Billy teve que falar com ela pelo interfone e lembrá-la que não devia se arriscar tanto ou não poderia voltar. No entanto, no dia seguinte, quando Chiara abriu os olhos e sentou na cama, aquele cheiro de John ainda estava lá.Talvez fossem os hormônios da gravidez. Talvez fosse só sua imaginação, mas Chiara jurava que o cheiro dele estava naquele quarto. O dia passou tão devagar quanto todos os anteriores, mas pelo menos teve uma grata surpresa quando Viktor apareceu e atrás dele surgiu Noémi.As gêmeas se abraçaram e o diretor deu espaço para que conversassem.—Eles te tratam bem aqui? —perguntou Noémi enquanto sentava e tomava um café.—Sim, Viktor cuida de mim como se o bebê fosse eu —murmurou Chiara com um suspiro—. Pensei que sentiria falta de ver pessoas, falar com outras pessoas, trabalhar... mas não é assim, Noe.—Não sente minha falta? —sua gêmea fez biquinho.—Claro que sim, e dos meus irmãos e dos meus sobrinhos... e da mamãe e do papai. —Por um segundo seus olhos se enchera
Chiara deu um sobressalto, surpresa, e do outro lado das câmeras John se levantou da cadeira num impulso, respirando como se estivesse engolindo a língua.—Sa... sair...? —murmurou ela tentando buscar uma saída—. Para onde?—Dar uma volta —respondeu Viktor e John soltou o ar—. Tem jardins lindos aqui, e até temos uma horta. Não conte pra ninguém, mas temos morangos.Chiara sorriu e aceitou o convite para dar um passeio. Tirava um peso das costas, porque naquele momento qualquer proposta romântica a teria feito desmaiar e não precisamente de emoção.Saíram da edificação principal seguidos por um dos guardas e tomaram o caminho de um dos jardins laterais. Conforme avançavam, Chiara ia se relaxando mais e mais. O frio agradável do ambiente, o aroma de ervas e flores, a brisa suave em seu rosto... Começou a se sentir bem e lembrou por que gostava tanto de passear ao ar livre quando era pequena. Viktor não dizia nada, mas ela sabia que estava aproveitando o momento tanto quanto ela.De repe
John sentia que o coração ia sair do peito. Aquele simples gesto, aquele simples movimento significavam tudo para ele. Correu até a mesa e pegou seu próprio tablet e seu jogo de xadrez, organizou-o às pressas e colocou aquele movimento no tabuleiro. Nem precisou pensar muito antes de responder."e6. Sua vez", escreveu e quase tremeram suas mãos enquanto esperava uma resposta.Olhou a tela e do outro lado das câmeras Chiara comia e pensava."Cf3", decidiu ela quase dez minutos depois e durante um longo tempo trocaram aquelas jogadas.John franziu a testa porque nem sequer era capaz de ver o que ela tentava."f5. Você está brincando comigo?", perguntou sem poder se conter."Achei que esse era o propósito do tabuleiro", digitou Chiara. "Cc3""Sabe que não me refiro a isso, você está jogando sem rumo, você não é assim. Cf6"Chiara leu aquela mensagem por um momento e se levantou. Caminhou ao redor do quarto e respirou fundo, bebeu um copo d'água e apertou os lábios antes de sentar-se novam
Ela só queria uma coisa e John sabia: salvar sua família.Antes tinha pensado que não devia se meter nisso, que fazia isso por seu nome e que o dinheiro era mais importante que sua liberdade. Mas bastou ver Chiara naquela jaula para entender que não, o dinheiro não era só dinheiro, e o Asterion Bank não era só um banco, era todo o legado de sua família e ele tinha destruído gerações de trabalho com um único USB.Não dormiu essa noite. Não quando sabia que tinha uma única chance com ela, a última, e que precisava conseguir outra a qualquer custo.Esperou, esperou impaciente até que no dia seguinte, depois das náuseas matinais e da rejeição a tudo que era comestível, Chiara se sentasse diante daquele tabuleiro.No entanto, primeiro recebeu uma visita.Chiara abraçou sua irmã e recebeu os presentes que toda a família enviava com ela.—Lamento não ter podido vir ontem, foi uma completa loucura, nem estava no país —disse Noémi.—Passou nosso aniversário trabalhando? —perguntou Chiara.Noémi
John andava pelo pátio daquela mansão, seus passos ecoavam nas galerias de pedra e estava exausto. Tinha passado os últimos dois dias sendo entrevistado, espancado e ameaçado por gente leal ao homem que queria ver, mas estava decidido a que o colocassem frente a Franco Garibaldi, o Conte da 'Ndrangheta italiana.Agora estava sozinho, sozinho com seus pensamentos e sua culpa. Pensou em Chiara, e nas promessas que tinha feito e que não tinha cumprido; mas agora faria qualquer coisa para ajudá-la e consertar o que tinha feito.Não estava esperando há muito tempo quando uma figura alta e robusta entrou por um dos ângulos do pátio. Bastou vê-lo por um instante para reconhecê-lo: era Archer, sem nome; o braço direito e Executor pessoal de Franco Garibaldi. Cumprimentou John com a cabeça e ficou olhando para a linha de sangue seco que manchava um dos cantos de sua boca.—Recepção difícil? —perguntou com voz rouca e John fez uma careta.—Ninguém pode pedir tão descaradamente para ver o senhor
Estava numa boa fase. Jhon podia sentir isso em cada um dos seus dois ossos quebrados. Não só porque tinha conseguido um acordo com a Mamma e o Conte, mas porque sabiam que não falhariam com a palavra empenhada, então pelo menos da parte deles os clientes voltariam ao Asterion Bank.Agora restava outra batalha, uma muito mais forte porque era contra pessoas que estavam acostumadas a serem intocáveis."Malcolm Sabater, nada mais nada menos que o Chefe de Gabinete da Casa Branca".O braço direito do presidente e aquele que conhecia absolutamente todos os outros quarenta e seis dignitários do governo que guardavam seu dinheiro corrupto no Asterion.—Está tudo pronto? —perguntou a Billy assim que pousou na Suíça, e este lhe entregou o arquivo de Malcolm Sabater.—Agora só falta o mais difícil, e isso depende da boa vontade da sua mulher —advertiu Billy, que não parecia ter muita confiança nesse fato em particular.No entanto, Jhon parecia mais que decidido.—Entregue o pacote ao Speedy, el
Jhon era bom em muitas coisas, e ameaçar com precisão e convencimento era uma delas. Talvez por isso no dia seguinte Noemi ficou surpresa quando a avisaram que Malcolm Sabater tinha voltado e queria vê-la.—Desculpe, como disse? —quis confirmar porque achou que seus ouvidos a enganavam—. Disse "reabrir sua conta"?O Chefe de Gabinete da Casa Branca assentiu sem dar muitas mais explicações e em questão de algumas horas tudo estava pronto de novo.A semana seguinte foi igualmente estranha, tanto, que quando foi visitar Chiara seis dias depois, nem sabia por onde começar a contar.—São más notícias? —perguntou Chiara ao ver a expressão de sua irmã.—Não... não acho... não sei! —exclamou Noemi sentando-se junto a ela no sofá—. Ara, a Mamma esteve no banco.Chiara sentiu que ficava muda e seu coração se acelerava tanto que lhe pulsava nos ouvidos.—Ela te fez algo? Está bem?—Não... Sim...! Quer dizer, eu estou bem! Na verdade ela foi muito amável, veio abrir de novo sua conta, e trouxe vár
Chiara desligou e colocou o telefone ao seu lado enquanto mantinha o olhar fixo no chão do quarto. Depois se encolheu sobre a cama e fechou os olhos, tentando processar tudo o que estava acontecendo e sobretudo o que acabava de ouvir.Depois de três horas Jhon se assustou um pouco, mas finalmente a viu levantar-se para jantar algo. Deu as voltas usuais pelo quarto e depois se deteve em frente à caixa onde tinha guardado o jogo de xadrez e os restos do tablet com que se comunicavam.—Não devíamos ter quebrado isso, não é bebê? —disse ela acariciando sua barriguinha—. Às vezes temos vontade de falar com alguém, mesmo que esse alguém seja seu pai e nos tire do sério.Jhon sentiu que seu coração sairia do peito ao escutar aquelas palavras, e em questão de segundos já estava pedindo a Billy que preparasse outro tablet para ele. Estava certo de que para Speedy não seria mais difícil que da vez anterior infiltrá-lo na prisão, e sorriu emocionado quando no dia seguinte o rapaz bateu na porta d