Marcelo
Tudo o que eu ouvi hoje na minha sala e na sala de reuniões foi muito estranho. Meu tio não percebeu por estar ávido em ter notícias do João, afinal, por mais que meu primo o tenha magoado, ainda é seu filho. Ele sempre foi um cara que, por ter nascido em berço de ouro, não queria fazer nada, vivia metido em confusão e era péssimo na escola. Na sua adolescência, meu tio cortou a sua mesada e o colocou para estudar em uma escola pública, já que gastavam uma fortuna com os estudos dele e ele não valorizava.
A minha vida sempre foi difícil. Ao contrário do meu tio, meu pai só queria saber de farra e mulheres. Minha mãe sofria muito com suas traições e falta de dinheiro em casa; seu sofrimento foi tão grande que ela se tornou uma pessoa depressiva e, quando eu tinha catorze anos, perdeu a vida. Meu pai vive
AnneMinha cabeça está uma bagunça, o que foi aquilo ontem? Eu não sei como pessoas privilegiadas como o João podem agir assim. Sempre teve de tudo e não valorizou, e não estou falando somente de coisas materiais, mas do carinho e amor de seus pais. Sua falta de caráter fez com que ele escolhesse o lado escuro da vida.— Anne, o Márcio me ligou hoje — diz Amanda, tirando-me dos meus pensamentos.— Nossa, tem muito tempo que não falo com ele. Depois que nossos queridos namorados o colocaram em um horário diferente do nosso, se tornou ainda mais distante nosso contato. E tem acontecido tantas coisas na minha vida que acabei sendo relapsa com a nossa amizade.— Faz tempo também que não o vejo. Ele me ligou e reclamou da gente, disse que está com saudade e eu também estou com saudade dele.— Eu també
AnneDepois que meu alemão ciumento foi embora, não me procurou mais. Hoje pela manhã, ao passar por mim no hospital, me cumprimentou com um bom dia bem seco. Estou morrendo de saudades, mas não vou ceder, ele tem que reconhecer que está errado.— E você e o Adam, como estão? Viu que o doutor Hensel mal me cumprimentou?— Estamos do mesmo jeito. Desde ontem ele não fala comigo, nem bom dia ele me deu, apenas um aceno com a cabeça.— Eles estão parecendo adolescentes. Na cabeça desses turrões, os trocamos por Márcio, e não se trata disso.— Você está certa, Anne, mas colocar na cabeça deles que não é nada disso, que apenas não queremos perder a nossa amizade por ciúmes bobo, é difícil.— Amanda, vamos aproveitar que hoje é sexta e amanh
AnneOntem à noite, antes de dormir, disse ao Klaus que estou com medo de tanta calmaria. Desde que o João foi preso, nossa vida turbulenta ficou sossegada como o mar em seus dias tranquilos. Conseguimos reaver a minha herança e minha "mãe" não me procura há um bom tempo. Conversando com meu alemão, decidi que hoje vou ver pela última vez a Bruna e a mulher que me criou. No início, Klaus foi contra, mas depois ele entendeu que é necessário fechar esse ciclo em minha vida, que preciso de informações da minha chegada ao Brasil e Lúcia deve saber de alguma coisa.Saio do hospital e vou direto para a Faísca. Combinei com Lúcia que iria à noite pois Klaus queria me levar, mas achei melhor vir sozinha. Meu alemão é um pouco estourado quando se refere a mim e estou em missão de paz.— Boa noite — cumprimen
JosephMeu irmão pediu que eu e meu pai fôssemos até a sua casa no Brasil. Fiquei surpreso quando o coroa concordou, ele nunca gostou de ir a países latinos e nem africanos. O tio da minha cunhada e sua filha irão pegar carona conosco, já que ofereci para que fossem conosco em nosso avião. Até agora não entendi por que meu irmão quer a nossa presença, pelo o que eu saiba não é aniversário dele e muito menos da Anne, que agora se voltou a se chamar Anelise. O juiz concedeu válida sua certidão original e minha cunhada foi reconhecida como uma cidadã alemã, graças ao seu tio Kléber que fez um excelente trabalho.Kléber e sua filha, Mayla, nos encontram no aeroporto, e, porra, ela é bonita para cacete. Vai ser difícil manter meu pau no lugar com a porra de uma mulher gostosa como essa viajando por hora
AnneAmanda e a mulher que está com ela me deixam em um local diferente ao que eu estava antes. Para chegar aqui, tive que andar um longo trajeto e salto que estou usando não ajudou muito. Amanda pede que eu espere uns cinco minutos antes de tirar a venda e, antes de sair, ela e a outra mulher me dão um beijo na bochecha.Quando tiro a venda, fico boquiaberta. Estou em um local completamente escuro, a única iluminação existente é um caminho formado de pequenas luminárias. Quando me dou conta, percebo que eu estou em um vestido de noiva. A emoção toma conta de mim e não posso conter as lágrimas. Agora entendo por que Amanda veio comigo e o porquê da lingerie branca e sexy que ela me fez vestir.Vou caminhado por este lugar, seguindo o rastro de luz. Uma música bem suave enche o ambiente e meu coração. A cada passo que dou, lembro dos
Dois meses depoisKlaus e eu passamos uma semana em Paris e ele me levou para conhecer os principais pontos turísticos. Fomos ao Arco do Triunfo, Catedral Notre-Dame, Basílica-Coeur,que é linda, e o Palácio Versalhes. Antes de irmos para Alemanha,passamos na Avenida Champs-Elysees.Saímos de Paris e fomos para a Alemanha e meu marido quis me levar para conhecer o lugar onde nasci. Meu sogro fez questão que ficássemos na mansão e Klaus achou melhor vender sua casa, já que não pretende voltar a morar aqui. Quando viermos visitar nossa família, temos a mansão para ficar. Tivemos um jantar em família que foi um pouco constrangedor, Joseph e Mayla passaram a noite toda um jogando piada um para o outro. Antes deles irem embora, conversei com ela, que me disse que Joseph se acha a última bolacha do pacote, e Joseph disse a mesma coisa para o Klaus. Já at&
Berlim, Alemanha— Joseph, pelo amor de Deus, cadê seu irmão?— Não sei, cunhada, por quê?— Você não está vendo que o bebê vai nascer, seu tapado? — Mayla fala e me segura.<
AnneTudo de errado que um pai poderia fazer, o meu fez. Fui uma criança que, por ser criada no meio de adultos, enxergava as coisas de uma forma diferente de das outras que tinham a minha idade. Meu mundo não era cheio de fantasias como o dos meus amiguinhos e da minha irmã, a realidade na minha frente fazia com que eu visse a vida como ela realmente era.Sou de uma família humilde que reside em um conjunto habitacional na cidade do Rio de Janeiro. O conjunto de prédios onde moro e fui criada é um daqueles que foram construídos para desocupar alguma moradia imprópria, como lugares invadidos ou favelas que surgiram em locais que afetam o poder público ou os olhos de quem tem algum poder aquisitivo. A minha comunidade se chama Faísca e muitas vezes faz jus ao seu nome, porque basta apenas uma faísca para que tudo voe pelos ares. Aqui, a violência e bailes funk regados a drog