"Por Noah"
Apesar do meu descontentamento estar à flor da pele e a tentação de expor a "princesinha" da família Hampton ser forte, a curiosidade sobre o motivo de Ava ter me roubado me segura. Por esse motivo, decidi dar um tempo para ela devolver o meu relógio.— Noah, — Taylor comenta ao entrarmos no meu carro — eu não consigo entender porque ela vendeu um relógio de mais de 5 milhões por esse preço. O que a teria levado a fazer isso?
— Não faço ideia. Problemas com drogas, talvez? O que importa agora é o meu relógio, Taylor.
— Será que tudo isso é só pelo relógio, Noah? — ele indaga, me encarando brevemente antes de voltar a atenção para a estrada. — Porque o Noah que eu conheço não daria um prazo a ela; no mínimo, faria com que ela procurasse pelo relógio até no inferno.
— Ela roubou algo de valor para mim. Não posso simplesmente ignorar isso. Preciso fazê-la entender o que é mexer comigo. Mas também não posso arriscar perdê-la de vista e nunca mais ver o meu relógio. Você sabe o quanto ele significa para mim, Taylor.
— Compreendo perfeitamente, Noah. Aliás, amanhã teremos uma reunião com o conselho. Você sabe o que isso significa, não é?
— Significa mais estresses, Taylor. Tenho certeza de que meu pai fará alguma crítica. Descubra em qual loja ela foi e coloque alguém para seguir os passos da senhorita Hampton. Preciso ter a garantia de que, de um jeito ou de outro, vou recuperar o meu relógio. Agora, vamos. Preciso de uma bebida para esquecer disso tudo.
[...]
Após passar o restante da noite tentando afogar essa péssima experiência com Ava em álcool e ter uma noite de sono insatisfatória, completo meus preparativos e me dirijo para a empresa. Adentro minha sala e tento focar no trabalho, mas logo chega o momento da reunião com o conselho administrativo.
— Por enquanto, é isso. Vocês estão dispensados. — meu pai encerra a reunião um pouco mais de uma hora após o início — Sr. Ewing, preciso falar com o senhor antes que eu vá embora.
— Pensei que já tivéssemos concluído.
— Noah, — ele se levanta da cadeira assim que ficamos a sós na sala —, você está fazendo um trabalho excelente. Eu sabia que tomar a decisão de colocá-lo no meu lugar quando voltou para a cidade era a escolha certa, filho!
— Quando fui praticamente forçado a retornar, não é? Tenho a sensação de que o próximo comentário será um "mas..."
— Sim, Noah, como sempre há um "mas".
— Então, por favor, não se prolongue. O que mais é necessário? Você pediu números e apresentei quase o dobro do requerido. Mostro a todos, dia após dia, que estou à altura do senhor. Ainda assim, parece nunca ser o bastante.
— Pelo contrário, não posso fazer qualquer reclamação sobre seu profissionalismo. Você me surpreendeu nessas últimas semanas. Estou ansioso para formalmente nomeá-lo CEO, Noah.
— Mas...?
— Mas a credibilidade de um homem que brilha no trabalho, mas que, todo fim de semana, age de forma irresponsável será questionada. Você compreende o quanto investidores e líderes sêniores valorizam a imagem de uma família sólida. Eu sou o exemplo disso, ou ainda estaria à frente da empresa.
— O que faço em meu tempo livre é uma questão pessoal, e não afeta meu desempenho na empresa. Então não diz respeito a ninguém.
— Não, Noah, você está muito enganado quanto a isso. O seu nome permanece contigo mesmo fora da empresa, e qualquer escândalo relacionado a ele não afetará somente a você! Tudo se resolveria facilmente se você reatasse com a Srta. Frazier, e você sabe muito bem que é isso que eu quero.
— Que me case? Isso é totalmente fora de cogitação! E muito menos vou reatar com a Amber só para satisfazer vocês!
— Cala a porra da boca, Noah! — meu pai vocifera ao bater com força as mãos em cima da mesa e me encara. — Não percebe que ninguém irá confiar e muito menos negociar com um homem que troca de mulher como se trocasse de roupa? Então, se você quer realmente permanecer ocupando o lugar que você ocupa hoje, te aconselho a mudar a partir daí. Mostre que você também é capaz de ser responsável na sua vida pessoal. — ele se recompõe e arruma a sua gravata — Você sabe exatamente o que tem que fazer para impressionar tanto a mim quanto aos outros.
— É somente isso? — Pergunto ao me levantar e ele diz que sim com a cabeça. — Com licença.
Dirijo-me à minha sala e peço à minha secretária que chame o Taylor. Enquanto aguardo a sua chegada, os pensamentos sobre Ava surgem em minha mente e uma ideia brilhante para resolver o impasse com meu pai se forma.
"Por Ava"Depois de uma noite mal dormida, buscando maneiras de recuperar o dinheiro do relógio vendido, decido aproveitar o tempo livre antes do trabalho para visitar minha mãe.
Dirijo por alguns minutos até o hospital onde ela está, indo diretamente à administração para confirmar a transferência realizada no dia anterior. Com a certeza de que tudo ocorreu perfeitamente, vou ao quarto da minha mãe para contar a novidade, buscando trazer um pouco de conforto e ânimo.
— Filha! — Mesmo fraca, minha mãe me recebe com entusiasmo, um sorriso iluminando seu rosto. — Que felicidade te ver aqui tão cedo.
— Bom dia, mamãe. Não dormi muito bem e decidi passar aqui antes de ir trabalhar. Como está?
— Estou tentando, Ava. — Ela sorri suavemente e acaricia minha mão. — Eu prometi que não te deixaria sozinha, e vou cumprir, se Deus quiser.
— E Ele quer, mamãe! Consegui o dinheiro para sua cirurgia, acabei de conversar com um dos médicos e ele me deu grandes esperanças. — Limpo as lágrimas que deslizam pelo canto de seus olhos e sorrio — Vamos conseguir, mamãe. Precisa aguentar um pouco mais e logo estaremos em casa.
— Você não tem ideia de como estou feliz, filha. Mas como conseguiu o valor? Seu pai…
— Não, preferi não pedir a ele novamente. — Desvio o olhar, fixando-o nos meus dedos — Os pais da Emma me fizeram um empréstimo.
— Desculpe dar trabalho, Ava. Prometo que...
— Mamãe, — A interrompo ao notar sua voz embargada —, nada de promessas agora. Por enquanto, vamos nos concentrar na sua operação, tudo bem? Preciso ir, não posso me atrasar para o trabalho. Prometo vir te visitar durante a semana, mamãe. Eu te amo.
— Eu também te amo, filha. Cuide-se, por favor!
Faço carinho nos cabelos dela, enquanto observo seu rosto pálido, suas olheiras profundas e então meus olhos descem para seu corpo, que dia após dia perde ainda mais suas curvas. Dou um beijo em sua testa e nos despedimos. Ao fechar a porta atrás de mim, lágrimas rolam em meu rosto, um misto de felicidade, alívio e uma ponta de preocupação. Embora saiba que o que fiz foi arriscado, errado e tenha piorado o meu desespero, não sinto nenhum resquício de arrependimento. Minha mãe agora tem uma enorme chance de sobreviver à sua doença. Com uma parte dos meus problemas resolvida, cumpro minha primeira obrigação na empresa e invento uma desculpa para sair. Fico encarando meu carro por alguns minutos antes de dirigir até uma agência de carros, mais uma vez determinada a tentar vendê-lo para recuperar o relógio. No entanto, o valor absurdo oferecido novamente, inferior à primeira proposta, me faz desistir da ideia. No caminho de volta à empresa, Noah me liga, mais uma vez pressionando para
Encaro por alguns segundos o homem que durante toda a minha vida serviu como exemplo e inspiração, tentando acreditar do que ele se transformou, e então saio em silêncio. Me despeço de Dory e decido ir para a minha casa, pois não sinto mais um pingo de ânimo para voltar ao trabalho. Ao entrar no banheiro, ligo o chuveiro e a água quente começa a cair suavemente sobre mim. As lágrimas se misturam com as gotas, escorrendo pela minha pele e deixando um gosto salgado nos meus lábios. Cada respiração é um suspiro pesado, enquanto tento conter a avalanche de emoções que ameaça me consumir. A todo o momento me pergunto se mereço passar por mais esse sofrimento, ao aceitar me casar com um homem como o Noah, que num primeiro momento me pareceu tão gentil e cavalheiro, e agora se mostrou um homem rude, frio e impiedoso. Quando finalmente sinto o meu corpo menos pesado e o coração menos apertado, desligo o chuveiro e me seco cuidadosamente. Olho para o espelho embaçado, observando o reflexo de
Florence sai e eu bufo de frustração enquanto afundo na minha cadeira, pensando em como contar a ele que não consegui recuperar o relógio, muito menos aceitar a proposta dele. Não demora para que Noah e Taylor apareçam na minha sala, e sinto o medo percorrer meu corpo ao notar o olhar nada agradável de Noah para mim. — Bom dia, Sr. Ewing, Sr. Spencer. — cumprimento-os com um aperto de mãos e aponto para as cadeiras à minha frente. — Por favor, sentem-se. — Bom dia, Srta. Hampton. — Olhe para ela, Taylor, nem parece que anda por aí roubando relógios. — Noah ironiza ao se sentar. — Srta. Hampton, não tenho todo o tempo do mundo. Já basta ter sido obrigado a desmarcar alguns compromissos para vir até aqui. — Sr. Ewing, eu não pedi para vir. Poderia ter esperado até... — Com licença, Srta. Hampton. — Mia me interrompe ao entrar na minha sala e nos cumprimenta formalmente antes de parar em pé ao meu lado. — Florence me disse que a senhorita precisa da minha ajuda. — Sim, Srta. Moore.
Como combinado, após o expediente, encontro-me com Mia e vamos juntas até o Grupo First place. Mantenho-me em silêncio durante todo o trajeto, sentindo como se uma faca atravessasse meu peito ao ser obrigada a isso. No entanto, pensar no motivo que me levou a isso e na recuperação da minha mãe, de certa forma, me conforta. Ao menos consegui resolver parte do problema que tanto me assombrava. — Te ver assim me deixa péssima, Ava! — Mia diz, ao entrarmos no elevador. — Como eu queria poder te ajudar. — Tudo bem, Mia. Eu vi o quanto você se empenhou para tentar me ajudar. — Sorrio sem graça e ela acaricia meu ombro. — Agora só resta me conformar. Tenho certeza de que irei sobreviver a esses dois anos. O "bip" do elevador interrompe minha melancolia ao chegarmos à cobertura. Damos alguns passos até a recepção, onde uma deslumbrante moça loira de olhos azuis, que mais parece ter saído de alguma agência de modelos, nos cumprimenta de forma totalmente robótica e com um certo ar esnobe, a
"Por Noah" Saio de casa logo cedo, sem pressa de encarar o momento em que Ava pisará na minha mansão. Não tenho a menor intenção de organizar uma festa de boas-vindas ou de presenciar sua mudança para minha casa. Deixar os empregados cientes da nova situação foi, para mim, o passo mais sensato. Em poucos minutos, estaciono na garagem da casa dos meus pais. Respiro fundo e saio do carro, caminhando com passos decididos em direção à mansão para comunicar aos meus pais a notícia de que seu filho mais velho agora é um homem casado e com responsabilidades familiares. "Que Deus me ajude!" Murmuro ao abrir a porta. — Bom dia, filho! — Minha mãe me presenteia com um sorriso surpreso ao me ver entrar na sala de jantar — Que surpresa vê-lo aqui tão cedo. Sente-se, venha tomar café conosco! — Bom dia, mãe, bom dia, pai. Já tomei o meu café, muito obrigado. Cadê o Jacob? — Provavelmente imerso no mundinho dele. — Meu pai responde de forma séria. — Ou está dormindo após passar a noite inteira
Respiro profundamente, tentando esconder a minha irritação, no exato momento em que ele passa o braço em volta da minha cintura, me puxando para perto dele para unir nossos corpos.Suspiro antes de forçar um sorriso ao entrar na sala de estar, onde uma mulher magra, alta, de olhos verdes e cabelos cacheados castanhos, e um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis, quase uma versão mais velha do Noah, nos recebe com entusiasmo.— Meu amor! — A mulher exclama animada ao abraçar o Noah por alguns segundos antes de soltá-lo e me abraçar calorosamente — E você deve ser a Ava, é um prazer conhecê-la.— O prazer é todo meu, Sra. Ewing. Encantada em conhecê-lo também, Sr. Ewing.— Bem-vinda, Ava. — o pai de Noah diz, ao me abraçar. — Fico feliz em conhecer a jovem responsável por conquistar o coração do meu filho.— Nada de Sra. Ewing, Ava, por favor, me chame de Anna. Afinal, você já faz parte da família. Venham, estávamos esperando vocês para jantar.Noah segura minha mão e me leva para a sa
"Por Ava"Após o apreensivo jantar com a família de Noah e um domingo trancada no meu quarto para evitar qualquer contato, começamos a semana com um café da manhã em silêncio.Estar perto de Noah é uma experiência confusa, especialmente após ter conhecido um homem completamente diferente do que ele se mostra para mim agora. No entanto, compreender sua mudança de comportamento parece ser uma tarefa que nem mesmo quero tentar.— Tenha um bom dia, meu amor. — Noah diz, num tom irônico, quando me levanto, após terminar o café.— Olha só, ele tem voz! Com certeza terei um ótimo dia longe de você, com licença.Uma risada debochada escapa de seus lábios enquanto passo pela porta, e reviro os olhos enquanto sigo em direção à garagem. Com a tranquilidade do retorno do meu pai à empresa, aproveito o tempo livre da manhã para visitar minha mãe antes de ir trabalhar.Após me certificar de que o médico está ciente da minha visita, recebo finalmente a notícia de que a operação está marcada para daqu
"Por Ava"Os dias que antecedem a cirurgia da minha mãe passam voando. Entre a agitação do trabalho e da universidade, raramente vejo Noah; ocasionalmente, coincidimos no café da manhã ou no jantar. E isso está bem, porque eu não aguento mais suas provocações.Finalmente, chega o dia que tanto espero. O dia em que minha mãe vai passar pela tão aguardada cirurgia cardíaca. Acordo animada, tomo um longo banho e me maquio para disfarçar as olheiras, fruto do nervosismo. Escolher a minha roupa é a parte mais difícil, já que a cada dia pareço estar ainda mais magra.Pego minhas coisas e desço as escadas, respirando fundo para enfrentar Noah e seu mau-humor. Dou-lhe um educado "bom dia" ao me sentar à mesa, mas como sempre, ele não responde.— Hoje vamos almoçar com a minha mãe, Ava. — ele afirma, depois de alguns minutos de silêncio.— Não posso, Noah. Já tenho compromissos hoje.— Então cancele. Não estou te perguntando se você pode ou não.— Mas estou te dizendo que não posso, Noah! — fal