PROMESSA VERMELHA.Capítulo 1. Qual a gravidade?DEZ ANOS DEPOIS.Mauro tinha mudado tudo há dez anos: de universidade, de amigos e de qualquer coisa que pudesse lembrá-lo que seu primeiro amor tinha sido apenas uma prostituta que um par de idiotas havia comprado para ele.Primeiro foi a Inglaterra, Cambridge, é claro. Depois algumas longas temporadas na Itália e na França, para então estabelecer sua residência definitiva em Lucerna, junto aos seus avós.Raramente precisava ir a Zurique ver seus pais, mas eles tiveram que se mudar para lá nos últimos anos e com a carga de trabalho que Loan Keller tinha, praticamente exigiu que Mauro fosse passar seu aniversário com ele.—É que cada vez está mais difícil te ver! —resmungou seu pai tentando fingir irritação quando na verdade o que sentia era saudade—. Você nunca quer vir!—E você vai cada vez menos a Lucerna! —reclamou Mauro.—Bom, isso é porque estou sufocado de trabalho, já que meu primogênito prefere dirigir a empresa do tio em vez de
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 2. Depois de tanto tempo...Mudo. Consternado. Com o coração pendendo por um fio que ameaçava se soltar e deixá-lo cair em pedaços no chão. Era estranho que depois de tanto tempo, depois de uma década tentando esquecê-la (porque o ódio definitivamente era bom demais para ela), que a notícia da morte de Ainara Jáuregui tivesse esse efeito nele.— Com licença...? Como assim... morrendo? — sussurrou com voz sufocada e o diretor do hospital fez um sinal para que se afastassem dali.— A moça sofreu um acidente de carro grave — explicou. — Mal conseguiram tirá-la e nesse momento a levaram para uma cirurgia de emergência, estava com o fígado perfurado e tentaram fazer o melhor possível, retiraram uma parte, mas não perceberam que ela continuava sangrando por dentro... é bastante comum em lesões do fígado porque é um órgão que tem vasos sanguíneos de grande calibre.— Ok, mas quando... quando foi isso?— Há três dias. Só hoje perceberam a hemorragia e o Senador a tr
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 3. Condições"Quer sobreviver?"Era uma pergunta cruel, e embora Ainara estivesse muito consciente da frieza e do desprezo no tom de Mauro, ainda assim a resposta era "Sim".— Você... — repetiu enquanto seus olhos se perdiam no teto do quarto. — E o que o senhor Keller poderia querer de uma mulher à beira da morte?Não se viam há dez anos, mas ela tinha acompanhado toda sua trajetória. Talvez por despeito, talvez porque ainda não conseguia entender como aquele que parecia ser o garoto ideal, gentil e doce, tinha quebrado cada promessa que tinha feito a ela, envolvendo-se com outra mulher. Mas infelizmente o histórico de Mauro só confirmava que continuava sendo um cara difícil que ocasionalmente era visto rodeado de mulheres, mas sem se comprometer com nenhuma, incluindo sua querida Charmaine.— O que eu quero é simples — murmurou Mauro. — Quero você. Preciso de uma companheira em tempo integral, e não é que eu não possa pagar... porque não acho que você aind
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 4. Um estranho pesadeloEntre o olhar decidido de Mauro Keller e o atordoado do Senador Russo, era evidente quem levava a melhor, e por mais que Loan tentasse levar aquilo a um ponto razoável, era claro que seu filho não cederia e que o senador estava realmente interessado em que Ainara sobrevivesse.— Por que você está fazendo isso? — perguntou e antes que Mauro respondesse com um cortante "Não é problema seu", Loan abriu seus olhos o suficiente para que se controlasse ao menos um pouco.— Eu a conheço há muitos anos. Ela é uma mulher inteligente, sabe o que é melhor para ela. Então pode ficar tranquilo que ela estará bem — sentenciou.Ninguém se atreveu a dizer mais nada, e a única coisa que viram foi um gesto de assentimento do senador enquanto saía dali.— Quer que ele nos faça a vida impossível? — escandalizou-se Loan assim que ficaram sozinhos. — O que você está fazendo, Mauro?! Vai mesmo doar metade do seu fígado?! Assim, do nada?! Quer que sua mãe me
PROMESSA VERMELHA.Capítulo 5. Uma profissionalAinara estava atordoada. Talvez fosse um sonho bonito provocado pela anestesia. Talvez aquela forma como Mauro segurava sua mão fosse apenas um desses universos alternativos em que ele não tinha se revelado o completo idiota que a tinha traído e a chamado de "profissional" sem nem ao menos dar espaço para uma explicação.Porque infelizmente, se algo estava gravado a fogo em sua cabeça mesmo depois de dez anos, era aquela imagem de Charmaine nua sobre sua cama.— Você não está morto — disse num sussurro e Mauro se inclinou em sua direção com preocupação, porque parecia que estava delirando. — Você não está morto, eu seria seu maldito paraíso e você não tem direito a isso.E nesse mesmo instante toda a ilusão romântica se quebrou. O sorriso de Mauro voltou a ser sarcástico e perigoso, e Ainara respirou tão profundamente quanto podia, sabendo que estava dando o passo para sua nova realidade como escrava daquele homem.— Fico feliz em saber q
PROMESSA VERMELHACapítulo 6. Uma mulher difícilEle a conheceu na rua, em uma daquelas ruas de Zurique onde os jovens ricos iam correr com seus carros caros, porque o trânsito era mínimo e os policiais que patrulhavam nas áreas mais problemáticas da cidade eram facilmente subornáveis.Mauro a tinha visto desconfortável, nervosa e até ríspida. Não deixava que os rapazes da sua idade se aproximassem, e embora fosse realmente muito bonita, tinha um jeito áspero e desafiador que demonstrava muita desconfiança ou pouca instrução.Depois ele descobriu, quando a seguiu até um prédio não muito longe dali. Ainara Jáuregui era descendente de imigrantes, pelo menos por parte de mãe. Não tinha conhecido seu pai e frequentava uma escola pública onde quase precisavam revistar os alunos para garantir que não levassem armas.Arredia, desconfiada, sempre pronta para brigar. Mas mesmo assim tinha o coração mais terno do mundo, e isso fez com que Mauro se apaixonasse perdidamente por ela. Seis meses e t
PROMESSA VERMELHACapítulo 7. O mesmo cenárioMauro cerrou os dentes com raiva enquanto olhava nos olhos profundos e escuros daquela mulher. Vinte e seis anos, os olhos de uma general e o temperamento de uma mercenária. Sempre tinha sido uma garota durona, mas parecia que na última década tinha se tornado menos emocional, mais fria, como se nada pudesse tirá-la do equilíbrio.—Você também exigia exames do Senador Rosso?— perguntou com escárnio porque estava certo de que aquela relação que tinha começado quando ela era apenas uma menina, tinha continuado por anos.—Não, dele eu não precisava exigir,— sentenciou Ainara se soltando das mãos dele e sorrindo com sarcasmo. —Mas você já sabe minhas condições. Agora, mestre, posso ir descansar ou precisa de mais alguma coisa?O novo magnata da medicina esportiva emitiu um grunhido baixo e cheio de raiva e se dirigiu à porta, mas antes que alcançasse a maçaneta, a voz suave da mulher atrás dele o deteve.—Mauro!— chamou ela da enorme janela de
JANEIROSEATTLE— Como você foi capaz de fazer isso?! — O rugido furioso de Zack Keller deteve sua namorada na porta de casa assim que a viu chegar.Giselle viu um papel em sua mão e nem sabia do que ele estava falando, mas nunca o tinha visto tão alterado como naquele momento.— Não sei do que você está falando...— Claro que sabe! Você abortou meu filho! Você o perdeu de propósito! — ele a acusou com raiva. — Você ao menos tinha a maldita intenção de me contar alguma coisa?!A mulher à sua frente ficou pálida.— Como... como você sabe...?Zack jogou aquele papel na direção dela e a olhou com decepção.— Você esquece que está no plano de saúde da minha empresa? — ele cuspiu, aproximando-se dela. — Assim que seu sobrenome apareceu nos registros de pagamento, me avisaram. Imagine minha alegria quando soube que o seguro tinha pago por um teste de gravidez e depois por uma ultrassonografia!Giselle se afastou dele com o rosto vermelho de vergonha, mas Zack não era do tipo que da