O estalo do tapa fora alto o para atrair a atenção. Márcia me olhava com assombro, parecia não acreditar que aquilo estava acontecendo. Pude ouvir sussurros atrás de mim, mas não me importei. Dei um passo em sua direção, mas ela recuou. Rafael apenas observava, em silencio, o desenrolar dos acontecimentos. Eu não pude ficar mais grata por isso.Ela então olhou para Rafael. Seus gritos eram estridentes e apavorantes.- Vai deixar essa mulherzinha me tratar assim?Ele deu de ombros e se voltou para mim, ignorando Márcia e todos do saguão A rejeição dele a afetou, pois soltou um gemido dramático. Segurando uma de minhas mãos com carinho, ele a levou aos lábios, depositando um beijo.- Estarei te esperando, querida. Quando terminar as coisas, venha me procurar.Um rubor tomou conta do meu rosto, o que provocou um sorriso satisfatório em seu rosto. Rafael falara alto o suficiente para todos ouvirem e, por algum motivo, parecia satisfeito com isso. Observei incrédula ele se afastar. Rafael
— Está me dizendo que sua filha é uma refém?A voz incrédula de Mauro encheu o lugar e Márcia encolheu-se no canto. Era difícil, até mesmo para mim, acreditar em suas palavras. Dava a impressão que ela diria qualquer coisa para escapar do questionamento. Porém, quando a olhei nos olhos, vi seu desespero, como se o mundo à sua volta tivesse acabado.A dúvida começou a me corroer e dei as costas para ela, passando a mão no cabelo. ‘Merda, porque isso estava sendo tão difícil?’— Esse homem é alguém que o senhor Novaes conhece? — ouvi Mauro arrastar a cadeira e sentar-se com um baque surdo.— Eu não sei… Sua voz estava hesitante e conclui que Márcia estava mentindo. Ela sabia mais do que deixara transparecer e Mauro também não ficou convencido. Se queria proteger alguém, ela o fazia bem. Até demais.Voltei a olhar para ela. Sua postura arrogante estava desfeita e uma mulher frágil ocupara seu lugar. Um misto de emoções tomou conta de mim, mas fiz um esforço para esconder. Eu queria bate
— Você parece cansado.Rafael estava sentado em sua poltrona quando ouviu sua voz. Retirou os olhos do que estava lendo e olhou para Juli. Ela caminhou para perto dele, abraçando-o por trás. Palavras não foram ditas, ambos estavam cientes da ameaça que os rodeava. Pondo a mão sobre a dela, Rafael a apertou gentilmente.— Não muito. — Ele não queria admitir, mas estava exausto. — O que você pensa sobre as palavras de Márcia? Ela pode estar mentindo?Ela suspirou, acariciando seus cabelos. Sabia o que ela estava pensando. Sabia o quanto a conversa com Márcia a havia afetado, mas Juliana guardava para si mesma suas conclusões. Só que dessa vez precisava ser diferente. — Eu não sei. — ela por fim respondeu. — Fico tentada a não acreditar, mas aquele olhar dela… Não era o olhar de alguém que mentiria, principalmente envolvendo a própria filha nesse absurdo.Ele tinha esses mesmos pensamentos. Alguém como Márcia não se renderia se não fosse algo sério. Não justificava suas ações, é claro.
Acordei com um sobressalto. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, minha respiração irregular e as cobertas encharcadas de suor. Olhei em volta, desorientada por um breve momento, o pânico me dominando. Esta não é minha casa. Onde estou? Quem me trouxe aqui? Perguntas que, naquele momento, eu não consegui responder.Levei minhas mãos ao peito e puxei o ar, tentando me acalmar. À medida que ficava mais calma, olhei para a penumbra do quarto, quebrada apenas com o brilho da rua. ’Estou na casa de Rafael,’ pensei com um suspiro. Estou segura, pelo menos por um tempo.Sentei na cama, enxugando as lágrimas do rosto. Fazia anos que não tinha um pesadelo tão vívido como esse, parecia tão real que estremeci ao recordar. Talvez estivesse ligado aos sentimentos conturbados que me atingiram no dia anterior, não sei. Apenas não consegui parar de tremer. A escuridão ainda me assombrava. Se Mimi estivesse comigo agora, a abraçaria tão forte e dormiria com ela. Se algo tivesse acontecido com minha gata
A conversa da madrugada tinha sido um pouco emotiva e reveladora. Vi tantas emoções em Márcia que não achei ser possível. Depois que ela chorou, falamos sobre vários assuntos aleatórios. Não fiquei surpresa pela mulher mudar de assunto tão rápido, mas dada a situação, sua postura era compreensível. Márcia era inteligente, centrada e, por mais que eu odeie admitir, um coração mole. Ficamos conversando por horas, acalmando nossos próprios sentimentos e, às 5h nos despedimos e cada uma foi para o seu quarto. Não pude deixar de notar o sorriso que brotara em seus lábios antes de se afastar. Mas seu semblante sério no momento seguinte e suas palavras me deram o que pensar. — Para se proteger, finja que não sabe de nada. Eu vou continuar te tratando mal, mas lembre-se que não são meus reais sentimentos. Farei isso para te manter segura. *** Eram aproximadamente 12h horas quando abri os olhos. O sol estava bem alto, o calor entrando pela janela, mas não me incomodou tanto, pois o ventila
— O que você quer dizer com me usar como isca? Acordei com um sobressalto. Gritos ecoaram até o quarto e por um leve instante, pensei que havia acontecido algo sério. As vozes cessaram a conversa por um breve momento e recomeçaram em tom mais baixo, o suficiente para que eu não pudesse ouvi-los. Sentei na cama, esfregando meus braços. Não me surpreendi por ser quase sete da noite. Rafael não me deu chance de relaxar depois do sexo intenso. O que se seguiu foram mais três vezes comigo gritando e implorando para ele parar, com um orgasmo mais intenso que o outro. Mas não devia estar pensando em sexo agora, pelo menos não naquele momento. Caminhei para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Precisava ver o que estava acontecendo. *** Quando saí do quarto e caminhei pelo corredor até a sala, não fiquei surpresa ao ver Erick e Vanessa sentados juntamente com os outros. Se eles estavam presentes, significava que algo sério iria acontecer. Seus semblantes tensos evidenciavam isso, e mesmo
Rafael estava furioso. No que diabos Juliana estava pensando? Ela queria matá-lo do coração, só podia. A ideia de ver ela fazer algo tão arriscado como isso o deixou angustiado. E se aquilo desse errado? E se ela acabasse em perigo? O sentimento de impotência o atingiu com força. O que poderia fazer? Implorar para ela não fazer isso? Viajar para longe e deixar os outros resolverem a questão? Trancar Juliana em sua casa? Qualquer opção que escolhesse ela não aceitaria. Ele a conhecia bem demais para saber que a jovem não mudaria de ideia, mesmo se pedisse. Pela primeira vez, não estava no controle da situação e isso o apavorava. A porta do escritório abriu e, ao voltar seu olhar para porta, viu a mulher que amava parada. Considerou expulsá-la de lá até recobrar o juízo, mas a ideia de tê-la longe de seu campo de visão o apavorou. E isso o estava irritando. Juliana fechou a porta atras de si e o encarou em silêncio. Porra! Ela deveria estar nervosa, ou ao menos preocupada. Juliana,
Quando saímos do escritório, fomos recepcionados por olhares preocupados. Não pude deixar de sorrir um pouco com a situação. Rafael apertou minha mão com firmeza, provocando um sorriso em meus lábios. Ele estava preocupado, não queria que eu me machucasse. Ele me obrigou a aceitar suas condições e embora fossem meio exageradas, eu as aceitei, compreendendo que ele ficaria mais calmo. Embora verdade seja dita, dificilmente esse homem ficaria quieto durante o plano elaborado por eles. — Está tudo bem? Olhei para Márcia, que nos observava com desconforto. Eu não podia culpá-la por isso e a hostilidade que Rafael mostrava a ela era clara o suficiente para deixá-la afastada de nós. Assenti e ela suspirou, aliviada. Vanessa se aproximou com um sorriso forçado e Erick parecia muito desconfortável com a situação. Sônia e Mauro, por outro lado, estavam descontentes com a situação e fuzilaram Márcia com o olhar. — Você vai permitir isso? — Sonia perguntou à Rafael, com os dentes cerrados.