"Por Ava"
Depois de algumas horas de sono, entreguei-me a um banho prolongado e reanimador, seguido de um café forte para recompor-me das emoções das últimas horas. Em seguida, chamei a Emma e nos encontramos diante de uma das lojas de penhores da cidade.
— Boa tarde, amiga! — Emma me cumprimenta com um abraço e me olha sem jeito. — Me desculpa por te deixar sozinha ontem, mas…
— Tudo bem, Emma, não precisa se explicar.
— E então, como foi a noite com o senhor gostosão?
— Ótima até certo ponto. — Sorrio sem graça e mostro o relógio para ela antes de entrarmos na loja — Situações desesperadas pedem medidas desesperadas, não é?
— Não me diga que você…
— Não! Digamos que apenas peguei emprestado, mas eu vou dar um jeito de devolver! Pelo menos amanhã terei o dinheiro para resolver o problema da minha mãe. Depois, posso tentar vender o Porsche novamente e pegar o relógio de volta. Talvez eles melhorem o valor.
— O Porsche? Amiga, você é apaixonada por ele! Além disso, vender um Porsche por $70 mil é loucura!
— Sim, mas também sou apaixonada pela minha liberdade e não sou uma ladra, Emma. Eu não faço ideia de quem é aquele homem, e se ele…
— Calma! — Emma me dá um sorriso reconfortante enquanto acaricia o meu braço — Já está feito, agora vamos resolver essa parte antes de pensar em como você irá recuperar esse relógio depois.
Emma me puxa pelo braço, e entramos na loja de penhores, onde um homem com uma expressão entediada nos encara.
— Boa tarde, senhor, gostaria de saber quanto o senhor me oferece por esse relógio?
Cumprimento-o enquanto retiro o relógio da bolsa e o coloco sobre o balcão. Inicialmente, o homem olha com desdém para o objeto, mas após alguns segundos, sua fisionomia entediada desaparece instantaneamente.
— Hum... — ele pega uma lupa de relojoeiro e observa o relógio cuidadosamente. — Embora seja um Rolex, esse modelo está um pouco ultrapassado, senhorita. Mas estou de bom humor hoje, então ofereço $50 mil.
— O quê?! — Emma exclama ao tentar tirar o relógio da mão dele. — Não aceitamos menos de $150 mil!
— Isso é impossível, senhorita, darei sorte se conseguir vendê-lo. Provavelmente será mais um objeto ocupando espaço, mas gostei de vocês.
— Ava, — Emma cochicha para mim enquanto o homem observa novamente o relógio —, ele está mentindo; esse relógio deve valer uns $100 mil. Senhor, que tal melhorar a sua oferta? $120 mil?
— Ofereço $80 mil, é a minha última oferta.
— Muito obrigada pelo seu tempo, senhor. — Agradeço e pego o relógio da mão dele, guardando-o na bolsa novamente. — Desculpe por ocupar o seu tempo, mas tenho certeza de que outra pessoa reconhecerá o valor desse relógio.
— Senhoritas, — o homem nos chama quando estamos prestes a sair —, tudo bem, eu pago $100 mil e não um centavo a mais.
— Foi um prazer negociar com o senhor. — Agradeço após alguns minutos, verificando o valor depositado na minha conta.
Antes de irmos embora, decidimos fazer uma parada em uma cafeteria próxima à minha casa. Solto um longo suspiro de alívio por resolver parte do problema da minha mãe ao concluir a transferência bancária.
No final da tarde, nos despedimos e vamos para casa. No entanto, sou surpreendida ao parar em frente à minha residência e me deparar com um Bentley Mulliner Batur estacionado a poucos metros. "Respire, não entre em pânico, Ava! Com certeza é apenas uma visita de um dos vizinhos", murmuro a mim mesma ao estacionar o meu carro e abrir a porta para sair.
Contudo, ao ver a figura masculina emergindo do carro, percebo que, na verdade, a visita é para mim. Forço um sorriso quando nossos olhares se encontram e ele começa a se aproximar. Mas ao notar a expressão desagradável em seu rosto, minha única reação é voltar para o carro e dirigir até a casa de Emma.
— Ava?! — Emma se surpreende ao abrir a porta e me ver entrar em pânico. — O que está acontecendo?
— Ele, Emma! — Respiro freneticamente, tentando explicar.
— Calma, Ava, respire!
— O homem, aquele homem de ontem!
— O que tem ele?
— Ele estava lá... — Sou interrompida pelo toque insistente da campainha, e nós duas nos entreolhamos. — Não abra, por favor! Ai, meu Deus, ele me encontrou!
— Srta. Hampton, eu sei que você está aí. Que tal abrir a porra da porta de uma vez? — Sua voz soa impaciente e ríspida, seguida de batidas fortes na porta.
— Acho que vou ter que abrir, Ava... Senão, ele vai acabar derrubando a minha porta.
— Não, ele vai se cansar e ir embora!
— Eu não vou sair daqui, Ava! — Ele responde como se pudesse ouvir meus sussurros. — Temos a noite toda.
— Desculpa, amiga!
Emma me solta e se dirige à porta, deixando-me completamente nervosa com a reação que o homem terá ao me ver. Quando a porta se abre, dois homens entram e mais uma vez nossos olhares se cruzam.
— Taylor, melhor você ficar aí na porta, vai que essa... — o homem aponta o dedo para mim e me olha com desprezo — Aproveitadora, sai correndo novamente.
— Ei! Não fale assim da minha amiga!
— Ah, não? Como prefere que eu a chame? Ladra? Golpista? Cleptomaníaca? O vocabulário é extenso... — ele encara Emma, que desvia o olhar e se mantém em silêncio. — Senhorita M., ou melhor, senhorita Ava Miller Hampton...
— Senhor E. — respondo sem graça e noto uma risada abafada do amigo dele. — Como me encontrou?
— Você realmente acreditou que me roubaria e sairia ilesa disso? Eu não sei como você age, mas mexeu com a pessoa errada, Ava... Apenas uma ligação e consegui te encontrar.
— Claro, porque o trabalho pesado ficou para mim — Ouço o amigo reclamar baixinho, mas apenas um olhar do tal senhor E. faz com que ele abra os braços em rendição — Desculpe, Noah.
— Enfim, você me fez perder tempo demais desnecessariamente. Por mais que minha vontade seja te segurar pelo braço e te arrastar até a delegacia, a influência da sua família não iria permitir que você pagasse da forma correta. Mas não deixo de me perguntar se o seu pai sabe sobre a filha golpista que ele tem.
— Não sou golpista, ladra ou algo do tipo, senhor, apenas...
— Quer saber? — Noah me interrompe em um tom alto e nós duas o encaramos assustadas. — Eu não me importo com os seus motivos, Ava. Não quero sequer continuar a olhar para você. Portanto, aproveite que estou de bom humor, me devolva o relógio e eu juro que saio daqui sem te causar maiores danos.
— Então... — coço a nuca e procuro as melhores palavras para contar sobre o relógio. — Ele não está aqui. Afinal, não haveria motivo para sair com um relógio masculino na minha bolsa, não acha?
— Prefiro não dizer o que acho. Onde está? Na sua casa? Anda, vamos lá!
— Ava, se quiser, eu vou com vocês.
— Não, Emma, você não tem nada a ver com essa história. Sou eu quem deve resolver. — Mesmo sob o olhar intimidador de Noah, o encaro e respiro fundo antes de falar — O seu relógio não está aqui ou na minha casa, senhor E.
— Sem esses joguinhos ridículos, já me cansei disso. Me chame de senhor Ewing.
— Ewing? — Emma pergunta, com a mão na boca, e me encara tão assustada quanto eu — Tipo, Ewing do Grupo First Place?
— Não se façam de desentendidas. Tudo deve ter sido muito bem-planejado quando me viram. Onde está o relógio, Ava?
— Eu vendi, eu vendi! — Exclamo, passando a mão no rosto, tentando esconder minha vergonha. — Eu estava precisando do dinheiro e quando vi o relógio… Bem, olhe para você, Sr. Ewing! Estávamos numa das boates mais luxuosas de Boston, e você sabe que ninguém entra sem um nome na lista VIP, você dirige um carro caro, você fez questão de me levar num dos hotéis mais caros daqui! Então, quando vi, pensei: "certamente ele deve ter uma coleção de relógios iguais a esse, ele nem sentirá falta."
— É sério que você ficou impressionada com o Lamborghini? Com o hotel Four Seasons? Você dirige um Porsche 911 Turbo S, o seu padrão de vida não é tão diferente do meu, Ava. Meu Deus, como consegue ser tão falsa ao usar isso como desculpa? — Ele solta uma risada debochada e passa uma das mãos nos cabelos. — Vou perguntar outra vez e espero que seja a última! Onde está a porra do relógio? Ou melhor, para quem você vendeu tão rápido assim?
— Na loja de penhores, obviamente… — Emma cochicha e nos olha assustada ao perceber que ouvimos. — Desculpa, Ava!
— Loja de penhores? Ouviu isso, Taylor? — Noah solta um sorriso debochado e balança negativamente a cabeça. — Ao menos me diga que recebeu uma proposta satisfatória…
— Claro, negociei por ela! — Emma diz num tom orgulhoso — Vocês acreditam que o homem nos ofereceu $50 mil?
— Sério? — Taylor levanta as sobrancelhas e solta uma risada debochada ao olhar para o Noah. — Não foi tão ruim.
— Espera até ouvir o valor que conseguimos vender, conte a ele, Ava.
— Diga, Ava, por quanto você vendeu o meu relógio?
— $100 mil — Digo num tom tímido e Taylor encara Noah, que me olha de uma forma que me faz arrepiar de medo.
— $100 mil? Você vendeu um Rolex Bao Dai por $100 mil?
— O que há de errado? Aquele relógio não parecia valer mais do que… — Emma interrompe sua fala quando Noah a olha da mesma forma que me olhou, e ela desvia o olhar. — É melhor que eu fique quieta…
— É Emma, não é? — Taylor pergunta e ela meneia a cabeça positivamente — Talvez valha um pouco mais que isso, moça.
— Um pouco, Taylor? Ava, ou você estava bem desesperada, ou é ainda mais burra do que imaginei! Não me faça perder tempo, faça o que tiver que fazer, roube quem tiver que roubar… Amanhã voltarei a te procurar e espero que esteja com o meu relógio!
"Por Noah" Apesar do meu descontentamento estar à flor da pele e a tentação de expor a "princesinha" da família Hampton ser forte, a curiosidade sobre o motivo de Ava ter me roubado me segura. Por esse motivo, decidi dar um tempo para ela devolver o meu relógio. — Noah, — Taylor comenta ao entrarmos no meu carro — eu não consigo entender porque ela vendeu um relógio de mais de 5 milhões por esse preço. O que a teria levado a fazer isso? — Não faço ideia. Problemas com drogas, talvez? O que importa agora é o meu relógio, Taylor. — Será que tudo isso é só pelo relógio, Noah? — ele indaga, me encarando brevemente antes de voltar a atenção para a estrada. — Porque o Noah que eu conheço não daria um prazo a ela; no mínimo, faria com que ela procurasse pelo relógio até no inferno. — Ela roubou algo de valor para mim. Não posso simplesmente ignorar isso. Preciso fazê-la entender o que é mexer comigo. Mas também não posso arriscar perdê-la de vista e nunca mais ver o meu relógio. Você sab
Faço carinho nos cabelos dela, enquanto observo seu rosto pálido, suas olheiras profundas e então meus olhos descem para seu corpo, que dia após dia perde ainda mais suas curvas. Dou um beijo em sua testa e nos despedimos. Ao fechar a porta atrás de mim, lágrimas rolam em meu rosto, um misto de felicidade, alívio e uma ponta de preocupação. Embora saiba que o que fiz foi arriscado, errado e tenha piorado o meu desespero, não sinto nenhum resquício de arrependimento. Minha mãe agora tem uma enorme chance de sobreviver à sua doença. Com uma parte dos meus problemas resolvida, cumpro minha primeira obrigação na empresa e invento uma desculpa para sair. Fico encarando meu carro por alguns minutos antes de dirigir até uma agência de carros, mais uma vez determinada a tentar vendê-lo para recuperar o relógio. No entanto, o valor absurdo oferecido novamente, inferior à primeira proposta, me faz desistir da ideia. No caminho de volta à empresa, Noah me liga, mais uma vez pressionando para
Encaro por alguns segundos o homem que durante toda a minha vida serviu como exemplo e inspiração, tentando acreditar do que ele se transformou, e então saio em silêncio. Me despeço de Dory e decido ir para a minha casa, pois não sinto mais um pingo de ânimo para voltar ao trabalho. Ao entrar no banheiro, ligo o chuveiro e a água quente começa a cair suavemente sobre mim. As lágrimas se misturam com as gotas, escorrendo pela minha pele e deixando um gosto salgado nos meus lábios. Cada respiração é um suspiro pesado, enquanto tento conter a avalanche de emoções que ameaça me consumir. A todo o momento me pergunto se mereço passar por mais esse sofrimento, ao aceitar me casar com um homem como o Noah, que num primeiro momento me pareceu tão gentil e cavalheiro, e agora se mostrou um homem rude, frio e impiedoso. Quando finalmente sinto o meu corpo menos pesado e o coração menos apertado, desligo o chuveiro e me seco cuidadosamente. Olho para o espelho embaçado, observando o reflexo de
Florence sai e eu bufo de frustração enquanto afundo na minha cadeira, pensando em como contar a ele que não consegui recuperar o relógio, muito menos aceitar a proposta dele. Não demora para que Noah e Taylor apareçam na minha sala, e sinto o medo percorrer meu corpo ao notar o olhar nada agradável de Noah para mim. — Bom dia, Sr. Ewing, Sr. Spencer. — cumprimento-os com um aperto de mãos e aponto para as cadeiras à minha frente. — Por favor, sentem-se. — Bom dia, Srta. Hampton. — Olhe para ela, Taylor, nem parece que anda por aí roubando relógios. — Noah ironiza ao se sentar. — Srta. Hampton, não tenho todo o tempo do mundo. Já basta ter sido obrigado a desmarcar alguns compromissos para vir até aqui. — Sr. Ewing, eu não pedi para vir. Poderia ter esperado até... — Com licença, Srta. Hampton. — Mia me interrompe ao entrar na minha sala e nos cumprimenta formalmente antes de parar em pé ao meu lado. — Florence me disse que a senhorita precisa da minha ajuda. — Sim, Srta. Moore.
Como combinado, após o expediente, encontro-me com Mia e vamos juntas até o Grupo First place. Mantenho-me em silêncio durante todo o trajeto, sentindo como se uma faca atravessasse meu peito ao ser obrigada a isso. No entanto, pensar no motivo que me levou a isso e na recuperação da minha mãe, de certa forma, me conforta. Ao menos consegui resolver parte do problema que tanto me assombrava. — Te ver assim me deixa péssima, Ava! — Mia diz, ao entrarmos no elevador. — Como eu queria poder te ajudar. — Tudo bem, Mia. Eu vi o quanto você se empenhou para tentar me ajudar. — Sorrio sem graça e ela acaricia meu ombro. — Agora só resta me conformar. Tenho certeza de que irei sobreviver a esses dois anos. O "bip" do elevador interrompe minha melancolia ao chegarmos à cobertura. Damos alguns passos até a recepção, onde uma deslumbrante moça loira de olhos azuis, que mais parece ter saído de alguma agência de modelos, nos cumprimenta de forma totalmente robótica e com um certo ar esnobe, a
"Por Noah" Saio de casa logo cedo, sem pressa de encarar o momento em que Ava pisará na minha mansão. Não tenho a menor intenção de organizar uma festa de boas-vindas ou de presenciar sua mudança para minha casa. Deixar os empregados cientes da nova situação foi, para mim, o passo mais sensato. Em poucos minutos, estaciono na garagem da casa dos meus pais. Respiro fundo e saio do carro, caminhando com passos decididos em direção à mansão para comunicar aos meus pais a notícia de que seu filho mais velho agora é um homem casado e com responsabilidades familiares. "Que Deus me ajude!" Murmuro ao abrir a porta. — Bom dia, filho! — Minha mãe me presenteia com um sorriso surpreso ao me ver entrar na sala de jantar — Que surpresa vê-lo aqui tão cedo. Sente-se, venha tomar café conosco! — Bom dia, mãe, bom dia, pai. Já tomei o meu café, muito obrigado. Cadê o Jacob? — Provavelmente imerso no mundinho dele. — Meu pai responde de forma séria. — Ou está dormindo após passar a noite inteira
Respiro profundamente, tentando esconder a minha irritação, no exato momento em que ele passa o braço em volta da minha cintura, me puxando para perto dele para unir nossos corpos.Suspiro antes de forçar um sorriso ao entrar na sala de estar, onde uma mulher magra, alta, de olhos verdes e cabelos cacheados castanhos, e um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis, quase uma versão mais velha do Noah, nos recebe com entusiasmo.— Meu amor! — A mulher exclama animada ao abraçar o Noah por alguns segundos antes de soltá-lo e me abraçar calorosamente — E você deve ser a Ava, é um prazer conhecê-la.— O prazer é todo meu, Sra. Ewing. Encantada em conhecê-lo também, Sr. Ewing.— Bem-vinda, Ava. — o pai de Noah diz, ao me abraçar. — Fico feliz em conhecer a jovem responsável por conquistar o coração do meu filho.— Nada de Sra. Ewing, Ava, por favor, me chame de Anna. Afinal, você já faz parte da família. Venham, estávamos esperando vocês para jantar.Noah segura minha mão e me leva para a sa
"Por Ava"Após o apreensivo jantar com a família de Noah e um domingo trancada no meu quarto para evitar qualquer contato, começamos a semana com um café da manhã em silêncio.Estar perto de Noah é uma experiência confusa, especialmente após ter conhecido um homem completamente diferente do que ele se mostra para mim agora. No entanto, compreender sua mudança de comportamento parece ser uma tarefa que nem mesmo quero tentar.— Tenha um bom dia, meu amor. — Noah diz, num tom irônico, quando me levanto, após terminar o café.— Olha só, ele tem voz! Com certeza terei um ótimo dia longe de você, com licença.Uma risada debochada escapa de seus lábios enquanto passo pela porta, e reviro os olhos enquanto sigo em direção à garagem. Com a tranquilidade do retorno do meu pai à empresa, aproveito o tempo livre da manhã para visitar minha mãe antes de ir trabalhar.Após me certificar de que o médico está ciente da minha visita, recebo finalmente a notícia de que a operação está marcada para daqu