Eu a observei correr para a chuva sem hesitar, seus movimentos tão naturais quanto a própria tempestade. O som das gotas batendo no asfalto parecia ecoar dentro de mim, em um ritmo que eu não conseguia controlar. Olivia era… diferente. Algo nela me fazia sentir que o controle que eu sempre prezara estava escapando por entre meus dedos. Ela girava sob a chuva como se fosse o lugar ao qual sempre pertencera, e eu a observava, imóvel, como se estivesse preso a algo que não entendia. Quando ela me chamou com aquele tom desafiador, minha garganta se apertou. — Vai ficar aí? — ela perguntou, rindo, enquanto os fios molhados de seu cabelo emolduravam seu rosto. Eu queria dizer que sim, que era melhor manter a distância. Mas, antes que pudesse me conter, saí do carro. A chuva me atingiu em cheio, fria, e cada gota parecia levar embora a segurança do que eu conhecia. — Isso é irracional — murmurei, mais para mim do que para ela. Ela riu de novo, como se minha resistência fosse um jogo. —
Acordei pela manhã com o corpo dolorido, resultado da posição nada confortável em que adormeci. Por alguns segundos, permaneci sentada na cama, encarando o nada, até que meu olhar pousou no anel no meu dedo. A confirmação de que, sim, eu estava noiva de Damien Carter. Em breve, seria sua esposa, ainda que por apenas um ano. Essa era a minha escolha, o contrato que decidi assinar. A porta do quarto se abriu, revelando Rosemary, a governanta da casa. Ela entrou com passos hesitantes, e algo em seu semblante me chamou atenção. Conheço Rosemary desde criança. Quando meus avós se mudaram para Villette, ela passou a cuidar da mansão. Após o falecimento deles, meu pai, Alex e eu decidimos mantê-la por perto. Ela era como parte da família. — Rose. — Chamei-a, percebendo sua expressão preocupada. — Aconteceu alguma coisa? Levantei-me e a conduzi até o divã. Ela suspirou antes de começar a falar. Sua filha mais velha estava presa em um relacionamento abusivo há anos. Apesar disso, agora quer
— Senhor Voss, muito obrigado pela oportunidade. Espero que essa reunião traga bons resultados. — Disse enquanto ele se preparava para entrar no veículo. — A Orion sempre foi uma empresa prestigiada. O projeto da Future Minds foi excelente. Após uma análise com minha equipe na Elysium, darei uma resposta. E mais uma vez, sua noiva realmente tem mãos de fada. — Ficaremos honrados em recebê-lo em nossa casa quando nos casarmos. — Será um enorme prazer. Esperei até que Adam Voss entrasse no carro e se afastasse antes de virar em direção ao restaurante. Entretanto, antes de entrar, deparei-me com minha mãe saindo apressada. — Já vai embora? — Perguntei. — Preciso pensar na lista de convidados e, claro, no que vestir no seu casamento. — Ela colocou os óculos escuros com um gesto elegante. — Como foi a reunião? — Foi boa. Acho que estamos perto de fechar o acordo. — Não tenho dúvidas. Você foi preparado para isso desde que nasceu. Se o Ethan tivesse metade da sua genialidade, talvez
Eu estava sentada no meu sofá de veludo azul, com uma taça de vinho em mãos, quando meu celular vibrou. O som foi discreto, mas suficiente para me tirar do transe. Peguei o aparelho com um olhar distraído, pronta para ignorar qualquer notificação irrelevante, mas então vi. O nome dele, Damien, estampado em letras garrafais na manchete: “Damien Carter e Olivia Montenegro anunciam noivado.” O mundo parou. Meu coração deu um salto tão violento que quase derrubei o celular. Li aquelas palavras uma, duas, três vezes, como se meu cérebro estivesse me pregando uma peça cruel. Noivado? Damien e Olivia? Não. Isso era impossível. Uma piada de mau gosto, talvez. Algum erro grotesco. Meus olhos corriam pela tela enquanto eu devorava a matéria. Cada frase parecia uma facada no peito. “O casal se conheceu em um leilão beneficente… a conexão foi instantânea…” — a bile subiu pela minha garganta. O leilão era o meu. Foi ali que ele escolheu ela. Aquele deveria ser o meu lugar. — Não. — sussurrei,
Eu estava sentada no sofá da sala, aproveitando um raro momento de paz. A luz do sol atravessava as janelas, banhando o ambiente com um brilho acolhedor, enquanto rabiscava os traços iniciais de alguns vestidos no meu caderno de desenho. Meu café estava quente, e o mundo parecia quieto. O celular vibrava em cima da mesa, mas eu o ignorei. Provavelmente notificações de redes sociais ou mensagens que podiam esperar. Quando a vibração insistiu pela quinta vez, com um suspiro relutante, larguei o lápis e peguei o aparelho. Assim que desbloqueei a tela, o choque veio como um tapa. “Olivia Montenegro: manipuladora ou vítima? A polêmica por trás do sequestro e o noivado com Damien Carter.” O título parecia gritar comigo, cuspindo veneno. Minha respiração ficou presa enquanto clicava no link, e a página de fofocas se abriu, revelando uma foto de Olivia. Ela estava impecável, com aquele sorriso que sempre parecia iluminar os ambientes por onde passava. Mas as palavras ao lado dela eram um c
O relógio na parede marcava quase oito horas, e o céu além da enorme janela de vidro estava tingido em tons alaranjados e roxos. Recostei-me na cadeira, massageando as têmporas enquanto analisava os últimos relatórios do dia. O silêncio da sala era quase reconfortante, quebrado apenas pelo som da caneta riscando o papel e o zumbido suave do ar-condicionado. Por um instante, permiti-me olhar para o horizonte da cidade. O estrondo da porta sendo aberta trouxe-me de volta à realidade. — Damien! — Ana irrompeu como uma tempestade, a fúria queimando em seus olhos. Atrás dela, Ronan tentava acompanhá-la, segurando os ombros dela numa tentativa inútil de acalmá-la. — Amor, por favor, conversa comigo primeiro— — Me solta, Ronan! — Ela se desvencilhou com um movimento brusco e caminhou na minha direção. Levantei-me devagar, apoiando as mãos na mesa. Algo no olhar dela me deixou em alerta. — Ana… O que aconteceu? Ela jogou o celular sobre a mesa, o aparelho deslizando até parar diante de
O mundo é como um globo de neve. Basta que uma divindade o pegue e o agite. Por mais que tudo volte ao seu devido lugar, nada será como era antes. Para mim, a primeira vez que essa verdade se revelou foi no dia em que fui sequestrada. Algo em mim morreu naquele dia. Não apenas o senso de segurança, mas a crença de que eu podia controlar minha própria vida. Perdi fragmentos da minha memória, como se meu cérebro tivesse decidido apagar o que era insuportável demais para ser lembrado. Ao mesmo tempo, há segredos que carrego, tão profundos que ouso esquecer ou sequer pensar sobre eles. Porque pensar é reviver, e reviver é uma forma de morrer outra vez. Agora, pela segunda vez, o caos tomou conta de mim. Tudo por causa de uma notificação no celular. Uma notícia que virou meu mundo de cabeça para baixo, que mentia descaradamente e me colocava como a vilã da situação. Não importa que fosse mentira. As pessoas acreditam no que querem acreditar. Sinto o olhar de Damien pesando sobre mim, ma
Olivia estava tão perto que eu podia ouvir sua respiração acelerar. Seus olhos, grandes e cheios de incerteza, me encaravam como se eu fosse uma tempestade prestes a desabar sobre ela. Meu instinto inicial foi me inclinar. Beijá-la. Acabar com o espaço entre nós que parecia um abismo, mesmo com a proximidade física. Mas eu não podia. Fechei os olhos por um instante, tentando organizar os pensamentos que se embaralhavam na minha mente. Não era a primeira vez que me sentia atraído por ela, mas já havia cedido a esse impulso antes. Foi um erro. Um erro que não podia se repetir. Olivia era um mistério que eu queria desvendar, mas também era uma mulher que carregava sua própria bagagem de dor, assim como eu. E qualquer proximidade que ultrapassasse os limites do acordo que tínhamos era perigosa. Para ela. Para mim. Respirei fundo e afastei minhas mãos de sua cintura, mesmo que a sensação de sua pele quente sob meus dedos ainda me queimasse. Dei um passo para trás, rompendo o contato vis