Jhon caminhou devagar até a caixa de correio da rua 46 em North Point. Era uma rua decadente rodeada de lojas baratas e cafeterias com cheiro de barata. Era uma zona horrível nos arredores da cidade, mas bastante movimentada para que passasse despercebido quem assim o desejasse.A caixa de correio era amarela, decrépita e até parecia que tinha sido atingida por um carro em um dos lados. Grande e feia como qualquer outra caixa de correio em Zurique. Ele colocou o envelope cor de mostarda que levava na mão e se afastou, virou na esquina seguinte e ficou vigiando. O resto de sua equipe de cinco homens também o fazia, Jhon não tinha deixado que fosse mais ninguém.Estavam esperando que alguém se aproximasse da caixa de correio, mas definitivamente não esperavam que alguém saísse dela. O menino devia ter por volta de dez anos, chutou a porta de dentro e saiu correndo com o envelope na mão.—Você o tem? —perguntou Jhon em seu fone de ouvido."Eu o tenho, chefe", respondeu o atirador de e
—Sabe por que não temos uma mesa aqui? —perguntou Jhon chutando a cadeira para chamar sua atenção—. Porque não queremos que você fique confortável, que se recline, que acredite nem por um instante que isso será um interrogatório amigável.Ailsa sacudiu as mãos algemadas à cadeira e o olhou com os olhos bem abertos.—Não direi nada até que você me tire daqui... Não direi nada de nada! —gritou para ele, compreendendo que apelar para a constituição, a lei e os direitos humanos não faria sentido ali.—Bem, vou te dar meia hora para gritar —sorriu Jhon—. Depois vou voltar e você não vai gostar do que vai acontecer, Ailsa, só estou te avisando.Enquanto isso, na delegacia principal da cidade, o homem de Loan entrou na sala e fez um gesto para Loan.—A van branca que está no estacionamento, em cinco minutos —disse-lhe.—Vocês têm Ailsa? Sabem algo de Danna? —O homem respondeu com um olhar de acusação e ele assentiu—. A van branca em cinco minutos —repetiu e tentou se armar de paciência.
Loan entrou naquele quarto e olhou para todos os lados menos para Ailsa. Era um lugar horrível para morrer, mas Jhon tinha se enganado ao pensar que ele não tinha estômago para aquilo.Chegou junto à mulher e lhe dirigiu um olhar ameaçador.—Diga-me onde está Danna —exigiu.Ailsa não se moveu sequer. Embora estivesse algemada à cadeira, parecia indiferente, até entediada, como se nada daquilo importasse.—Por que eu deveria te contar? —perguntou com escárnio—. Agora sim você vai me pagar?—Não, nem um centavo a mais, mas a menos que você me diga exatamente as palavras que quero ouvir —disse Loan com suavidade, agachando-se na frente dela—, estou certo de que você nem sequer conseguirá desfrutar do que já levou. —A mulher sorriu e ele também—. Você acha que eu não tenho poder para te machucar? —perguntou.—Não tenho que achar, sei que você não tem —riu Ailsa com sarcasmo—. Se você quer encontrar Danna, tem que me soltar, caso contrário não saberá nada dela. Porque te asseguro que você n
—Você não pode me devolver nada porque Emil agora é dela! Aquela vadia ficou com ele e não vai me devolvê-lo! Não vou te dizer onde ela está! Jamais! —cuspiu com os olhos esbugalhados e Loan se levantou.—Então será do jeito difícil.Vinte minutos, centenas de gritos e seis tiros depois, Loan saía daquele quarto.—Ela diz que está em Dachsen, perto da fronteira com a Alemanha —sentenciou Loan, devolvendo a pistola ao agente de Jhon—. Atrás do campo de golfe, na vila velha abandonada.As ordens já estavam dadas e as vans prontas, mas Jhon empurrou a porta para olhar dentro e reparou na mulher. Ela tinha oito buracos de bala, todos nas extremidades, nas articulações. Sangrava, mas não tinha atingido nenhuma artéria importante a ponto de fazê-la sangrar até a morte.—Mantenha-a viva até nos certificarmos de que o endereço está correto —disse Jhon e seu agente foi buscar um kit de primeiros socorros.Estavam prontos para ir quando a ouviram gritar.—Você não deveria ir, Loan! —havia uma mi
Dois dias antes.Danna despertou para sua nova realidade. Uma liga em seu braço apertava demais enquanto ela sentia as pancadas no interior do cotovelo.O ar carregado estava cheio de uma sensação de desespero. Ela abriu os olhos e viu Emil ao seu lado, começando a injetar aquele líquido viscoso na veia. Era a terceira vez que ele lhe injetava algo e Danna sentia que era demais.—Por favor, não faça isso —A voz de Danna brotou de sua garganta, ao mesmo tempo que seus olhos se enchiam de lágrimas, mas ele a ignorou e continuou com sua tarefa.—Tenho que fazer isso, se você não acordar não poderemos treinar, linda —sorriu como se uma injeção de adrenalina para acordá-la fosse a coisa mais normal do mundo.Danna sentiu que seu coração começava a bater com força, acelerando-se a ponto de explodir. Emil tinha terminado de injetar o líquido e continuava olhando para ela enquanto cada um de seus músculos se tensionava.Danna pôde ver aquele desejo doentio no fundo de seu olhar e soube o que e
Passaram-se segundos, depois minutos, até que os braços de Emil começaram a cair lentamente. Danna pôde ouvir sua última respiração, pôde sentir sua última batida, a única coisa que não pôde ver foi a expressão de terror em seus olhos, mas não precisava porque o havia sentido com o resto de seu corpo.Ela não o soltou. Ficou ali, abraçando-o até que a adrenalina começou a deixar seu sistema e seus músculos cederam por completo.Emil caiu no chão, sem vida, e Danna ficou olhando para ele, como se aquilo não tivesse sido feito por ela. Passou uma hora, e duas, e muitas... Danna nem sequer sabia quantas, só que eram suficientes para que outra pessoa empurrasse a porta.—Emil? O que está acontecendo, por que você não desceu...? Aaaaaah!O grito de Ailsa fez com que Danna despertasse daquele letargo e a olhasse. Viu-a correr até o corpo que estava a seus pés e virá-lo, só para recuar horrorizada. Emil tinha os olhos abertos e já estava rígido. Estava morto, muito morto.—Você... Você o mato
Loan esperou ansiosamente na sala de espera do hospital enquanto atendiam Danna. Jhon se encarregou de fazer as ligações para a família e pouco depois todos chegavam ao hospital. O relógio da parede marcava a passagem da hora, cada segundo se arrastava com lúgubre lentidão. Danna não havia despertado em todo o caminho até o hospital e desde esse momento o tempo havia parado para Loan. Entreabriu sua boca buscando oxigênio através do ar congelado. Sentia-se como se estivesse se afogando e nada pudesse devolver-lhe a respiração. Ficou assim por um bom tempo, com os olhos fixos no relógio, temendo o pior dos finais. —Filho, vai ficar tudo bem —disse sua mãe tentando consolá-lo embora soubesse que seria inútil—. Pelo menos ela está viva, todo o resto pode ser resolvido. Loan assentiu, mas se à sua culpa acrescentasse pena, então teria a receita perfeita para o desastre, então deu um abraço em sua mãe e se aproximou de Jhon. —Já sabem de algo? —perguntou e os dois sabiam a quem se refer
Loan conseguiu limpar as lágrimas com um gesto de impotência e então tentou chamar sua atenção.—Danna, querida, sei que você se sente mal —sussurrou com voz embargada—. Sei que você se sente assustada, amor, mas você tem que deixar a médica te examinar... —Danna ficou quieta, sem dizer uma palavra, sem sequer olhar para ele.—Onde está meu filho? —disse por fim.—No meu apartamento, com meu pai. Ele está bem. —Danna continuou sem olhar para ele—. Meu amor, por favor... —Loan tentou tocar sua mão e só isso bastou.O primeiro tapa ressoou no quarto como se ela não tivesse deixado de comer por quatro dias. Loan ficou paralisado, mas aguentou o segundo tapa, o terceiro e todos os que vieram depois sem mover um único músculo enquanto a deixava desabafar.—Saia daqui! —sibilou finalmente ela com a voz rouca—. Não quero te ver, Loan, saia daqui!—Danna, por favor... Só quero que você fique bem —disse ele chorando—. Deus sabe que só quero que você fique bem!—Nem Deus sabe o que você quer, Lo