Passaram-se dois dias desde o acidente que mudou a vida de Letícia e Beatriz para sempre. Somente hoje que Letícia teve força para fazer o enterro de Ravi.
A hora da despedida de seu filho está sendo marcado por um momento de dor e desespero, onde o choro ecoava pelos corredores da funerária. Letícia permanecia em uma cadeira de rodas, seu olhar vazio refletia a completa devastação que sentia em seu coração. Beatriz, ao seu lado, segurando a mão de Letícia com firmeza, tentando transmitir todo o amor e apoio que podia. Mas mesmo a presença reconfortante da amiga não apagasse a dor insuportável que Letícia carregava. Enquanto os poucos familiares e amigos se aproximavam para prestar suas condolências, uma presença indesejada se fez notar. A mãe de Letícia uma mulher fria e cruel, se aproximou com um olhar de desdém. — Ah, Letícia... sempre soube que você era incompetente. Olha só onde sua fraqueza te trouxe, enterrando seu próprio filho, se tivesse interrompido a gravidez quando eu te aconselhei, nada disso estaria acontecendo. Sempre soube que você é uma inútil, não é de se admirar que tenha falhado como mãe e agora é uma alejada. A culpa pela morte do seu filho é toda sua, lembre-se sempre disso. — Morgana cuspiu as palavras com desprezo. Letícia sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. As palavras venenosas da mãe ressoavam em sua mente, acusando-a de algo que ela jamais poderia aceitar. A dor se misturava com a raiva, fazendo com que as lágrimas escorressem sem controle. Beatriz, tentou se manter em silêncio diante da situação, Letícia nunca permitiu que a amiga se prejudicasse por conta da sua família, mas cada palavra era absurda demais para que ela ficasse calada. — O que você está fazendo aqui? Nem num momento de dor você não consegue apoiar sua filha? Que tipo de ser humano você se tornou? — Olha a aqui garota... — Olha aqui você! Você não tem o direito de falar assim com ela. Letícia sempre foi uma mãe admirável, amorosa e dedicada, a morte de seu filho foi uma fatalidade que ela não merece carregar sozinha. Eu fui atrás de você para pedir ajuda, mas como sempre, negou, seu neto poderia estar aqui se você tivesse emprestado o dinheiro. Então se quer buscar um culpado, olhe para o espelho, pois lhe garanto que encontrará. — Neto? Eu não tenho nem filha, imagina um neto. Pra que eu iria gastar o meu dinheiro com um bastardo? Nunca. Beatriz tentou se segurar, mas não conseguiu, a raiva e a indignação a consumia cada segundo, sem pensar duas vezes deu lhe um forte tapa na cara de Morgana. — Você não pode ser chamada de mãe. Não tem ideia do quanto sua filha lutou pelo Ravi, você não sabe um terço do que ela está passando, então poupe suas palavras venenosas e saia daqui, eu não permitirei que continue machucando minha amiga. — Beatriz disse, com a voz firme e os olhos faiscando de raiva e dor. Morgana recuou diante da intensidade da resposta de Beatriz, com a mão no rosto ela sorri, mas antes de ir embora soltou sua última provocação. — Vocês duas merecem a dor que estão enfrentando. A fraqueza de uma reflete na outra, e é isso que acontece quando se é incapaz de lidar com os próprios problemas. Vou ver vocês na miséria, esse tapa te custará muito caro, Beatriz.— ela diz as palavras com um sorriso cruel, antes de se afastar. Letícia tremia de indignação, mas Beatriz colocou uma mão reconfortante em seu ombro, transmitindo apoio silencioso. — Não dê ouvidos à ela, amiga. Você foi a melhor mãe que Ravi poderia ter. Lembre-se que você não está sozinha. — Beatriz sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas. Letícia olhou para Beatriz, sentindo um calor reconfortante invadir sua alma. Mesmo no meio da tempestade de dor e sofrimento, ela sabia que tinha mais que uma amiga ao seu lado, elas era como se fossem irmãs. Uma sempre pronta para enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente, desde que estivessem juntas. Alguns dias depois Marcos, estava em seu escritório imponente, do lado da sua mesa a mala com o dinheiro do acordo. Seus olhos cansados com a tensão que pairava no ar, pois ninguém sabia do paradeiro de Beatriz há mais de uma semana. Marcos estava preocupado com Beatriz, tantas coisas se passaram na sua cabeça do porq ela fugiu sem nem levar sua parte do acordo, porém nenhuma chegava nem perto da real situação. Ele tentava localizá-la, ligando para seu telefone repetidas vezes, mas sem sucesso. A ausência inexplicável de Beatriz causava apreensão entre os colegas de trabalho, que não entendiam o motivo de seu sumiço repentino. Marcos olha fixamente para seu amigo e secretário particular. — Jonathan, quero que encontre uma pessoa. — Quem? — Minha secretaria, Beatriz Ávila. — Pôr que tanto interesse nessa mulher? — Eu preciso entregar o dinheiro dela. — Ah, é ela. Você realmente fez isso? Como pode propor passar uma noite com ela em troca de dinheiro? Não teve o mínimo de interesse em saber para que ela precisava desse valor? Talvez tivesse doente, ou tivesse sendo ameaçada. Você nunca foi assim, Marcos. Não deixe o que a Esther fez com você interfira no seu caráter, nem todas as mulheres são como ela! — Eu não sei onde estava com a cabeça, todos falavam dela, que era uma mulher qualquer, pensei que era igual a minha ex, agi sem pensar e só depois vi que fiz burrada. — Pôr que diz isso? — Beatriz era virgem quando ficamos juntos! — Não acredito! Mesmo percebendo isso, você continuou? Marcos abaixa a cabeça envergonhado, mas ao mesmo tempo irritado. Eles continuam falando sobre Beatriz, só não perceberam que atrás da porta do escritório estava Ivana ouvindo toda a conversa. Ela sorria vitoriosa, pois finalmente tinha uma fofoca verdadeira para espalhar. — Sabe o que descobri, a mosca morta da Beatriz transou com o chefe em troca de uma grande quantia de dinheiro. Eu sabia que ela não passava de uma vagabunda. Em poucos minutos não se falavam de outra coisa, Beatriz havia tomado coragem de conversar com Marcos e retornar ao trabalho, mas assim que coloca os pés na empresa, ela descobre que todos seu colegas sabiam do que aconteceu. Ivana percebe a presença de Beatriz e corre perto dela. — Bom dia Ivana, o senhor Marcos está?— Beatriz pergunta com o olhar distante e triste. — Veio tirar mais dinheiro dele? — Do que está falando? — Sonsa! Sabia que você era sem vergonha, mas jamais imaginei que pudesse se realmente vender assim.Beatriz olha perplexa para Ivana, tentando negar as acusações, envergonhada por sentir que dessa vez ela tinha razão.— Não, Ivana, não é verdade. Eu...Ivana por sua vez, sorri maliciosamente, olhando nos olhos de Beatriz demonstrando o quanto a despreza, sem se importar com o sentimento dela, mente descaradamente.— Você não precisa se fazer de inocente, Beatriz, sua máscara de boa moça já caiu. O próprio Marcos acabou de me contar tudo. Ele disse que vocês dois tiveram uma longa noite e que ele te pagou muito bem para ficar com ele. E que você é quem foi atrás dele propor isso.— Meu Deus...— Beatriz sussurra sentindo o chão se abrir debaixo de seus pés. Ela não consegue acreditar que Marcos seria capaz de contar para alguém o que fizeram. Envergonhada e desolada, percebendo os olhares julgadores dos colegas ao redor, ela não consegue mais suportar a situação. Sem dizer mais nada, ela sai correndo, deixando todos para trás.— Vocês viram? Não tem nem vergonha de vim aqui. Vocês ai
Beatriz e Letícia após resolver algumas pendências finalmente tomam a decisão de deixar a cidade para trás e recomeçar em um lugar novo e desconhecido. Com o dinheiro da venda da casa em mãos, elas se preparam para partir rumo a uma cidade não muito longe, mas onde esperam encontrar a paz que buscavam. — Hoje é o dia, amiga. Estamos partindo para uma nova vida.— Beatriz diz, tentando demonstrar entusiasmo, porém Letícia sabia que a amiga estava nervosa. — Sim, Bia, vamos.— Letícia responde sem esboçar reação. Com suas poucas bagagens em mãos, as duas embarcam em um ônibus rumo à Filadélfia, a viagem duraria pouco menos de 3 horas de ônibus. No caminho, olham pela janela e observam as paisagens passando rapidamente, Letícia encosta a cabeça no vidro do ônibus e lembra de como seu filho gostava de brincar nos parques da cidade. Beatriz observa a amiga e suspira, ela sabia que Letícia estava se esforçando para se mostrar bem diante do pesadelo que estava vivendo. — Vamos ficar bem, n
Beatriz se via em um dos momentos mais angustiantes da sua vida. Com a amiga nos braços e suas lágrimas caindo, ela grita. — Por favor, socorro, eu preciso de ajuda...— Beatriz abraça Letícia com força enquanto sua amiga gemia de dor.— Por quê você fez comigo, por que? Os vizinhos rapidamente ligam para o serviço de emergência. Enquanto Beatriz, tenta manter Letícia acordada, com cuidado e a coloca em posição segura. — Já estão vindo menina.— Sua vizinha diz. — Me ajuda leva-la pra fora? O apartamento é abafado, ela precisa de mais ar...— Beatriz pede se colocando de pé. Enquanto ajudava Beatriz carregar Letícia até a entrada do prédio a ambulância para na frente delas. Quando os paramédicos descem, fazem os primeiros socorros e em seguida a levam para o hospital. Beatriz os acompanha, preocupada com a amiga. Já no hospital, Beatriz não fazia outra coisa a não ser chorar, encostada na parede ela olha através da porta, esperando ansiosamente por notícias de Letícia. Após ho
Beatriz sentiu como se tivesse levado um golpe no estômago. Os olhos dela se arregalaram quando as palavras de Maicon penetraram em seus ouvidos. Seu coração começou a palpitar furiosamente. — Grá... grávida? — sussurrou Beatriz, ainda atordoada. — Eu ouvi direito? Maicon sorriu gentilmente e assentiu com a cabeça. — Sim, Beatriz. Você está grávida. — Meu Deus, como isso é possível? Como uma única noite e ainda usando proteção pude ficar grávida? E por que somente agora os sintomas começaram a aparecer? Minha menstruação estava vindo normalmente... — Isso se chama gravidez silenciosa. — explicou Maicon. — É mais comum do que você imagina. O estresse e os conflitos podem ter contribuído para você não notar os sintomas. Beatriz sentiu lágrimas enchendo seus olhos. Ela não sabia se estava feliz ou triste. O pensamento de estar carregando o filho do seu ex-chefe, alguém que ela jurou odiar, era quase inaceitável. — Leah vai infartar de alegria. Logo ela chega e damos a notíc
O silêncio entre as duas amigas era pesado, carregado de emoções não ditas. Letícia vira a cadeira de rodas para enfrentar Beatriz, ergue a cabeça, encarando os olhos da amiga, e sussurra com um nó na garganta. — Enquanto nosso menino estava morrendo... você estava se divertindo com um homem? — sua voz falhou ainda mais, a mágoa e a raiva transpareciam nos seus olhos. — Se divertindo? Você está ouvindo o que está falando? Se me deixar falar, eu explico o que aconteceu... — E qual é a explicação, Beatriz? Se é que tem alguma explicação. Aproveita e me responde uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. Onde você estava na pior noite das nossas vidas? Eu te procurei igual uma louca, mas não te encontrava em nenhum lugar. Onde você estava? — Amiga... — Não me chame de amiga. Amigos não escondem coisas importantes como essas. Eu nunca menti para você, Beatriz, nunca escondi nada de você. Porque você era a única pessoa que eu tinha na vida depois que meu pai morreu. Beatriz sent
Na empresa de Marcos, as coisas continuavam as mesma. Ele por sua vez não conseguia tirar Beatriz da cabeça. Seu interesse nela começou logo que chegou na empresa, seus olhares já era visível por algumas pessoas, até mesmo por seu irmão Michael, porém Beatriz sempre se manteve distante e as poucas vezes que foi no seu escritório manteve sua postura profissional impecável. A notícia sobre Beatriz e ele se espalha como fogo em palha seca. Os comentários maldosos ecoam pelos corredores, mesmo meses após sua demissão, atiçando a curiosidade e alimentando ainda mais a fofoca sobre sua saída repentina. Ivana nunca deixou que isso caísse no esquecimento, pois culpa Beatriz por Marcos não querer mais ficar com ela. — Quem diria que Beatriz ia se vender assim.— uma das meninas comenta enquanto toma café. —No começo, até acreditei que era mentira, por se tratar dela, mas com sua saída sem se despedir de ninguém, nem para assinar sua demissão, agora sei que é verdade. A tensão aumenta quan
Beatriz chegou após o fim do seu trabalho na casa de festa. Eram altas horas da madrugada, e o silêncio do apartamento era quase ensurdecedor. Ao entrar, ela caminhou silenciosamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar Letícia. Ela ainda não estava preparada para encarar a decepção em seu olhar.Ao chegar em seu quarto, ela parou abruptamente ao perceber a presença de Letícia deitada em sua cama, dormindo após tomar seus calmantes. Seu coração se apertou ao ver sua amiga ali, tão vulnerável. Por alguns segundos, Beatriz a observou.Sem querer acordá-la, Bia se virou silenciosamente, pronta para sair do quarto para comer. Letícia todos os dias deixava sua comida pronta, só para Beatriz aquecer no micro-ondas. Mas, antes que conseguisse chegar até a porta, Letícia murmurou seu nome em um tom sonolento, fazendo com que os olhos de Beatriz se enchessem de lágrimas.— Beatriz, eu... — murmurou Letícia, hesitante.Beatriz virou-se para encará-la, as sobrancelhas fr
Letícia segurou firmemente as mãos de Beatriz que não paravam de tremer. Elas se olharam e apenas pelo olhar sabiam o que a outra estava pensando.— Desculpa, Doutor, achei que era uns amigos do tempo da escola. Eu não os conheço.— Beatriz respondeu com a voz trêmula, evitando olhar na direção do porta-retrato.— Estranho... olhando agora, sinto que já te vi antes... mas onde?— ele sussurrou encarando os olhos de Beatriz.— Bem, tudo bem, não importa. Vamos dar início à ultrassonografia. Beatriz, deite-se na maca, por favor. — Maicon pediu, mantendo a postura profissional, mas seus pensando estavam em onde já viu o rosto de Beatriz.Beatriz obedeceu e deitou, sentindo o coração bater acelerado. Letícia apertou novamente sua mão com firmeza, transmitindo apoio silencioso.Maicon começou o procedimento, espalhou o gel transparente e deslizando o aparelho pelo ventre de Beatriz. E então, sua expressão mudou.— Tem algo de errado?— Beatriz pergunta preocupada.— De errado não. Beatriz, mas