Dois dias antes.Danna despertou para sua nova realidade. Uma liga em seu braço apertava demais enquanto ela sentia as pancadas no interior do cotovelo.O ar carregado estava cheio de uma sensação de desespero. Ela abriu os olhos e viu Emil ao seu lado, começando a injetar aquele líquido viscoso na veia. Era a terceira vez que ele lhe injetava algo e Danna sentia que era demais.—Por favor, não faça isso —A voz de Danna brotou de sua garganta, ao mesmo tempo que seus olhos se enchiam de lágrimas, mas ele a ignorou e continuou com sua tarefa.—Tenho que fazer isso, se você não acordar não poderemos treinar, linda —sorriu como se uma injeção de adrenalina para acordá-la fosse a coisa mais normal do mundo.Danna sentiu que seu coração começava a bater com força, acelerando-se a ponto de explodir. Emil tinha terminado de injetar o líquido e continuava olhando para ela enquanto cada um de seus músculos se tensionava.Danna pôde ver aquele desejo doentio no fundo de seu olhar e soube o que e
Passaram-se segundos, depois minutos, até que os braços de Emil começaram a cair lentamente. Danna pôde ouvir sua última respiração, pôde sentir sua última batida, a única coisa que não pôde ver foi a expressão de terror em seus olhos, mas não precisava porque o havia sentido com o resto de seu corpo.Ela não o soltou. Ficou ali, abraçando-o até que a adrenalina começou a deixar seu sistema e seus músculos cederam por completo.Emil caiu no chão, sem vida, e Danna ficou olhando para ele, como se aquilo não tivesse sido feito por ela. Passou uma hora, e duas, e muitas... Danna nem sequer sabia quantas, só que eram suficientes para que outra pessoa empurrasse a porta.—Emil? O que está acontecendo, por que você não desceu...? Aaaaaah!O grito de Ailsa fez com que Danna despertasse daquele letargo e a olhasse. Viu-a correr até o corpo que estava a seus pés e virá-lo, só para recuar horrorizada. Emil tinha os olhos abertos e já estava rígido. Estava morto, muito morto.—Você... Você o mato
Loan esperou ansiosamente na sala de espera do hospital enquanto atendiam Danna. Jhon se encarregou de fazer as ligações para a família e pouco depois todos chegavam ao hospital. O relógio da parede marcava a passagem da hora, cada segundo se arrastava com lúgubre lentidão. Danna não havia despertado em todo o caminho até o hospital e desde esse momento o tempo havia parado para Loan. Entreabriu sua boca buscando oxigênio através do ar congelado. Sentia-se como se estivesse se afogando e nada pudesse devolver-lhe a respiração. Ficou assim por um bom tempo, com os olhos fixos no relógio, temendo o pior dos finais. —Filho, vai ficar tudo bem —disse sua mãe tentando consolá-lo embora soubesse que seria inútil—. Pelo menos ela está viva, todo o resto pode ser resolvido. Loan assentiu, mas se à sua culpa acrescentasse pena, então teria a receita perfeita para o desastre, então deu um abraço em sua mãe e se aproximou de Jhon. —Já sabem de algo? —perguntou e os dois sabiam a quem se refer
Loan conseguiu limpar as lágrimas com um gesto de impotência e então tentou chamar sua atenção.—Danna, querida, sei que você se sente mal —sussurrou com voz embargada—. Sei que você se sente assustada, amor, mas você tem que deixar a médica te examinar... —Danna ficou quieta, sem dizer uma palavra, sem sequer olhar para ele.—Onde está meu filho? —disse por fim.—No meu apartamento, com meu pai. Ele está bem. —Danna continuou sem olhar para ele—. Meu amor, por favor... —Loan tentou tocar sua mão e só isso bastou.O primeiro tapa ressoou no quarto como se ela não tivesse deixado de comer por quatro dias. Loan ficou paralisado, mas aguentou o segundo tapa, o terceiro e todos os que vieram depois sem mover um único músculo enquanto a deixava desabafar.—Saia daqui! —sibilou finalmente ela com a voz rouca—. Não quero te ver, Loan, saia daqui!—Danna, por favor... Só quero que você fique bem —disse ele chorando—. Deus sabe que só quero que você fique bem!—Nem Deus sabe o que você quer, Lo
Ele ia devagar, porque já não havia necessidade de se apressar por nada. À medida que avançava pelo corredor em direção à saída do hospital que dava para o estacionamento, Loan pôde ouvir duas vozes conhecidas naquela direção.—Eu sabia que você podia fazer isso —dizia Chiara—. Eu sabia que se alguém podia encontrar a Danna, esse alguém era você —dizia sua irmã abraçando Jhon.—Não foi tudo graças a mim. Loan foi quem conseguiu o endereço. Sendo honesto, seu irmão me impressionou um pouquinho, ele poderia ser um bom interrogador se não fosse tão emocional.Os dois sorriram e pelo silêncio Loan imaginou que estavam se beijando como dois adolescentes. Esperou alguns segundos até que os ouviu falar novamente e então saiu.—Maninho... como está a Danna? —perguntou Chiara se aproximando dele apressada.—Dormindo por enquanto —respondeu ele—. Mamãe está com ela, mas agradeceria se vocês também ficassem de olho.Chiara franziu a testa.—Sim... claro que sim, mas você vai embora?—Só por um te
—Danna está dormindo agora —sentenciou—. Tenho tempo.Ailsa o olhou com tanto ódio que Loan disse a si mesmo que sim, devia ter o instinto muito fodido para ter podido acreditar nas lágrimas de crocodilo de uma mulher que nem com a ameaça de morte era capaz de se arrepender ou pedir perdão.Três horas depois saía daquele quarto e devolvia a chave ao agente de guarda.—Você pode ir descansar —disse-lhe—. Já não há ninguém para cuidar.Loan dirigiu de volta ao hospital e antes que chegasse à família, Jhon se aproximou dele.—Só para você saber, mandei meus homens transferirem o corpo de Emil para o Black Hole, o forno deve ter terminado seu trabalho, Danna não será acusada de nada —disse-lhe.—Bom, se você se sente bondoso mande que o liguem de novo para ver se desta vez não me acusam a mim.Jhon assentiu enquanto falava ao telefone com o agente que havia deixado no Black Hole e terminava de fechar o ciclo daquele desastre.Loan sentou-se na sala de espera e pouco depois conseguia sorrir
Danna ouviu as batidas suaves em sua porta e deu permissão para que entrassem, sorrindo assim que viu Ted e Lissa aparecerem.Toda a família Keller estava por ali. Danna se sentia mais que cuidada, e eles sempre procuravam não mencionar nada do que havia acontecido, mas mesmo assim ela se lembrava a cada segundo.—Que bom que te encontramos acordada —sorriu Lissa abraçando-a—. Você está se sentindo bem?—Sim, já estou melhor —sorriu Danna—. Em alguns dias vão me dar alta e vou viajar com Mauro para Lucerna. Ficarei um tempo na casa dos avós do meu filho.—Leve o tempo que precisar. O importante é que você se recupere. Todo o resto pode esperar —disse-lhe seu companheiro com amabilidade, mas Danna negou.—Não, Ted, já não acredito que voltarei à patinação —murmurou.As duas pessoas na frente dela ficaram paralisadas ao ouvi-la.—Mas... Danna, a reabilitação é demorada, mas podemos esperar. Você tem que ter confiança em si mesma, vai recuperar toda a força das suas pernas —animou-a Ted.
Danna assentiu. Não era que ela não pudesse se manter em pé, ou que não sentisse as pernas, era que a dor nas articulações do quadril e na pélvis não a deixavam ficar muito tempo de pé.A doutora a fez levantar-se e dar alguns passos pelo quarto para avaliá-la, mas finalmente ficou satisfeita.—Danna, também seria bom que você fosse a um terapeuta. Me disseram que você não está dormindo muito —disse-lhe e Danna assentiu.—Se conhecer algum que more em Lucerna, por favor me recomende. Vou estar morando lá —murmurou Danna.—Está bem, verei se tenho algum conhecido para quem possa te encaminhar.As horas passaram muito depressa e a doutora mandou que a sedassem naquela noite para que pudesse descansar. No dia seguinte pela manhã, os avós chegaram com Mauro e Loan tentou se manter por perto, mas não visível enquanto a tiravam do hospital.—Nós a levaremos —disse Chiara a seus pais porque sabia que já tinham toda a viagem preparada—. Vocês podem ir direto para o aeroporto se quiserem.—Está