Beatriz sentiu um aperto no peito, o gosto amargo da decepção subia por sua garganta. Ela olhou novamente para ele, acreditando ser uma brincadeira de mal gosto, mas sentiu como se tivesse levado um soco no estômago enquanto percebia que os rumores da crueldade e da falta de caráter de Marcos era realmente verdade, mas mesmo diante da repulsa e da tristeza que sentia, sabia que a vida de Ravi dependia dessa troca e já não podia esperar mais. Era um acordo desumano, mas ela sentia que não tinha escolha.
— Tudo bem, senhor, eu... aceito!— Com lágrimas nos olhos, ela concordou relutantemente, mas no fundo de sua alma, ela sabia que estava perdendo uma parte de si mesma. Por algum motivo, Marcos sentiu uma pontada de decepção, ele a olhava buscando vestígio de algum arrependimento, mas Beatriz não tinha sequer nenhuma reação, ela estava lutando contra seus pensamentos quando ouviu seu nome. — Beatriz?— ele a chamou firmemente. Ela olhou em seus olhos segurando no máximo as lágrimas que ardiam neles.— Hoje a noite no hotel Collen, ultimo andar, quarto 512, não gosto de atrasos, por isso espero que cumpra sua parte do acordo. — Ok! Estarei lá. À medida que as horas se passavam, Beatriz se encontrou presa em uma teia de culpa e desespero. O momento de cumprir sua parte do acordo estava chegando, e ela se sentia cada vez mais angustiada. Antes de ir, passou onde estava sendo sua segunda morada, o hospital, para ver como o pequeno Ravi estava. — O que faremos amiga?— Letícia pergunta com a voz baixa e rouca pelo choro. — Não se preocupe, hoje trago o que falta, vou falar com o médico dando de garantia nossa casa, o valor dela não é muito, mas é só até daqui a pouco.— Beatriz diz enquanto acariciava o rosto do menino.— Aguente firme meu grande lutador. Você vai se curar e vamos viajar para um lugar bem longe e recomeçar, somente você, eu e a chata da sua mãe. Ravi sorriu fracamente, apertando a mão de Beatriz. — Do que está falando, Bia? Onde você vai conseguir esse dinheiro? — Não se preocupe, não terei que matar ninguém. Tenho que ir. Te amo meu menino, até daqui a pouco. — Te amo mamãe Bia...— Ravi sussurrou com os olhos cheios de lágrimas. Beatriz beija o topo da cabeça dele e deixa suas lágrimas rolarem. — Você é o amor da minha vida, tá bom? E eu não me vejo nesse mundo sem você, por favor aguente firme...— Ela murmura com a voz embargada pelo choro, Ravi balança a cabeça vagarosamente, Beatriz sentindo a dor a sufocar da um sorriso amargo, e sai sem olhar pra trás. Beatriz parou na recepção e mais uma vez se viu suplicando para que operem Ravi o quanto antes, porém mais uma vez ela ouviu que sem o pagamento, não teria como. Sem acreditar no que estava acontecendo, ela sai rapidamente para casa tomar um banho e se preparar como as ordens de Marcos. A fatídica hora de cumprir o acordo chegou. Beatriz, vestida com uma mistura de tristeza e resignação em seu coração, colocou um sobre tudo preto, um sapato de salto e seguiu para o hotel escolhido por Marcos. Cada passo que ela dava era uma luta interna consigo mesma, mas a imagem de Ravi lutando por sua vida a mantinha firme para acabar com isso logo. No momento em que ela atravessou a porta do quarto de hotel, o celular de Beatriz tocou. Era Letícia, chamando para informar que Ravi havia piorado repentinamente e que precisava do transplante imediatamente. Beatriz caiu de joelhos, o telefone caindo de suas mãos trêmulas. As lágrimas inundaram seu rosto enquanto ela percebia a desgraça que estava acontecendo. No instante em que a vida de Ravi estava sendo consumida pela doença, ela estava prestes a sucumbir à imoralidade. Ela respirou fundo e tentou se acalmar, quando ele entrou no quarto, caminhando de forma iponente, encontrou os olhos de Beatriz. — Você veio.— ele disse, se aproximando lentamente, ele a encarou por um momento e perguntou.— Você estava chorando? — Como se tivesse algum motivo para se preocupar comigo.— Ela diz sem demonstrar reação. Beatriz desviou o olhar sentindo um misto de medo e raiva, mas tentou manter a calma para conseguir o dinheiro que precisava.— Vamos logo com isso, já estou aqui, não tem por que ficar enrolando.— Ela disse com a voz tremendo. Marcos se aproximou mais, tocando delicadamente o rosto de Beatriz e com a ponta dos dedos ele desenha sua cicatriz, fazendo ela recuar. Beatriz sempre se afastou de qualquer pessoa por vergonha de si mesma. Seu sonho sempre foi fazer uma cirurgia para apagar de vez as marcas daquele fatídico e desesperador dia, mas por somente ela estar trabalhando para manter a casa, ela nunca conseguia juntar o valor total. — Essa sua cicatriz é realmente fascinante. — Sei que está pagando para passar a noite comigo, mas não precisa tentar me lembrar dela. Eu me olho no espelho todos os dias e todos os dias lembro de como ela foi feita. Marcos encarou seu olhos e única coisa que conseguiu enxergar era tristeza. Ele se afastou e ficou uns minutos em silêncio. Como uma chama queimando em seu peito ela a puxa para um beijo. Beatriz suspira pesadamente com o susto pela atitude inesperada, Marcos percebendo que a assustou se afasta dos seus lábios. — Eu sinto muito, não deveria ter feito isso. — Não sinta! Só quero acabar com isso logo. Por favor, pare de enrolar. Eu não estou aqui por que eu quero e sim por que preciso. Então cumpra sua parte do acordo, pois estou disposta a cumprir a minha. Vendo que Beatriz não iria baixar a guarda, Marcos resolveu não insistir em conversar. Ele estava intrigado, era a primeira vez que ele ficou nervoso perto de uma mulher, algo na maneira que Beatriz o olha deixava ele intimidado. Marcos então se aproximou novamente e sorriu. — Não precisa ter pressa. Vamos aproveitar o momento.— Beatriz fechou os olhos, tentando se distanciar daquela situação horrível. Ela se sentia suja e indigna, mas pensava em Ravi e em como sua vida estava nas mãos de Marcos.— Seu cheiro é realmente viciante. — Por favor, acaba com isso logo.— Ela sussurrou sentindo que qualquer momento poderia desistir. Marcos deslizou seus dedos até a nuca dela e a puxou para mais um beijo. Apesar de tentar evitar a todo custo, Beatriz acabou correspondendo. Marcos era um homem com atitudes impensadas e fazia as coisas no calor do momento, mas sabia como envolver uma mulher. Seus toques eram quentes, seus beijos faziam ela suspirar, quando finalmente ele a teve sentiu que algo estava errado. — Beatriz, você é virgem?— ele pergunta encarando seus olhos ao ver como ela estava nervosa. Ela desviou o olhar sentindo-se constrangida e envergonhada, Marcos tentou se levantar, mas ela o impediu. — Não... por favor, continua.— Ela implorou, o medo dele sair e levar o dinheiro era maior que a angústia que sentia. Marcos novamente se colocou entre suas pernas e com delicadeza a penetrou, Beatriz vira o rosto para ele não ver suas lágrimas escorrerem. Para ela aquele momento foi o mais longo e mais humilhante que já aconteceu com ela. Quando finalmente o ato foi consumado, Marcos se levantou se sentindo estranho, ele tentava encontrar seus olhos, mas sem sucesso, ele não entendia por que se preocupava tanto de como ela estava se sentindo. Frustrado, foi para o banho, Beatriz se vestiu rapidamente, sentando-se na cama atordoada pelo o que acabou de fazer. Ela junta as mãos sobre a cabeça e um pequeno gemido de decepção soou dos seus lábios, seus olhos ficam fixos no chão, sua respiração era pesada, como se respirar doesse a alma. — Foi a coisa certa a se fazer, não tem como voltar a trás... — ela sussurra vendo seu reflexo no espelho. Beatriz tentava manter a compostura, respirando fundo e segurando as lágrimas que teimavam em escapar. Enquanto ele se banhava, o celular ao lado da cama começou a tocar. Beatriz olhou para o visor e viu que era Letícia, ela estranhou pelo horário e atendeu rapidamente, esperando por boas notícias, mas o que ouviu a fez sentir como se o chão tivesse sido puxado debaixo de seus pés. — Amiga... O meu bebê, ele...— Letícia tentou continuar, mas não conseguiu, sua voz embargada e carregada de dor. O coração de Beatriz acelerou, um pressentimento ruim tomando conta dela. — Lê, o que houve? Por favor, me fala que já operaram ele. Nosso menino está bem, não está?— Suplicou Beatriz, com a voz trêmula. — Meu Ravi... Ele não resistiu, amiga. Ele se foi... meu Deus porque isso está acontecendo comigo?— As palavras de Letícia ecoaram nos ouvidos de Beatriz, a dor angustiante era como um soco no estômago. Um grito gutural escapou dos lábios de Beatriz, uma mistura de dor, desespero e culpa. As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto sem controle, enquanto soluços angustiantes preenchiam o quarto. Ela agarrou o telefone com força, como se pudesse se agarrar àquela ligação e reverter a terrível notícia. — Não, não pode ser verdade... Meu Deus, eu falhei, eu não consegui o dinheiro a tempo, me perdoe amiga, me perdoe, eu imploro...— As palavras saíam entrecortadas pelo choro desesperado de Beatriz. — O que está acontecendo? Beatriz?— Marcos grita de dentro do banheiro.Letícia tentava falar, mas tudo que conseguia fazer era chorar sozinha no chão frio e vazio do corredor, abraçada em suas pernas ela tentava se confortar. Ainda no quarto de hotel, Beatriz paralisou por um momento, ela se nega a a acreditar que aquilo estava acontecendo. O som do choro do outro lado da linha, fez com que ela reagisse. O choro angustiante de Beatriz ecoava pelo quarto vazio, misturando-se com o arrependimento e a dor que a consumiam. Ela saiu correndo do hotel e indo direto para o hospital.Marcos que ouviu ruídos angustiantes que vinham do quarto, nao obtendo respostas saiu correndo do banheiro, mas era tarde de mais, o quarto estava vazio e a mala de dinheiro abandonada no chão onde ele havia deixado. Ele olhou ao redor, confuso, tentando entender o que estava acontecendo. Foi então que ele percebeu que Beatriz havia partido, deixando para trás o acordo feito entre os dois.O choque se misturava com a raiva em seu peito, enquanto ele olhava para a mala de dinheiro,
Passaram-se dois dias desde o acidente que mudou a vida de Letícia e Beatriz para sempre. Somente hoje que Letícia teve força para fazer o enterro de Ravi. A hora da despedida de seu filho está sendo marcado por um momento de dor e desespero, onde o choro ecoava pelos corredores da funerária. Letícia permanecia em uma cadeira de rodas, seu olhar vazio refletia a completa devastação que sentia em seu coração. Beatriz, ao seu lado, segurando a mão de Letícia com firmeza, tentando transmitir todo o amor e apoio que podia. Mas mesmo a presença reconfortante da amiga não apagasse a dor insuportável que Letícia carregava. Enquanto os poucos familiares e amigos se aproximavam para prestar suas condolências, uma presença indesejada se fez notar. A mãe de Letícia uma mulher fria e cruel, se aproximou com um olhar de desdém. — Ah, Letícia... sempre soube que você era incompetente. Olha só onde sua fraqueza te trouxe, enterrando seu próprio filho, se tivesse interrompido a gravidez quando
Beatriz olha perplexa para Ivana, tentando negar as acusações, envergonhada por sentir que dessa vez ela tinha razão.— Não, Ivana, não é verdade. Eu...Ivana por sua vez, sorri maliciosamente, olhando nos olhos de Beatriz demonstrando o quanto a despreza, sem se importar com o sentimento dela, mente descaradamente.— Você não precisa se fazer de inocente, Beatriz, sua máscara de boa moça já caiu. O próprio Marcos acabou de me contar tudo. Ele disse que vocês dois tiveram uma longa noite e que ele te pagou muito bem para ficar com ele. E que você é quem foi atrás dele propor isso.— Meu Deus...— Beatriz sussurra sentindo o chão se abrir debaixo de seus pés. Ela não consegue acreditar que Marcos seria capaz de contar para alguém o que fizeram. Envergonhada e desolada, percebendo os olhares julgadores dos colegas ao redor, ela não consegue mais suportar a situação. Sem dizer mais nada, ela sai correndo, deixando todos para trás.— Vocês viram? Não tem nem vergonha de vim aqui. Vocês ai
Beatriz e Letícia após resolver algumas pendências finalmente tomam a decisão de deixar a cidade para trás e recomeçar em um lugar novo e desconhecido. Com o dinheiro da venda da casa em mãos, elas se preparam para partir rumo a uma cidade não muito longe, mas onde esperam encontrar a paz que buscavam. — Hoje é o dia, amiga. Estamos partindo para uma nova vida.— Beatriz diz, tentando demonstrar entusiasmo, porém Letícia sabia que a amiga estava nervosa. — Sim, Bia, vamos.— Letícia responde sem esboçar reação. Com suas poucas bagagens em mãos, as duas embarcam em um ônibus rumo à Filadélfia, a viagem duraria pouco menos de 3 horas de ônibus. No caminho, olham pela janela e observam as paisagens passando rapidamente, Letícia encosta a cabeça no vidro do ônibus e lembra de como seu filho gostava de brincar nos parques da cidade. Beatriz observa a amiga e suspira, ela sabia que Letícia estava se esforçando para se mostrar bem diante do pesadelo que estava vivendo. — Vamos ficar bem, n
Beatriz se via em um dos momentos mais angustiantes da sua vida. Com a amiga nos braços e suas lágrimas caindo, ela grita. — Por favor, socorro, eu preciso de ajuda...— Beatriz abraça Letícia com força enquanto sua amiga gemia de dor.— Por quê você fez comigo, por que? Os vizinhos rapidamente ligam para o serviço de emergência. Enquanto Beatriz, tenta manter Letícia acordada, com cuidado e a coloca em posição segura. — Já estão vindo menina.— Sua vizinha diz. — Me ajuda leva-la pra fora? O apartamento é abafado, ela precisa de mais ar...— Beatriz pede se colocando de pé. Enquanto ajudava Beatriz carregar Letícia até a entrada do prédio a ambulância para na frente delas. Quando os paramédicos descem, fazem os primeiros socorros e em seguida a levam para o hospital. Beatriz os acompanha, preocupada com a amiga. Já no hospital, Beatriz não fazia outra coisa a não ser chorar, encostada na parede ela olha através da porta, esperando ansiosamente por notícias de Letícia. Após ho
Beatriz sentiu como se tivesse levado um golpe no estômago. Os olhos dela se arregalaram quando as palavras de Maicon penetraram em seus ouvidos. Seu coração começou a palpitar furiosamente. — Grá... grávida? — sussurrou Beatriz, ainda atordoada. — Eu ouvi direito? Maicon sorriu gentilmente e assentiu com a cabeça. — Sim, Beatriz. Você está grávida. — Meu Deus, como isso é possível? Como uma única noite e ainda usando proteção pude ficar grávida? E por que somente agora os sintomas começaram a aparecer? Minha menstruação estava vindo normalmente... — Isso se chama gravidez silenciosa. — explicou Maicon. — É mais comum do que você imagina. O estresse e os conflitos podem ter contribuído para você não notar os sintomas. Beatriz sentiu lágrimas enchendo seus olhos. Ela não sabia se estava feliz ou triste. O pensamento de estar carregando o filho do seu ex-chefe, alguém que ela jurou odiar, era quase inaceitável. — Leah vai infartar de alegria. Logo ela chega e damos a notíc
O silêncio entre as duas amigas era pesado, carregado de emoções não ditas. Letícia vira a cadeira de rodas para enfrentar Beatriz, ergue a cabeça, encarando os olhos da amiga, e sussurra com um nó na garganta. — Enquanto nosso menino estava morrendo... você estava se divertindo com um homem? — sua voz falhou ainda mais, a mágoa e a raiva transpareciam nos seus olhos. — Se divertindo? Você está ouvindo o que está falando? Se me deixar falar, eu explico o que aconteceu... — E qual é a explicação, Beatriz? Se é que tem alguma explicação. Aproveita e me responde uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. Onde você estava na pior noite das nossas vidas? Eu te procurei igual uma louca, mas não te encontrava em nenhum lugar. Onde você estava? — Amiga... — Não me chame de amiga. Amigos não escondem coisas importantes como essas. Eu nunca menti para você, Beatriz, nunca escondi nada de você. Porque você era a única pessoa que eu tinha na vida depois que meu pai morreu. Beatriz sent
Na empresa de Marcos, as coisas continuavam as mesma. Ele por sua vez não conseguia tirar Beatriz da cabeça. Seu interesse nela começou logo que chegou na empresa, seus olhares já era visível por algumas pessoas, até mesmo por seu irmão Michael, porém Beatriz sempre se manteve distante e as poucas vezes que foi no seu escritório manteve sua postura profissional impecável. A notícia sobre Beatriz e ele se espalha como fogo em palha seca. Os comentários maldosos ecoam pelos corredores, mesmo meses após sua demissão, atiçando a curiosidade e alimentando ainda mais a fofoca sobre sua saída repentina. Ivana nunca deixou que isso caísse no esquecimento, pois culpa Beatriz por Marcos não querer mais ficar com ela. — Quem diria que Beatriz ia se vender assim.— uma das meninas comenta enquanto toma café. —No começo, até acreditei que era mentira, por se tratar dela, mas com sua saída sem se despedir de ninguém, nem para assinar sua demissão, agora sei que é verdade. A tensão aumenta quan