Eu inclinei a cabeça e sorri diante da questão. Respirei fundo antes de responder, mantendo o tom firme: — Não estou chateada, mas claramente temos um problema, e eu não sou adepta de falta de comunicação. Damien arqueou uma sobrancelha, mas permaneceu em silêncio. Ele era um excelente ouvinte, mas não no sentido positivo. Esperava, calculava, analisava cada palavra dita antes de decidir como reagir, como se toda interação fosse uma negociação. — Sobre o que exatamente? — perguntou, sua voz neutra, impassível como sempre. — Sobre isso. — Girei o anel no meu dedo, apontando para ele. — Sobre nós. Eu observei enquanto ele cruzava os braços, um gesto quase automático que revelava o desconforto que sentia. Ele não estava acostumado a conversas como essa. — Achei que tivéssemos deixado tudo claro. Os limites foram definidos. Limites. Essa palavra ecoava na minha cabeça como uma barreira constante entre nós dois. Respirei fundo, tentando conter a frustração que crescia dentro de mim.
Eu nunca gostei de confrontos pessoais. Negociações de alto risco, acordos bilionários, fusões corporativas – tudo isso era simples. Havia lógica, números e regras claras. Mas com Olivia, nada parecia seguir um roteiro. Enquanto ela falava, senti meus ombros se tensionarem. Sua voz era firme, mas havia um calor ali, uma intensidade que tornava impossível ignorá-la. — Não estou chateada, mas claramente temos um problema, e eu não sou adepta de falta de comunicação. Falta de comunicação. Quase soltei uma risada amarga. Não era isso que eu estava fazendo? Mantendo tudo claro, objetivo, sem margem para interpretações? Mas Olivia tinha um talento único para desmontar minha lógica, como se enxergasse as fissuras nas paredes que eu construí. — Sobre o que exatamente? — Perguntei, mantendo o tom neutro. Eu já sabia a resposta, mas precisava ganhar tempo, organizar meus pensamentos. — Sobre isso. — Ela girou o anel no dedo, um gesto simples que parecia carregar mais significado do qu
Por mais que tentasse me concentrar na conversa casual que tínhamos decidido ter, algo nele sempre me fazia desviar os pensamentos. Damien era um enigma, um quebra-cabeça que, no fundo, eu não sabia se queria resolver. — Então, qual é a sua opinião sobre filmes de terror? — perguntei, com um sorriso que misturava provocação e curiosidade. Damien levantou o olhar do prato, surpreso. Depois, aquele sorriso discreto e característico apareceu. — Filmes de terror? — repetiu, inclinando ligeiramente a cabeça, como se estivesse considerando a ideia pela primeira vez. — Não é muito a minha praia. Eu ri, de verdade, pela primeira vez naquela noite. — Não me diga que o poderoso Damien Carter tem medo de sustos. — Não é isso. — Ele respondeu, cortando um pedaço de carne com precisão quase militar. — Só não vejo sentido em pagar para me sentir desconfortável. Já tenho o suficiente disso na vida real. Havia uma honestidade inesperada ali, algo que ele mantinha tão cuidadosamente guardado qu
Eu a observei correr para a chuva sem hesitar, seus movimentos tão naturais quanto a própria tempestade. O som das gotas batendo no asfalto parecia ecoar dentro de mim, em um ritmo que eu não conseguia controlar. Olivia era… diferente. Algo nela me fazia sentir que o controle que eu sempre prezara estava escapando por entre meus dedos. Ela girava sob a chuva como se fosse o lugar ao qual sempre pertencera, e eu a observava, imóvel, como se estivesse preso a algo que não entendia. Quando ela me chamou com aquele tom desafiador, minha garganta se apertou. — Vai ficar aí? — ela perguntou, rindo, enquanto os fios molhados de seu cabelo emolduravam seu rosto. Eu queria dizer que sim, que era melhor manter a distância. Mas, antes que pudesse me conter, saí do carro. A chuva me atingiu em cheio, fria, e cada gota parecia levar embora a segurança do que eu conhecia. — Isso é irracional — murmurei, mais para mim do que para ela. Ela riu de novo, como se minha resistência fosse um jogo. —
Acordei pela manhã com o corpo dolorido, resultado da posição nada confortável em que adormeci. Por alguns segundos, permaneci sentada na cama, encarando o nada, até que meu olhar pousou no anel no meu dedo. A confirmação de que, sim, eu estava noiva de Damien Carter. Em breve, seria sua esposa, ainda que por apenas um ano. Essa era a minha escolha, o contrato que decidi assinar. A porta do quarto se abriu, revelando Rosemary, a governanta da casa. Ela entrou com passos hesitantes, e algo em seu semblante me chamou atenção. Conheço Rosemary desde criança. Quando meus avós se mudaram para Villette, ela passou a cuidar da mansão. Após o falecimento deles, meu pai, Alex e eu decidimos mantê-la por perto. Ela era como parte da família. — Rose. — Chamei-a, percebendo sua expressão preocupada. — Aconteceu alguma coisa? Levantei-me e a conduzi até o divã. Ela suspirou antes de começar a falar. Sua filha mais velha estava presa em um relacionamento abusivo há anos. Apesar disso, agora quer
— Senhor Voss, muito obrigado pela oportunidade. Espero que essa reunião traga bons resultados. — Disse enquanto ele se preparava para entrar no veículo. — A Orion sempre foi uma empresa prestigiada. O projeto da Future Minds foi excelente. Após uma análise com minha equipe na Elysium, darei uma resposta. E mais uma vez, sua noiva realmente tem mãos de fada. — Ficaremos honrados em recebê-lo em nossa casa quando nos casarmos. — Será um enorme prazer. Esperei até que Adam Voss entrasse no carro e se afastasse antes de virar em direção ao restaurante. Entretanto, antes de entrar, deparei-me com minha mãe saindo apressada. — Já vai embora? — Perguntei. — Preciso pensar na lista de convidados e, claro, no que vestir no seu casamento. — Ela colocou os óculos escuros com um gesto elegante. — Como foi a reunião? — Foi boa. Acho que estamos perto de fechar o acordo. — Não tenho dúvidas. Você foi preparado para isso desde que nasceu. Se o Ethan tivesse metade da sua genialidade, talvez
Eu estava sentada no meu sofá de veludo azul, com uma taça de vinho em mãos, quando meu celular vibrou. O som foi discreto, mas suficiente para me tirar do transe. Peguei o aparelho com um olhar distraído, pronta para ignorar qualquer notificação irrelevante, mas então vi. O nome dele, Damien, estampado em letras garrafais na manchete: “Damien Carter e Olivia Montenegro anunciam noivado.” O mundo parou. Meu coração deu um salto tão violento que quase derrubei o celular. Li aquelas palavras uma, duas, três vezes, como se meu cérebro estivesse me pregando uma peça cruel. Noivado? Damien e Olivia? Não. Isso era impossível. Uma piada de mau gosto, talvez. Algum erro grotesco. Meus olhos corriam pela tela enquanto eu devorava a matéria. Cada frase parecia uma facada no peito. “O casal se conheceu em um leilão beneficente… a conexão foi instantânea…” — a bile subiu pela minha garganta. O leilão era o meu. Foi ali que ele escolheu ela. Aquele deveria ser o meu lugar. — Não. — sussurrei,
Eu estava sentada no sofá da sala, aproveitando um raro momento de paz. A luz do sol atravessava as janelas, banhando o ambiente com um brilho acolhedor, enquanto rabiscava os traços iniciais de alguns vestidos no meu caderno de desenho. Meu café estava quente, e o mundo parecia quieto. O celular vibrava em cima da mesa, mas eu o ignorei. Provavelmente notificações de redes sociais ou mensagens que podiam esperar. Quando a vibração insistiu pela quinta vez, com um suspiro relutante, larguei o lápis e peguei o aparelho. Assim que desbloqueei a tela, o choque veio como um tapa. “Olivia Montenegro: manipuladora ou vítima? A polêmica por trás do sequestro e o noivado com Damien Carter.” O título parecia gritar comigo, cuspindo veneno. Minha respiração ficou presa enquanto clicava no link, e a página de fofocas se abriu, revelando uma foto de Olivia. Ela estava impecável, com aquele sorriso que sempre parecia iluminar os ambientes por onde passava. Mas as palavras ao lado dela eram um c