Capítulo 04

Bella Kuhn

O teto branco de meu quarto, sinaliza o mesmo vuoto em meu peito. Em alguns meses faço dezenove anos e logo depois me caso com um homem que nunca sequer vi em minha vida.  

Nasci para ser a esposa troféu. É meu papel, meu dever com a nossa família, uma vertente da máfia italiana. Meu pai a muito custo se tornou um dos maiores nomes no submundo. E fora dele, Henry McNight sustenta a imagem impecável. A imagem que eu carrego como legado.  

E dentre muitas mulheres da máfia posso dizer que tenho sorte, pois depois de muitos anos de tradição, meu pai me possibilitou a escolha de me unir ou não a um homem, sem amá-lo, e uma parte minha, queria aceitar essa escolha. Contudo, apesar de meu pai, ser o capo di Capi e que sua palavra ser lei, eu sabia que tinha que fazer sacrifícios pela minha família. Porque na máfia, não existe outra forma de fazer uma trégua de paz e expandir os negócios, além de usando a união que vem junto com o casamento. E era exatamente isso que teríamos, quando eu me casasse com Thomas Rossi Kuhn, o herdeiro da máfia alemã. 

— Vamos Bella, — eu ouço a voz da minha mãe do outro lado da porta de meu quarto, me trazendo de volta a realidade.  

— Já estou descendo, — gritei de volta, me levantando e encarando, o meu reflexo que acabava por parecer… estranho.

 

A pouco tempo eu era uma menina, que podia sonhar e escolher mais do que a cor que iria usar naquela noite, e logo… eu me tornaria a esposa de alguém.

 

O vestido longo, delineava meu corpo e me fazia parecer mais “adulta” e talvez tenha sido isso que me fez titubear por um momento, porque a imagem à minha frente não demonstrava meu verdadeiro eu.  

— Pipoca? — O meu pai chama, e eu acabo sorrindo. Ele realmente não tinha jeito, sempre impaciente, e se Jenny estivesse aqui, ela certamente diria que ele está ansioso e que eu deveria me apressar. 

Céus. 

Eu queria Jenny aqui, e agora. Contudo, mesmo ela sendo minha prima de coração, esse era um momento… de família. E isso queria dizer, pai, mamãe, meus irmãos e eu.   

Enquanto descia pelos degraus da escada de madeira escura e o carpete vermelho, me dei conta de como tudo na minha casa — que antes era comum —, agora parecia teatral e totalmente envolvida naquela trama. 

— Ah, meu Deus! Você está tão linda! — Ela murmurou com a voz esganiçada, as lágrimas já prestes a serem derramadas.  

— Mamma, não chore, — pedi enquanto encarava meu pai, que agora estava ao lado dela, — como estou, papá?— Eu o perguntei, descendo

enfim o último degrau e dando uma voltinha para que eles pudessem me ver, por completo. 

— Maravilhosa minha pipoca, — ele estendeu sua mão grande, enlaçando a minha tão pequena, me puxando para si e depositando um beijo na minha testa.  

Minha mãe, que parecia querer fugir do assunto para não chorar, fungou enquanto dizia: 

— Eu vou apressar os gêmeos, eles estão demorando demais e não é de bom tom aparecer no noivado da irmã, atrasados, — a ruga em sua testa demonstrava o quando ela estava tentando fingir que não estava brava ou preocupada, antes de finalmente ir para a cozinha. 

Pai suspirou. 

— Desculpa por isso, — ele disse quando teve certeza de que estávamos sozinhos, — eu realmente não queria que você estivesse nesse tipo de situação, pipoca.  

— Papá, eu concordei com o casamento, mas gostaria de saber se...  

— O que você quer dizer com isso? — me interrompe, seu rosto contraído de preocupação. Seria um grande vexame para minha família eu voltar atrás sobre o casamento em última hora.  

Apesar do acordo não estar totalmente decidido, eu sou a princesa da máfia italiana, e quando eu dou minha palavra, eu não volto atrás. Entretanto, não sou uma completa idiota em entrar de cabeça nisso e não tirar um proveito.  — Eu quero negociar, acrescentar algumas cláusulas. —  Levanto a cabeça, indicando ao meu pai que estou decidida a isso, e que como uma boa McNight, não irei baixá-la! 

Eu sabia que esse acordo não dependia apenas do meu pai, mas ainda queria saber se tinha uma chance, se as coisas poderiam realmente ser diferentes do que estavam destinadas a ser. Eu era alguém que acreditava no amor, e estava disposta a encarar esse casamento, pelo bem da minha família, mas isso não queria dizer que eu não entendesse o que vinha com preço, e se eu tinha a chance, eu iria negociar.  

Eu queria ter a chance de me resguardar, eu e meu futuro noivos nunca tivemos contato, mas os boatos sobre ele correm por toda a Itália. Um homem, sem escrúpulos, que faz tudo para conseguir o que quer sem medir as consequências. Impiedoso e sanguinário. E eu quero ter a possibilidade de voltar para minha família, respaldada e com honra estabelecida caso ele não cumpra nosso acordo, como nunca me tocar contra minha própria vontade. Ou tocar em outra, pelo menos fazendo o que seus casos fazem na imprensa e eu seja envergonhada.  

— Bella, querida… você sabe que isso não depende apenas de mim, esse é um trato entre Vicente e eu, então, também depende dele — pai me lembrou fazendo uma pausa, para olhar em direção a cozinha, obviamente checando se minha mãe estava vindo antes de continuar — você sabe que em primeiro ligar virá sempre sua segurança, eu sei o que deve estar passando em sua cabecinha. E não se preocupe mia figlia (minha filha). Não há contrato ou acordo nenhum que me impossibilitaria cuidar do seu bem-estar, eu iria ao inferno por você. Mas ainda assim eu vou te perguntar mais uma vez, você realmente quer se casar, com o Thomas? 

Suspirei.  

Papá… se não for com ele, será com outro desconhecido, não será? — Eu perguntei, porque sabia bem como aquela conversa terminaria, eu sei que no fundo, eu fui educada para ser uma esposa troféu, por mais que minha mãe não aceite isso, é uma tradição da máfia — afirmei —, então eu sei que não seria tão simples mudar. Se não me casar com ele, será outro.  

— Tudo depende sendo o chefe da máfia, posso fazer algumas mudanças. Eu posso fazer tudo pela sua felicidade, querida, porém, claro, terá questionamento de algumas partes e com certeza muito derramamento de sangue. — Meu pai me explicou, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, mas isso era algo que eu já tinha conhecimento. 

— E para isso, um casamento arranjado é a melhor opção, — eu murmurei, frisando meus lábios enquanto fechava minhas mãos em punhos.  

Eu queria tanto uma chance para falar a verdade ao meu pai, que eu amava outro homem, que tinha me apaixonado por ele da forma certa e que dificilmente… meu coração poderia pertencer a outra pessoa.  

— Pronto! — Pude ouvir o som do salto da minha mãe enquanto se aproximava novamente, me trazendo de volta e interrompendo nossa conversa antes que eu pudesse finalmente falar. — Vamos? —  Ela perguntou se pondo ao lado do meu pai e ele assentiu. 

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