John andava pelo pátio daquela mansão, seus passos ecoavam nas galerias de pedra e estava exausto. Tinha passado os últimos dois dias sendo entrevistado, espancado e ameaçado por gente leal ao homem que queria ver, mas estava decidido a que o colocassem frente a Franco Garibaldi, o Conte da 'Ndrangheta italiana.Agora estava sozinho, sozinho com seus pensamentos e sua culpa. Pensou em Chiara, e nas promessas que tinha feito e que não tinha cumprido; mas agora faria qualquer coisa para ajudá-la e consertar o que tinha feito.Não estava esperando há muito tempo quando uma figura alta e robusta entrou por um dos ângulos do pátio. Bastou vê-lo por um instante para reconhecê-lo: era Archer, sem nome; o braço direito e Executor pessoal de Franco Garibaldi. Cumprimentou John com a cabeça e ficou olhando para a linha de sangue seco que manchava um dos cantos de sua boca.—Recepção difícil? —perguntou com voz rouca e John fez uma careta.—Ninguém pode pedir tão descaradamente para ver o senhor
Estava numa boa fase. Jhon podia sentir isso em cada um dos seus dois ossos quebrados. Não só porque tinha conseguido um acordo com a Mamma e o Conte, mas porque sabiam que não falhariam com a palavra empenhada, então pelo menos da parte deles os clientes voltariam ao Asterion Bank.Agora restava outra batalha, uma muito mais forte porque era contra pessoas que estavam acostumadas a serem intocáveis."Malcolm Sabater, nada mais nada menos que o Chefe de Gabinete da Casa Branca".O braço direito do presidente e aquele que conhecia absolutamente todos os outros quarenta e seis dignitários do governo que guardavam seu dinheiro corrupto no Asterion.—Está tudo pronto? —perguntou a Billy assim que pousou na Suíça, e este lhe entregou o arquivo de Malcolm Sabater.—Agora só falta o mais difícil, e isso depende da boa vontade da sua mulher —advertiu Billy, que não parecia ter muita confiança nesse fato em particular.No entanto, Jhon parecia mais que decidido.—Entregue o pacote ao Speedy, el
Jhon era bom em muitas coisas, e ameaçar com precisão e convencimento era uma delas. Talvez por isso no dia seguinte Noemi ficou surpresa quando a avisaram que Malcolm Sabater tinha voltado e queria vê-la.—Desculpe, como disse? —quis confirmar porque achou que seus ouvidos a enganavam—. Disse "reabrir sua conta"?O Chefe de Gabinete da Casa Branca assentiu sem dar muitas mais explicações e em questão de algumas horas tudo estava pronto de novo.A semana seguinte foi igualmente estranha, tanto, que quando foi visitar Chiara seis dias depois, nem sabia por onde começar a contar.—São más notícias? —perguntou Chiara ao ver a expressão de sua irmã.—Não... não acho... não sei! —exclamou Noemi sentando-se junto a ela no sofá—. Ara, a Mamma esteve no banco.Chiara sentiu que ficava muda e seu coração se acelerava tanto que lhe pulsava nos ouvidos.—Ela te fez algo? Está bem?—Não... Sim...! Quer dizer, eu estou bem! Na verdade ela foi muito amável, veio abrir de novo sua conta, e trouxe vár
Chiara desligou e colocou o telefone ao seu lado enquanto mantinha o olhar fixo no chão do quarto. Depois se encolheu sobre a cama e fechou os olhos, tentando processar tudo o que estava acontecendo e sobretudo o que acabava de ouvir.Depois de três horas Jhon se assustou um pouco, mas finalmente a viu levantar-se para jantar algo. Deu as voltas usuais pelo quarto e depois se deteve em frente à caixa onde tinha guardado o jogo de xadrez e os restos do tablet com que se comunicavam.—Não devíamos ter quebrado isso, não é bebê? —disse ela acariciando sua barriguinha—. Às vezes temos vontade de falar com alguém, mesmo que esse alguém seja seu pai e nos tire do sério.Jhon sentiu que seu coração sairia do peito ao escutar aquelas palavras, e em questão de segundos já estava pedindo a Billy que preparasse outro tablet para ele. Estava certo de que para Speedy não seria mais difícil que da vez anterior infiltrá-lo na prisão, e sorriu emocionado quando no dia seguinte o rapaz bateu na porta d
Ele podia balbuciar, tremer, gaguejar, correr... qualquer reação teria sido válida naquele momento, mas Jhon apenas ficou ali, estático, olhando nos olhos dela enquanto os seus se umedeciam sem que pudesse evitar.O pijama que Chiara usava não era largo, então ele podia notar a pequena curva de sua barriguinha, ainda incipiente.—Você está me vigiando? —sibilou ela, embora a pergunta fosse puro protocolo. Claro que estava vigiando!—. Eu fiz uma pergunta, Jhon! Ou você quer que eu comece a gritar no meio da noite pra ver se consegue escapar de todos os guardas que vão vir?Ele negou enquanto tentava se aproximar, mas o primeiro instinto de Chiara foi recuar.—Como...? Como você percebeu? —perguntou.—"Clientes especiais" —respondeu ela com voz gélida—. Minha irmã disse essas palavras e menos de dez minutos depois você repetiu exatamente as mesmas para se referir às mesmas pessoas.Jhon fechou os olhos com uma careta. Parecia que estava perdendo suas faculdades ultimamente porque anterio
Queria odiá-lo, isso era muito mais fácil porque precisava de alguém para culpar por tudo o que estava acontecendo, mas a verdade era que odiar Jhon Hopkins não era tão simples.Não foi capaz de dormir o resto daquela noite, mas no dia seguinte, assim que amanheceu, parou diante daquela estante e começou a tirar um exemplar após outro e a ler. Em todos havia passagens como a primeira que tinha lido. Palavras cheias de arrependimento que doíam porque Chiara sabia que eram verdadeiras.Se Jhon estava ali vigiando-a, isso significava que já não podia estar na agência trabalhando, e entendia que a única razão para um homem como ele ter deixado para trás o trabalho de sua vida eram ela e seu filho. Ele já não se importava com mais nada e estava demonstrando isso.Fechou os olhos por um momento e lembrou dos hematomas em seu rosto e seu lábio partido. Tinha que ter estado desesperado para ir se meter na boca da 'Ndrangheta, e realmente lhe custava acreditar que tinha conseguido convencer o C
Se não fosse porque o equipamento pesava demais, e porque não podia fazer barulho, Jhon teria se feito lançar com um canhão por cima do muro exterior. Mas em vez disso Billy voltou a se encarregar das câmeras e ele escalou o mais silenciosamente que pôde.Vinte minutos depois, em meio à mais perfeita escuridão, Jhon atravessava a janela do terraço e entrava no quarto.Chiara estava sentada no sofá, com as pernas cruzadas sob o corpo e atitude expectante. As luzes estavam apagadas, só uma pequena luminária próxima permitia que se vissem, e Jhon se aproximou devagar, como se temesse assustá-la.—Oi —sussurrou muito baixo enquanto se sentava em frente a ela e lhe estendia um pacote que a fez sorrir.—Chocochips —murmurou Chiara e ele assentiu.—Tenho uns cinquenta pacotes em casa desde que você disse que era um dos seus desejos —replicou Jhon—. Se não for verdade me diga e deixarei que os rapazes os roubem, não é como se já não tivessem tentado.Chiara acariciou o pacote de biscoitos que
—E você não vai ter que se preocupar porque papai vai matar todos os homens maus do mundo, e os monstros, e os fantasmas, e os namorados...—Ou seja, genocídio.—Me deixa, ela é minha, ninguém vai levá-la, vai ser freira —replicou Jhon fechando as mãos sobre seus quadris e apoiando sua testa sobre o abdômen de Chiara com um gesto que a fez estremecer.Durante um breve segundo Jhon a acariciou, e seus lábios roçaram sua pele até que sentiu a tensão em cada músculo de Chiara.—Papai vai cuidar sempre de você, bebê, de você e da mamãe, tá bom? —sussurrou enquanto levantava o olhar para encontrar o da mulher diante dele—. Me desculpa, me desculpa, meu amor, me desculpa de verdade!Abraçou sua cintura com angústia e Chiara não pôde fazer outra coisa senão envolver os braços ao redor dele. Sentiu suas lágrimas silenciosas molhando seu pijama e depois esse gesto suave e tentativo, inseguro, que terminou em um arroubo de coragem.—Me desculpa... —murmurou Jhon tomando seus lábios desesperadame