Capítulo 03

Thomas Kuhn

Assim que eu desci do meu carro em frente ao bordel onde Brian me esperava, — eu o vi   sorrir e me senti ainda mais mal-humorado. Porque como se não bastasse toda aquela merda com o meu velho e o noivado que eles não pareciam dispostos a me contar antes do último segundo: eu tinha que aguentar essa bosta de lugar.

 

— Que cara de enterro, é essa? — Brian me pergunta, puxando sua arma e destravando, — achei que ia ver a Chloé ontem, depois da faculdade. 

— Nem me lembre da Chloé, — rosnei, puxando minha própria arma do quadril, engatilhando e jogando meu blazer no banco de trás do conversível daquele idiota, — ela e o meu pai, parecem ter se juntado para me deixar de mau humor.  

— O que rolou dessa vez? — Ele perguntou, abrindo a porta do bordel e apontando a arma pro segurança, que encarou nos dois com os olhos arregalados, — vaza, se quiser continuar vivo, — Brian disse e eu bufei, vendo o homem tatuado correr pra longe. 

— Eu estou noivo, e a festa? É hoje. — Falei com a raiva impregnada em cada palavra, — e pra piorar, a porra da minha noiva, parece uma criança!  

Brian gargalhou enquanto entravamos no lugar e quando as garotas nos viram por lá e tentaram se aproximar, ele sorriu, dando um beijo em suas bochechas antes de dispensá-las de forma gentil. 

— Hoje não, mia cara, — ele disse antes de me encarar, e empurrando a porta do escritório do dono do bordel, — olá, Rico, não esperava que a gente deixasse você continuar com essa palhaçada, esperava?  

Eu bufei, e apontando minha arma pra cara do desgraçado, me aproximei. 

— O que diabos vocês estão fazendo aqui! — Ele gritou e eu o empurrei de volta a cadeira em que ele estava sentado, o enforcando enquanto colocava a minha arma em sua testa. 

— Cala a boca seu desgraçado, — falei sem paciência, — você não esperava que a família Kuhn fosse continuar permitindo essa palhaçada, esperava? Esse é o nosso território, Rico. Se você quer abrir um bordel, uma loja de chaveiros ou a porra de um motel, você precisa seguir as regras, — ronronei, — e você não anda fazendo isso.  

— M-me… per-perdoe! — Ele disse com os olhos cheios de lágrimas, mas não havia expressão alguma em meu rosto, porque eu não tinha pena daquele desgraçado. 

Eu era um Kuhn. 

Eu não tinha uma alma, ou um coração. E se alguém tentasse roubar de mim… — conheceria o inferno.  

— É meio tarde pra pedir perdão, — falei enfiando a minha arma na boca dele, e antes que Rico pudesse falar alguma outra merda, eu atirei.  

— Cara… — Brian bufou, — você podia só ter pegado 70% dos lucros do lugar, não precisava matar o bostinha, — ele disse me encarando com aquele sorriso de descrença. 

Eu limpei com um lenço que tinha no bolso, o sangue da minha arma e o pouco que havia respingado em meu rosto. 

— Não existe perdão pra alguém que se recusa a seguir as nossas regras, — falei, — e por que eu me contentaria com 70%, se podemos pegar o bordel para a família Kuhn?  

Brian sorriu. 

— Quem deve ficar responsável pelo lugar?  

— Deixe alguém de dentro, responsável pela organização e deixe claro para todos que as regras mudaram nesse lugar, — encarei o cadáver na cadeira e bufei, — a família Kuhn, não pega o dinheiro de prostitutas, nossos lucros vem das drogas e das bebidas.  

— Quanta generosidade, um verdadeiro gentleman, — Brian zombou e eu revirei meus olhos, saindo dali. Eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar.  

Tinha um noivado para comparecer

***

Eu fiz e refiz o nó naquela m*****a gravata, cinco vezes antes de parecer bom, — mas isso não amenizava o quão frustrado eu estava. Eu queria uma opção de fuga e o que o meu pai me deu, foi uma sinuca de bico.  

— Tommy? — Ouvi Brian me chamar abrindo a porta e eu o encarei com a mesma expressão de antes. Puro e simples, mau humor. — Me diz que não vai olhar pra ela com essa cara de cu, a garota vai se assustar e sair chorando. 

Eu bufei. 

— Seria bom, assim eu me livraria dessa merda, — falei de forma brusca, arrancando aquela gravata do meu pescoço e a jogando longe. 

— Olha, eu não diria isso se fosse você, — ele zombou e eu o encarei com uma sobrancelha erguida. 

— Por quê? 

Brian sorriu. 

— Sua noivinha acabou de chegar, logo você descobre. 

Bufei e quando ele saiu do quarto, me dizendo para me apressar, — eu deslizei meus dedos pelos meus cabelos, os jogando para trás, e respirei fundo. 

Eu era um Kuhn. Eu faria tudo pela família, e tudo isso… era apenas mais um sacrifício. Eu ia descer, sorrir, ser gentil e encantar a minha doce noivinha. Eu faria as coisas ocorrerem como meu pai esperava e no fim, eu daria um jeito de tornar tudo maleável para mim, afinal, logo eu seria o líder da família Kuhn.  

Me aproximei da escada para descer e ouvi as vozes dos meus pais, junto as conversas e risadas dos convidados. Se eu conhecia bem a minha mãe, o lugar estava impecável, mas o número de convidados, — era no mínimo, superior a duzentos. Eu comecei a descer as escadas e encarei o salão que estava ricamente decorado.  

Os lustres, as luzes, a tapeçaria tinham sido completamente trocadas, — e os convidados, exageradamente bem-vestidos. Era quase como se houvesse uma guerra entre todas aquelas pessoas, como se todas quisessem disputar para descobrir quem seria o centro das atenções. O que era obviamente uma bobagem, porque a única pessoa digna de olhares e sorrisos essa noite: seria eu.

 

Eu estava distraído em meus próprios pensamentos, repassando rostos e nomes ali presentes, — até ver a mulher que estava ao lado da minha mãe. Uma linda mulher de olhos amendoados e rosto delicado. Seu corpo era como uma escultura escupida por algum louco apaixonado, um daqueles artistas que havia parado em seu tempo, vivendo pela sua arte. Eu demorei alguns segundos para entender que aquela mulher… era Bella McNight.  

As ondas de seus cabelos caiam por suas costas como uma cascata e quando seu olhar cruzou o meu, eu senti uma corrente estática entre nós, preenchendo o vuoto (Vazio) que existia entre nossos corpos, e quando o rosto de Bella corou levemente, enquanto ela perdia o ar, — eu soube que a queria pra mim.  

Bella, seria minha, e apenas minha.  

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