Thomas Kuhn
Assim que eu desci do meu carro em frente ao bordel onde Brian me esperava, — eu o vi sorrir e me senti ainda mais mal-humorado. Porque como se não bastasse toda aquela merda com o meu velho e o noivado que eles não pareciam dispostos a me contar antes do último segundo: eu tinha que aguentar essa bosta de lugar.
— Que cara de enterro, é essa? — Brian me pergunta, puxando sua arma e destravando, — achei que ia ver a Chloé ontem, depois da faculdade.
— Nem me lembre da Chloé, — rosnei, puxando minha própria arma do quadril, engatilhando e jogando meu blazer no banco de trás do conversível daquele idiota, — ela e o meu pai, parecem ter se juntado para me deixar de mau humor.
— O que rolou dessa vez? — Ele perguntou, abrindo a porta do bordel e apontando a arma pro segurança, que encarou nos dois com os olhos arregalados, — vaza, se quiser continuar vivo, — Brian disse e eu bufei, vendo o homem tatuado correr pra longe.
— Eu estou noivo, e a festa? É hoje. — Falei com a raiva impregnada em cada palavra, — e pra piorar, a porra da minha noiva, parece uma criança!
Brian gargalhou enquanto entravamos no lugar e quando as garotas nos viram por lá e tentaram se aproximar, ele sorriu, dando um beijo em suas bochechas antes de dispensá-las de forma gentil.
— Hoje não, mia cara, — ele disse antes de me encarar, e empurrando a porta do escritório do dono do bordel, — olá, Rico, não esperava que a gente deixasse você continuar com essa palhaçada, esperava?
Eu bufei, e apontando minha arma pra cara do desgraçado, me aproximei.
— O que diabos vocês estão fazendo aqui! — Ele gritou e eu o empurrei de volta a cadeira em que ele estava sentado, o enforcando enquanto colocava a minha arma em sua testa.
— Cala a boca seu desgraçado, — falei sem paciência, — você não esperava que a família Kuhn fosse continuar permitindo essa palhaçada, esperava? Esse é o nosso território, Rico. Se você quer abrir um bordel, uma loja de chaveiros ou a porra de um motel, você precisa seguir as regras, — ronronei, — e você não anda fazendo isso.
— M-me… per-perdoe! — Ele disse com os olhos cheios de lágrimas, mas não havia expressão alguma em meu rosto, porque eu não tinha pena daquele desgraçado.
Eu era um Kuhn.
Eu não tinha uma alma, ou um coração. E se alguém tentasse roubar de mim… — conheceria o inferno.
— É meio tarde pra pedir perdão, — falei enfiando a minha arma na boca dele, e antes que Rico pudesse falar alguma outra merda, eu atirei.
— Cara… — Brian bufou, — você podia só ter pegado 70% dos lucros do lugar, não precisava matar o bostinha, — ele disse me encarando com aquele sorriso de descrença.
Eu limpei com um lenço que tinha no bolso, o sangue da minha arma e o pouco que havia respingado em meu rosto.
— Não existe perdão pra alguém que se recusa a seguir as nossas regras, — falei, — e por que eu me contentaria com 70%, se podemos pegar o bordel para a família Kuhn?
Brian sorriu.
— Quem deve ficar responsável pelo lugar?
— Deixe alguém de dentro, responsável pela organização e deixe claro para todos que as regras mudaram nesse lugar, — encarei o cadáver na cadeira e bufei, — a família Kuhn, não pega o dinheiro de prostitutas, nossos lucros vem das drogas e das bebidas.
— Quanta generosidade, um verdadeiro gentleman, — Brian zombou e eu revirei meus olhos, saindo dali. Eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar.
Tinha um noivado para comparecer
***
Eu fiz e refiz o nó naquela m*****a gravata, cinco vezes antes de parecer bom, — mas isso não amenizava o quão frustrado eu estava. Eu queria uma opção de fuga e o que o meu pai me deu, foi uma sinuca de bico.
— Tommy? — Ouvi Brian me chamar abrindo a porta e eu o encarei com a mesma expressão de antes. Puro e simples, mau humor. — Me diz que não vai olhar pra ela com essa cara de cu, a garota vai se assustar e sair chorando.
Eu bufei.
— Seria bom, assim eu me livraria dessa merda, — falei de forma brusca, arrancando aquela gravata do meu pescoço e a jogando longe.
— Olha, eu não diria isso se fosse você, — ele zombou e eu o encarei com uma sobrancelha erguida.
— Por quê?
Brian sorriu.
— Sua noivinha acabou de chegar, logo você descobre.
Bufei e quando ele saiu do quarto, me dizendo para me apressar, — eu deslizei meus dedos pelos meus cabelos, os jogando para trás, e respirei fundo.
Eu era um Kuhn. Eu faria tudo pela família, e tudo isso… era apenas mais um sacrifício. Eu ia descer, sorrir, ser gentil e encantar a minha doce noivinha. Eu faria as coisas ocorrerem como meu pai esperava e no fim, eu daria um jeito de tornar tudo maleável para mim, afinal, logo eu seria o líder da família Kuhn.
Me aproximei da escada para descer e ouvi as vozes dos meus pais, junto as conversas e risadas dos convidados. Se eu conhecia bem a minha mãe, o lugar estava impecável, mas o número de convidados, — era no mínimo, superior a duzentos. Eu comecei a descer as escadas e encarei o salão que estava ricamente decorado.
Os lustres, as luzes, a tapeçaria tinham sido completamente trocadas, — e os convidados, exageradamente bem-vestidos. Era quase como se houvesse uma guerra entre todas aquelas pessoas, como se todas quisessem disputar para descobrir quem seria o centro das atenções. O que era obviamente uma bobagem, porque a única pessoa digna de olhares e sorrisos essa noite: seria eu.
Eu estava distraído em meus próprios pensamentos, repassando rostos e nomes ali presentes, — até ver a mulher que estava ao lado da minha mãe. Uma linda mulher de olhos amendoados e rosto delicado. Seu corpo era como uma escultura escupida por algum louco apaixonado, um daqueles artistas que havia parado em seu tempo, vivendo pela sua arte. Eu demorei alguns segundos para entender que aquela mulher… era Bella McNight.
As ondas de seus cabelos caiam por suas costas como uma cascata e quando seu olhar cruzou o meu, eu senti uma corrente estática entre nós, preenchendo o vuoto (Vazio) que existia entre nossos corpos, e quando o rosto de Bella corou levemente, enquanto ela perdia o ar, — eu soube que a queria pra mim.
Bella, seria minha, e apenas minha.
Bella KuhnO teto branco de meu quarto, sinaliza o mesmo vuoto em meu peito. Em alguns meses faço dezenove anos e logo depois me caso com um homem que nunca sequer vi em minha vida. Nasci para ser a esposa troféu. É meu papel, meu dever com a nossa família, uma vertente da máfia italiana. Meu pai a muito custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora dele, Henry McNight sustenta a imagem impecável. A imagem que eu carrego como legado. E dentre muitas mulheres da máfia posso dizer que tenho sorte, pois depois de muitos anos de tradição, meu pai me possibilitou a escolha de me unir ou não a um homem, sem amá-lo, e uma parte minha, queria aceitar essa escolha. Contudo, apesar de meu pai, ser o capo di Capi e que sua palavra ser lei, eu sabia que tinha que fazer sacrifícios pela minha família. Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de paz e expandir os negócios, além de usando a união que vem junto com o casamento. E era exatamente isso que teríamos, quan
Bella McNightMeus irmãos gêmeos, Donna e Tefo vinham logo atrás dela. Eles definitivamente não eram idênticos. Mas agiam como uma unidade. Nós tínhamos quase três anos de diferença, e talvez isso tenha influenciado também com que eu os visse como realmente são unidos, mas totalmente diferentes, no físico e personalidade. Stefano sempre teve os traços da minha mãe. nariz fino, mas do tamanho perfeito. Olhos verdes, orelhas pequenas, os lábios carnudos, cabelo loiro escuro. Mas ele sempre foi genioso como nosso pai. Donna por outro lado, tem olhos verdes, assim como os meus, cabelo longo e loiro claro. O nariz fino igual ao da nossa mãe, e como eu, ela tem algumas sardas de leve no rosto. Essas diferenças tornava os gêmeos tão únicos e também, era o que me fazia amá-los, — porque eu amava todos na minha família e por isso também, pensei que poderia negociar meu casamento com o meu pai, mas obviamente me enganei, eu teria que ir além. Teria que conseguir que Vicente me ouvisse e aí, —
Bella McNightQuando eu ouvi ele me perguntar o que eu pensava sobre o casamento, tive vontade de simplesmente falar a verdade, mas uma parte minha, estava indecisa. Afinal, tudo isso era novo e eu não tinha certeza se podia ou não confiar em Thomas. — É o que é, faz parte do nosso dever., — dei de ombros, encarando o jardim que tínhamos à frente, e Thomas me surpreendeu ao bufar, como se a minha resposta não fosse realmente boa. — Céus… — ele resmungou, tragando o cigarro, — se esses velhos não fossem tão teimosos, as coisas poderiam ser diferentes, mas não há mesmo o que se fazer a respeito, o que talvez poderíamos fazer, é tornar as coisas mais… agradáveis para nós dois, não acha? — ele disse e o seu tom parecia… lascivo. — Como assim, o que você quer dizer com tornar as coisas agradáveis? — A primeira coisa que temos que concordar, querida, é jamais mentir um para o outro. É claro que estamos nos casando apenas para um benefício de terceiros, eu ganho mais força com meus h
Bella McNightPor um momento, tive a impressão de que os olhos de Thomas tinham se tornado mais escuros, mas ele ainda assim, sorriu. — Então você gostaria de mantê-lo? — Ele perguntou, com os lábios arqueados e aquela expressão de que ainda desejava saber mais. Sorri, — se ele queria saber mais, eu poderia falar. — Sinceramente, sim, mas isso não depende apenas de mim. Eu o conheci no ensino médio, — confessei, — foi algo… mágico. Eu queria ter apresentado ele pra família, queria ter… feito muitas coisas, mas como você disse, não é tão fácil, certo? Mas… ele nem faz ideia do nosso casamento, do motivo pelo qual eu fui criada, e eu nem sei como ele vai reagir, — murmurei, — talvez, nem mesmo aceitei a ideia de que eu preciso me casar com um outro homem… e eu nem posso julgá-lo por isso. — Querida, ele seria um idiota se não entendesse você, — ouvi Thomas dizer e de alguma forma, seu tom parecia diferente. — Não é tão simples assim. — Na verdade é, — ele falou, — e nós podemos
Bella McNightDepois do pedido de Thomas, nós tivemos que agir como o que éramos: o motivo daquela festa estar acontecendo, e por uns trinta minutos, ficamos presos entre os convidados e os sorrisos de felicitações pelo noivado, — mas logo depois, todos voltaram ao que realmente queriam fazer: beber e tratar de negócios. Graças a isso, Thomas e eu nos esquivamos dali, e tomando uma das salas daquela mansão, nos sentamos para conversar. Cada detalhe do nosso acordo foi estabelecido, e Thomas até mesmo sugeriu redigir um contrato, caso isso me deixasse um pouco mais segura, — mas se tinha algo que eu tinha aprendido sobre a máfia, era que não se mantinha provas de algo que você não quer que descubram. Então, eu cuidadosamente neguei. Afinal, nosso acordo consistia em manter as aparências, então beijos, contato físico e interações intimas em público, era claramente algo necessário, mas não havia motivos para isso acontecer quando estivéssemos sozinhos. Então, enfim, pude retornar para
Bella McNightEu estava ficando tão cansada disso. Era tão errado mentir para Charles, e eu sinceramente não sabia até quando ia conseguir levar essa mentira, mas no momento, eu só precisava me preocupar com o contrato entre meu pai e Vicente, e também… o meu acordo com Thomas. — Hoje vai ter uma festinha, na minha casa. — Charles fala todo empolgado, me tirando do meu devaneio, e me encarando com expectativa, — você vem, não é? Eu vou ficar triste se a minha namorada não aparecer, — ele falou, e Jenny e eu nos entreolhamos, porque era naqueles momentos que o fato de termos crescido juntas, ajudava muito. Um olhar era suficiente para ela saber que outra vez, eu vou precisar de ajuda. — Claro que sim, meu amor, — eu acabo dizendo, beijando Charles e acariciando seu rosto, — eu nunca te deixaria sozinho. Ele sorriu, parecendo satisfeito com a minha resposta e graças a isso, nós podemos terminar o nosso lanche a tempo de voltarmos para nossas salas. ***Assim que as minhas aulas aca
Thomas KuhnAquele garoto era tão medíocre, que eu me perguntava como ele teve a ousadia de se aproximar da minha noiva, mas aparentemente, pessoas como ele estavam sempre desesperadas para subir de patamar e ele faria de tudo, para estar onde Bella poderia levá-lo. Obviamente aquele infeliz não sabia nada sobre o submundo, sobre a máfia ou sobre a verdadeira identidade de Bella, mas ele sabia do que importava: que a família McNight, era poderosa. Idiota. Ele provavelmente nem gostava da garota, e agora, ela estava preocupada com ele. Estalei a língua no céu da boca e quando Brian terminou de folhear o dossiê que eu tinha preparado com tanto cuidado, ele riu. — Sério, você é maluco, — ele disse com descaso, colocando os pés sobre a mesa de mogno que eu tinha no meu escritório e eu o fuzilei com os olhos. — Eu estou cuidando do que me pertence. Brian sorriu. — Te pertence? Não era você quem estava puto por ter que se casar com uma criança? — Ele perguntou, zombando de mim e da
Bella McNight— Isso mesmo que ouviu, então sim… nós temos algo aqui também, — ele soltou de um jeito despreocupado, um que me deu inveja. — Só porque eu achei que tinha conseguido chegar até a casa de Charles sem… tudo isso. — Suspirei ao jogar os meus fios para trás, os meus olhos indo até o chão enquanto eu me apoiava no balcão da cozinha. — Quem é Charles? — ele perguntou, apenas para fazer aquela expressão de quem tinha descoberto a América, — oh… creio que eu entendi. — Você veio em uma festa sem saber quem era o anfitrião? — Falei com uma das minhas sobrancelhas arqueadas, — céus… — Meu amigo apenas me chamou, não me culpe, — ele deu de ombros, apenas para eu ver Charles caminhando em minha direção. — Bella! Você veio! — Ele me abraçou, mas quando ele foi me beijar, eu tive que dar um jeito de desviar, e apenas dar um breve beijo em sua bochecha como forma de "cumprimento", — e quem é esse? Você conhece? — Ele simplesmente olhou Thomas de cima a baixo ao dizer aquilo,