa. Deixar os empregados cientes da nova situação foi, para mim, o passo mais sensato. Em poucos minutos, estaciono na garagem da casa dos meus pais. Respiro fundo e saio do carro, caminhando com passos decididos em direção à mansão para comunicar aos meus pais a notícia de que seu filho mais velho agora é um homem casado e com responsabilidades familiares. "Que Deus me ajude!" Murmuro ao abrir a porta. — Bom dia, filho! — Minha mãe me presenteia com um sorriso surpreso ao me ver entrar na sala de jantar — Que surpresa vê-lo aqui tão cedo. Sente-se, venha tomar café conosco! — Bom dia, mãe, bom dia, pai. Já tomei o meu café, muito obrigado. Cadê o Jacob? — Provavelmente imerso no mundinho dele. — Meu pai responde de forma séria. — Ou está dormindo após passar a noite inteira
Respiro profundamente, tentando esconder a minha irritação, no exato momento em que ele passa o braço em volta da minha cintura, me puxando para perto dele para unir nossos corpos.Suspiro antes de forçar um sorriso ao entrar na sala de estar, onde uma mulher magra, alta, de olhos verdes e cabelos cacheados castanhos, e um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis, quase uma versão mais velha do Noah, nos recebe com entusiasmo.— Meu amor! — A mulher exclama animada ao abraçar o Noah por alguns segundos antes de soltá-lo e me abraçar calorosamente — E você deve ser a Ava, é um prazer conhecê-la.— O prazer é todo meu, Sra. Ewing. Encantada em conhecê-lo também, Sr. Ewing.— Bem-vinda, Ava. — o pai de Noah diz, ao me abraçar. — Fico feliz em conhecer a jovem responsável por conquistar o coração do meu filho.— Nada de Sra. Ewing, Ava, por favor, me chame de Anna. Afinal, você já faz parte da família. Venham, estávamos esperando vocês para jantar.Noah segura minha mão e me leva para a sa