Eu estava sentada no sofá da sala, aproveitando um raro momento de paz. A luz do sol atravessava as janelas, banhando o ambiente com um brilho acolhedor, enquanto rabiscava os traços iniciais de alguns vestidos no meu caderno de desenho. Meu café estava quente, e o mundo parecia quieto. O celular vibrava em cima da mesa, mas eu o ignorei. Provavelmente notificações de redes sociais ou mensagens que podiam esperar. Quando a vibração insistiu pela quinta vez, com um suspiro relutante, larguei o lápis e peguei o aparelho. Assim que desbloqueei a tela, o choque veio como um tapa. “Olivia Montenegro: manipuladora ou vítima? A polêmica por trás do sequestro e o noivado com Damien Carter.” O título parecia gritar comigo, cuspindo veneno. Minha respiração ficou presa enquanto clicava no link, e a página de fofocas se abriu, revelando uma foto de Olivia. Ela estava impecável, com aquele sorriso que sempre parecia iluminar os ambientes por onde passava. Mas as palavras ao lado dela eram um c
O relógio na parede marcava quase oito horas, e o céu além da enorme janela de vidro estava tingido em tons alaranjados e roxos. Recostei-me na cadeira, massageando as têmporas enquanto analisava os últimos relatórios do dia. O silêncio da sala era quase reconfortante, quebrado apenas pelo som da caneta riscando o papel e o zumbido suave do ar-condicionado. Por um instante, permiti-me olhar para o horizonte da cidade. O estrondo da porta sendo aberta trouxe-me de volta à realidade. — Damien! — Ana irrompeu como uma tempestade, a fúria queimando em seus olhos. Atrás dela, Ronan tentava acompanhá-la, segurando os ombros dela numa tentativa inútil de acalmá-la. — Amor, por favor, conversa comigo primeiro— — Me solta, Ronan! — Ela se desvencilhou com um movimento brusco e caminhou na minha direção. Levantei-me devagar, apoiando as mãos na mesa. Algo no olhar dela me deixou em alerta. — Ana… O que aconteceu? Ela jogou o celular sobre a mesa, o aparelho deslizando até parar diante de
O mundo é como um globo de neve. Basta que uma divindade o pegue e o agite. Por mais que tudo volte ao seu devido lugar, nada será como era antes. Para mim, a primeira vez que essa verdade se revelou foi no dia em que fui sequestrada. Algo em mim morreu naquele dia. Não apenas o senso de segurança, mas a crença de que eu podia controlar minha própria vida. Perdi fragmentos da minha memória, como se meu cérebro tivesse decidido apagar o que era insuportável demais para ser lembrado. Ao mesmo tempo, há segredos que carrego, tão profundos que ouso esquecer ou sequer pensar sobre eles. Porque pensar é reviver, e reviver é uma forma de morrer outra vez. Agora, pela segunda vez, o caos tomou conta de mim. Tudo por causa de uma notificação no celular. Uma notícia que virou meu mundo de cabeça para baixo, que mentia descaradamente e me colocava como a vilã da situação. Não importa que fosse mentira. As pessoas acreditam no que querem acreditar. Sinto o olhar de Damien pesando sobre mim, ma
Olivia estava tão perto que eu podia ouvir sua respiração acelerar. Seus olhos, grandes e cheios de incerteza, me encaravam como se eu fosse uma tempestade prestes a desabar sobre ela. Meu instinto inicial foi me inclinar. Beijá-la. Acabar com o espaço entre nós que parecia um abismo, mesmo com a proximidade física. Mas eu não podia. Fechei os olhos por um instante, tentando organizar os pensamentos que se embaralhavam na minha mente. Não era a primeira vez que me sentia atraído por ela, mas já havia cedido a esse impulso antes. Foi um erro. Um erro que não podia se repetir. Olivia era um mistério que eu queria desvendar, mas também era uma mulher que carregava sua própria bagagem de dor, assim como eu. E qualquer proximidade que ultrapassasse os limites do acordo que tínhamos era perigosa. Para ela. Para mim. Respirei fundo e afastei minhas mãos de sua cintura, mesmo que a sensação de sua pele quente sob meus dedos ainda me queimasse. Dei um passo para trás, rompendo o contato vis
A água quente corria pelo meu corpo, quase escaldante, mas era exatamente disso que eu precisava. Era como se, por alguns minutos, eu pudesse me esconder do caos que era minha vida agora. Fechei os olhos, apoiando as mãos na parede do box, enquanto o vapor preenchia o pequeno espaço. A tensão do dia parecia escorrer junto com a água, mas o peso em meu peito permanecia. Por que Damien fazia isso comigo? Por que ele tinha essa capacidade de me deixar tão confusa? Ele era como uma tempestade: imprevisível, intenso, e impossível de ignorar. Cada vez que achava que entendia quem ele era, ele fazia algo que mudava tudo. Respirei fundo e desliguei o chuveiro, permitindo que o silêncio me envolvesse. Peguei a toalha sobre o balcão e comecei a me secar, observando meu reflexo no espelho embaçado. Meus olhos estavam fundos, as olheiras denunciavam o cansaço, mas era o olhar perdido que mais me incomodava. — Você precisa parar com isso, Olivia. — Murmurei para mim mesma, como se as palavras t
O reflexo no espelho era impecável, como sempre. Meu rosto estava radiante, a pele perfeita após o tratamento matinal que eu nunca deixava de fazer. Era uma rotina sagrada para mim, uma forma de começar o dia com poder e controle. Com calma, removi os últimos traços da máscara facial e suspirei de satisfação, até que duas batidas na porta interromperam minha paz.Fechei os olhos por um momento, tentando conter a irritação. Quem teria a ousadia de me interromper em um momento tão essencial?— Entre. — Disse com firmeza, sem desviar o olhar do espelho enquanto ajustava uma mecha do cabelo perfeitamente alinhado.A empregada entrou hesitante, com as mãos cruzadas à frente do corpo e o olhar fixo no chão.— Senhorita Ofélia, alguém está esperando por você lá embaixo.Revirei os olhos dramaticamente, exalando um suspiro de pura frustração.— Se for a Ana, podem dizer para os seguranças tirarem-na imediatamente. Não tenho paciência para as lamentações daquela mulher, especialmente hoje.— N
O som do despertador era desnecessário naquela manhã. Eu já estava acordado antes mesmo de ele tocar, algo raro para mim. Talvez fosse o incômodo de saber que Olivia estava no quarto ao lado, ou os pensamentos incessantes que martelavam em minha cabeça. De qualquer forma, levantar cedo parecia mais fácil do que continuar lutando contra o sono. Levantei-me com movimentos controlados, tentando não fazer barulho. A última coisa que eu queria era acordá-la. Caminhei até o banheiro, deixando a água quente cair sobre mim por mais tempo do que o habitual. O calor relaxava meu corpo, mas minha mente continuava inquieta. A ideia de Olivia dormindo sob o mesmo teto era algo que eu simplesmente não conseguia ignorar. O que exatamente me incomodava? O modo como ela parecia tão inatingível, mesmo estando tão perto? Ou o fato de que, de alguma forma, ela sempre conseguia desestabilizar meu controle impecável? Eu não sabia responder. Depois do banho, vesti uma camisa cinza de algodão e uma calça
Dormir nunca me pareceu tão difícil quanto na noite passada. Tenho sérios problemas em descansar em lugares que não conheço bem, e a cama estranha de um apartamento que não era meu só intensificava isso. Embora a culpa fosse minha, porque não quis voltar para casa. Precisava de um momento sozinha, longe daqueles que me amam. Sabia que estavam preocupados, especialmente por causa da matéria que explodiu nas redes sociais, mas lidar com isso era a última coisa que queria. Fingir que estava tudo bem era um fardo que, naquele momento, eu não tinha forças para carregar. Adormeci por volta das quatro da manhã, quando o vislumbre do amanhecer já era visível. O sono, quando finalmente veio, foi profundo. Meu corpo parecia ceder ao cansaço, como se estivesse entregue ao frio matinal que me envolvia. Não sei quanto tempo se passou até que despertei com breves selares na bochecha. O cheiro doce de uma fragrância familiar me fez sorrir antes mesmo de abrir os olhos. — Bom dia, alma gêmea. — Pux