—É uma completa loucura, chefe! Nem pense nisso! —exclamava Billy enquanto o via se preparar.John respirou profundamente e olhou para o teto enquanto ajustava os arneses.—Pois é isso ou vou escrever na parede da frente: "LEIA MINHAS CARTAS, PELO AMOR DE DEUS!" —replicou John—. além disso é só uma prisão de segurança mínima, já entramos em lugares piores.—Eu sei —murmurou Billy, que o tinha assistido em missões muito mais perigosas—. Mas... bem... por que não dá mais tempo a ela? É evidente que sua mulher está magoada e não é à toa! Talvez só precise ficar sozinha um tempo!John negou com insistência.—Não posso dar tempo, rapaz. Meu filho está a caminho, e se não resolver isso o quanto antes ele nascerá com outro pai ou pior, sem nenhum, e eu vou merecer por não insistir.E como era óbvio que não conseguiriam convencê-lo, seus amigos e subordinados se dedicaram a apoiá-lo da melhor maneira possível.Por volta da meia-noite todos estavam atentos às câmeras. Graças à infiltração de Sp
Chiara assentiu enquanto se despedia e foi se deitar enrolada no cobertor. Não dormiu nem melhor nem pior do que qualquer outra noite, porque entre a gravidez e os pesadelos não descansava muito, mas no dia seguinte aquilo não saía de sua cabeça.—Chiara? Chiara! —Viktor a repreendeu vendo que ela estava nas nuvens—. Você está bem, Trancinha? Parece distraída.Ela respirou fundo e depois assentiu.—Sim, é só que... Olha, isso vai parecer uma loucura, mas você poderia verificar as câmeras da prisão? Quer dizer... se certificar de que ninguém entrou no meu quarto quando eu não estava ou... quando eu durmo?O rosto de Viktor ficou sombrio.—Sim, claro, mas aconteceu alguma coisa? Você viu alguém? —ele a interrogou.—Não, não é isso, é só um pressentimento... mas não me dê ouvidos, estou com os hormônios à flor da pele e me sinto mal, deve ser isso —murmurou ela.—Sim, eu levo a sério o que você diz —replicou ele—. Vamos fazer assim, enquanto você vai à sua consulta com a médica, eu vou ve
Chiara olhou repetidas vezes para aquela carta. Não tinha se atrevido a abri-la, mas também não queria jogá-la fora. Não sabia por quê, porque não reconhecia totalmente a letra como sendo de John, mas algo lhe dizia que aquela passagem tinha chegado ao livro escrita por sua mão.Muitas coisas a mantinham inquieta naqueles dias, mas estava suficientemente alerta para saber que John não havia enviado nenhuma outra carta.Três dias depois, finalmente abriu aquele livro e retirou o envelope. Apesar de toda sua alma tremer, sua mão foi firme quando o rasgou, e do outro lado daquelas câmeras John prendeu a respiração.Chiara fechou os olhos por um instante e criou coragem para ler o conteúdo. Só então percebeu que de fato a caligrafia do livro era muito parecida. Sentou-se naquele sofá porque tinha medo de cair e leu:"Chiara."Nem sequer tenho direito de te escrever "amor", "querida", "minha amada", embora sinta todas essas coisas profundamente. Você tinha razão, você tem razão, eu te decep
Billy teve que falar com ela pelo interfone e lembrá-la que não devia se arriscar tanto ou não poderia voltar. No entanto, no dia seguinte, quando Chiara abriu os olhos e sentou na cama, aquele cheiro de John ainda estava lá.Talvez fossem os hormônios da gravidez. Talvez fosse só sua imaginação, mas Chiara jurava que o cheiro dele estava naquele quarto. O dia passou tão devagar quanto todos os anteriores, mas pelo menos teve uma grata surpresa quando Viktor apareceu e atrás dele surgiu Noémi.As gêmeas se abraçaram e o diretor deu espaço para que conversassem.—Eles te tratam bem aqui? —perguntou Noémi enquanto sentava e tomava um café.—Sim, Viktor cuida de mim como se o bebê fosse eu —murmurou Chiara com um suspiro—. Pensei que sentiria falta de ver pessoas, falar com outras pessoas, trabalhar... mas não é assim, Noe.—Não sente minha falta? —sua gêmea fez biquinho.—Claro que sim, e dos meus irmãos e dos meus sobrinhos... e da mamãe e do papai. —Por um segundo seus olhos se enchera
Chiara deu um sobressalto, surpresa, e do outro lado das câmeras John se levantou da cadeira num impulso, respirando como se estivesse engolindo a língua.—Sa... sair...? —murmurou ela tentando buscar uma saída—. Para onde?—Dar uma volta —respondeu Viktor e John soltou o ar—. Tem jardins lindos aqui, e até temos uma horta. Não conte pra ninguém, mas temos morangos.Chiara sorriu e aceitou o convite para dar um passeio. Tirava um peso das costas, porque naquele momento qualquer proposta romântica a teria feito desmaiar e não precisamente de emoção.Saíram da edificação principal seguidos por um dos guardas e tomaram o caminho de um dos jardins laterais. Conforme avançavam, Chiara ia se relaxando mais e mais. O frio agradável do ambiente, o aroma de ervas e flores, a brisa suave em seu rosto... Começou a se sentir bem e lembrou por que gostava tanto de passear ao ar livre quando era pequena. Viktor não dizia nada, mas ela sabia que estava aproveitando o momento tanto quanto ela.De repe
John sentia que o coração ia sair do peito. Aquele simples gesto, aquele simples movimento significavam tudo para ele. Correu até a mesa e pegou seu próprio tablet e seu jogo de xadrez, organizou-o às pressas e colocou aquele movimento no tabuleiro. Nem precisou pensar muito antes de responder."e6. Sua vez", escreveu e quase tremeram suas mãos enquanto esperava uma resposta.Olhou a tela e do outro lado das câmeras Chiara comia e pensava."Cf3", decidiu ela quase dez minutos depois e durante um longo tempo trocaram aquelas jogadas.John franziu a testa porque nem sequer era capaz de ver o que ela tentava."f5. Você está brincando comigo?", perguntou sem poder se conter."Achei que esse era o propósito do tabuleiro", digitou Chiara. "Cc3""Sabe que não me refiro a isso, você está jogando sem rumo, você não é assim. Cf6"Chiara leu aquela mensagem por um momento e se levantou. Caminhou ao redor do quarto e respirou fundo, bebeu um copo d'água e apertou os lábios antes de sentar-se novam
Ela só queria uma coisa e John sabia: salvar sua família.Antes tinha pensado que não devia se meter nisso, que fazia isso por seu nome e que o dinheiro era mais importante que sua liberdade. Mas bastou ver Chiara naquela jaula para entender que não, o dinheiro não era só dinheiro, e o Asterion Bank não era só um banco, era todo o legado de sua família e ele tinha destruído gerações de trabalho com um único USB.Não dormiu essa noite. Não quando sabia que tinha uma única chance com ela, a última, e que precisava conseguir outra a qualquer custo.Esperou, esperou impaciente até que no dia seguinte, depois das náuseas matinais e da rejeição a tudo que era comestível, Chiara se sentasse diante daquele tabuleiro.No entanto, primeiro recebeu uma visita.Chiara abraçou sua irmã e recebeu os presentes que toda a família enviava com ela.—Lamento não ter podido vir ontem, foi uma completa loucura, nem estava no país —disse Noémi.—Passou nosso aniversário trabalhando? —perguntou Chiara.Noémi
John andava pelo pátio daquela mansão, seus passos ecoavam nas galerias de pedra e estava exausto. Tinha passado os últimos dois dias sendo entrevistado, espancado e ameaçado por gente leal ao homem que queria ver, mas estava decidido a que o colocassem frente a Franco Garibaldi, o Conte da 'Ndrangheta italiana.Agora estava sozinho, sozinho com seus pensamentos e sua culpa. Pensou em Chiara, e nas promessas que tinha feito e que não tinha cumprido; mas agora faria qualquer coisa para ajudá-la e consertar o que tinha feito.Não estava esperando há muito tempo quando uma figura alta e robusta entrou por um dos ângulos do pátio. Bastou vê-lo por um instante para reconhecê-lo: era Archer, sem nome; o braço direito e Executor pessoal de Franco Garibaldi. Cumprimentou John com a cabeça e ficou olhando para a linha de sangue seco que manchava um dos cantos de sua boca.—Recepção difícil? —perguntou com voz rouca e John fez uma careta.—Ninguém pode pedir tão descaradamente para ver o senhor