Bella Kuhn
O teto branco de meu quarto, sinaliza o mesmo vuoto em meu peito. Em alguns meses faço dezenove anos e logo depois me caso com um homem que nunca sequer vi em minha vida.
Nasci para ser a esposa troféu. É meu papel, meu dever com a nossa família, uma vertente da máfia italiana. Meu pai a muito custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora dele, Henry McNight sustenta a imagem impecável. A imagem que eu carrego como legado.
E dentre muitas mulheres da máfia posso dizer que tenho sorte, pois depois de muitos anos de tradição, meu pai me possibilitou a escolha de me unir ou não a um homem, sem amá-lo, e uma parte minha, queria aceitar essa escolha. Contudo, apesar de meu pai, ser o capo di Capi e que sua palavra ser lei, eu sabia que tinha que fazer sacrifícios pela minha família. Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de paz e expandir os negócios, além de usando a união que vem junto com o casamento. E era exatamente isso que teríamos, quando eu me casasse com Thomas Rossi Kuhn, o herdeiro da máfia alemã.
— Vamos Bella, — eu ouço a voz da minha mãe do outro lado da porta de meu quarto, me trazendo de volta a realidade.
— Já estou descendo, — gritei de volta, me levantando e encarando, o meu reflexo que acabava por parecer… estranho.
A pouco tempo eu era uma menina, que podia sonhar e escolher mais do que a cor que iria usar naquela noite, e logo… eu me tornaria a esposa de alguém.
O vestido longo, delineava meu corpo e me fazia parecer mais “adulta” e talvez tenha sido isso que me fez titubear por um momento, porque a imagem à minha frente não demonstrava meu verdadeiro eu.
— Pipoca? — O meu pai chama, e eu acabo sorrindo. Ele realmente não tinha jeito, sempre impaciente, e se Jenny estivesse aqui, ela certamente diria que ele está ansioso e que eu deveria me apressar.
Céus.
Eu queria Jenny aqui, e agora. Contudo, mesmo ela sendo minha prima de coração, esse era um momento… de família. E isso queria dizer, pai, mamãe, meus irmãos e eu.
Enquanto descia pelos degraus da escada de madeira escura e o carpete vermelho, me dei conta de como tudo na minha casa — que antes era comum —, agora parecia teatral e totalmente envolvida naquela trama.
— Ah, meu Deus! Você está tão linda! — Ela murmurou com a voz esganiçada, as lágrimas já prestes a serem derramadas.
— Mamma, não chore, — pedi enquanto encarava meu pai, que agora estava ao lado dela, — como estou, papá?— Eu o perguntei, descendo
enfim o último degrau e dando uma voltinha para que eles pudessem me ver, por completo.
— Maravilhosa minha pipoca, — ele estendeu sua mão grande, enlaçando a minha tão pequena, me puxando para si e depositando um beijo na minha testa.
Minha mãe, que parecia querer fugir do assunto para não chorar, fungou enquanto dizia:
— Eu vou apressar os gêmeos, eles estão demorando demais e não é de bom tom aparecer no noivado da irmã, atrasados, — a ruga em sua testa demonstrava o quando ela estava tentando fingir que não estava brava ou preocupada, antes de finalmente ir para a cozinha.
Pai suspirou.
— Desculpa por isso, — ele disse quando teve certeza de que estávamos sozinhos, — eu realmente não queria que você estivesse nesse tipo de situação, pipoca.
— Papá, eu concordei com o casamento, mas gostaria de saber se...
— O que você quer dizer com isso? — me interrompe, seu rosto contraído de preocupação. Seria um grande vexame para minha família eu voltar atrás sobre o casamento em última hora.
Apesar do acordo não estar totalmente decidido, eu sou a princesa da máfia italiana, e quando eu dou minha palavra, eu não volto atrás. Entretanto, não sou uma completa idiota em entrar de cabeça nisso e não tirar um proveito. — Eu quero negociar, acrescentar algumas cláusulas. — Levanto a cabeça, indicando ao meu pai que estou decidida a isso, e que como uma boa McNight, não irei baixá-la!
Eu sabia que esse acordo não dependia apenas do meu pai, mas ainda queria saber se tinha uma chance, se as coisas poderiam realmente ser diferentes do que estavam destinadas a ser. Eu era alguém que acreditava no amor, e estava disposta a encarar esse casamento, pelo bem da minha família, mas isso não queria dizer que eu não entendesse o que vinha com preço, e se eu tinha a chance, eu iria negociar.
Eu queria ter a chance de me resguardar, eu e meu futuro noivos nunca tivemos contato, mas os boatos sobre ele correm por toda a Itália. Um homem, sem escrúpulos, que faz tudo para conseguir o que quer sem medir as consequências. Impiedoso e sanguinário. E eu quero ter a possibilidade de voltar para minha família, respaldada e com honra estabelecida caso ele não cumpra nosso acordo, como nunca me tocar contra minha própria vontade. Ou tocar em outra, pelo menos fazendo o que seus casos fazem na imprensa e eu seja envergonhada.
— Bella, querida… você sabe que isso não depende apenas de mim, esse é um trato entre Vicente e eu, então, também depende dele — pai me lembrou fazendo uma pausa, para olhar em direção a cozinha, obviamente checando se minha mãe estava vindo antes de continuar — você sabe que em primeiro ligar virá sempre sua segurança, eu sei o que deve estar passando em sua cabecinha. E não se preocupe mia figlia (minha filha). Não há contrato ou acordo nenhum que me impossibilitaria cuidar do seu bem-estar, eu iria ao inferno por você. Mas ainda assim eu vou te perguntar mais uma vez, você realmente quer se casar, com o Thomas?
Suspirei.
— Papá… se não for com ele, será com outro desconhecido, não será? — Eu perguntei, porque sabia bem como aquela conversa terminaria, eu sei que no fundo, eu fui educada para ser uma esposa troféu, por mais que minha mãe não aceite isso, é uma tradição da máfia — afirmei —, então eu sei que não seria tão simples mudar. Se não me casar com ele, será outro.
— Tudo depende sendo o chefe da máfia, posso fazer algumas mudanças. Eu posso fazer tudo pela sua felicidade, querida, porém, claro, terá questionamento de algumas partes e com certeza muito derramamento de sangue. — Meu pai me explicou, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, mas isso era algo que eu já tinha conhecimento.
— E para isso, um casamento arranjado é a melhor opção, — eu murmurei, frisando meus lábios enquanto fechava minhas mãos em punhos.
Eu queria tanto uma chance para falar a verdade ao meu pai, que eu amava outro homem, que tinha me apaixonado por ele da forma certa e que dificilmente… meu coração poderia pertencer a outra pessoa.
— Pronto! — Pude ouvir o som do salto da minha mãe enquanto se aproximava novamente, me trazendo de volta e interrompendo nossa conversa antes que eu pudesse finalmente falar. — Vamos? — Ela perguntou se pondo ao lado do meu pai e ele assentiu.
Bella McNightMeus irmãos gêmeos, Donna e Tefo vinham logo atrás dela. Eles definitivamente não eram idênticos. Mas agiam como uma unidade. Nós tínhamos quase três anos de diferença, e talvez isso tenha influenciado também com que eu os visse como realmente são unidos, mas totalmente diferentes, no físico e personalidade. Stefano sempre teve os traços da minha mãe. nariz fino, mas do tamanho perfeito. Olhos verdes, orelhas pequenas, os lábios carnudos, cabelo loiro escuro. Mas ele sempre foi genioso como nosso pai. Donna por outro lado, tem olhos verdes, assim como os meus, cabelo longo e loiro claro. O nariz fino igual ao da nossa mãe, e como eu, ela tem algumas sardas de leve no rosto. Essas diferenças tornava os gêmeos tão únicos e também, era o que me fazia amá-los, — porque eu amava todos na minha família e por isso também, pensei que poderia negociar meu casamento com o meu pai, mas obviamente me enganei, eu teria que ir além. Teria que conseguir que Vicente me ouvisse e aí, —
Bella McNightQuando eu ouvi ele me perguntar o que eu pensava sobre o casamento, tive vontade de simplesmente falar a verdade, mas uma parte minha, estava indecisa. Afinal, tudo isso era novo e eu não tinha certeza se podia ou não confiar em Thomas. — É o que é, faz parte do nosso dever., — dei de ombros, encarando o jardim que tínhamos à frente, e Thomas me surpreendeu ao bufar, como se a minha resposta não fosse realmente boa. — Céus… — ele resmungou, tragando o cigarro, — se esses velhos não fossem tão teimosos, as coisas poderiam ser diferentes, mas não há mesmo o que se fazer a respeito, o que talvez poderíamos fazer, é tornar as coisas mais… agradáveis para nós dois, não acha? — ele disse e o seu tom parecia… lascivo. — Como assim, o que você quer dizer com tornar as coisas agradáveis? — A primeira coisa que temos que concordar, querida, é jamais mentir um para o outro. É claro que estamos nos casando apenas para um benefício de terceiros, eu ganho mais força com meus h
Bella McNightPor um momento, tive a impressão de que os olhos de Thomas tinham se tornado mais escuros, mas ele ainda assim, sorriu. — Então você gostaria de mantê-lo? — Ele perguntou, com os lábios arqueados e aquela expressão de que ainda desejava saber mais. Sorri, — se ele queria saber mais, eu poderia falar. — Sinceramente, sim, mas isso não depende apenas de mim. Eu o conheci no ensino médio, — confessei, — foi algo… mágico. Eu queria ter apresentado ele pra família, queria ter… feito muitas coisas, mas como você disse, não é tão fácil, certo? Mas… ele nem faz ideia do nosso casamento, do motivo pelo qual eu fui criada, e eu nem sei como ele vai reagir, — murmurei, — talvez, nem mesmo aceitei a ideia de que eu preciso me casar com um outro homem… e eu nem posso julgá-lo por isso. — Querida, ele seria um idiota se não entendesse você, — ouvi Thomas dizer e de alguma forma, seu tom parecia diferente. — Não é tão simples assim. — Na verdade é, — ele falou, — e nós podemos
Bella McNightDepois do pedido de Thomas, nós tivemos que agir como o que éramos: o motivo daquela festa estar acontecendo, e por uns trinta minutos, ficamos presos entre os convidados e os sorrisos de felicitações pelo noivado, — mas logo depois, todos voltaram ao que realmente queriam fazer: beber e tratar de negócios. Graças a isso, Thomas e eu nos esquivamos dali, e tomando uma das salas daquela mansão, nos sentamos para conversar. Cada detalhe do nosso acordo foi estabelecido, e Thomas até mesmo sugeriu redigir um contrato, caso isso me deixasse um pouco mais segura, — mas se tinha algo que eu tinha aprendido sobre a máfia, era que não se mantinha provas de algo que você não quer que descubram. Então, eu cuidadosamente neguei. Afinal, nosso acordo consistia em manter as aparências, então beijos, contato físico e interações intimas em público, era claramente algo necessário, mas não havia motivos para isso acontecer quando estivéssemos sozinhos. Então, enfim, pude retornar para
Bella McNightEu estava ficando tão cansada disso. Era tão errado mentir para Charles, e eu sinceramente não sabia até quando ia conseguir levar essa mentira, mas no momento, eu só precisava me preocupar com o contrato entre meu pai e Vicente, e também… o meu acordo com Thomas. — Hoje vai ter uma festinha, na minha casa. — Charles fala todo empolgado, me tirando do meu devaneio, e me encarando com expectativa, — você vem, não é? Eu vou ficar triste se a minha namorada não aparecer, — ele falou, e Jenny e eu nos entreolhamos, porque era naqueles momentos que o fato de termos crescido juntas, ajudava muito. Um olhar era suficiente para ela saber que outra vez, eu vou precisar de ajuda. — Claro que sim, meu amor, — eu acabo dizendo, beijando Charles e acariciando seu rosto, — eu nunca te deixaria sozinho. Ele sorriu, parecendo satisfeito com a minha resposta e graças a isso, nós podemos terminar o nosso lanche a tempo de voltarmos para nossas salas. ***Assim que as minhas aulas aca
Thomas KuhnAquele garoto era tão medíocre, que eu me perguntava como ele teve a ousadia de se aproximar da minha noiva, mas aparentemente, pessoas como ele estavam sempre desesperadas para subir de patamar e ele faria de tudo, para estar onde Bella poderia levá-lo. Obviamente aquele infeliz não sabia nada sobre o submundo, sobre a máfia ou sobre a verdadeira identidade de Bella, mas ele sabia do que importava: que a família McNight, era poderosa. Idiota. Ele provavelmente nem gostava da garota, e agora, ela estava preocupada com ele. Estalei a língua no céu da boca e quando Brian terminou de folhear o dossiê que eu tinha preparado com tanto cuidado, ele riu. — Sério, você é maluco, — ele disse com descaso, colocando os pés sobre a mesa de mogno que eu tinha no meu escritório e eu o fuzilei com os olhos. — Eu estou cuidando do que me pertence. Brian sorriu. — Te pertence? Não era você quem estava puto por ter que se casar com uma criança? — Ele perguntou, zombando de mim e da
Bella McNight— Isso mesmo que ouviu, então sim… nós temos algo aqui também, — ele soltou de um jeito despreocupado, um que me deu inveja. — Só porque eu achei que tinha conseguido chegar até a casa de Charles sem… tudo isso. — Suspirei ao jogar os meus fios para trás, os meus olhos indo até o chão enquanto eu me apoiava no balcão da cozinha. — Quem é Charles? — ele perguntou, apenas para fazer aquela expressão de quem tinha descoberto a América, — oh… creio que eu entendi. — Você veio em uma festa sem saber quem era o anfitrião? — Falei com uma das minhas sobrancelhas arqueadas, — céus… — Meu amigo apenas me chamou, não me culpe, — ele deu de ombros, apenas para eu ver Charles caminhando em minha direção. — Bella! Você veio! — Ele me abraçou, mas quando ele foi me beijar, eu tive que dar um jeito de desviar, e apenas dar um breve beijo em sua bochecha como forma de "cumprimento", — e quem é esse? Você conhece? — Ele simplesmente olhou Thomas de cima a baixo ao dizer aquilo,
Bella McNight— Querida, se acalme. — Ele falou junto de um tom aveludado, — não deixe tão óbvio a sua surpresa em ser eu, está bem? Não se esqueça… tem olhos demais por aqui. Revolta tomou conta do meu ser, mas infelizmente… ele estava certo. O que apenas me fez virar e ficar de cara com ele. Ele simplesmente me olhou com aqueles olhos azuis tão profundos como o mar, que consegue hipnotizar qualquer pessoa que se coloque na sua frente. Um sorriso surge, e ele me puxa para si novamente. — O que faz aqui? E se Charles… — Não tem problema. — Ele me interrompe ao sussurrar em meu ouvido. — O seu namorado é fraco para a bebida. — E o que isso tem haver? — questionei indignada, — mesmo bêbado ele pode nos ver! — Ele está dormindo em um dos quartos, eu o ajudei. — Ele pareceu dizer com certo descaso, o que me fez bufar. — Isso não importa, nós estamos mais perto do que deveríamos, — eu comecei a me sentir culpada de certo modo, até porque, eu estava na casa do meu namorado, enqu