Thomas Kuhn
Não importava que havia um acordo, que o sangue tinha se unido na linhagem da minha mãe, — o que importava para eles, era o fato de estarem recebendo ordens de um estrangeiro, dentro do seu próprio país.
Claro: isso queria dizer que eu tinha que unir Kuhn e Rossi em uma única vertente. E por isso, tinha desde cedo sido ensinado que a minha vida era mais importante que qualquer outra coisa. Eu era o futuro da família, era aquele que realmente finalizaria o contrato que foi selado com o casamento entre a minha mãe e o meu pai.
Bella McNight era o “ponto final” e eu sabia disso, todos sabiam. Ela era a minha certeza de encerramento. A força que me faltava para conquistar aqueles anciões idiotas que continuavam a se opor aos negócios de Kuhn na Itália. Ela era a genitora perfeita para os herdeiros da nossa família, mas isso não queria dizer que eu desejava me casar com ela?
Não!
Eu via o casamento dos meus pais e eu sabia muito bem, — que uma mulher italiana, não é fácil de ser domada.
— Thomas… — minha mãe me chamou outra vez, me tirando dos meus pensamentos com aquele tom claro e gentil, aquele que ela sempre usava comigo, — vocês podem acabar se apaixonando um pelo outro, essas coisas… acontecem, — ela disse tentando obviamente me consolar, mas… eu tinha crescido ali, naquela família, e eu sabia bem que o amor não surgia assim.
Então, sibilei.
— E por quanto tempo ele espera que eu fique casado com ela? Por quanto tempo o contrato deve durar?
— Casamentos não são temporários, Tommy… — Minha mãe disse e eu revirei meus olhos, me sentando entre ela e Pietro, que encarava nós dois com nítido interesse.
Teve uma época na qual acreditei naquelas palavras e até cheguei a acreditar que meus pais se amavam, mas isso foi antes de ver meu pai dando um tapa no rosto da minha mãe. Antes de descobrir que ela o traia e que todo o teatro que faziam de casal feliz, não passava disso: teatro.
— Casamentos podem não ser, mas isso é um trato. Um contrato que tem validade, — ressaltei, — então nesse caso, eu quero saber quando vou estar livre dessa ninfeta com a qual ele quer me casar.
Pietro riu, obviamente se divertindo por não ser ele a ser jogado na forca.
— Então o Thomas vai se casar com ela, para expandir os negócios da máfia?
— Não, eu vou me casar com ela, porque o nosso pai não foi capaz de tomar conta dos negócios da família Rossi e Kuhn, sozinho, — ronronei, jogando o meu velho na forca enquanto cortava um pedaço de queijo e comia.
— Cara, ele te mata se ouvir você falando isso, — Pietro zombou e eu dei de ombros.
— E ele vai ficar com quem no meu lugar? Você? — Meus lábios se arquearam, — ele não é burro, você precisaria nascer de novo pra ser metade do que eu sou.
Pietro bufou e mamãe nos encarou com os olhos cheios de raiva.
— Meninos! Chega! Daqui a pouco o seu pai chega e vocês dois vão estar encrencados, — ela disse parecendo frustrada, jogando os fios loiros para trás enquanto encarava a mesa a frente dela.
— Sinceramente… — a encarei, havia maquiagem em seu pescoço, e o vestido de manga longa, deixava claro que ela tinha arrumado um novo amante, era o padrão, — eu não sei por que você ainda mantém essa farsa… — desabafei e ela pigarreou.
— Isso é… só até a Valen ficar maior… — ela disse, como sempre, e eu soltei um riso soprado, que a fez me olhar feio e tirar um envelope que havia sido posto ao lado de seu prato, para me mostrar, — mas veja, voltando ao que é verdadeiramente importante, essa é a sua noiva.
Encarei aquele retrato de uma garota sorridente, mas era exatamente isso que tinha ali. Uma garota. Não uma mulher, mas uma menina.
— Eu me recuso a dar uma resposta sobre isso, — falei de forma simplória e o meu pai pigarreou.
— Do que estão falando? — Ele perguntou, sua voz grave, fazendo todos nós endireitarmos a nossa postura.
— A mamma estava mostrando uma foto da noiva do Thomas, — Pietro diz, parecendo animado como uma criança que ele ainda era, mesmo já tendo dezoito anos.
— Ah… Bella! — Meu pai diz com um sorriso de canto, se sentando e me encarando, — viu como ela é tão bonita quanto o nome sugere?
Ergui uma das sobrancelhas.
— Se estiver procurando por uma namorada pro Pietro, realmente, — zombei, — mas não me importa a beleza da garota, eu quero saber… até onde vai esse maldito contrato.
Ele me encara.
— Achei que nunca perguntaria, — diz sorrindo enquanto a funcionária serve o café em sua xícara, — eternidade está bom pra você? — Pisquei, incrédulo.
— Vater! Das ist verrückt! (Pai! Isso é uma loucura!) — Eu soltei quase gritando e ele riu.
— Não seja escandaloso, junge. — Ele me diz começando a beber seu café, — os nossos negócios precisam de estabilidade e você não vai foder com tudo com a simples ideia da porra de um divórcio, nem tente cogitar essa ideia idiota. Sibilei.
— Tem que haver outra opção.
Os olhos frios e afiados do meu pai pousam sobre mim.
— E tem, — ele diz enfim, — você matar ela ou ela te matar!
— Sem chances! O que ela diz sobre esse contrato?
Ele não podia esperar que eu dormisse com uma garota tão nova! Ela nem mesmo parecia ter mais de quinze anos! Por acaso aquele velho maldito tinha perdido o pouco juízo que parecia ter restado?
Todos pareciam ter enlouquecido.
— Eu não sei, — ele disse de forma direta, dando de ombros, — não me interessa o que ela diz ou deixa de dizer. O acordo que eu tenho com Henry é esse e é apenas isso que me importa.
Eu senti as veias saltarem em minha testa. Aquele velho tinha enlouquecido.
— Tommy… — eu ouvi minha mãe me chamar, como se soubesse que eu estava prestes a explodir, mas bem naquele instante, meu celular começou a tocar e eu atendi um Brian furioso.
— Tommy… é melhor você vir pra cá, o maledetto acabou de entrar.
— Certo, — respondi com simplicidade e me levantei da cadeira onde estava sentado, desligando o celular e encarando meu pai, — se me dá licença, eu tenho um trabalho pra resolver.
— Tome cuidado com o rosto, — ouvi meu pai dizer, com um sorriso de canto, cheio de zombaria, — a sua festa de noivado vai ser hoje à noite e seria uma pena que a sua noiva te visse deformado.
Arregalei meus olhos com surpresa e encarei minha mãe, que desviava o olhar com aquela expressão de: eu não sabia como contar.
Merda.
Quanto tempo eu tinha até a porra da festa? Oito horas?
Agora eu realmente queria matar alguém.
Thomas KuhnAssim que eu desci do meu carro em frente ao bordel onde Brian me esperava, — eu o vi sorrir e me senti ainda mais mal-humorado. Porque como se não bastasse toda aquela merda com o meu velho e o noivado que eles não pareciam dispostos a me contar antes do último segundo: eu tinha que aguentar essa bosta de lugar. — Que cara de enterro, é essa? — Brian me pergunta, puxando sua arma e destravando, — achei que ia ver a Chloé ontem, depois da faculdade. — Nem me lembre da Chloé, — rosnei, puxando minha própria arma do quadril, engatilhando e jogando meu blazer no banco de trás do conversível daquele idiota, — ela e o meu pai, parecem ter se juntado para me deixar de mau humor. — O que rolou dessa vez? — Ele perguntou, abrindo a porta do bordel e apontando a arma pro segurança, que encarou nos dois com os olhos arregalados, — vaza, se quiser continuar vivo, — Brian disse e eu bufei, vendo o homem tatuado correr pra longe. — Eu estou noivo, e a festa? É hoje. — Falei com
Bella KuhnO teto branco de meu quarto, sinaliza o mesmo vuoto em meu peito. Em alguns meses faço dezenove anos e logo depois me caso com um homem que nunca sequer vi em minha vida. Nasci para ser a esposa troféu. É meu papel, meu dever com a nossa família, uma vertente da máfia italiana. Meu pai a muito custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora dele, Henry McNight sustenta a imagem impecável. A imagem que eu carrego como legado. E dentre muitas mulheres da máfia posso dizer que tenho sorte, pois depois de muitos anos de tradição, meu pai me possibilitou a escolha de me unir ou não a um homem, sem amá-lo, e uma parte minha, queria aceitar essa escolha. Contudo, apesar de meu pai, ser o capo di Capi e que sua palavra ser lei, eu sabia que tinha que fazer sacrifícios pela minha família. Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de paz e expandir os negócios, além de usando a união que vem junto com o casamento. E era exatamente isso que teríamos, quan
Bella McNightMeus irmãos gêmeos, Donna e Tefo vinham logo atrás dela. Eles definitivamente não eram idênticos. Mas agiam como uma unidade. Nós tínhamos quase três anos de diferença, e talvez isso tenha influenciado também com que eu os visse como realmente são unidos, mas totalmente diferentes, no físico e personalidade. Stefano sempre teve os traços da minha mãe. nariz fino, mas do tamanho perfeito. Olhos verdes, orelhas pequenas, os lábios carnudos, cabelo loiro escuro. Mas ele sempre foi genioso como nosso pai. Donna por outro lado, tem olhos verdes, assim como os meus, cabelo longo e loiro claro. O nariz fino igual ao da nossa mãe, e como eu, ela tem algumas sardas de leve no rosto. Essas diferenças tornava os gêmeos tão únicos e também, era o que me fazia amá-los, — porque eu amava todos na minha família e por isso também, pensei que poderia negociar meu casamento com o meu pai, mas obviamente me enganei, eu teria que ir além. Teria que conseguir que Vicente me ouvisse e aí, —
Bella McNightQuando eu ouvi ele me perguntar o que eu pensava sobre o casamento, tive vontade de simplesmente falar a verdade, mas uma parte minha, estava indecisa. Afinal, tudo isso era novo e eu não tinha certeza se podia ou não confiar em Thomas. — É o que é, faz parte do nosso dever., — dei de ombros, encarando o jardim que tínhamos à frente, e Thomas me surpreendeu ao bufar, como se a minha resposta não fosse realmente boa. — Céus… — ele resmungou, tragando o cigarro, — se esses velhos não fossem tão teimosos, as coisas poderiam ser diferentes, mas não há mesmo o que se fazer a respeito, o que talvez poderíamos fazer, é tornar as coisas mais… agradáveis para nós dois, não acha? — ele disse e o seu tom parecia… lascivo. — Como assim, o que você quer dizer com tornar as coisas agradáveis? — A primeira coisa que temos que concordar, querida, é jamais mentir um para o outro. É claro que estamos nos casando apenas para um benefício de terceiros, eu ganho mais força com meus h
Bella McNightPor um momento, tive a impressão de que os olhos de Thomas tinham se tornado mais escuros, mas ele ainda assim, sorriu. — Então você gostaria de mantê-lo? — Ele perguntou, com os lábios arqueados e aquela expressão de que ainda desejava saber mais. Sorri, — se ele queria saber mais, eu poderia falar. — Sinceramente, sim, mas isso não depende apenas de mim. Eu o conheci no ensino médio, — confessei, — foi algo… mágico. Eu queria ter apresentado ele pra família, queria ter… feito muitas coisas, mas como você disse, não é tão fácil, certo? Mas… ele nem faz ideia do nosso casamento, do motivo pelo qual eu fui criada, e eu nem sei como ele vai reagir, — murmurei, — talvez, nem mesmo aceitei a ideia de que eu preciso me casar com um outro homem… e eu nem posso julgá-lo por isso. — Querida, ele seria um idiota se não entendesse você, — ouvi Thomas dizer e de alguma forma, seu tom parecia diferente. — Não é tão simples assim. — Na verdade é, — ele falou, — e nós podemos
Bella McNightDepois do pedido de Thomas, nós tivemos que agir como o que éramos: o motivo daquela festa estar acontecendo, e por uns trinta minutos, ficamos presos entre os convidados e os sorrisos de felicitações pelo noivado, — mas logo depois, todos voltaram ao que realmente queriam fazer: beber e tratar de negócios. Graças a isso, Thomas e eu nos esquivamos dali, e tomando uma das salas daquela mansão, nos sentamos para conversar. Cada detalhe do nosso acordo foi estabelecido, e Thomas até mesmo sugeriu redigir um contrato, caso isso me deixasse um pouco mais segura, — mas se tinha algo que eu tinha aprendido sobre a máfia, era que não se mantinha provas de algo que você não quer que descubram. Então, eu cuidadosamente neguei. Afinal, nosso acordo consistia em manter as aparências, então beijos, contato físico e interações intimas em público, era claramente algo necessário, mas não havia motivos para isso acontecer quando estivéssemos sozinhos. Então, enfim, pude retornar para
Bella McNightEu estava ficando tão cansada disso. Era tão errado mentir para Charles, e eu sinceramente não sabia até quando ia conseguir levar essa mentira, mas no momento, eu só precisava me preocupar com o contrato entre meu pai e Vicente, e também… o meu acordo com Thomas. — Hoje vai ter uma festinha, na minha casa. — Charles fala todo empolgado, me tirando do meu devaneio, e me encarando com expectativa, — você vem, não é? Eu vou ficar triste se a minha namorada não aparecer, — ele falou, e Jenny e eu nos entreolhamos, porque era naqueles momentos que o fato de termos crescido juntas, ajudava muito. Um olhar era suficiente para ela saber que outra vez, eu vou precisar de ajuda. — Claro que sim, meu amor, — eu acabo dizendo, beijando Charles e acariciando seu rosto, — eu nunca te deixaria sozinho. Ele sorriu, parecendo satisfeito com a minha resposta e graças a isso, nós podemos terminar o nosso lanche a tempo de voltarmos para nossas salas. ***Assim que as minhas aulas aca
Thomas KuhnAquele garoto era tão medíocre, que eu me perguntava como ele teve a ousadia de se aproximar da minha noiva, mas aparentemente, pessoas como ele estavam sempre desesperadas para subir de patamar e ele faria de tudo, para estar onde Bella poderia levá-lo. Obviamente aquele infeliz não sabia nada sobre o submundo, sobre a máfia ou sobre a verdadeira identidade de Bella, mas ele sabia do que importava: que a família McNight, era poderosa. Idiota. Ele provavelmente nem gostava da garota, e agora, ela estava preocupada com ele. Estalei a língua no céu da boca e quando Brian terminou de folhear o dossiê que eu tinha preparado com tanto cuidado, ele riu. — Sério, você é maluco, — ele disse com descaso, colocando os pés sobre a mesa de mogno que eu tinha no meu escritório e eu o fuzilei com os olhos. — Eu estou cuidando do que me pertence. Brian sorriu. — Te pertence? Não era você quem estava puto por ter que se casar com uma criança? — Ele perguntou, zombando de mim e da