Eu nunca imaginei que minha vida chegaria a esse ponto. Que me casaria com um homem que me despreza, ou que aceitaria um contrato que me aprisiona. Mentiras, segredos, impulsos…
Eu me arrependo de quase tudo que fiz, de tudo que deixei de fazer, de tudo que permiti que acontecesse… Ou eu não estaria aqui, agora, deitada nesta cama, sendo acusada mais uma vez por algo que não fiz. Descobrindo da pior maneira quem é o homem com quem me casei.
— É dinheiro que você quer? — ele me segura com força pelos braços e me j**a na cama, pressionando seu corpo contra o meu. Ele olha para mim com seus olhos escuros enquanto segura meus pulsos. — Ou você não consegue manter suas roupas no lugar por muito tempo? Sexo e dinheiro, são sempre essas duas coisas que mulheres como você estão procurando.
— Solte-me, Noah, você está me machucando!
— Você ainda não viu nada, Ava. Eu te avisei para não brincar comigo, e o que você faz? Cheia de segredos, agindo como se fosse uma qualquer, sem me dar uma explicação! Típico de uma… — ele grita e se aproxima mais, chegando a centímetros de minha boca.
— Me solta! Você sabe que não pode me tocar, nós temos uma cláusula…
— Foda-se a cláusula, Ava! Não é isso que você quer? Um homem para te satisfazer? Já que você não consegue se controlar e age como uma vadia, vou lhe dar o que você quer, exatamente o que você quer! Consumaremos esse casamento de uma vez por todas. Talvez assim você pare de tentar me envergonhar.
— Noah, por favor… — suplico, com a voz embargada, sentindo as lágrimas escorrerem pelos cantos dos meus olhos — Solte-me!
“Algumas semanas antes…”
Termino meu terceiro drinque e deslizo o copo em direção ao barman, pedindo discretamente por outro. Enquanto isso, tento manter o foco na conversa com minha amiga. No entanto, os problemas que têm me atormentado insistem em dominar meus pensamentos, frustrando minha tentativa de vir aqui para esquecê-los.
O barman me entrega a bebida e resisto à tentação de tomá-la de um só gole. Aprendi, desde minha última ressaca, que o álcool não pode entorpecer o desespero e a preocupação que sinto constantemente. Se fosse o caso, eu poderia facilmente ter me tornado uma alcoólatra irresponsável nos últimos três meses.
Com um sorriso caloroso, agradeço ao barman, que retribui o gesto e se afasta. Em seguida, volto minha atenção para Emma.
— Ava! — Emma me chama, estalando os dedos na frente do meu rosto para chamar minha atenção — Viemos aqui para aproveitar a noite, mas estou entediada ao ver você tão distraída.
— Me desculpe, amiga, mas é tão difícil esquecer tudo. O problema com minha mãe, a traição de Liam…
— Você sabe como resolver isso. A solução está bem diante de você, mas insiste em querer fugir.
— Se a solução for depender do meu pai, esqueça! Não vou me humilhar na frente dele de novo, Emma. Desde que optei por ficar ao lado da minha mãe, ele deixou claro que não me dará um centavo além do meu salário.
— E é justo deixar que sua mãe corra risco de vida por isso? — Emma passa uma de suas mãos pelas minhas costas ao ver meus olhos lacrimejarem — Como você planeja resolver isso?
— Não sei, vou pensar em uma solução no final da semana. De qualquer forma, proponho tentarmos esquecer… — Minhas palavras são interrompidas ao notar um dos meus principais problemas, dançando alegremente com a mulher que me traiu — Isso é sério?
— Não posso acreditar que ele tenha essa audácia, Ava. Meu Deus, mal passou uma semana desde que você descobriu aquela traição!
— Enquanto estou aqui, sofrendo, ele nem se lembra que existo — solto um longo suspiro enquanto viro as costas para eles e esvazio o copo em minha mão. — Mas isso vai mudar hoje, mostrarei a ele que não fui afetada pelo que ele fez.
— Ou fingir, até que você o perdoe novamente, não é? Ava, você precisa entender que não existe apenas o Liam no mundo — Ela revira os olhos — Com vinte anos, você só dormiu com um homem na sua vida, que tédio! Venha, vamos dançar e tentar mudar isso.
Emma termina sua bebida e me puxa para o outro lado da pista de dança, onde deixamos nossos corpos se moverem sensualmente, seguindo o ritmo da música. A quantidade de álcool que ingeri me deixa completamente alheia à presença de Liam, e me sinto tão confiante que percebo os olhares dos homens ao nosso redor.
O garçom se aproxima com discrição, interrompendo nossa dança ao entregar um pedaço de papel.
— Boa noite, senhorita. Pediram-me para entregar isto. — Sua voz é suave, mal perceptível acima da música. — Com licença.
— O que está escrito aí? — Emma indaga, curiosa. Deslizo meus olhos sobre as palavras escritas antes de compartilhá-las com ela.
— “Linda dama de vermelho, sua dança está causando inveja nas demais. Por que não dá a elas uma chance de brilhar também? Tenho certeza de que a senhorita merece uma bebida. Venha me encontrar no bar”.
— Eu disse que esse vestido não passaria despercebido! — Emma diz, animada. Observo o homem alto, cerca de 24 anos, cabelos escuros e um sorriso cativante, levantando seu copo em minha direção — O que está esperando?
— Eu não deveria, não quero term...
— Ah, mas vai, Ava! — Emma me vira na direção de Liam, entregue a beijos apaixonados. — Esqueça sua vida certinha por algumas horas e aproveite. Amanhã é um novo dia, e você nem vai se lembrar do que aconteceu aqui hoje! — Ela sorri, me impulsionando na direção do bar.
Os passos até o homem são hesitantes. Sinto a umidade em minhas mãos, mas decido seguir o conselho de Emma e me sento sedutoramente ao lado dele.
— Boa escolha! — Ele sorri ao chamar o barman — Outro uísque e a senhorita vai tomar um…
— Dry Martini, por favor.
— Prefere bebidas amargas, senhorita…?
— Que tal sem nomes? Você me ofereceu uma bebida, mas isso não significa que seremos íntimos.
— Gostei da sua atitude, mas como devo chamá-la então? — Ele se aproxima e delicadamente ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — Tive uma ideia, Srta. Misteriosa. Que tal a primeira letra do seu nome?
— Que tal o sobrenome?
— Você é muito exigente, mas vou lhe dar a chance de escolher.
— Pode me chamar de Srta. M., senhor? — Tento sorrir de forma sedutora enquanto o barman entrega minha bebida.
— Pode me chamar de Sr. E.
Tomo um gole do Dry Martini e continuamos a conversar de forma descontraída por um tempo. Quando me sinto tonta, provavelmente devido aos três drinques que consumi em sua companhia, decido que é hora de encerrar esse jogo de sedução.
— Obrigada pela bebida, Sr. E., mas preciso ir. Minha amiga está me esperando.
— Acho que você está enganada, senhorita. — Ele dá um gole no uísque e aponta para uma das mesas, onde Emma está se divertindo com um homem — Por que não tornamos nossa noite interessante? Não nos conhecemos, nem mesmo sabemos nossos nomes verdadeiros... — Ele se aproxima e me beija nos lábios suavemente. — Tenho certeza de que não vai se arrepender, Srta. M.
O Sr. E. me lança um sorriso malicioso enquanto percorre seu olhar por mim. Em instantes, decido abandonar toda a minha timidez, indo contra o que eu normalmente faria. Após acertarmos a conta, ele me oferece a mão e me guia para fora da boate, até chegarmos diante de uma Lamborghini Aventador reluzente.
Ao adentrarmos o hotel mais luxuoso da cidade, uma pontinha de curiosidade sobre quem é esse homem começa a me fisgar. No entanto, ao mesmo tempo, começo a questionar se a ideia de estar na companhia de um estranho foi uma boa escolha.
— Vou tomar um banho. — Anuncio ao adentrarmos a suíte, sem esperar por sua resposta.
Permaneço encarando meu reflexo no espelho por alguns minutos, enquanto metade de mim grita para aproveitar ao máximo a noite nos braços desse homem lindo e irresistível, enquanto a outra metade me aconselha a chamar um táxi e partir. Consigo quase visualizar o anjo e o demônio, um de cada lado dos meus ombros.
Retiro a minha roupa e adentro o chuveiro, permitindo que a água leve consigo o nervosismo que ainda persiste. Ouço a porta do banheiro se abrir e, minutos depois, a porta de vidro desliza, revelando o corpo perfeitamente esculpido do homem.
– Ainda melhor sem roupa, Srta. M. — murmura ele, a voz rouca, enquanto me envolve com seus braços.
— Posso dizer o mesmo, Sr. E.
Uma corrente de eletricidade percorre meu corpo, concentrando-se entre minhas pernas, quando seus lábios tocam os meus, seguidos pela língua, ansiosa por explorar.
À medida que o desejo nos envolve, ele me ergue com facilidade, ignorando o fato de nossos corpos estarem molhados, e me deita na cama, proporcionando-me uma noite que ficará gravada para sempre em minha memória.
“Por Ava.” Ao abrir os olhos, levo um momento para assimilar o local e a presença do homem nu ao meu lado. Rapidamente, flashes da noite anterior vem à minha mente. Com cuidado, levanto-me, evitando despertá-lo, e dirijo-me ao banheiro para um rápido banho, decidida a partir antes que ele acorde e minha vergonha se intensifique. Enquanto me visto com pressa, sento-me no sofá próximo à cama para calçar minhas sandálias, observando o homem adormecido com uma fisionomia serena. Após finalizar os preparativos, pego minha bolsa e ponho-me de pé. No entanto, meus olhos recaem sobre um relógio elegante e valioso na mesa de cabeceira. Solto um longo suspiro ao relembrar do problema que vem me atormentando nos últimos dias, e fico ali, encarando o relógio, ciente de que ele poderia amenizar parte do difícil momento que atravesso. "Ava, olhe para o local em que você está, lembre-se do carro que te trouxe até aqui. Certamente, este homem possui uma coleção desses relógios e nem notará a falta
"Por Ava" Depois de algumas horas de sono, entreguei-me a um banho prolongado e reanimador, seguido de um café forte para recompor-me das emoções das últimas horas. Em seguida, chamei a Emma e nos encontramos diante de uma das lojas de penhores da cidade. — Boa tarde, amiga! — Emma me cumprimenta com um abraço e me olha sem jeito. — Me desculpa por te deixar sozinha ontem, mas… — Tudo bem, Emma, não precisa se explicar. — E então, como foi a noite com o senhor gostosão? — Ótima até certo ponto. — Sorrio sem graça e mostro o relógio para ela antes de entrarmos na loja — Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, não é? — Não me diga que você… — Não! Digamos que apenas peguei emprestado, mas eu vou dar um jeito de devolver! Pelo menos amanhã terei o dinheiro para resolver o problema da minha mãe. Depois, posso tentar vender o Porsche novamente e pegar o relógio de volta. Talvez eles melhorem o valor. — O Porsche? Amiga, você é apaixonada por ele! Além disso, vender um Po
"Por Noah" Apesar do meu descontentamento estar à flor da pele e a tentação de expor a "princesinha" da família Hampton ser forte, a curiosidade sobre o motivo de Ava ter me roubado me segura. Por esse motivo, decidi dar um tempo para ela devolver o meu relógio. — Noah, — Taylor comenta ao entrarmos no meu carro — eu não consigo entender porque ela vendeu um relógio de mais de 5 milhões por esse preço. O que a teria levado a fazer isso? — Não faço ideia. Problemas com drogas, talvez? O que importa agora é o meu relógio, Taylor. — Será que tudo isso é só pelo relógio, Noah? — ele indaga, me encarando brevemente antes de voltar a atenção para a estrada. — Porque o Noah que eu conheço não daria um prazo a ela; no mínimo, faria com que ela procurasse pelo relógio até no inferno. — Ela roubou algo de valor para mim. Não posso simplesmente ignorar isso. Preciso fazê-la entender o que é mexer comigo. Mas também não posso arriscar perdê-la de vista e nunca mais ver o meu relógio. Você sab
Faço carinho nos cabelos dela, enquanto observo seu rosto pálido, suas olheiras profundas e então meus olhos descem para seu corpo, que dia após dia perde ainda mais suas curvas. Dou um beijo em sua testa e nos despedimos. Ao fechar a porta atrás de mim, lágrimas rolam em meu rosto, um misto de felicidade, alívio e uma ponta de preocupação. Embora saiba que o que fiz foi arriscado, errado e tenha piorado o meu desespero, não sinto nenhum resquício de arrependimento. Minha mãe agora tem uma enorme chance de sobreviver à sua doença. Com uma parte dos meus problemas resolvida, cumpro minha primeira obrigação na empresa e invento uma desculpa para sair. Fico encarando meu carro por alguns minutos antes de dirigir até uma agência de carros, mais uma vez determinada a tentar vendê-lo para recuperar o relógio. No entanto, o valor absurdo oferecido novamente, inferior à primeira proposta, me faz desistir da ideia. No caminho de volta à empresa, Noah me liga, mais uma vez pressionando para
Encaro por alguns segundos o homem que durante toda a minha vida serviu como exemplo e inspiração, tentando acreditar do que ele se transformou, e então saio em silêncio. Me despeço de Dory e decido ir para a minha casa, pois não sinto mais um pingo de ânimo para voltar ao trabalho. Ao entrar no banheiro, ligo o chuveiro e a água quente começa a cair suavemente sobre mim. As lágrimas se misturam com as gotas, escorrendo pela minha pele e deixando um gosto salgado nos meus lábios. Cada respiração é um suspiro pesado, enquanto tento conter a avalanche de emoções que ameaça me consumir. A todo o momento me pergunto se mereço passar por mais esse sofrimento, ao aceitar me casar com um homem como o Noah, que num primeiro momento me pareceu tão gentil e cavalheiro, e agora se mostrou um homem rude, frio e impiedoso. Quando finalmente sinto o meu corpo menos pesado e o coração menos apertado, desligo o chuveiro e me seco cuidadosamente. Olho para o espelho embaçado, observando o reflexo de
Florence sai e eu bufo de frustração enquanto afundo na minha cadeira, pensando em como contar a ele que não consegui recuperar o relógio, muito menos aceitar a proposta dele. Não demora para que Noah e Taylor apareçam na minha sala, e sinto o medo percorrer meu corpo ao notar o olhar nada agradável de Noah para mim. — Bom dia, Sr. Ewing, Sr. Spencer. — cumprimento-os com um aperto de mãos e aponto para as cadeiras à minha frente. — Por favor, sentem-se. — Bom dia, Srta. Hampton. — Olhe para ela, Taylor, nem parece que anda por aí roubando relógios. — Noah ironiza ao se sentar. — Srta. Hampton, não tenho todo o tempo do mundo. Já basta ter sido obrigado a desmarcar alguns compromissos para vir até aqui. — Sr. Ewing, eu não pedi para vir. Poderia ter esperado até... — Com licença, Srta. Hampton. — Mia me interrompe ao entrar na minha sala e nos cumprimenta formalmente antes de parar em pé ao meu lado. — Florence me disse que a senhorita precisa da minha ajuda. — Sim, Srta. Moore.
Como combinado, após o expediente, encontro-me com Mia e vamos juntas até o Grupo First place. Mantenho-me em silêncio durante todo o trajeto, sentindo como se uma faca atravessasse meu peito ao ser obrigada a isso. No entanto, pensar no motivo que me levou a isso e na recuperação da minha mãe, de certa forma, me conforta. Ao menos consegui resolver parte do problema que tanto me assombrava. — Te ver assim me deixa péssima, Ava! — Mia diz, ao entrarmos no elevador. — Como eu queria poder te ajudar. — Tudo bem, Mia. Eu vi o quanto você se empenhou para tentar me ajudar. — Sorrio sem graça e ela acaricia meu ombro. — Agora só resta me conformar. Tenho certeza de que irei sobreviver a esses dois anos. O "bip" do elevador interrompe minha melancolia ao chegarmos à cobertura. Damos alguns passos até a recepção, onde uma deslumbrante moça loira de olhos azuis, que mais parece ter saído de alguma agência de modelos, nos cumprimenta de forma totalmente robótica e com um certo ar esnobe, a
"Por Noah" Saio de casa logo cedo, sem pressa de encarar o momento em que Ava pisará na minha mansão. Não tenho a menor intenção de organizar uma festa de boas-vindas ou de presenciar sua mudança para minha casa. Deixar os empregados cientes da nova situação foi, para mim, o passo mais sensato. Em poucos minutos, estaciono na garagem da casa dos meus pais. Respiro fundo e saio do carro, caminhando com passos decididos em direção à mansão para comunicar aos meus pais a notícia de que seu filho mais velho agora é um homem casado e com responsabilidades familiares. "Que Deus me ajude!" Murmuro ao abrir a porta. — Bom dia, filho! — Minha mãe me presenteia com um sorriso surpreso ao me ver entrar na sala de jantar — Que surpresa vê-lo aqui tão cedo. Sente-se, venha tomar café conosco! — Bom dia, mãe, bom dia, pai. Já tomei o meu café, muito obrigado. Cadê o Jacob? — Provavelmente imerso no mundinho dele. — Meu pai responde de forma séria. — Ou está dormindo após passar a noite inteira