O silêncio entre as duas amigas era pesado, carregado de emoções não ditas. Letícia vira a cadeira de rodas para enfrentar Beatriz, ergue a cabeça, encarando os olhos da amiga, e sussurra com um nó na garganta. — Enquanto nosso menino estava morrendo... você estava se divertindo com um homem? — sua voz falhou ainda mais, a mágoa e a raiva transpareciam nos seus olhos. — Se divertindo? Você está ouvindo o que está falando? Se me deixar falar, eu explico o que aconteceu... — E qual é a explicação, Beatriz? Se é que tem alguma explicação. Aproveita e me responde uma coisa que nunca saiu da minha cabeça. Onde você estava na pior noite das nossas vidas? Eu te procurei igual uma louca, mas não te encontrava em nenhum lugar. Onde você estava? — Amiga... — Não me chame de amiga. Amigos não escondem coisas importantes como essas. Eu nunca menti para você, Beatriz, nunca escondi nada de você. Porque você era a única pessoa que eu tinha na vida depois que meu pai morreu. Beatriz sent
Na empresa de Marcos, as coisas continuavam as mesma. Ele por sua vez não conseguia tirar Beatriz da cabeça. Seu interesse nela começou logo que chegou na empresa, seus olhares já era visível por algumas pessoas, até mesmo por seu irmão Michael, porém Beatriz sempre se manteve distante e as poucas vezes que foi no seu escritório manteve sua postura profissional impecável. A notícia sobre Beatriz e ele se espalha como fogo em palha seca. Os comentários maldosos ecoam pelos corredores, mesmo meses após sua demissão, atiçando a curiosidade e alimentando ainda mais a fofoca sobre sua saída repentina. Ivana nunca deixou que isso caísse no esquecimento, pois culpa Beatriz por Marcos não querer mais ficar com ela. — Quem diria que Beatriz ia se vender assim.— uma das meninas comenta enquanto toma café. —No começo, até acreditei que era mentira, por se tratar dela, mas com sua saída sem se despedir de ninguém, nem para assinar sua demissão, agora sei que é verdade. A tensão aumenta quan
Beatriz chegou após o fim do seu trabalho na casa de festa. Eram altas horas da madrugada, e o silêncio do apartamento era quase ensurdecedor. Ao entrar, ela caminhou silenciosamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar Letícia. Ela ainda não estava preparada para encarar a decepção em seu olhar.Ao chegar em seu quarto, ela parou abruptamente ao perceber a presença de Letícia deitada em sua cama, dormindo após tomar seus calmantes. Seu coração se apertou ao ver sua amiga ali, tão vulnerável. Por alguns segundos, Beatriz a observou.Sem querer acordá-la, Bia se virou silenciosamente, pronta para sair do quarto para comer. Letícia todos os dias deixava sua comida pronta, só para Beatriz aquecer no micro-ondas. Mas, antes que conseguisse chegar até a porta, Letícia murmurou seu nome em um tom sonolento, fazendo com que os olhos de Beatriz se enchessem de lágrimas.— Beatriz, eu... — murmurou Letícia, hesitante.Beatriz virou-se para encará-la, as sobrancelhas fr
Letícia segurou firmemente as mãos de Beatriz que não paravam de tremer. Elas se olharam e apenas pelo olhar sabiam o que a outra estava pensando.— Desculpa, Doutor, achei que era uns amigos do tempo da escola. Eu não os conheço.— Beatriz respondeu com a voz trêmula, evitando olhar na direção do porta-retrato.— Estranho... olhando agora, sinto que já te vi antes... mas onde?— ele sussurrou encarando os olhos de Beatriz.— Bem, tudo bem, não importa. Vamos dar início à ultrassonografia. Beatriz, deite-se na maca, por favor. — Maicon pediu, mantendo a postura profissional, mas seus pensando estavam em onde já viu o rosto de Beatriz.Beatriz obedeceu e deitou, sentindo o coração bater acelerado. Letícia apertou novamente sua mão com firmeza, transmitindo apoio silencioso.Maicon começou o procedimento, espalhou o gel transparente e deslizando o aparelho pelo ventre de Beatriz. E então, sua expressão mudou.— Tem algo de errado?— Beatriz pergunta preocupada.— De errado não. Beatriz, mas
Beatriz não conseguia esconder a felicidade ao saber que dentro dela batiam dois corações. Após a consulta, elas foram direto para o apartamento, apesar de Beatriz ter tirado o dia de folga; seu outro trabalho a esperava. A consulta demorou muito mais do que o esperado, por isso ela chegou apressadamente e foi direto para o banho.Letícia entrou no banheiro enquanto Beatriz estava no chuveiro. Por alguns minutos, ela observou a silhueta da amiga refletida através do box. Sua barriga, apesar de pequena, já revelava que ela não estava mais sozinha.— O que tanto olha? — Beatriz perguntou com um sorriso.— O que mais? Os nossos bebês.— Você viu? Eu não tinha percebido, mas minha barriga está com uma lombadinha — disse Beatriz, sorrindo enquanto passava a mão sobre ela.— Vai ser a grávida mais linda — afirmou Letícia, animada. — Amiga? — chamou Letícia, com receio.— Hum?— Eu preciso te perguntar algo que não sai da minha cabeça...— O que? Parece sério — disse Beatriz, virando-se de f
Os olhos de Letícia se inundaram de lágrimas. Ela sempre foi muito apegada ao seu pai. Quando ele faleceu, algo dentro dela também morreu. Só com o nascimento de Ravi é que ela voltou a sorrir de verdade. — Amiga... você está falando sério? — Letícia sussurrou, e Beatriz se abaixou na sua frente, segurando suas mãos com delicadeza. — Sim. Sempre disse para mim mesma que, quando eu tivesse um filho, colocaria o nome dos nossos pais. Como sabe, minha mãe era brasileira, sempre muito alegre e com um coração tão bondoso. Se eu tiver sorte, minha menina será tão grandiosa como minha mãe. E seu pai fez por mim o que nem o meu foi capaz de fazer; ele me mostrou o que era o amor de um pai, e a forma como ele me tratou, fez ver o que significa a palavra amor. — Aí, amiga. Eu jamais imaginei que faria isso. Obrigada, ele era realmente um homem incrível. Nossos bebês serão, sem dúvida, as crianças mais amadas desse mundo, assim como fomos por eles. Com toda certeza... se eles estivessem vi
Beatriz se abaixou rapidamente para limpar os cacos de vidro espalhados pelo chão, nervosa, acabou apertando um pedaço do vidro, fazendo um pequeno corte em seu dedo. Tudo que ela queria, era sair dali o mais rápido possível.— Meu Deus, cuidado! Você se machucou! — Marcos murmurou, saindo do transe que se encontrava, caminhou rapidamente em direção a ela, sua voz cheia de preocupação.— Droga! O que mais falta acontecer?— Ela sussurrou, apertando o corte, sentindo uma dor aguda. Mas o que estava incomodando era as lembranças daquela fatídica noite invadindo seus pensamentos, trazendo de volta a vergonha, a raiva e a tristeza que ela havia tentado enterrar.Desesperado, Marcos se abaixou para cuidar dela, seus olhos fixos nos dela, cheios de uma mistura de preocupação e arrependimento.— Você está bem? Deixa eu te ajudar. — ele murmurou, segurando em sua mão, sentindo o contato elétrico percorrer por todo seu corpo. Beatriz sentiu que seu coração havia desaprendido de bater naquele mo
A tensão no ar estava insuportável. Beatriz sentiu seu coração pulsar forte enquanto se virava para encarar os olhos de Marcos. Sua expressão estava marcada por raiva, tristeza, sentindo-se injustiçada e frustrada.— Você sempre faz isso, não é? — perguntou Beatriz, sua voz firme e cortante. Ela apoiou uma mão na mesa, tentando se manter de pé, enquanto a outra colocou na barriga, como forma de proteger os bebês. O olhar de Marcos era como um golpe, fazendo-a se sentir como se estivesse sendo julgada. Beatriz sentiu uma onda de raiva e tristeza ao lembrar das acusações passadas. — Você sempre tira conclusões precipitadas sem sequer ouvir o que os outros têm a dizer. Sempre criando teorias nessa sua mente doentia, acreditando que todos são como sua ex!— Beatriz olhou para ele sem desviar o olhar, sua voz tremendo de emoção.Marcos pareceu surpreso com a reação de Beatriz. Ela, ao perceber o que disse, sente uma pontada de arrependimento, mas agora já era tarde para voltar atrás. Michae