— Está me dizendo que sua filha é uma refém?A voz incrédula de Mauro encheu o lugar e Márcia encolheu-se no canto. Era difícil, até mesmo para mim, acreditar em suas palavras. Dava a impressão que ela diria qualquer coisa para escapar do questionamento. Porém, quando a olhei nos olhos, vi seu desespero, como se o mundo à sua volta tivesse acabado.A dúvida começou a me corroer e dei as costas para ela, passando a mão no cabelo. ‘Merda, porque isso estava sendo tão difícil?’— Esse homem é alguém que o senhor Novaes conhece? — ouvi Mauro arrastar a cadeira e sentar-se com um baque surdo.— Eu não sei… Sua voz estava hesitante e conclui que Márcia estava mentindo. Ela sabia mais do que deixara transparecer e Mauro também não ficou convencido. Se queria proteger alguém, ela o fazia bem. Até demais.Voltei a olhar para ela. Sua postura arrogante estava desfeita e uma mulher frágil ocupara seu lugar. Um misto de emoções tomou conta de mim, mas fiz um esforço para esconder. Eu queria bate
— Você parece cansado.Rafael estava sentado em sua poltrona quando ouviu sua voz. Retirou os olhos do que estava lendo e olhou para Juli. Ela caminhou para perto dele, abraçando-o por trás. Palavras não foram ditas, ambos estavam cientes da ameaça que os rodeava. Pondo a mão sobre a dela, Rafael a apertou gentilmente.— Não muito. — Ele não queria admitir, mas estava exausto. — O que você pensa sobre as palavras de Márcia? Ela pode estar mentindo?Ela suspirou, acariciando seus cabelos. Sabia o que ela estava pensando. Sabia o quanto a conversa com Márcia a havia afetado, mas Juliana guardava para si mesma suas conclusões. Só que dessa vez precisava ser diferente. — Eu não sei. — ela por fim respondeu. — Fico tentada a não acreditar, mas aquele olhar dela… Não era o olhar de alguém que mentiria, principalmente envolvendo a própria filha nesse absurdo.Ele tinha esses mesmos pensamentos. Alguém como Márcia não se renderia se não fosse algo sério. Não justificava suas ações, é claro.
Acordei com um sobressalto. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, minha respiração irregular e as cobertas encharcadas de suor. Olhei em volta, desorientada por um breve momento, o pânico me dominando. Esta não é minha casa. Onde estou? Quem me trouxe aqui? Perguntas que, naquele momento, eu não consegui responder.Levei minhas mãos ao peito e puxei o ar, tentando me acalmar. À medida que ficava mais calma, olhei para a penumbra do quarto, quebrada apenas com o brilho da rua. ’Estou na casa de Rafael,’ pensei com um suspiro. Estou segura, pelo menos por um tempo.Sentei na cama, enxugando as lágrimas do rosto. Fazia anos que não tinha um pesadelo tão vívido como esse, parecia tão real que estremeci ao recordar. Talvez estivesse ligado aos sentimentos conturbados que me atingiram no dia anterior, não sei. Apenas não consegui parar de tremer. A escuridão ainda me assombrava. Se Mimi estivesse comigo agora, a abraçaria tão forte e dormiria com ela. Se algo tivesse acontecido com minha gata
A conversa da madrugada tinha sido um pouco emotiva e reveladora. Vi tantas emoções em Márcia que não achei ser possível. Depois que ela chorou, falamos sobre vários assuntos aleatórios. Não fiquei surpresa pela mulher mudar de assunto tão rápido, mas dada a situação, sua postura era compreensível. Márcia era inteligente, centrada e, por mais que eu odeie admitir, um coração mole. Ficamos conversando por horas, acalmando nossos próprios sentimentos e, às 5h nos despedimos e cada uma foi para o seu quarto. Não pude deixar de notar o sorriso que brotara em seus lábios antes de se afastar. Mas seu semblante sério no momento seguinte e suas palavras me deram o que pensar. — Para se proteger, finja que não sabe de nada. Eu vou continuar te tratando mal, mas lembre-se que não são meus reais sentimentos. Farei isso para te manter segura. *** Eram aproximadamente 12h horas quando abri os olhos. O sol estava bem alto, o calor entrando pela janela, mas não me incomodou tanto, pois o ventila
— O que você quer dizer com me usar como isca? Acordei com um sobressalto. Gritos ecoaram até o quarto e por um leve instante, pensei que havia acontecido algo sério. As vozes cessaram a conversa por um breve momento e recomeçaram em tom mais baixo, o suficiente para que eu não pudesse ouvi-los. Sentei na cama, esfregando meus braços. Não me surpreendi por ser quase sete da noite. Rafael não me deu chance de relaxar depois do sexo intenso. O que se seguiu foram mais três vezes comigo gritando e implorando para ele parar, com um orgasmo mais intenso que o outro. Mas não devia estar pensando em sexo agora, pelo menos não naquele momento. Caminhei para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Precisava ver o que estava acontecendo. *** Quando saí do quarto e caminhei pelo corredor até a sala, não fiquei surpresa ao ver Erick e Vanessa sentados juntamente com os outros. Se eles estavam presentes, significava que algo sério iria acontecer. Seus semblantes tensos evidenciavam isso, e mesmo
Nada como viver um dia de cada vez.Eu não tinha muito que reclamar da minha vida, já que a mesma realmente era uma droga. Sempre mantive a cabeça no lugar e procurava resolver meus problemas da melhor forma possível, apesar de muitas vezes ser feita de trouxa. Nessa hora, deveria estar trabalhando em meu projeto, mas ao contrário do que eu queria, vim ajudar uma amiga na lanchonete onde trabalha. Ficar devendo favores aos outros é uma droga. O favor em questão era em uma pequena lanchonete gerenciada pela carismática Emília Souza, uma senhora de idade que sofre de artrite reumatoide, uma doença inflamatória crônica que afetou as articulações de suas mãos e pés, causando um inchaço doloroso. Comovi-me com essa senhora, principalmente por ter que lidar com pessoas sem responsabilidades. Deixei-a anotando os pedidos enquanto eu preparava e entregava os mesmos para os clientes.Depois de lavar mais uma remessa de louça suja, apoiei o rosto em uma das mãos com um suspiro. As chances de s
– Com licença.Uma voz firme chamou minha atenção antes mesmo de sentir a sua presença. Fechei os olhos, resmungando a minha má sorte e olhei para trás. O “deus grego” me olhava com curiosidade.– O que deseja, senhor?– Gostaria de saber a razão pela qual não fui atendido pela senhorita.Arqueei a sobrancelha, considerando-o louco.– Eu não trabalho aqui, estava ajudando uma amiga. – Respondo com educação olhando-o nos olhos por um instante. Vejo meu blazer no chão com uma marca de sapato no mesmo. Peguei-o do chão e tento esconder minha frustração ao olhar para ele. – Que já o estava atendendo há poucos minutos.– Ela não era a mais qualificada para me atender.– E por acaso eu sou?Seu olhar percorreu o meu corpo, que responde com um tremor involuntário.– Talvez.O terno preto impecável cobria perfeitamente seus ombros largos e sua pele cor de caramelo arrancava suspiros das mulheres. Levantei a cabeça para olhar-lhe nos olhos âmbar, que me sondaram com curiosidade. Sua boca era
As pessoas à minha volta ofegaram e alguém tentou me puxar pela blusa. Empurrei-o firmemente, mas sem machucar. E daí que se machucasse? Ninguém me queria aqui.Cruzei os braços em frente ao corpo e não falei mais nada. Um silêncio mortal caiu sobre nós me deixando ainda mais nervosa. Um brilho bem humorado surgiu nos olhos dele, mas sua voz soava fria e profissional:– Não sei do que está falando Srtª, mas sugiro que pare com esses argumentos estúpidos. – Levantou e deu um passo em minha direção.- Acho que tenho um ponto, já que você está aqui. Qualquer pessoa em seu juízo perfeito reagiria da mesma forma.Era uma desculpa fraca e o estranho sabia disso. Ele inclinou em minha direção e eu pude sentir sua respiração em meu pescoço. Ficando próximo a mim, sentenciou: – Você não vai gostar dos resultados se agir assim. Senti-me pequena e indefesa como nunca me senti antes. Não chegava nem aos ombros dele e precisei fazer um esforço para esconder meu espanto. Nossos olhares se cruzara