6. DIFÍCIL RELAÇÃO

Klaus

Hoje acordei com a missão de procurar um lugar para morar. Se dependesse do Adam, ficaria com ele em seu apartamento, onde estou hospedado, mas não quero tirar a privacidade do meu amigo, além de querer a minha. Marquei com o corretor às dez horas para ver umas coberturas, aqui mesmo na Barra para facilitar minha ida ao hospital.

Desde o primeiro dia que comecei a auxiliar os novos doutores, estou fascinado pela doutora Martins. Aquela negra mexeu comigo de uma forma que me assusta. Não consigo parar de olhar para ela, sua beleza e seu jeito simples de ser me fascinam. Existe algo em seu olhar que me traz familiaridade, como se já o tivesse visto antes. O meu amigo não está muito diferente de mim, completamente fascinado pela Amanda. Nós dois fomos pegos de jeito por essas mulheres, tivemos até que deixar de trabalhar diretamente com elas. Adam ficou com Anne em sua equipe e eu, com Amanda, já que se não fosse assim seria difícil me concentrar no trabalho. Cada sorriso que ela dá me deixa ainda mais encantado.

O porteiro avisa que o corretor está aguardando na recepção. Vou ao seu encontro, esperando conseguir algo o mais rápido possível, porque se tudo der certo, em breve terei Anne em meus braços. As duas primeiras coberturas que visitei eram muito cheias de frescura, uma tinha dourado por todos os lados, a outra, cheia de esculturas. Quero algo mais moderno e prático, já que quase não fico em casa porque passo a maior parte do tempo no hospital ou fazendo voluntariado. Também não quero fazer reformas, estou em busca de algo pronto para morar.

Almoçamos juntos e partimos para o terceiro imóvel, que é perfeito, exatamente do jeito que quero. Um duplex com quatro suítes, sendo uma master, cozinha moderna, terraço com piscina, sala de jantar, de TV, de estar, sala de musculação e um escritório. O sofá da sala é preto e uma decoração limpa e bem moderna adorna o cômodo, no estilo da cobertura do Adam. Acho perfeito e fecho logo com o corretor, que fica feliz pois sua comissão será gorda. Quando estou saindo do meu mais novo lar, meu celular toca atendo sem olhar primeiro para ver quem era, e me arrependo.

— Boa tarde, filho desnaturado.

Respiro fundo antes de responder.

— Boa tarde, pai.

— Se eu não te ligo, você esquece que tem um pai, que tem família.

— Eu tenho trabalhado muito, pai. Ainda estou me organizando.

— Trabalhado de graça, cuidando de um monte de morto de fome.

Não vou cair nas provocações dele.

— Não, pai. Estou trabalhando em um hospital, junto com o Adam.

— Só podia ser, outro sem juízo. Vocês poderiam ser tornar milionários e famosos, mas cismam de dar uma de bom moço. Este tipo de atitude só serve para quem deseja um cargo político.

— Pai, como o senhor mesmo já disse, eu sou milionário. Tenho dinheiro suficiente e não preciso de mais. Exerço a profissão de médico por amor e sei que existem muitas pessoas que não têm condições de pagar um tratamento decente, não me custa nada ajudar quem precisa.

Paro de falar e respiro, tentando não levar esta conversa adiante.

— Eu acho melhor a gente parar por aqui, pai. Nada do que eu falar vai adiantar, não sei por que o senhor ligou, mas eu estou bem e feliz com o meu trabalho. Acabei de comprar um lugar para morar e estou seguindo em frente.

— Lugar para morar, Klaus? Como assim?

— Eu estou hospedado na casa do Adam, ele não permitiu que eu ficasse em um hotel, então achei melhor ter a minha própria cobertura.

— Klaus Hensel Hoffmann, eu não acredito que você pretende se estabelecer nesse país de merda.

— É o que vou fazer, pai. Sou maior de idade e independente, tomo minhas próprias decisões.

— Klaus, e o hospital?

— Ele funciona muito bem sem mim. O senhor tem meu irmão, que cuida muito bem do seu patrimônio.

— E os seus pacientes, Klaus? Seu IRRESPONSÁVEL.

Fecho os olhos, tentando não ser atingindo por seu grito e sua calúnia.

— Pai, uma coisa que nunca fui é irresponsável. Antes de vir, zerei minha agenda. O senhor pode muito bem verificar que estou falando a verdade.

— Sem as suas cirurgias, o hospital deixa de ganhar muito dinheiro.

— Caralho, pai! É só com dinheiro que o senhor se preocupa? Um homem que passou dos sessenta anos, milionário, que poderia estar curtindo a vida, mas só pensa em dinheiro e mais dinheiro. O senhor me quer aí para ganhar em cima do meu trabalho porque bem sabe que essas celebridades pagam uma fortuna para serem operadas por mim, e, principalmente, pelo meu sigilo. Em nenhum momento me perguntou se estou bem.

— Klaus Hensel, me respeita. Se insistir em morar nesse fim de mundo, vou te deserdar. Você não terá direito a nada, muito menos ao hospital.

— Pai, como o senhor sabe, o dinheiro que tenho hoje é fruto do meu trabalho. Os meus bens e o meu patrimônio não saíram do senhor e, mesmo que eu não tivesse tanto dinheiro, sei me virar muito bem. Não quero mais discutir, pai. Eu amo o senhor e quero que respeite minha decisão. Se for para a gente se desentender, não me ligue mais.

Desligo o celular e entro no meu carro, encostando a cabeça no volante. Fico alguns minutos tentando me acalmar. A minha relação com meu pai sempre foi difícil. Pensamos completamente diferente um do outro.

Meu celular toca novamente e desta vez faço questão de ver quem é, porque se for meu pai, não atenderei.

— Fala, irmão.

— Oi, Adam.

— O que houve, Klaus?

— O de sempre. Meu pai.

— Quer conversar? Liguei para te chamar para irmos ao shopping, você está precisando de roupa. As suas são todas de frio e aqui no Rio faz muito calor.

— Tudo bem, Adam. Vai ser bom porque estou precisando espairecer.

— Ok, vou tomar banho aqui no hospital e te encontro no shopping.

— Vou passar na sua casa e tomar um banho. Assim que estiver saindo, te aviso.

— E aí, conseguiu algum apartamento que te agradasse?

— Consegui sim. Já até fechei negócio.

— Está doido para se livrar de mim.

Sorrio. Meu amigo está tentando me distrair porque sabe o quanto meu pai me atinge.

— Eu vou sair da sua casa, mas vou continuar te amando. Pode ficar tranquilo que o nosso casamento é para sempre.

Ele gargalha. Amo demais este puto.

Encontro com Adam no shopping e compramos várias coisas. Quando digo que compramos, é exatamente isso. O puto do meu amigo me usou de cobaia, na verdade ele que queria mudar seu guarda-roupa porque está de olho em uma certa morena chamada Amanda. Segundo ele, suas roupas estão ultrapassadas.

— Nunca vi você agir assim.

— Como assim, Klaus?

— Comprando roupa por causa de uma mulher. Vi várias vezes você com algumas paixonites, mas assim, querendo mudar o visual, nunca.

— Porra, cara. Aquela garota me deixou louquinho por ela. Tenho que me segurar para não fazer besteira. Se não trabalhássemos juntos, eu já tinha a chamado para sair.

— Sossega o pau dentro das calças, irmão. Não somos mais adolescentes.

— E você, seu puto? Fala de mim e está caidinho pela Anne. Mesmo com seu jeito todo caladão e sério, eu te conheço o suficiente para saber que a mulata te pegou de jeito.

— Anne me atrai como um imã. E, porra, é linda como o inferno. A melhor coisa que fizemos foi afastá-las no trabalho, ia ser difícil trabalhar com ela na minha equipe.

— Bate aqui, mano. — Batemos nossas mãos. — Somos dois fodidos. — Rimos de nós mesmos.

— Já que é para impressionar as gatas, vamos caprichar.

— Assim que se fala, atorzinho de Hollywood.

— Não fode, Adam.

Ele fica zoando por causa das vendedoras que nos compararam com os tais atores. Quando terminamos nossas compras, resolvemos guardar as sacolas no carro antes de comer alguma coisa. Seguimos para a praça de alimentação e, para minha alegria, a mulher que me deixa ereto só de pensar nela está aqui, sentada com sua amiga. Aproximamo-nos e ouço Anne dizer que estava muito feliz.

— E aí, meninas. Posso saber o motivo de tanta felicidade? O que você me diz, Anne? Ou é segredo? — Adam pergunta.

Anne conta que ela e Amanda vão morar juntas e fico feliz por ela. Percebo que é algo muito importante, mas, ao mesmo tempo, fico com medo que este carinho todo que as duas têm uma pela outra seja mais do que amizade. Adam, como lesse meus pensamentos, é direto ao perguntar se elas são namoradas. Acho que ele é um pouco indiscreto, mas também preciso saber onde estou pisando, já que não penso em outra coisa que não seja ter Anne em meus braços.

As duas ficam em silêncio e isso para mim é como se elas confirmassem, mas depois caem na gargalhada e dizem que são apenas amigas. Vejo nas duas uma amizade como a minha e do Adam. Não consigo parar de encarar os olhos castanhos da Anne, que parecem me chamar a todo tempo. Depois do desconforto inicial, a conversa flui e adoro ouvir a voz dela. Observo cada gesto, cada sorriso e, porra, ela é linda.

Passa das dez quando elas se levantam para ir embora, e, puta que pariu, não estou preparado para o que vejo. Meu pau se manifesta na hora com a Anne de short jeans, dando-me uma bela visão das suas coxas grossas e sua bunda empinada. Enquanto Adam as convida para esticarmos a noite, meus olhos percorrem todo o seu corpo. Tenho que ajeitar meu pau dentro das calças antes de me levantar. Vai ser difícil como o inferno passar a noite ao seu lado sem tocá-la. Estou fodido.

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