Letícia tentava falar, mas tudo que conseguia fazer era chorar sozinha no chão frio e vazio do corredor, abraçada em suas pernas ela tentava se confortar.
Ainda no quarto de hotel, Beatriz paralisou por um momento, ela se nega a a acreditar que aquilo estava acontecendo. O som do choro do outro lado da linha, fez com que ela reagisse. O choro angustiante de Beatriz ecoava pelo quarto vazio, misturando-se com o arrependimento e a dor que a consumiam. Ela saiu correndo do hotel e indo direto para o hospital. Marcos que ouviu ruídos angustiantes que vinham do quarto, nao obtendo respostas saiu correndo do banheiro, mas era tarde de mais, o quarto estava vazio e a mala de dinheiro abandonada no chão onde ele havia deixado. Ele olhou ao redor, confuso, tentando entender o que estava acontecendo. Foi então que ele percebeu que Beatriz havia partido, deixando para trás o acordo feito entre os dois. O choque se misturava com a raiva em seu peito, enquanto ele olhava para a mala de dinheiro, lembrando-se do motivo pelo qual tudo aquilo tinha sido feito. Ele se sentou na beira da cama, passando a mão pelos cabelos, tentando processar a situação. Enquanto isso, Beatriz corria pelas ruas, as lágrimas turvando sua visão. Ela se culpava por não ter sido rápida o suficiente, por não ter conseguido o dinheiro a tempo de salvar Ravi. A dor em seu peito era insuportável, e ela não sabia como seguir em frente sem o seu afilhado. No quarto, Marcos se levantou lentamente, sentindo um vazio se instalar em seu peito. Por algum motivo ele esperava encontrar ela ali, esperar poder entender de onde veio os rumores que só agora percebeu que não era verdade, Beatriz nunca havia estado com um homem. Marcos enfrentou a solidão de seus atos impensados. Dois destinos entrelaçados por uma tragédia que nunca poderia ser desfeita. Eles haviam cruzado um limite sem volta, e agora teriam que lidar com as consequências de suas escolhas. Beatriz entrou correndo no hospital, seu coração batendo forte no peito, a dor e a angústia aumentava cada segundo que se passava. Ela olhava para todos os lados, perguntando freneticamente onde estava sua amiga. Os enfermeiros e médicos que passavam por ela apenas balançavam a cabeça, indicando que não tinham ideia de onde a jovem poderia estar. Desesperada, Beatriz continuou a procurar pelo corredor do hospital, até que uma paciente idosa lhe chamou a atenção. — Você deve ser a Beatriz, não é? — Sim, sou eu senhora, onde está minha amiga? Eu não a encontro em lugar nenhum. — Eu ouvi que ela roubou um carro e saiu correndo daqui assim que recebeu a notícia da morte do filho, ela gritava que precisava de você aqui.— disse a senhora com uma expressão triste no rosto. O coração de Beatriz gelou. Ela sabia que Letícia não estava em condições de dirigir, ainda mais em um estado emocional tão abalado. Ela correu até a recepção do hospital e pediu por informações sobre Letícia. — Pôr favor, de quem é o carro que ela roubou, a cor, placa... Antes da atendente responder a ambulância para na porta e um alvoroço começou. — Mulher, 23 anos, estava em alta velocidade e bateu num poste. A vítima teve parada cardíaca, mas conseguimos reanima-la.— O paramédico diz enquanto ajudava colocar a jovem na maca. Beatriz sentindo algo estanho em seu peito se aproximou e viu um detalhe do braço da mulher, uma tatuagem que ela também tem, assim que confirmou que era sua amiga, Beatriz desabou no chão, em prantos, temendo pelo pior. — Não... não pode ser.— Beatriz grita. — Senhora, por favor se acalma.— Uma enfermeira diz levantando Beatriz do chão. Enquanto isso, os médicos fizeram todo o procedimento, dando pontos nos cortes, e em poucas horas Letícia começou a recobrar a consciência. Sua visão estava embaçada, e ela sentia um peso sobre o corpo. As mãos trêmulas de Beatriz seguravam a sua, e o choro angustiante da amiga invadia seus ouvidos. Com um esforço tremendo, Letícia abriu os olhos e olhou para Beatriz e só então, a verdade lhe atingiu como um soco no estômago. Ela lembrou da terrivel notícia de que seu filho havia falecido. — Meu filho... trás meu filho de volta amiga, por favor, traga ele de volta. — Eu sinto muito amiga, eu... me perdoa.— Beatriz sussurra. — Não! Você está mentindo, ele está bem, ele... ele... O desespero tomou conta dela. As lágrimas rolavam pelo seu rosto, misturando-se com a dor física e emocional. Ela tentava gritar, mas a voz não saía, e o entendimento de que havia perdido seu filho a destruiu por completo. Beatriz debruçou sob sua amiga e chorou, um choro desesperador. Uma batida na porta faz com que Beatriz volte a sentar assustada, um outro médico entra em silêncio e se coloca diante os pés de Letícia. — Você sente isso?— O médico pergunta passando a caneta nos dois pés de Letícia. Ela balança a cabeça em negação.— E isso? Como imaginei.— Sem resultados, o médico olha o raio x que suspira pesadamente.— Senhora Shimit, preciso ser sincero com você. Devido ao impacto do acidente, houve uma lesão na sua coluna vertebral que resultou na perda dos movimentos das suas pernas. — o médico diz com uma expressão séria. — O senhor está mentindo...— Letícia tenta se sentar e não consegue, ela b**e nas suas pernas, mas nada sente nada. — O que fizeram comigo... meu Deus. — Calma, amiga. Doutor, tem algo que podemos fazer?— Beatriz pergunta se levantando. — A confirmação vamos ter depois de alguns exames e testes, mas tudo indica que ela não poderá mais andar. Letícia sente como se o mundo desabasse novamente ao seu redor. Ela olha para o médico, sem acreditar no que acabara de ouvir. Seu coração se enche de desespero e desamparo, nem mesmo com os fortes calmantes, ela conseguiu se acalmar. — Não... não pode ser... eu nunca mais vou poder andar de novo? Por quê não me deixaram morrer? Não tem mais sentido viver sem meu filho e agora isso...— Letícia murmura, com os olhos cheios de lágrimas. Beatriz segura a mão de Letícia com firmeza, tentando encontrar as palavras certas para consolar a amiga, mas seu próprio coração está partido em mil pedaços. — Amiga... Eu estarei ao seu lado em cada passo desse caminho. Você não está sozinha.— Beatriz diz com a voz embargada. Letícia encara o médico, sua mente inundada por pensamentos negativos e assustadores. A ideia de nunca mais abraçar seu filho aterroriza sua alma. — Eu... eu não sei se consigo... Eu quero meu filho, eu perdi meu filho... e agora... agora eu perdi até a minha capacidade de andar...— Letícia soluça, sentindo a dor a consumir a cada segundo. O médico e Beatriz permanecem em silêncio, dando espaço para Letícia processar essa nova realidade. A dor e a angústia pairam no ar, pesadas como nuvens de tempestade prestes a desabar. Enquanto Letícia se debate com suas próprias emoções, Beatriz a abraça com força, sem saber o que fazer ou o que falar.Passaram-se dois dias desde o acidente que mudou a vida de Letícia e Beatriz para sempre. Somente hoje que Letícia teve força para fazer o enterro de Ravi. A hora da despedida de seu filho está sendo marcado por um momento de dor e desespero, onde o choro ecoava pelos corredores da funerária. Letícia permanecia em uma cadeira de rodas, seu olhar vazio refletia a completa devastação que sentia em seu coração. Beatriz, ao seu lado, segurando a mão de Letícia com firmeza, tentando transmitir todo o amor e apoio que podia. Mas mesmo a presença reconfortante da amiga não apagasse a dor insuportável que Letícia carregava. Enquanto os poucos familiares e amigos se aproximavam para prestar suas condolências, uma presença indesejada se fez notar. A mãe de Letícia uma mulher fria e cruel, se aproximou com um olhar de desdém. — Ah, Letícia... sempre soube que você era incompetente. Olha só onde sua fraqueza te trouxe, enterrando seu próprio filho, se tivesse interrompido a gravidez quando
Beatriz olha perplexa para Ivana, tentando negar as acusações, envergonhada por sentir que dessa vez ela tinha razão.— Não, Ivana, não é verdade. Eu...Ivana por sua vez, sorri maliciosamente, olhando nos olhos de Beatriz demonstrando o quanto a despreza, sem se importar com o sentimento dela, mente descaradamente.— Você não precisa se fazer de inocente, Beatriz, sua máscara de boa moça já caiu. O próprio Marcos acabou de me contar tudo. Ele disse que vocês dois tiveram uma longa noite e que ele te pagou muito bem para ficar com ele. E que você é quem foi atrás dele propor isso.— Meu Deus...— Beatriz sussurra sentindo o chão se abrir debaixo de seus pés. Ela não consegue acreditar que Marcos seria capaz de contar para alguém o que fizeram. Envergonhada e desolada, percebendo os olhares julgadores dos colegas ao redor, ela não consegue mais suportar a situação. Sem dizer mais nada, ela sai correndo, deixando todos para trás.— Vocês viram? Não tem nem vergonha de vim aqui. Vocês ai
Beatriz e Letícia após resolver algumas pendências finalmente tomam a decisão de deixar a cidade para trás e recomeçar em um lugar novo e desconhecido. Com o dinheiro da venda da casa em mãos, elas se preparam para partir rumo a uma cidade não muito longe, mas onde esperam encontrar a paz que buscavam. — Hoje é o dia, amiga. Estamos partindo para uma nova vida.— Beatriz diz, tentando demonstrar entusiasmo, porém Letícia sabia que a amiga estava nervosa. — Sim, Bia, vamos.— Letícia responde sem esboçar reação. Com suas poucas bagagens em mãos, as duas embarcam em um ônibus rumo à Filadélfia, a viagem duraria pouco menos de 3 horas de ônibus. No caminho, olham pela janela e observam as paisagens passando rapidamente, Letícia encosta a cabeça no vidro do ônibus e lembra de como seu filho gostava de brincar nos parques da cidade. Beatriz observa a amiga e suspira, ela sabia que Letícia estava se esforçando para se mostrar bem diante do pesadelo que estava vivendo. — Vamos ficar bem, n
Beatriz se via em um dos momentos mais angustiantes da sua vida. Com a amiga nos braços e suas lágrimas caindo, ela grita. — Por favor, socorro, eu preciso de ajuda...— Beatriz abraça Letícia com força enquanto sua amiga gemia de dor.— Por quê você fez comigo, por que? Os vizinhos rapidamente ligam para o serviço de emergência. Enquanto Beatriz, tenta manter Letícia acordada, com cuidado e a coloca em posição segura. — Já estão vindo menina.— Sua vizinha diz. — Me ajuda leva-la pra fora? O apartamento é abafado, ela precisa de mais ar...— Beatriz pede se colocando de pé. Enquanto ajudava Beatriz carregar Letícia até a entrada do prédio a ambulância para na frente delas. Quando os paramédicos descem, fazem os primeiros socorros e em seguida a levam para o hospital. Beatriz os acompanha, preocupada com a amiga. Já no hospital, Beatriz não fazia outra coisa a não ser chorar, encostada na parede ela olha através da porta, esperando ansiosamente por notícias de Letícia. Após ho
Beatriz sentiu como se tivesse levado um golpe no estômago. Os olhos dela se arregalaram quando as palavras de Maicon penetraram em seus ouvidos. Seu coração começou a palpitar furiosamente. — Grá... grávida? — sussurrou Beatriz, ainda atordoada. — Eu ouvi direito? Maicon sorriu gentilmente e assentiu com a cabeça. — Sim, Beatriz. Você está grávida. — Meu Deus, como isso é possível? Como uma única noite e ainda usando proteção pude ficar grávida? E por que somente agora os sintomas começaram a aparecer? Minha menstruação estava vindo normalmente... — Isso se chama gravidez silenciosa. — explicou Maicon. — É mais comum do que você imagina. O estresse e os conflitos podem ter contribuído para você não notar os sintomas. Beatriz sentiu lágrimas enchendo seus olhos. Ela não sabia se estava feliz ou triste. O pensamento de estar carregando o filho do seu ex-chefe, alguém que ela jurou odiar, era quase inaceitável. — Leah vai infartar de alegria. Logo ela chega e damos a notíc
O silêncio entre as duas amigas era pesado, carregado de emoções não ditas. Letícia vira a cadeira de rodas para enfrentar Beatriz, ergue a cabeça, encarando os olhos da amiga, e sussurra com um nó na garganta. — Enquanto nosso menino estava morrendo... você estava se divertindo com um homem? — sua voz falhou ainda mais, a mágoa e a raiva transpareciam nos seus olhos. — Se divertindo? Você está ouvindo o que está falando? Se me deixar falar, eu explico o que aconteceu... — E qual é a explicação, Beatriz? Se é que tem alguma explicação. Aproveita e me responde uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. Onde você estava na pior noite das nossas vidas? Eu te procurei igual uma louca, mas não te encontrava em nenhum lugar. Onde você estava? — Amiga... — Não me chame de amiga. Amigos não escondem coisas importantes como essas. Eu nunca menti para você, Beatriz, nunca escondi nada de você. Porque você era a única pessoa que eu tinha na vida depois que meu pai morreu. Beatriz sent
Na empresa de Marcos, as coisas continuavam as mesma. Ele por sua vez não conseguia tirar Beatriz da cabeça. Seu interesse nela começou logo que chegou na empresa, seus olhares já era visível por algumas pessoas, até mesmo por seu irmão Michael, porém Beatriz sempre se manteve distante e as poucas vezes que foi no seu escritório manteve sua postura profissional impecável. A notícia sobre Beatriz e ele se espalha como fogo em palha seca. Os comentários maldosos ecoam pelos corredores, mesmo meses após sua demissão, atiçando a curiosidade e alimentando ainda mais a fofoca sobre sua saída repentina. Ivana nunca deixou que isso caísse no esquecimento, pois culpa Beatriz por Marcos não querer mais ficar com ela. — Quem diria que Beatriz ia se vender assim.— uma das meninas comenta enquanto toma café. —No começo, até acreditei que era mentira, por se tratar dela, mas com sua saída sem se despedir de ninguém, nem para assinar sua demissão, agora sei que é verdade. A tensão aumenta quan
Beatriz chegou após o fim do seu trabalho na casa de festa. Eram altas horas da madrugada, e o silêncio do apartamento era quase ensurdecedor. Ao entrar, ela caminhou silenciosamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar Letícia. Ela ainda não estava preparada para encarar a decepção em seu olhar.Ao chegar em seu quarto, ela parou abruptamente ao perceber a presença de Letícia deitada em sua cama, dormindo após tomar seus calmantes. Seu coração se apertou ao ver sua amiga ali, tão vulnerável. Por alguns segundos, Beatriz a observou.Sem querer acordá-la, Bia se virou silenciosamente, pronta para sair do quarto para comer. Letícia todos os dias deixava sua comida pronta, só para Beatriz aquecer no micro-ondas. Mas, antes que conseguisse chegar até a porta, Letícia murmurou seu nome em um tom sonolento, fazendo com que os olhos de Beatriz se enchessem de lágrimas.— Beatriz, eu... — murmurou Letícia, hesitante.Beatriz virou-se para encará-la, as sobrancelhas fr