Letícia segurou firmemente as mãos de Beatriz que não paravam de tremer. Elas se olharam e apenas pelo olhar sabiam o que a outra estava pensando.— Desculpa, Doutor, achei que era uns amigos do tempo da escola. Eu não os conheço.— Beatriz respondeu com a voz trêmula, evitando olhar na direção do porta-retrato.— Estranho... olhando agora, sinto que já te vi antes... mas onde?— ele sussurrou encarando os olhos de Beatriz.— Bem, tudo bem, não importa. Vamos dar início à ultrassonografia. Beatriz, deite-se na maca, por favor. — Maicon pediu, mantendo a postura profissional, mas seus pensando estavam em onde já viu o rosto de Beatriz.Beatriz obedeceu e deitou, sentindo o coração bater acelerado. Letícia apertou novamente sua mão com firmeza, transmitindo apoio silencioso.Maicon começou o procedimento, espalhou o gel transparente e deslizando o aparelho pelo ventre de Beatriz. E então, sua expressão mudou.— Tem algo de errado?— Beatriz pergunta preocupada.— De errado não. Beatriz, mas
Beatriz não conseguia esconder a felicidade ao saber que dentro dela batiam dois corações. Após a consulta, elas foram direto para o apartamento, apesar de Beatriz ter tirado o dia de folga; seu outro trabalho a esperava. A consulta demorou muito mais do que o esperado, por isso ela chegou apressadamente e foi direto para o banho.Letícia entrou no banheiro enquanto Beatriz estava no chuveiro. Por alguns minutos, ela observou a silhueta da amiga refletida através do box. Sua barriga, apesar de pequena, já revelava que ela não estava mais sozinha.— O que tanto olha? — Beatriz perguntou com um sorriso.— O que mais? Os nossos bebês.— Você viu? Eu não tinha percebido, mas minha barriga está com uma lombadinha — disse Beatriz, sorrindo enquanto passava a mão sobre ela.— Vai ser a grávida mais linda — afirmou Letícia, animada. — Amiga? — chamou Letícia, com receio.— Hum?— Eu preciso te perguntar algo que não sai da minha cabeça...— O que? Parece sério — disse Beatriz, virando-se de f
Os olhos de Letícia se inundaram de lágrimas. Ela sempre foi muito apegada ao seu pai. Quando ele faleceu, algo dentro dela também morreu. Só com o nascimento de Ravi é que ela voltou a sorrir de verdade. — Amiga... você está falando sério? — Letícia sussurrou, e Beatriz se abaixou na sua frente, segurando suas mãos com delicadeza. — Sim. Sempre disse para mim mesma que, quando eu tivesse um filho, colocaria o nome dos nossos pais. Como sabe, minha mãe era brasileira, sempre muito alegre e com um coração tão bondoso. Se eu tiver sorte, minha menina será tão grandiosa como minha mãe. E seu pai fez por mim o que nem o meu foi capaz de fazer; ele me mostrou o que era o amor de um pai, e a forma como ele me tratou, fez ver o que significa a palavra amor. — Aí, amiga. Eu jamais imaginei que faria isso. Obrigada, ele era realmente um homem incrível. Nossos bebês serão, sem dúvida, as crianças mais amadas desse mundo, assim como fomos por eles. Com toda certeza... se eles estivessem vi
Beatriz se abaixou rapidamente para limpar os cacos de vidro espalhados pelo chão, nervosa, acabou apertando um pedaço do vidro, fazendo um pequeno corte em seu dedo. Tudo que ela queria, era sair dali o mais rápido possível.— Meu Deus, cuidado! Você se machucou! — Marcos murmurou, saindo do transe que se encontrava, caminhou rapidamente em direção a ela, sua voz cheia de preocupação.— Droga! O que mais falta acontecer?— Ela sussurrou, apertando o corte, sentindo uma dor aguda. Mas o que estava incomodando era as lembranças daquela fatídica noite invadindo seus pensamentos, trazendo de volta a vergonha, a raiva e a tristeza que ela havia tentado enterrar.Desesperado, Marcos se abaixou para cuidar dela, seus olhos fixos nos dela, cheios de uma mistura de preocupação e arrependimento.— Você está bem? Deixa eu te ajudar. — ele murmurou, segurando em sua mão, sentindo o contato elétrico percorrer por todo seu corpo. Beatriz sentiu que seu coração havia desaprendido de bater naquele mo
A tensão no ar estava insuportável. Beatriz sentiu seu coração pulsar forte enquanto se virava para encarar os olhos de Marcos. Sua expressão estava marcada por raiva, tristeza, sentindo-se injustiçada e frustrada.— Você sempre faz isso, não é? — perguntou Beatriz, sua voz firme e cortante. Ela apoiou uma mão na mesa, tentando se manter de pé, enquanto a outra colocou na barriga, como forma de proteger os bebês. O olhar de Marcos era como um golpe, fazendo-a se sentir como se estivesse sendo julgada. Beatriz sentiu uma onda de raiva e tristeza ao lembrar das acusações passadas. — Você sempre tira conclusões precipitadas sem sequer ouvir o que os outros têm a dizer. Sempre criando teorias nessa sua mente doentia, acreditando que todos são como sua ex!— Beatriz olhou para ele sem desviar o olhar, sua voz tremendo de emoção.Marcos pareceu surpreso com a reação de Beatriz. Ela, ao perceber o que disse, sente uma pontada de arrependimento, mas agora já era tarde para voltar atrás. Michae
Beatriz encarou os olhos da amiga, sentindo a raiva, decepção, tristeza e frustração se misturavam dentro dela. Ela pensou em desabafar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Em vez disso, ela deitou a cabeça no ombro de Letícia, apertou os braços na sua cintura e chorou, permitindo que as lágrimas expressassem o que ela não tinha coragem de dizer.Por meses, Beatriz conseguiu manter seus sentimentos escondidos, mesmo para si mesma. Mas agora, a dor e a indignação transbordavam. Como Marcos pôde fazer aquele acordo, sabendo o quanto ela estava desesperada pelo dinheiro? Como passando a maior parte do tempo ao seu lado pode acreditar nas mentiras de Ivana? Ele percebia seu caráter, ela nunca deu chances para alguém ter sequer algo a falar sobre ela. E saber que ele foi o motivo de toda a empresa estar falando dela, a magoou profundamente.Letícia acariciou os cabelos de Beatriz, enquanto ouvia o choro silêncio da amiga.— Você não precisa lidar com ele, Bia — sussurrou. — Voc
Michael fica na dúvida se deve falar, mas acaba revelando uma parte da própria vida de Marcos que ele não conhece.— A cinco anos atrás você sofreu um acidente que o deixou entre a vida e a morte, nossos pais estavam correndo contra o tempo para te salvar. O médico havia dito que você tinha perdido muito sangue na batida e por isso precisaram fazer uma transfusão de sangue, mas o seu tipo de sangue não tinha naquele momento no hospital. Marcos ouve com atenção lembrando vagamente daquele dia, ele ficou por duas semanas desacordado, por isso não sabia de muitos detalhes.— Mas o que a dívida que você tem com ela tem haver com o meu acidente?— Marcos interrompe perguntando. Michael desvia olhar e continua a falar.— Parecia que tudo estava perdido, que aquele era realmente seu fim. Até que duas jovens entraram correndo pela porta, uma delas estava em trabalho de parto e a outra acompanhando cada momento, quando a criança nasceu, a acompanhante saiu do quarto para comer alguma coisa e v
Marcos acordou com o som da chuva batendo contra a janela. Ele se sentou na cama, passando as mãos pelos cabelos; seu corpo estava doendo, e sua mente ainda estava conturbada. Ele precisava resolver alguns problemas relacionados às suas empresas; contudo, o assunto mais importante era se redimir com Beatriz.Após alguns minutos, Marcos se levantou da cama e dirigiu-se ao banheiro, ainda sentindo o peso da noite mal dormida. Ele abriu o registro do chuveiro e esperou até que a água aquecesse. Enquanto a água quente caía sobre seu corpo nu, Marcos fechou os olhos e deixou que a tensão do dia anterior se dissolvesse. Ele passou as mãos pelos cabelos, sentindo a espuma escorregar pela sua pele.A chuva do lado de fora parecia aumentar de intensidade. Ele respirou fundo, sentindo o vapor do chuveiro preencher seus pulmões. Seu pensamento voltou para Beatriz. O que ele diria para ela? Como poderia se redimir? A culpa e a ansiedade começaram a se acumular em seu peito novamente.Marcos abriu