— O que está planejando fazer, sr. Novaes? — brinquei, quando entramos no quarto. Era óbvio o que faríamos ali, o olhar de Rafael era claro. Ele me queria, assim como eu o queria. Mas eu sabia que havia algo a mais, um suspense no ar e a tensão que se formou entre nós era nauseante. Ele sabia e fez questão de tornar tudo mais misterioso, como se quisesse me ver desse jeito. Caminhou para o criado mudo ao lado da cama e pegou algo. Não consegui ver, pois o quarto estava na penumbra, mas eu sabia que Rafael escondia algo. Meu coração estava acelerado, parecia que iria sair pela boca. — Rafael? — Sabe... — ele começou e o tom de sua voz era neutro. — Durante anos procurei por você. Estava determinado a te agradecer por tudo o que fez por mim, mas... — ele parou em minha frente, levando minhas mãos ao seu peito. — Quando nos reencontramos novamente, percebi que não podia mais ficar longe de você. Suas mãos foram para as alças da minha camiseta, fazendo-as descer pelo meu ombro. Estr
Três dias se passaram e como prometido, David entrou em contato comigo. Márcia tinha me dado seu celular, adaptando o aparelho para meu próprio uso. Não me opus a isso, ela parecia ter algo em mente, então confiei nela. Combinamos de nos encontrar em um restaurante, mas deixei claro que ele não precisava me buscar. A ideia de ficar com ele dentro de um carro, mesmo que por um curto espaço de tempo era grotesco. Vesti uma calça jeans e uma regata preta. Prendi meus cabelos em rabo de cavalo e optei por não usar maquiagem, mantendo minha aparência mais normal possível. Não iria passar a impressão errada para aquele cretino. Olhei para o celular, nervosa. David tinha marcado nossa “reunião” ao entardecer e isso levantou sinais de alerta alarmantes. Olhei o pequeno equipamento que Mauro me entregou antes de sair, instruindo-me a esconder entre minhas roupas. Era algum aparelho de escuta, então tudo o que eu deveria fazer era conseguir uma confissão. Porém, duvido muito que David caia e
Quando recobrei a consciência, minha cabeça latejava de dor. Só então encarei a realidade de que o plano tinha ido pelo ralo. Percebi que estava no chão sujo de algo que julguei ser o velho galpão da cidade. Felizmente estava sozinha e não estava amarrada, o que me deu tempo de olhar em volta e procurar algo que eu pudesse usar para me defender. A luz era mínima, mas foi o bastante para me familiarizar com o lugar. Encontrei um prego enferrujado em alguns escombros e o guardei no bolso da calça. Estar com o prego me daria uma vantagem. Se David aparecesse sozinho, eu poderia usar o objeto contra ele e criar um curto espaço de tempo para escapar. Mas se houverem mais pessoas, teria que ser criativa com a situação. Sentimentos conflitantes dominavam meus pensamentos. Rafael perceberia que a escuta não estava comigo? Saberia onde me encontrar? Chegaria a tempo de algo pior acontecer? Por mais que eu odiasse admitir, estava com medo, assustada com o desenrolar da situação e a incerteza
O que se seguiu foi uma série de acontecimentos difíceis de explicar. A polícia chegou ao lugar com uma rapidez assombrosa, seguido por uma ambulância. Recebi os primeiros socorros enquanto David urrava de dor e fazia ameaças enquanto era levado. Para a sorte dele, a bala o acertou de raspão, além do prego enferrujado em seu braço. Esperava que o desgraçado sentisse muita dor no hospital. Homens como ele não mereciam ter a mínima dignidade. Os policiais pegaram meu depoimento e me pediram para fazer exames de corpo de delito. Eu iria prestar queixa contra ele pelo que aconteceu. E com as provas que Márcia tinha entregado e os relatórios de fraude de Jorge, as acusações contra David iriam aumentar. Uma parte do pesadelo tinha acabado, graças a Deus. Agora faltava o mandante. O pai da filha de Márcia. Olhei para ela enquanto os policiais pegavam seu depoimento e notei suas mãos trêmulas. Por mais demonstrações de exaustão que seu corpo apresentasse, seu rosto não deixara transparec
Na manhã seguinte tive alta do hospital, porém, a medica alertou que eu deveria ter cuidado e que qualquer sintoma suspeito eu deveria voltar ao hospital imediatamente. Passou também uma dieta restrita que me fez revirar os olhos. Eu iria me cuidar para não retornar a esse lugar. Rafael, por outro lado, agia como um perfeito cavalheiro, cuidando de mim e despertando suspiros na equipe de enfermagem. Não pude deixar de me sentir irritada com a situação e o mandei voltar várias vezes pra casa. Meu namorado apenas revirava os olhos e sorria para todos como se não fosse nada. Na delegacia foi outro tormento. Repassei meu depoimento várias vezes enquanto o delegado fazia muitas perguntas. Minha cabeça doía, estava irritada e queria apenas descansar. Por outro lado, Sônia agiu com maestria. Nunca a tinha visto atuando como advogada. Aquela senhora de rosto sorridente e comidas deliciosas era implacável quando exercia sua profissão. Mesmo quando conversava sobre leis com o delegado. Sônia r
Quando terminei de falar, o quarto estava em silêncio enquanto assimilavam a informação. Mantive meu rosto erguido para não restar dúvidas sobre o que relatei. Não pude parar de pensar no que aconteceu com Márcia e que a mesma coisa aconteceria comigo. Um misto de sensações incômodas tomou conta de mim e me segurei para não estremecer. — Recrutar mulheres para depois chantageá-las é muito doentio. — Mauro comentou. — Principalmente quando recorrem ao estupro. — Erick completou. — Era o que iria acontecer comigo. Essa forma de ter poder para conseguir o que queria foi simplesmente insano. Márcia passou por isso e até aquele momento, ela só queria lidar com a situação. Uma investigação foi iniciada para apurar as acusações. Rafael veio para perto de mim, sentou-se ao meu lado e segurou minha mão. — Eu lembro disso. Vários empresários tiveram a visita da polícia. Ficou nas mídias por três semanas seguidas por conta da repercussão do caso. — ele passou a mão no queixo, pensativo. —
Rafael suspirou quando a porta se fechou, sentindo que algo estava errado. Ignorar? Quando ele havia ignorado ela? Será que ela estava pensando que ele a ignorava de propósito? A frustração tomou conta de seu corpo. Queria resolver o mal entendido, mas não podia. Se queria surpreendê-la, precisaria ter paciência e esperar que Juliana não interprete mal a situação. Seu amigo porem, estava rindo dele com um olhar divertido. Evan pigarreou, tentando controlar a risada que ameaçava sair, mas falhando terrivelmente. — Não sei o que você fez, cara. Mas ela está muito irritada com você. Rafael cerrou a mandíbula. Seguir a ideia daqueles dois não estava ajudando. Na verdade, estava arruinando seu relacionamento. Mas Juli me perdoará quando ver o que fiz para ela, ele pensou e se agarrou a isso como um bote de salvação. Evan continuava ali, rindo como se aquilo fosse engraçado. Estava tentado a bater nele, mas foi contagiado pela risada do amigo. Acenou para ele e os dois foram para o escr
Alguns dias se passaram e o clima entre Rafael e eu não mudou muito. Ele continuava evitando algumas perguntas minhas, porém, me dava um pouco mais de atenção. Os hematomas daquela noite sumiram gradualmente e agora eram apenas pequenas manchas amarelas, o que era um alivio, pois via Rafael se culpando pelo que aconteceu. Seu ‘amigo’ permaneceu na casa de Rafael e foi algo no mínimo incômodo. Estava consciente de seus olhares em mim e esforcei-me para o ignorar. Eu poderia estar errada com minhas suspeitas, mas precisava ter certeza que ele não era uma ameaça a Rafael ou a qualquer um de nós. No dia seguinte à conversa do escritório, meu namorado sugeriu que passássemos um tempo juntos. A justificativa dele era que eu precisava conhecer seu amigo para poder criar meu próprio julgamento. Evan apenas permaneceu quieto, escutando as palavras de Rafael com um olhar debochado. Fiquei tentada a recusar, mas isso não era uma opção, segundo ele. Passei os dias ‘passeando’ com Evan, apresen